Wherever You Will Go escrita por Jules


Capítulo 4
Carry On My Wayward Son


Notas iniciais do capítulo

Bom meninas, aqui vai mais um capitulo. Pois bem, como algumas sabem, ou nao, eu estou no meio de um intercambio nos EUA, ou seja, ando sem tempo pra PC nem pra escrever tanto quanto eu gostaria. Por sorte, eu tenho alguns capítulos prontos que pretendo postar semanalmente e isso vai me salvar por um tempo, porém quando acabarem os cpitulos eu vou ser sincera em dizer: Não sei quando posso postar de novo. Obviamente eu pretendo postar antes de dezembro, mas não posso prometer nada.
Continuem com os reviews e muito obrigada pela recomendação, Ane. Voces me dão vontade de continuar, para que fique claro.
Tem um trecho que ficaria interessante se voces escutassem com a Musica "Jolene - Mindy Smith" talvez gostarão de acompanhar essa parte com ela.
Bom, espero que gostem desse capitulo!
Boa leitura.



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–Se contar uma mentira vai ter que pagar uma prenda.

–Já começou o jogo? Ok.

O sorriso não deixava o meu rosto conforme eu caminhava pelo campus, acompanhada do inglês de quem havia me aproximado muito nos últimos dias de aula. Na verdade, Aaron e Juniper haviam se tornado uma parte tão importante do meu dia, que eu sequer me lembrava do quão chato que era estudar. Depois de virar a noite para a prova de terça, eu havia conseguido garantir uma boa nota, o que não foi exatamente benéfico, já que nas outras aulas que tive que fazer para o resto do dia, eu havia aparecido exatamente como um zumbi, o que me levou a virar piada para Juniper e Aaron, que me encheram o saco por causa disso até o fim da semana. Nos outros dias, havíamos combinado que seria legal tentarmos estudar juntos ao descobrir que Juniper era genial nas partes exatas, que eu realmente não me dava bem e Aaron possuía a fala da explicação perfeita o que foi quase um milagre de ajuda para mim.

Como eu já suspeitava, a universidade era bem complicada, mas com a ajuda dos amigos que eu havia arranjado, estava ficando bem mais fácil. Paige, a loira gostosa que havia conhecido do banheiro, havia virado um personagem importante para mim também. A verdade era que ela conseguia me arranjar todo o tipo de energético e substâncias para ficar ligada ali, a garota estava no terceiro ano da faculdade e conhecia todos os tipos de substâncias possíveis, o que me fez pensar que médicos, ou melhor, estudantes de medicina, eram as pessoas mais perigosas do mundo, por conseguirem achar diversas formas de criar uma droga para te dar um senhor de um barato... Não que eu tivesse ingerido alguma! Porém, havia descoberto o porque de Zoe falar que as festas da universidade eram tão boas.

Juniper, Aaron e eu não havíamos nos desgrudado desde então. Aaron descobriu que gostava da minha companhia e de Juniper, além que, andar perto de nós duas, conseguia ter o efeito maravilhoso de manter Viola longe de si, já que tudo o que ela fazia quando o via conosco era falar rapidamente com o garoto, ou então nos fuzilar com o olhar, nada contente de que estejamos roubando o seu namorado... Quer dizer, ex-namorado... Quer dizer, X. Juniper por outro lado, não parecia ser a pessoa com mais amigos na face da terra, e por conta de Aaron e eu sermos pessoas mais sociáveis e que de fato tentamos uma aproximação da garota, nos surpreendemos a quão divertida e animada ela poderia ser quando perto dos amigos. Era curioso ver como uma pessoa tão calada e estática em público, poderia ser uma figura engraçada e animada quando confortável e com aqueles que gosta. Em menos de uma semana eu podia jurar que Juniper confiava em apenas duas pessoas em toda aquela universidade: Em mim e no Inglês.

E eu... Bem, eu estava amando os dois com toda a minha alma. Aaron era realmente divertido e via o mundo e todos de uma forma tão diferente, que era difícil alguém não se sentir completamente intrigado com que tipo de substância fantástica rodava pelo cérebro daquela pessoa. Juniper havia me cativado desde o primeiro dia, quando se mostrou preocupada comigo e disposta a me ajudar com o que era necessário. Eu tinha o que eu esperava ali dentro e tinha o suporte de quem eu queria. É claro que havia conhecido outras pessoas interessantes, como colegas de sala, meninas do dormitório, e até mesmo a vendedora de salgados da lanchonete do campus que me dava desconto pelos pães de queijo, mas nenhum deles foi uma coisa tão intensa quanto aqueles dois citados acima. Se pudesse dar um chute desde já, diria que seriam meus melhores amigos ali.

Juniper e eu, como as duas gênios que éramos, conseguimos arranjar um tempinho extra e iniciamos nosso projeto “parede da Mandy”. Havíamos passado na loja de materiais e compramos tinta de cor preta e dourada, o que achei realmente legal, para pintar algumas coisas na parede e colocar as luzes que foram ideia da ruiva. Fiquei impressionada com a habilidade artística que Juniper tinha e no tanto que sua letra era mais bonita do que a minha. Ela havia dado a ideia de escrever uma frase que eu gostava e em volta colar as fotos para enfeitar e com as luzes, colocar acima da parede para ficar um negócio legal de meia luz, quando não quiséssemos que o quarto ficasse completamente escuro. A frase que optei por escrever foi “Wish You Were Here”, o nome da música que mais gostava, da minha banda favorita: Pink Floyd.

Depois de um longo dia de estudos e dor de cabeça por conta da matéria pesada, eu já havia parado de absorver e Aaron de gastar saliva com uma Mandy supersaturada, o que foi a razão para que resolvêssemos sair para caminhar um pouco, descansar a cabeça de tantas horas de estudo. Juniper havia dito que precisava arrumar algumas coisas do dormitório, algo a ver com suas tabelas, e quando me ofereci para o trabalho, ela recusou, insistindo que poderia fazer sozinha, abandonando a mim e Aaron em nossa caminhada. O dia havia colaborado um tanto por conta de temperatura e eu não estava usando mais um daqueles grossos casacos. Usava agasalhos sim, e me irritava ao ver o tanto que eu estava de roupas a mais que Aaron que passeava com muito menos dificuldade que eu. Talvez eu fosse friorenta demais, talvez ele fosse calorento demais. Talvez ambos.

Depois de alguns metros jogando conversa fiada, Aaron havia tido a brilhante ideia de fazer uma brincadeira chamada “O jogo da verdade” e como não tinha nada a perder, concordei. Agora era a minha vez de começar, e tinha tantas perguntas a fazer quanto para responder. Por um momento, era um livro aberto.

–Então, dona Mandy. Me diga o lugar mais legal que você já visitou em toda a sua vida.

Falou com um sorrisinho, esfregando uma mão na outra com o intuito de esquenta-las. Parei por um momento, pensativa. Eu havia conhecido tantos lugares bonitos e legais ao longo do tempo... Minha família tinha a tradição de viajar junta em todo fim de ano e sempre conhecíamos lugares novos, com comidas novas e paisagens novas... Mas ao pensar em beleza e diversão, um lugar especial bateu em minha mente. Abri um sorriso, me virando para o garoto, completamente certa de minha resposta.

–Ilha Bela. –Falei. –O lugar mais bonito que já vi em toda a minha vida. Tem que ver. Fica no Brasil. Para chegarmos à ilha temos que pegar uma balsa e a paisagem é simplesmente de tirar o fôlego... Nada igual.

Aaron ergueu uma sobrancelha para mim e fez uma careta bem acentuada, como se estivesse desconfiado, me analisando. Franzi a testa, achando o gesto estranho, mas dei risada ao mesmo tempo. O garoto sorriu, dando de ombros, mostrando que estava brincando.

–Está falando a verdade. Eu tenho mesmo que conhecer o Brasil. Sua vez.

–Hm. –Parei por um momento, observando o nada. O que eu queria perguntar? Tinha tanta coisa... Mordi o lábio organizando os meus pensamentos. –O que você gosta de fazer lá na Inglaterra?

Aaron levou as mãos até os bolsos conforme caminhávamos. Seus olhos azuis apontaram para algum lugar no nada, enquanto fazia uma caretinha tentando pensar. Dei uma risadinha acompanhando seus passos. Por um momento sua face se abriu em tom divertido e seus lábios se entortaram em um curto sorriso, como se minha pergunta tivesse o feito sentir falta de casa. O pior, é que havia apenas seis dias que eu havia chegado... Eu já estava morrendo também.

–Ok, você vai rir dessa. –Falou em tom divertido. –Minha família mora perto de um lago em Londres. É um lago bem grande. Então quando estamos entediados, eu e meus amigos vamos para aquele lago com minha caminhonete, então a gente liga o som e ficamos lá rindo. De vez em quando as meninas fazem concurso de dança para brincar, sobre a caçamba e quando estamos no inverno, simplesmente gostamos de correr sobre o rio congelado e patinar de sapatos mesmo. Sempre resulta em alguém quebrando o nariz ou caindo de boca, mas é muito engraçado. Se tivessem lagos congelados em Boston, seria lá onde eu estaria nesse momento.

Eu acho que meus olhos brilharam enquanto eu escutava Aaron falar. Ele havia me contado com tanto orgulho e com os olhos tão animados e carregados de sentimentos diversos, que eu tive vontade de ir para o lago. Realmente, o que eu fazia quando estava com tédio no Brasil, era chamar minhas amigas e ficar em casa, ou então ir ao shopping. Queria eu ter um lago em São Paulo. Um próximo que não fosse o rio Tietê. Ia ser demais. Assenti abrindo um doce sorriso.

–Muito legal. Acho que nunca vi um lago congelado.

Dei risada para então perceber que nunca havia visto neve. Fiz uma careta, vendo a surpresa nos olhos de Aaron. Dei risada porque sua face estava engraçada com os olhos azuis arregalados e a boca em forma de um “O”.

–Como assim nunca viu um lago congelado? Onde ficou no intercâmbio?

–Los Angeles.

Sorri. Aaron balançou a cabeça negativamente.

–Que azar! Neve é bom demais.

–Odeio frio.

–Porque nunca viu um lago congelado. –Sorriu. –Quando você for para a Inglaterra, vou te levar no lago.

–Ok. –Dei risada, achando fofo o... Aquilo era um convite? Tanto faz. Lhe dei um leve empurrão, desviando o seu foco. –Sua vez!

–Certo. –Aaron levou a mão até o queixo. –Sua música favorita?

Fácil. “Wish You Were Here”.

–Muito bom…

Assentiu ele. Abri um sorriso.

–A sua?

–Eu diria que há um empate entre “Carry On My Wayward Son” e Bohemian Rhapsody”.

–Uau. –Dei uma risadinha, impressionada com o gosto musical do inglês. –Kansas e Queen. Muito bom.

–Grato. -Deu risada diante do meu comentário. Mordi o lábio esperando qual seria a próxima pergunta que viria. –Cor preferida?

–Rosa. –Falei certa. –Ou azul. –Parei por um momento confusa. Rosa ou azul? Acho que gostava igualmente das duas. –Uma das duas. –Dei uma risadinha, vendo-o fazer o mesmo. Aaron me ergueu uma sobrancelha. –E a sua?

–Talvez vermelho. –Estreitou os olhos. –Ou verde. –Riu. –Uma das duas.

–Não é justo. –Dei risada, o olhando feio. –Está tirando sarro de mim!

–Eu?! –Aaron arregalou os olhos de forma exagerada, fazendo-me rir mais. –Nunca!

–Certo.

Revirei os olhos conforme continuávamos andando. Acho que nenhum dos dois sabia exatamente paraonde estávamos indo. Só estávamos simplesmente caminhando para conversar mais.

–Qual é o seu maior sonho? Se não fosse ser médica, é claro.

–Fácil. –Falei agora em um tom não tão animado. –Música.

–É mesmo? –Aaron ergueu uma sobrancelha, observando-me curioso. Assenti. –Que tipo de música? Toca o que?

–Quantas perguntas está fazendo dessa vez? –Dei risada do interesse do garoto. –Isso vale?

–Claro que vale! –Protestou. –São perguntas anexo.

–Aposto que essa regra não existe.

–Existe sim.

Insistiu, fazendo-me dar mais risada, mas cedi. Olhei para o céu tentando pensar em como responder aquelas perguntas. Acho que sempre fui frustrada por não poder seguir meu sonho enquanto Briza fazia isso. Não que eu não estivesse feliz pela minha amiga, na verdade eu estava mais do que isso. Eu sentia que estava indo com ela. Mas de qualquer forma, eu não estava, e ela seria famosa um dia, não eu. Eu havia nascido com esse amor e esse sonho, e infelizmente tive de simplesmente abrir mão dele por que... Bem, porque eu cresci. Desde então falar sobre isso não havia se tornado algo legal. Era como se eu já tivesse tido a chance de ser grande. Havia estudado na melhor escola de música de Los Angeles, já havia me apresentado na Broadway... Mas quando a chance finalmente veio em minhas mãos, eu a deixei ir. E eu sabia que chance como aquela era apenas uma vez na vida.

–Bom... –Soltei um suspiro. –Eu não toco um instrumento pra valer. Eu me viro com o violão, mas não sou um gênio nele. –Dei uma risadinha sentindo os olhos de Aaron em minha direção. Engoli em seco. –Eu canto. Na maioria das vezes música lírica, mas gosto de um pouco de tudo. Estudei em algumas escolas de música desde pequena, mas parei agora mais velha porque os estudos não me dão tempo pra isso. –Soltei uma risadinha amarga. –Então aqui estou eu.

Os olhos de Aaron me furavam como agulhas, sua expressão parecia ser compreensiva, mas eu sabia que ele não entendia. Aaron era perfeito. Sempre quis ser médico, estuda desde que se entende por gente... Eu? Queria ser música. O que eu estava fazendo ali então? Eram perguntas que me doíam um pouco. O garoto me abriu um sorriso largo ao ver que eu estava em meio a uma briga interna e me olhou em tom animado. Franzi a testa, dando risada da reação.

–Isso é incrível, Mandy! Canta pra mim?

–O que? –Dei um pulo, surpresa pela pergunta. –Não!

–Por que não? –Perguntou em tom manhoso. Revirei os olhos. –Olha, eu te deixo fazer cinco perguntas pra mim! As que quiser! E eu vou falar a verdade!

–Eu ia fazer as cinco perguntas de qualquer forma! –Dei risada. –Você me deve pelas “anexo”.

–Ah Mandy! –Resmungou mais uma vez, fingindo-se magoado. –Por favor! Eu quero muito ouvir!

–Não é não Aaron. –Falei séria, esperando mudança de reação, mas isso não aconteceu. –Eu não canto há uma cota de tempo também!

–Mas isso não é problema! Não quero te ouvir cantar bem, só quero te ouvir cantar. –Sorriu parecendo certo, mas ainda me encarando em tom pidão com aqueles grandes olhos azuis. Senti meu coração falhar uma batida. –Vamos! Por favor...

Insistiu. Senti a dó brotar em meu estômago e no momento seguinte eu já estava batendo o pé em frustração, e Aaron me olhando em tom feliz e vitorioso. Era impossível dizer não para aquela criatura e esse fato me dava vontade de arrancar todos os seus dentes com o punho. Aaron se sentou em um banco ali e me certifiquei de que não havia ninguém por perto para ouvir... Parecíamos estar sozinhos. O meu problema não era a vergonha, eu já havia me apresentado, mas... Eu não sei. Havia muito tempo desde a última vez em que eu havia cantado, não tinha certeza se conseguiria fazer legal.

–O que quer que eu conte, coisa chata?

Perguntei impaciente. Aaron parou por um momento, dando de ombros.

–Eu não sei. Escolha uma música que goste de cantar.

Parei por um momento pensativa, tentando me lembrar de alguma música que eu gostava de cantar. Bem, a primeira que havia aprendido no violão, havia se tornado uma muito especial para mim. Me lembrei da primeira vez em que a ouvi, no computador e como achei a voz da mulher que a cantava era tão doce e suave, que queria um dia cantar como ela. A música na verdade era de outra mulher, e a que havia ouvido era uma versão cover de uma cantora de country chamada Mindy Smith. E foi por conta dessa cantora que coloquei meu nome de “Mandy” ao sair para o intercambio. Soltei um suspiro ao decidir mentalmente que seria essa música que eu cantaria. Aaron tinha os olhos grudados em mim, cheios de expectativa.

Jolene, Jolene, Jolene, Jolene... I’m begging of you, please don’t take my man. Jolene, Jolene, Jolene, Jolene, please don’t take him just because you can. –Comecei a cantar, tentando manter o tom suave,assim como o de Mindy durante o refrão. –Your beauty is beyond compare, with flaming locks of auburn hair with ivory skin and eyes of emerald green. Your smile is like a breath of spring, your voice is soft like summer rain, and I cannot compete with you, Jolene. –Esperei um momento como se a melodia estivessesoando, esperando para voltar a cantar. Tentava colocar além da afinação, o tom de sofrimento em minha voz, não exageradamente como naquelas músicas sertanejas, mas sim porque a música se tratava sobre uma mulher sendo traída, que implorava pelo seu homem. -He talks about you in his sleep. There's nothing I can do to keep from crying when he calls your name, Jolene. And I can easily understand how you could easily take my man, but you don't know what he means to me, Jolene! Jolene, Jolene, Jolene,Jonele, I’m begging of you please don’t take my man! Jolene, Jolene, Jolene, Jolene… Please don’t takehim just because you can. –Deixei o solo de guitarra soar em minha mente como se estivesse de fato escutando a música. Tenho certeza que meu corpo balançava levemente de um lado para o outro conforme eu jurava ouvir a doce melodia. Eu me sentia leve e me sentia tão bem que era inacreditável, eu definitivamente nunca me senti tão bem daquela forma em anos. Meus olhos pousaram-se em Aaron que me observava em silêncio, sem piscar. Meus olhos foram firmes e olhava-o da forma mais profunda, o sorriso não se abria em nenhum dos lábios, mas partilhávamos uma espécie de pensamento. Eu podiasentir.–You could have your choice of men, but I could never love again, he’s the only one for me, Jolene. I had to have this talk with you my happiness depends on you and whatever you decide to do, Jolene!Jolene, Jolene, Jolene, Jolene! I’m begging of you please don't take my man! Jolene, Jolene, Jolene, Jolene… Please don't take him even though you can. Jolene, Jolene…

Assim que minha boca se fechou, a de Aaron se abriu em um enorme sorriso e logo palmas foi tudo o que escutei. Dei risada escondendo o rosto, enquanto ele se colocava de pé e dando uma risadinha se aproximava de mim, pousando a mão em meu ombro. Abri um sorriso, recuando conforme ele tentava tirar minhas mãos que cobriam meu rosto.

–Ei, ei, ei! Você é incrível. Eu estou sem palavras. –Falou dando risada, tentando fazer-me mostrar o rosto. –Eu nem acredito. Você canta muito melhor do que várias famosas por aí!

–Obrigada.

Falei em som abafado pelas minhas mãos que cobriam meu rosto. Aaron parou de tentar tirar minhas mãos e olhando por entre os dedos pude vê-lo de braços cruzados e me encarando de forma feia enquanto batia o pé lentamente. Dei risada da cena, tirando as mãos do rosto para jogar a cabeça para trás ao gargalhar. O garoto no fim cedeu e riu junto de mim, caminhando em minha direção, enquanto continuávamos nossa caminhada.

–Eu não pensei que você cantasse tão bem. Esperei uma pequena maritaca gritando.

–Ei! –Protestei lhe dando um tapa no braço, o que o fez rir, mas acabei rindo junto. –Você pode ser muito chato quando quer.

–Quando quero?

Touchet.

Revirei os olhos, fazendo-o abrir um sorriso bobo de canto. Aaron colocou mais uma vez as mãos nos bolsos, soltando um suspiro. Ergui uma sobrancelha olhando-o de canto em tom divertido. Fez uma reverência.

–Vamos, pode mandar sua maré de perguntas.

–Certo! –Dei um pulo ao me lembrar e olhei-o com olhar sapeca o que o fez recuar um passo. Dei risada com sua reação. –Qual o seu sonho secreto? Qual foi a coisa mais bizarra que já te pegaram fazendo? Me conte uma coisa que ninguém mais sabe? Com quantos anos deu o seu primeiro beijo? Qual o seu maior medo? Qual o seu maior arrependimento?

–Eu contei seis, moça.

Sorriu com os olhos arregalados pela maratona de perguntas. Dei de ombros, não ligando para isso.

–Uma a mais não vai te matar.

–Então vou pedir para cantar outra música. –Brincou ele com um sorrisinho, mas desistiu da ideia ao me ver fuzila-lo com o olhar. Ergueu as mãos em rendição. –Ok... Vamos ver. O meu sonho secreto é... Bem, antes de eu querer ser médico eu sempre tive o sonho de ser piloto de Fórmula 1. Eu corri por um tempo quando era mais novo, mas acho que era muito ruim, por isso meu pai nunca me deu real força para isso. –Deu risada, fazendo-me acompanhar por conta da sua conclusão. Aaron era desapegado de sentimentos e não parecia se sentir constrangido em falar. Admirava muito aquilo. Sua forma de colocar humor em tudo. –A coisa mais bizarra que já me pegaram fazendo? Olha, foram tantas. Mas acho que ganha a de quando eu tinha sete anos de idade, quando minha mãe chegou em casa e eu... –Me olhou de canto com um sorriso bobinho. –Eu estava vestido com as roupas dela... E de salto alto. Cantando.

Acho que gargalhei muito alto quando ouvi sua história. Aaron me acompanhou na risada, mas eu ri tão alto que fazia um tempo que não dava risada daquela forma. O garoto observava-me encantado como se adorasse o fato de que ele tivesse causado aquela reação em mim, que ele estivesse me divertido. Demorou um pouco para eu conseguir parar, minha barriga doía, mas mesmo assim eu forçava meus pés a continuarem a caminhada. Aaron tinha um sorriso bobo no rosto, que me fazia querer rir mais, mas comecei a me conter assim que comecei a chorar.

–Oh meu Deus, Aaron!

–Pois é. Demorou para eu convencer meus pais que eu não era gay. Eles não sossegaram até eu apresentar minha primeira namorada. –Dei risada com seu comentário, enquanto ele também se divertia. Olhou para mim com um sorriso enorme no rosto. –Qual era a próxima?

–Um segredo que ninguém mais saiba.

Falei enxugando as lágrimas, Aaron sorriu com um pouco de entusiasmo no rosto.

–Ah sim! –Sorriu. –Primeira em que eu vou confiar, hein? Lá vai... Quando eu tinha doze anos, eu morava do lado de uma garota que andava de cadeira de rodas...

–Ah meu Deus. Lá vem.

Resmunguei cobrindo o rosto com as mãos, tentando não começar a rir desde já. Aaron deu uma risadinha, continuando.

–... E eu sempre achei que ela tinha uma quedinha por mim. Até que uma vez quando nossas mães estavam longe ela me fez pegar no peito dela.

–O que? –Perguntei dando risada. –Você assediou uma menina de cadeira de rodas?

–Ela colocou minha mão lá! –Protestou ele erguendo as mãos, enquanto eu lhe dava tapinhas leves fingindo repreende-lo. Aaron dava risada da minha reação. –Eu juro! Mas sh! Ninguém sabe disso!

–Pode deixar.

Dei risada enquanto balançava a cabeça negativamente. Esse menino não tinha jeito.

–Primeiro beijo, certo? –Assenti. –Eu tinha doze anos.

–Foi com a menina da cadeira de rodas?

Perguntei surpresa. Aaron deu risada, balançando a cabeça em negação.

–Não. Leslie Kruger. Nós estávamos jogando verdade ou desafio e nos colocaram em um quarto em que a gente não poderia sair até nos beijarmos. Acho que eu nunca tremi tanto em toda a minha vida.

–Ah! Que bonitinho!

Dei risada me segurando para não apertar as bochechas do garoto. Aaron deu risada.

–Sim, eu sei.

Brincou, fazendo-me revirar os olhos.

–Não é mais.

Mostrei a língua, o que o fez sorrir mais uma vez. Fungou enquanto fingia enxugar uma lágrima. Eu não tinha ideia há quanto tempo estávamos caminhando, só sabia que não queria parar.

–Justo. Eu sou muito medroso com muitas coisas. –Falou pensativo. –Mas se eu for escolher um, acho que diria que sou claustrofóbico. Não gosto de lugares apertados e fechados demais... Não gosto de escuro também, mas mais por não ver onde vou do que por outra coisa... E já que estou falando mais de um... Eu tenho um medo de infância do qual não me orgulho. –Falou dando de ombros. –Eu não... Tenho bons sentimentos em relação a relâmpagos e raios.

Um sorriso se abriu em meu rosto ao imaginar Aaron se encolhendo em algum lugar quando mais novo ao ouvir uma tempestade, e ainda hoje como deve fazer isso sem mãe ou pai para acolher. A verdade é que todos temos medos bobos. Eu por exemplo, além do meu horror a altura, tenho um medo inexplicável de aranhas. Não porque picam ou são mortais, eu simplesmente tenho medo das muitas patas e olhos... Algo bizarro, sim, algo que eu hesitaria a contar para alguém, mas Aaron estava me contando sobre os trovões e eu achei isso realmente fofo. Mordi o lábio, dando uma leve risadinha e assentindo, tocando o seu ombro, o que não levou muito tempo, pois logo voltei minhas mãos para o casaco por frio. Aaron deu uma risadinha da minha cara.

–Muito bem. O que mais?

–Ah sim! E bom. Meu maior arrependimento...

Não sei bem o que Aaron ia me contar, mas assim que começou, como se fosse um sinal que era contra as regras eu fazer minha sexta pergunta, uma figura surgiu diante de nós, abanando os longos cabelos loiros e com um sorriso tão maníaco que senti vontade de recuar um passo. Aposto que Aaron também quis recuar o passo ao ver Viola, parada diante de nós, com um sorriso ala Chuck o Boneco Assassino olhando para nós dois, como se tivéssemos sido a melhor noticia do seu dia. Viola usava uma tiara que prendia a franja para trás enquanto o cabelo acompanhava seu corpo até o cós das calças jeans mais altas. Os olhos claros eram muito arregalados e assustadores em nossa direção. Briguei contra meu corpo pelo extinto de sair correndo.

–Oi vocês dois! Que bom que os encontrei! Estava procurando por um, mas aí pensei: Ei! Vou encontrar os dois se procurar por um porque vocês andam juntos o tempo todo! Muito legal! Ia poupar meu trabalho de procurar um depois o outro!

Disparou, fazendo-me piscar algumas vezes para tentar acompanhar o que dizia. No final já estava perdida. Aaron abriu um sorriso simpático para Viola, sendo educado como sempre enquanto eu a olhava com uma cara de dúvida, não por querer, é claro.

–Olá, Viola. Por que estava nos procurando?

–Eu vim avisar que o pessoal da medicina vai fazer uma festa amanhã à noite no prédio. Então apareçam! Vai todo mundo e o pessoal achou legal fazer para nos conhecermos melhor! Pode levar gente de fora, mas contanto que seja no máximo duas pessoas porque não queremos mais gente de fora do que de dentro! Aliás, tentem não chamar, mas se quiserem mesmo chamar, chamem. Só tente não trazer mais que dois porque, como eu disse antes: Mais alunos, menos forasteiros.

Ela está querendo me confundir? Perguntei para mim mesma, enquanto continuava a olha-la com uma interrogação estampada na testa. Aaron assentiu, com o seu sorriso doce olhando para mim em seguida. Fez um gesto de gratidão para Viola, por ter se lembrado de nos passar o recado.

–Eu vou aparecer sim, não devo levar ninguém.

Falou. Viola deu alguns pulinhos baixos e bateu palminhas para fazer graça. Olhou para mim com o mesmo sorriso Barbie no rosto.

–Eba! E você, Mandy? Vai, não é?

–Eu... Sim, sim. –Sorri. –Também não devo levar ninguém, então...

–Eba!

Viola pulou, dando um abraço em mim e em Aaron ao mesmo tempo. Arregalei os olhos o erguendo uma sobrancelha, Aaron se limitou a dar risada. Viola nos soltou em seguida, se virando para o inglês.

–Eu precisava mesmo te perguntar algumas coisas, será que pode me ajudar? É muito importante.

Falou, olhando para ele e depois para mim, demoradamente. Estreitei os olhos enquanto via Aaron coçar a nuca, um tanto sem jeito. Olhou para mim e depois para Viola, em parte esperando que eu o puxasse, em parte por não querer negar o pedido da menina e ser inconveniente.

–Desculpe, Viola, mas eu estava estudando com Mandy. Não sei se já terminamos, então...

–Poxa vida! –Viola abriu uma expressão chateada exagerada. –Mas acho que Mandy já acabou com a dúvida, certo? Afinal, estão andando há tanto tempo. Né Mandy?

Falou, com o sorriso Barbie no rosto, com aquele brilho de “diga sim agora, ou te esfaqueio enquanto dorme” que me deixou realmente sem saída. Olhei para ela e depois para Aaron, soltando uma risadinha sem graça e assentindo dando de ombros. Olhei para o moreno, em tom de desculpas.

–Acho que já tirei minhas dúvidas sim... Obrigada.

–Oba! –Exclamou Viola o puxando pela mão. –Então você é meu! Até mais Mandy!

Exclamou saindo correndo antes que eu pudesse sequer responder. Dei uma risadinha leve enquanto balançava a cabeça negativamente e pensava na fria em que meu amigo tinha entrado ao começar alguma coisa com aquela dissimulada. Meus passos voltaram, agora solitários em direção a biblioteca onde havia deixado minhas coisas e lentamente, comecei a juntar meus livros e coloca-los em minha bolsa. Franzi a testa ao ver que a luz do meu celular piscava e ao olha-lo encontrei três ligações perdidas, mais uma mensagem. Franzi a testa enquanto clicava no botão das mensagens, ao me deparar com o número de Logan. A abri, encontrando as seguintes frases estampadas em minha tela.

Pego um voo amanhã de manhã. Pela tarde devo estar chegando a sua universidade, quero parar para ver Zoe e Jason antes. Passo para te buscar aí e então podemos fazer alguma coisa, está bem? E me atenda, caramba! Beijo.”.

Um sorriso se abriu em meu rosto e mais uma vez senti meu coração disparar. Logan estava vindo, vindo me ver. O quão emocionante isso poderia ser? Senti o nervosismo brotar dentro e mim. Oh meu Deus! Eu iria vê-lo ao vivo depois de quatro anos inteiros! E não tinha sequer para onde fugir! Mas eu queria o ver. Queria vê-lo com todas as minhas forças, porque agora que eu tinha a chance, queria agarra-la. Como Juniper já havia me dito, se for para dar certo, dará. E por que não? Nós tivemos um motivo uma vez para ficarmos separados, agora não tínhamos mais. Agora eu estava aqui e ninguém me faria voltar. Nós poderíamos ficar juntos.

Com os dedos ágeis, respondi a mensagem que eu sabia que poderia mudar minha vida dali para frente. A mensagem que poderia fazer as coisas voltarem da mesma forma que era antes, e me fazer sentir como eu me sentia antes. Mandei o que eu queria e o que eu esperava. Eu esperava ele porque estava morta de saudades e finalmente iriamos nos reencontrar.

Ok. Te encontro aqui.”.



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Notas finais do capítulo

Não vou postar as fotos porque estou sem o meu lap top, desculpem :(
O que acharam do cap? :)



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