Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Hoje tem link de música e dúvidas rondando umas cabeças...



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Do ponto de ônibus para a entrada da faculdade vejo Bruno chegando também. Parece um pouco abatido e muito distraído, porque o chamei e ele nem pra virar. Dou uma corridinha e o alcanço:

- Eita, Bruno, ou eu virei muda ou você virou surdo, porque eu gritei e você nem percebeu.

- Ah, Milena. Desculpa, ando meio aéreo mesmo... quase bati o carro ali na entrada pra você ver. Quer saber, acho que nem vou pra aula...

Parados na passarela de entrada do prédio, fico bem a sua frente pensando que ele está doente também. Eita virose que tem caído por essa cidade, num pode nem dá uma chuvinha que os hospitais lotam. Levo minha mão a sua testa em instinto já, depois de um fim de semana todo medindo a temperatura de meu irmão – que, graças a Deus, só teve mais uma febre e baixa. Bruno suspira tenso quando vê que já percebi que ele não tinha febre, nem febril estava.

- O que foi, Bruno?

- Nada não. Só não estou legal... Acho que vou embora mesmo.

- Nada disso. Se você for, vai ter que me levar junto. Você acabou de dizer que quase bateu o carro, acha que vou deixar você sair dirigindo assim?

Sei que conheci o Bruno semana passada, sei que temos pouco tempo de conhecidos, porém, já me sinto bem chegada. Ficamos a semana quase toda trabalhando juntos pro evento do departamento... que tipo de pessoa eu seria se o deixasse sair desse jeito, ainda mais no carro?

- Não, Milena, você tem aula e ainda tem reunião dos monitores... Pode deixar que eu me cuido.

- Negativo. Prefiro me ferrar com professor a deixar um amigo na mão, depois eu me resolvo com as atividades da disciplina, você que precisa de uma dose de amizade agora. Vamos. Pelo menos andar um pouco... deixa o carro aí.

Não o deixo responder. Cruzo meu braço direito com o esquerdo dele e saímos de fininho, ainda com nosso material em mãos, ele de bolsa nas costas e eu no braço. Até poderia ter deixado os livros e caderno no carro, mas vai que daí ele quisesse me enrolar? Não está pesado mesmo. Chegando na esquina, topamos com Dani:

- Ei, onde vocês estão indo? E a aula?

- Vamos matar. O Bruno não está legal. Quer vir?

- Claro, faz tempo que não mato uma aulinha...

- Eita, Dani. Te conheci assim não.

- Ah, Bruno, você ainda não viu nada. Mas sério, tem dia que é melhor faltar do que ir pra sala e só seu corpo manter-se presente enquanto seu professor fala. Fala sério, estamos ajudando os professores.

- Não entendi essa lógica. Você sacou, Milena?

- Acho que sim...

- Vamos, eu conto no caminho.

Então Dani cruza seu braço esquerdo com o direito dele e saímos os três pela avenida, conversando. O que tiver na aula hoje pode esperar.

- Para onde vamos?

- Pra onde o vento levar, Bruno. Sem destino específico.

~;~

Se eu disser que fomos parar num baile funk, será que acreditariam em mim? Murilo certamente ia pedir as provas, as fotos e as testemunhas. Mas não, não fomos parar num baile funk... um pancadão certamente não seria uma boa para o ânimo de Bruno. Nem pagode também... mas foi onde fomos parar: numa rodinha de pagode de um bairro próximo, com direito a uma Dani tentando fazer um Bruno dançar e se animar. Ah sim, tenho fotos, vídeos e posso testemunhar de muita boa vontade. Bom, alguém tem que fazer isso, né?

Normalmente eu fugiria de rodinhas de pagode, não gosto mesmo. Dessa vez, no entanto, não que eu estivesse gostando do ritmo, mas estava bem... divertido. Quando nossos pedidos de churrasquinho saíram, arranjamos uma mesa um pouco afastada, no meio de uma praça. O tempo não estava fechado e nem tinha chovido hoje, e ainda assim batia um vento fresco forte. Dani mal falava comendo os cabelos:

- Aí que o Bruno já estava começando a acertar o passo quando ele se vira e vê você filmando. Po, Milena, foi difícil, viu.

- Eu tinha que registrar, gente. Pensem, daqui uns anos ou meses mesmo, a gente vai ver essas fotos e vídeos e vocês vão me agradecer.

- Até lá, eu só reclamo. Nesse meio tempo, você tem um pompom de cabelo? Vou ficar careca com essa ventania.

- Eu já ia oferecer... Calma, deixa eu achar aqui...

- Ih, desiste, Dani. Encontrar qualquer coisa em bolsa de mulher é se jogar num labirinto sem volta, imagine um pompom que é uma coisa pequena.

- Oxi, minha bolsa nem é grande. A da Dani que é.

- Bruno, eu vou apagar esse seu comentário do meu registro memorial porque você não vai querer discutir com duas mulheres sobre bolsas e nem o tamanho delas.

Só muito amor. Ainda bem que saímos pra descontrair, tava sem coragem mesmo de ir pra faculdade, mas olha, eu fui. Só não estou por lá, agora. Um desvio sempre é bem-vindo. Seja com piadinhas, seja com briga, seja com um amigo triste, seja comigo tirando foto da Dani descabelada com farofa voando.

~;~

- Poxa, Milena, o que é pagode, amigos, churrasquinho com vinagrete sem cerveja?

- Eu não bebo, então não faz diferença pra mim. E o Bruno não tá muito legal pra beber, Dani. Se você quiser beber e fazer a farra, não te preocupa não, estaremos bem em testemunhar isso para o caso de você não lembrar amanhã de manhã.

- Ah, não tem graça beber sozinha. Bruno, me dá uma força.

- Nem olha pra mim, o depressivo sou eu. Se eu virar uma cerveja agora, é capaz de a Milena me jogar a próxima na cara. Não quero arriscar, essa camisa ainda é nova. Vou abaixar a cabeça e fingir que não conheço vocês, tá?

- Olha a marra desse aí, Lena! Agora sim você merece um banho de cerveja bem gelaaaaaaaaaada!

- Depois dessa, eu chamo o garçom. GARÇOOOOOOM!

- NÃO, NÃO PRECISA NÃO! Meninas, deixem eu só abaixar a cabeça um pouquinho... vocês que me trouxeram pra esse pagode... eu ainda não tô legal...

- Bruno, você não quer falar nada não? Se abrir talvez?

- Não, meninas, já disse que não é nada. É só cansaço mesmo. Fazer faculdade e trabalhar suga a gente.

- Sei... vou ali no banheiro. Vem comigo, Milena? Deixa o Bruno de olho nas nossas coisas...

Bruno de cabeça abaixada, debruçado na mesa, não viu a Dani piscar. Ihh... o que será que ela quer fazer? Se for pra assustar o garoto, melhor não, ele não está em boas condições para esse tipo de brincadeira. Levanto, preocupada, e seguimos para próximo do banheiro quando ela para:

- Lena, ele não vai falar. Ele tá com problemas e não quer se abrir. Por que ele não quer se abrir? Quem sabe se... se a gente comprar cerveja, depois de umas ele fala...

- Dani, num me diz que você argumenta isso só pra não beber sozinha.

- Não, é sério. Eu tô preocupada com ele... e como ele se fecha, como eu vou poder ajudá-lo?

- Acho que o mantermos sóbrio já estamos o ajudando.

- Como?

- Você sabe dirigir?

- Não. O que tem a ver?

- Você sabe onde é a casa dele?

- Não. Por quê?

- Você tem dinheiro pra táxi?

- Não pra táxi, táxi é caro. Qual é dessas perguntas? Não estou acompanhando...

- O carro dele ficou no estacionamento da faculdade. Se ele bebe, vai querer dirigir... claro que não deixaremos, mas como ele vai voltar pra casa? Mesmo juntando nossas poucas economias, daria só uma corrida de táxi. E nem sabemos onde ele mora.

- Não sei, daríamos um jeito. E seu irmão? Ele tem carro.

- Nada... depois desses dias chovendo, o carro deu problema e tá na oficina faz semana já. Além do mais, melhor não envolvê-lo também, sabe como ele fica...

- Me agonia vê-lo assim... desde sábado ele tá estranho.

- Dani, encara, não podemos arriscar com ele assim. Se ele não quer dizer, não forçamos, deixamos que ele queira contar... enquanto isso, vamos estar a seu lado.

Voltando para a mesa, Bruno parecia nem ter se mexido. Puxo a cadeira fazendo barulho pra anunciar que voltamos... vai que ele tinha pegado no sono. Se tivesse dormido, eu daria só na cara dele se tivessem roubado nossas coisas.

- Seu celular tá tocando. Já tocou duas vezes.

- O meu?

- Não, é o da Milena. O dela tem assobio.

- O toque de identificação do Murilo também tem assobio. É assobio demais para uma pessoa que não sabe assobiar...

- Falta dizer que você tem outro toque com o assobio do Maroon 5, aquele do “Moves like Jagger”. Pensando bem, devia ser o meu toque.

- Nam, já tenho assobio o bastante, Dani, mas vou pensar no teu caso. Mais engraçado ainda é como ele consegue ouvir meu toque dali.

- Num sei também, mas consigo ouvir. Qual é a música mesmo?

- É a entrada musical de “Good Life”, do One Republic.

Pego o celular, levanto da mesa e me distancio mais do bar e da mesa, chegando quase à avenida do outro lado. O identificador de chamadas piscava “Flávia”. Aperto ‘atender’ enquanto visualizo distante Dani e Bruno na mesa, ele já de cabeça levantada. A Dani não cansa de insistir não? De onde ela tirou tanta preocupação?

- Alô?

- Amiga! Onde você est... Isso é pagode? Te sequestraram e tão te torturando é?

- Hã... não exatamente. Tive que fazer um desvio quando cheguei na faculdade.

- Oxi, nem pra me chamar pra esse desvio. Não gosto de pagode, mas tava aceitando... quem está por aí com você?

- O Bruno e a Dani que fazem monitoria comigo.

- Ah, mas eles você chama, né? Assim você me magoa, Lena.

- Nada, Flávia, eu que dei uma de sequestradora hoje... o Bruno não tava legal.

- Sei. Aí tu levou ele pra um pagode... Aham. Ele não tem cara de quem gosta de pagode, não. Tu tá muito furada, hein, Lena.

- Own Flávia, foi de última hora. Ele tava precisando de uma arejada... Tive que apelar pro pagode. Mas da próxima vez pode ter certeza que te ligo.

- Hum, bom mesmo, nem que seja pra pagode, senão te delato pros professores. Falando em professor, ainda agora antes de começar o intervalo, o diretor Fabiano tava atrás de vocês... e ninguém para achar... Até uma tal de Mariana tava atrás e... AI-MEU-DEUS!

- O QUÊ?

- É a professora Garra. Disseram que hoje ela ia aparecer, mas todo mundo achou que era furada, só que ela acabou de entrar aqui no pátio. Deixa eu morrer ali um pouco num sanduíche... que essa mulher me dá muita ansiedade. Pode deixar que te cubro nas aulas, depois te mando uma mensagem. Tchau.

- Tchau.

Trilha indicada: Alexz Johnson – I Don't Know If I Should Stay

http://www.youtube.com/watch?v=rEE4CUsdat0

♪ Wheres my will?

Can I find a way?

The earth is wild

And I can't sit still

A familiar sound

A familiar voice

Makes it's so hard

To make a choice

I don't know if i should stay…

Onde está minha vontade?

Posso achar um jeito?

A terra é selvagem

E não posso continuar sentada

Um som familiar

Uma voz familiar

Torna tão difícil

Fazer uma escolha

Eu não sei se devo ficar…♫

Desligo e continuo em pé onde estava... o vento tentando levar meu rabo de cavalo. Ainda via Dani sentada próxima de Bruno, ela de caras e bocas e ele com cara de desconversa... ainda assim pareciam estar bem. Eu que não estava bem, precisava pelo menos reconhecer a mim mesma. Vê-lo daquele jeito só me motivou mais a fugir... Traço pequenos passos pelo longo da calçada da praça, sem na realidade sair de onde estava. Meu pensamento então alcança mais uma vez o que estava determinada a não pensar.

Depois da conversa com a mãe do Vini quando saí do quarto dele meio alterada, me senti um pouco mal por ter mentido... Pra que ela não ficasse triste pela minha discussão, ou mesmo magoada por ter enfrentado seu filho ainda “debilitado”, disse a ela que a conversa fora boa, apesar de rasa. Eu tinha lhe dito pra não colocar tantas expectativas, embora eu acreditasse que fosse inevitável. Então ela me disse que ia voltar aos seus horários normais na faculdade, que já estava mais tranquila para retornar ao trabalho, e me agradeceu novamente. Forcei meu melhor sorriso amarelo sabendo que teria que pensar em alguma coisa para inverter essa situação.

Me emendei com o desânimo do Bruno, pensando que um passeio pra arejar as ideias fizesse bem... Ok, primeiro eu tenho que parar de me convencer de que eu não estava fugindo da professora, porque eu sabia que ela ia dar aula hoje, no último horário, quando na verdade eu estava sim tentando evitá-la. Mas sim, eu quis ajudar o Bruno, pra compensar essa falta comigo mesmo quem sabe.

Pelo menos tenho boas intenções, nem tão desviadas.


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