Rose regressou a casa de Dimitri na noite seguinte após as vinte e quatro horas em que passou distante buscando associar seus sentimentos pelo médico com o que ela havia ouvido naquela sala na casa de Yeva. Ela subiu as escadas lentamente como quem buscava coragem para encarar o mesmo depois de seu sumiço e então ouviu a porta do quarto ser aberta e quando estava prestes a cruzar o último degrau Rose deu de encontro com Dimitri que ao vê-la parou abruptamente no meio do caminho cerrando seus olhos e entre abrindo os lábios.

– Rose? –ele se manifestou.

– Oi Dimitri... –respondeu ela como se sentisse culpa por ter se afastado.

– Oi? Onde você esteve? Estive procurando por você o dia todo. –dizia ele ao dar alguns poucos passos em sua direção.

– Me desculpa, eu tive que te deixar sozinho você precisava...

– Eu chamei você Rose. –ele disse já um pouco mais perto e falando em tom moderado, embora chateado. – Você não ouviu?

– Sim... Eu ouvi. –disse baixando os olhos e erguendo-os em seguida.

– E por que não respondeu?

– Escuta eu precisava me afastar um pouco, eu tava confusa...

– Você tava confusa? –ele pareceu indignado, mas continuou falando baixo. – Eu me ouvi naquela fita Rose, precisava de você, precisava conversar sobre o que aconteceu, e você simplesmente decidiu me ignorar? Eu pensei que você tivesse... –ele buscou as palavras. –Tem ideia de quantas vezes fui até o seu quarto nessa tarde?

– Eu sinto muito Dimitri, mas...

– Eu... Você podia pelo menos ter me dito que estava bem, eu pensei que você tivesse partido Rose.

– Dimitri eu sinto muito, mas...

– Dimitri? –de repente uma voz feminina foi ouvida de dentro do quarto o que fez Rose se calar e apertar os olhos.

Dimitri respirou profundamente desviando o olhar para a porta de onde logo surgiu uma moça alta de cabelos loiros e decote afortunado. Esta se escorou no marco da porta enquanto sorria e dizia:

– Eu estava procurando minha pulseira que eu deixei aqui da ultima vez, e olha o que eu encontrei! –disse ela mostrando um pequeno chicote preto enquanto sorria maliciosamente.

– Ah meu Deus. –se manifestou Rose. – Uau! Deu pra ver o tamanho da sua preocupação comigo Dimitri... –disse encarando o moreno com olhar de desaprovação. – Você é ridículo.

Após estas palavras Rose desceu as escadas, furiosa com aquela cena enquanto Dimitri se virava para a loira e pedia licença.

– Tasha eu já volto. –disse estendendo a mão e logo se virando e descendo as escadas as pressas atrás de Rose.

Quando chegaram à sala, ele tentou chamar pela garota que simplesmente o ignorou e atravessou a porta. Ele por sua vez abriu a mesma e passou por ela correndo rumo ao pátio. Rose seguia em direção a rua quando ele a viu e se manifestou:

– Rose espera...

– Pra que? –ela se virou abruptamente e o encarou com toda sua raiva. – Você não parece precisar de mim nesse momento Dimitri, a menos que você precise de instruções, mas eu acho que isso pode ser feito por aquela loira peituda lá em cima.

– Rose não é nada disso que você tá pensando ela...

– Eu não quero saber... Vocês homens são todos iguais mesmo... –ela se virou depois passou as mãos nos cabelos e o encarou de novo cuspindo fogo. – Qual é o problema que vocês têm com as loiras? É sempre uma loira...

– Rose quer me ouvir?

– Não Dimitri... Volta pra lá... Fica com ela, ela é de carne e osso você pode tocá-la... –disse se virando e caminhando rumo a rua.

– Rose... –ele deu dois passos e ela sumiu. – Ah... –ele resmungou para si.

...

Rose estava ao lado do seu leito no quarto do hospital apenas fitando seu estado enquanto deixava suas mãos repousadas próximas a seu braço esquerdo. Ela voltou seus olhos para a porta quando esta se abriu, e por ela passou Dimitri. Os olhos de Rose se reviraram nas cavidades, e ela ergueu uma das sobrancelhas voltando a encarar seu próprio rosto ignorando a presença do médico.

– Eu imaginei que você viria pra cá. –disse ele andando até a cama.

– Tá fazendo o que aqui? –questionou ela em tom zangado sem olhar para o moreno. – Não tem uma loira predadora na sua cama com quem você pode aproveitar melhor o seu tempo?

– Ela foi embora dez minutos depois de você ter saído de lá. –disse parando do outro lado do leito.

– Nossa! Você é rápido! –ela ironizou.

– Eu disse a ela que estava vendo outra pessoa. –Rose manteve a cara fechada e o encarou. – Só não disse que só eu podia ver!

– Rum. –ela retrucou.

– Tasha é minha ex Rose, às vezes ela costuma ir até lá, pra conversar...

– Relembrar os velhos tempos? –disse ela se afastando do seu corpo e andando até a janela.

– Rose eu sou solteiro.

– Tanto faz, não é da minha conta quem você coloca na sua cama. –disse ela abraçando os próprios braços enquanto olhava pela janela.

– Rose... –disse dando alguns passos enquanto seguia na lateral da cama.

– Não importa Dimitri, você é livre e ela é linda. Como uma atriz pornô, mas é linda. –disse se virando e encarando o médico com seu habitual biquinho.

Dimitri sorriu após tal comentário, e baixou o rosto em direção ao chão fazendo com que seus cabelos caíssem sobre a face, depois ergueu os olhos voltando a olhar Rose, então fez o contorno ao redor da cama, e sentou-se na beirada na mesma logo escorando as mãos na grade abaixo do colchão.

– Então é assim que você fica quando tá com ciúmes? –ele sorriu encarando-a enquanto cruzava uma perna a frente da outra.

– O que? –questionou, sem querer fazendo uma voz aguda. – Tá doido? –ela desconversou ficando corada e desviando o olhar. – Por que eu teria ciúmes de uma mulher como aquela? Ela é vulgar e parece uma predadora...

– Dois quesitos bastante apreciados pelos homens.

– Fala sério. –ela revirou os olhos e andou até a beirada do leito voltando a depositar as mãos ao lado do próprio braço. – Ela nem é tão bonita assim.

– Nosso relacionamento não era muito baseado em compreensão. –seguiu ele enquanto olhava para Rose.

– Ela te chutou? –ela o encarou maldosamente.

– É Rose, ela me chutou. –ele riu. – Por causa do meu trabalho.

– Deixa eu adivinhar, ela queria passar mais tempo em cima de você e você queria salvar vidas! –ela se virou e escorou exatamente como ele na cama.

– Tasha dizia que eu passava mais tempo nesse hospital do que vivendo minha própria vida.

– Você é médico, o que ela queria? Peter Parker mal tinha tempo pra ficar com a Mary Jane, mas ele salvava o mundo todos os dias.

– Peter Parker? –ele riu achando engraçada a comparação.

– Homem aranha.

– Eu sei quem é Peter Parker Rose, só não entendi a comparação!

– Ele era um herói não era? –disse ela o encarando com os dois olhos meio arregalados.

– Eu na sou um herói.

– Bom meu caro, você salvou algumas vidas aqui e aposto que essas pessoas discordam de você.

Dimitri fitou a face de Rose, enquanto as palavras simples que ela dizia naquele tom divertido pareciam ser a coisa mais séria que alguém teria lhe dito em vida. As palavras ditas por ela quase soaram como admiração, e isso deixou o médico feliz, e calado por alguns segundos. Então após a troca de olhares entre eles, Dimitri se manifestou:

– Quer voltar comigo pra casa?

– Não vou encontrar uma ruiva debaixo da sua cama dessa vez?

– Não. –ele riu e se afastou da cama. – Só uma garota morena bem enfezada!

– Rum! –ela apertou os lábios tentando não rir, mas sua boca fez uma curva delatando a expressão feliz.

– Vamos. –ele piscou os olhos e se virou seguindo em direção a porta do quarto.

Rose se afastou de seu corpo, e seguiu o moreno passando pelos corredores, até chegar ao estacionamento onde ele gentilmente abriu a porta do carro no lado do carona e esperou ela entrar, mesmo sabendo que ela não precisava.

– Obrigado. –ela sorriu empinando o nariz e se sentou no banco do carona com as mãos no colo.

Dimitri sorriu e fez a volta no carro logo entrando pelo outro lado e voltando a olhar na face divertida da garota, e esboçando um sorriso em sua própria face. Ele girou a chave na ignição e logo saiu do estacionamento.