Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 9
Dia dos eufemismos




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Oooolá!!
Então, por favor, perdoem a minha demora :D
Prometo compensar ^^
Ameeeei os reviews ♥ (continuem mandadooo pra eu continuar amandooo ♥ ♥ )
P.S. Nanda, se você estiver lendo isso — faz tempinho que não nos falamos huuhauhsauashu — tenho que te dizer: Brie e Patrick 4eveeeeeeeeeeeeer ♥ ♥ ♥ ameeeeeeeeei o livro >

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Levo outra colherada de sorvete até a minha boca.

— De jeito nenhum. Isso está fora de questão.

Balanço a minha cabeça em negativa para dar ênfase na minha opinião.

— Filha, escuta o que eu estou te dizendo, tenta esfriar a cabeça. Desse jeito as coisas só vão se complicar ainda mais pra ti.

Cruzo os braços e amarro a cara.

— Isso é ridículo! Afinal, por que diabos eu não posso ficar com você, a titia e a vovó?

Seu olhar recai sobre mim.

— Porque é muito melhor para você ficar com a tua mãe e o teu irmão.

— Acho que sou eu quem tem que decidir o que é melhor para mim.

Pela forma que ele suspira, parece estar começando a ficar irritado. Surpreende-me a intolerância que as pessoas têm sobre mim. Quero dizer, eu sou um amor de pessoa.

— Você só tem dezesseis, e enquanto eu e a sua mãe formos os teus responsáveis legais, não quero mais ficar escutando essa baboseira de eu sei o que é melhor para mim. — Tento não rir quando ele me imita, e nessa tentativa de não ceder ao seu senso de humor acabo me engasgando com a minha própria saliva.

— Ei, vai com calma aí, garota. — Seu tom é divertido, o que me faz rir e tossir ainda mais. É impossível não amar o meu pai, mesmo quando ele está passando algum tipo de sermão. Só não entendo como a minha mãe se esqueceu disso.

Mas ela vai lembrar, e eu vou garantir que isso aconteça.

Ele espera pacientemente até que eu me recupere, e então terminamos o nosso sorvete.

De repente franze o cenho, e olha de uma forma preocupada para o seu relógio de pulso.

— Caramba, acho que estou atrasado. Gatinha, eu realmente tenho que ir. — Me olha com um pedido de desculpa silencioso enquanto diz isso.

Assinto com a cabeça. Papai é policial, e geralmente o seu trabalho requer bastante tempo dele. Mas eu não me importo. Na verdade, até me orgulho. Além do mais, ele sempre está ao meu lado quando preciso dele. Nunca falhou, e estou muito segura de que nunca falhará.

— Tudo bem. Nos vemos em breve?

— É claro. — E bagunça meu cabelo. Do nada ele suspira, mirando o topo da minha cabeça fixamente. — Sinto falta daquele ruivo maravilhoso. Por que você pintou, afinal?

Engulo um carroço. Dentre todas as pessoas do mundo todo, papai é a que eu menos gosto de decepcionar.

— Queria mudar. — E protestar. Mas essa última parte mantenho para mim mesma.

— Tudo bem, eu entendo. Tempos difíceis requerem decisões extremas. Agora realmente preciso ir, filha. Vou sentir saudades.

Ele beija o topo da minha cabeça, e então eu o abraço apertado.

— Eu já estou sentindo. — Digo baixinho, e sei que ele não me escutou. — Sinto todo dia. — As três últimas palavras quase não saem da minha boca.

Observo-o pagar os sorvetes e então sair da nossa sorveteria preferida. Calvin nunca foi um adepto às delícias doces da vida, inclusive o sorvete. Sim, ele não é normal, eu sei. Provavelmente caiu de cabeça quando era pequeno. Mas o fato de ele não gostar de sorvete e mamãe ter pavor de qualquer alimento razoavelmente calórico fez com que papai e eu nos aproximássemos ainda mais, dois amantes das coisas não saudáveis da vida. Nós viemos a essa sorveteria desde muito antes de eu saber que era um ser humano. E continuamos voltando a esse lugar desde então.

Amarro o meu cabelo em um rabo de cavalo torto, e me preparo para enfrentar minha mãe.

Digamos que em uma escala de aborrecimento de zero a dez, ela estava no onze. Aliás, aborrecimento foi um eufemismo.

Até para os meus próprios padrões devo reconhecer que talvez — mas um talvez bem minúsculo — eu tenha extrapolado um pouco.

Aquele ser abominável da lanchonete e o ser progenitor da adoradora de pasto certamente foram demais para um único dia.

Ok, está na hora de eu vestir a expressão de filha arrependida que busca o perdão como um sapo busca insetos.

Eu sei, nasci para ser poeta.

Resolvo ir a pé, apenas para adiar o inevitável. Quase meia hora depois chego ao meu novo lar, azedo, quero dizer, doce lar.

Olho para mim, e percebo que ainda estou vestindo aquela coisa formal. Na pressa de sair daquele inferno, a primeira pessoa que me veio à mente foi papai, e qualquer outra coisa — como roupa — parecia insignificante no momento.

Respiro fundo e me preparo para a batalha.

Ok, fase um realizada com sucesso. Nesse momento já estava dentro da toca do inimigo, e baseado no plano que elaborara rapidamente enquanto entrava furtivamente na casa, estava a um passo de completar a fase dois, que era basicamente não ser notada.

E então tentaria chegar até o meu quarto, para tirar esse vestido ridículo. Nota mental, pegar as minhas roupas depois do debate em família. Ok, debate provavelmente é o rei do eufemismo até agora. E é certo que nenhum outro o superará.

Tento caminhar sem fazer o mínimo ruído possível, mas deveria saber que hoje não era meu dia de sorte. Malditos trevos de quatro folhas deficientes conspirando contra mim. Sabia que não deveria ter pisado naquele trevo semana passada. E então arrancado suas folhas. Ou foi o contrário?

— Sua mãe está te esperando na sala juntamente com Pedro e o senhor Parker.

Olho para uma Mary que me encara de volta com expressão branda. Sinceramente, essa mulher estava começando a me dar nos nervos.

— Hum, obrigada por avisar. Com licença.

— A sala está localizada no outro lado da casa. Certamente você não vai querer prosseguir por esse caminho.

Na verdade, era exatamente isso que eu queria, "prosseguir por esse caminho" e chegar até o meu quarto ridiculamente rosa antes de ver minha mãe. Mas, como a vida parece ser uma foto preto e branco sem resolução da Tekpix, dou meia volta e "prossigo" até mamãe e os Parker.

Quando entro na sala, a conversa imediatamente morre e sinto quatro pares de olhos cravados em mim. Sim, Calvin resolveu dar o ar da graça.

— Sinto muito.

Sou a primeira a falar. Sabe, às vezes é melhor engolir o orgulho e tentar não ficar de castigo ou receber sermão.

Isso! Quem sabe se eu derramar algumas lágrimas mamãe e o Toninho dela não se comovem e me deixam em paz? Vamos lá Samarinha, pense em algo triste... Pense em alguém queimando os teus livros! Espere, isso é revoltante, e não triste.

Tudo bem, é triste, mas eu ficaria muito mais irada que triste. Ou os dois, sei lá. Ah, dane-se o choro.

— Não, você não sente.

O jeito que ela fala isso... Nunca usou esse tom comigo antes. De repente começo a ficar temerosa pelo que está por vir.

— Eu e Antônio conversamos muito sobre as suas atitudes, e decidimos que está na hora de você amadurecer e se tornar mais responsável.

Sério isso produção? Como assim esse ser ridículo está opinando na minha educação? Quem ele pensa que é?!

Lanço um olhar venenoso para o casal de ouro, principalmente para o idiota.

— Ah é? E no que vocês se basearam para decidir isso?

Dane-se o plano de demonstrar arrependimento. No fim, orgulho é tudo.

— Nas suas últimas ações. E em todas as outras que vieram antes delas.

Ai, quase senti uma pontinha de remorso. Porém, não, muito obrigada.

— Tá, e daí? — Cruzo os braços, enquanto mamãe estreita os olhos para a minha expressão indolente.

— Olha aqui, mocinha...

— Então, acabei de lembrar que eu tenho um compromisso muito importante e inadiável...

— Não se atreva a sair daqui, Calvin. — Mamãe sequer ao menos olha para ele, que volta a se sentar e abaixa a cabeça. — Samara, já tolerei por tempo suficiente esse teu gênio, está na hora de mudar isso.

Ergo o queixo de modo petulante.

— E por acaso você chegou a essa conclusão sozinha ou precisou do teu queridinho pra iluminar os teus pensamentos?

Percebo que o meu comentário a irritou profundamente. Ótimo, que se irrite mesmo.

— Eu não admito que você fale assim comigo, Samara, e muito menos do Antônio.

— Senão o que? Hein? Vai me deixar de castigo? Me expulsar da droga dessa casa? Ótimo, faça exatamente isso. Mal posso esperar para ir embora da porcaria desse lugar.

Minhas palavras parecem abalá-la. Não só ela, mas Antônio também, que me encara boquiaberto. Até mesmo Calvin me fita atônito, finalmente deixando de olhar para os próprios pés.

— Não, — sua voz é dura quando ela finalmente se recompõe — não conte com isso. Por enquanto você está proibida de sair dessa casa, entendeu? Agora vá para o seu quarto e reflita sobre o tipo de pessoa que você está sendo.

O tipo de pessoa? Há, isso está se tornando cada vez melhor. Francamente, até parece que eu matei alguém ou usei drogas ou engravidei.

Dou um sorriso falso.

— Como você quiser, mamãe.

Talvez eu deva dar alguns motivos para ela insinuar que sou a porcaria de um tipo de pessoa.

Praticamente corro até a droga do meu quarto, quase tropeçando no último degrau da porcaria daquela escada. Mas quando estou chegando aos meus aposentos malditamente rosa, paro.

A porta está semiaberta, mas é o suficiente. Minha curiosidade sempre foi um mal recorrente.

Espio pela fresta do quarto de Pedro. Provavelmente ele saiu no meio da discussão sem que eu percebesse. Pedro está deitado em sua cama sem camisa. Não que eu nunca tenha visto um cara assim, porém com ele é... Diferente. De repente fico inquieta, enquanto o observo manusear um lápis contra o que parece ser um caderno. Definitivamente está desenhando.

Não sei quanto tempo fiquei observando-o, provavelmente alguns minutos. Quase pulo de susto quando Pedro olha na minha direção e me flagra espiando-o.

Franze o cenho para mim.

— Samara? O que está fazendo aí?

— Nada, eu só... É, nada mesmo.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Você estava me espiando. — Não é uma pergunta, mesmo assim faço questão de responder.

— Claro que não, seu achado. Por que eu perderia meu tempo contigo?

— Eu sei que você está aí na porta já faz um tempinho.

O quê? Desgraçado! Definitivamente tenho vontade de enfiar a cabeça em um buraco. Argh, quem esse garoto pensa que é para fazer com que eu sinta vergonha?

Sorrio com ousadia.

— E se eu estivesse?

Pedro coloca o lápis e o caderno de lado enquanto se senta na cama.

— Vem aqui.

Hesito por um momento, enquanto mordo o lábio. O Sr. Certinho estava me convidando a entrar no seu quarto enquanto sequer vestia uma camisa, sério isso produção?

Mesmo assim eu entro.

Vou até ele e me sento ao seu lado. O quarto tem um perfume agradável, e a cama parece perfeitamente convidativa.

— Posso ver? — Aponto para o caderno, morta de curiosidade.

— Não. — Sua resposta me irrita profundamente.

— E por que não?

— Por que eu não quero que você veja.

Ficamos nos encarando em um momento raro de silêncio, até que me surge uma ideia. Aperto meus lábios, e me concentro no caderno que está atrás de Pedro enquanto me jogo contra o mesmo e estico minha mão para o meu objetivo.

Obviamente meu plano se mostra uma furada.

Caio em cima de Pedro, que passa os seus braços ao redor de mim para me impedir de alcançar seu precioso caderninho.

De repente percebo que debate perdeu o posto de soberano dos eufemismos. Dizer que Pedro está me despindo com os olhos é o maior eufemismo que já vi na vida.

Por que é exatamente assim que me sinto enquanto ele me encara sem piscar: nua.

Eu seria uma bela de uma mentirosa se dissesse que não sinto nada enquanto nossos vários pontos de pele despida se tocam.

— Sam, sua doidinha...

Epifania. Sempre achei uma palavra legal e complicada, com um significado que jamais pensei vivenciar nessa vida.

Mas nesse momento eu era pura epifania.

Olhando para Pedro assim, vendo-o me olhar de volta dessa forma... Sei exatamente qual será um dos Motivos que darei a minha mãezinha amada.

Nesses momentos preferiria não acreditar em Deus, pois com Ele existindo, há um inferno também, obviamente.

E seria exatamente para lá que eu iria.


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