Anteriormente...

–Ah então vou conhecer o famoso “Lipe”?- ele fala, fazendo aspas com as mãos.

–Sim, vai conhece-lo- falo, e nesse momento escutasse latidos.

–Tem cachorros aí?- ele me pergunta curioso.

–Não só cachorros- falo- Tem também...- sou interrompida pelo barulho da porta abrindo. Sabe aquele barulho que as portas de filmes de terror fazem? Pois é, essa faz igual.

–Achei que não vinha mais- fala para mim, só então olha para o lado e vê o Fred- Quem é esse?- pergunta para mim.

–Ah é o Fred- falo. Nisso Fred chega próximo da porta.

–Então esse é o famoso Lipe?

–Famoso?-pergunta Lipe com cara de desconfiado.

–Mais claro, você não tem noção do quanto queria te conhecer-fala o Fred, e agora sou eu que olho desconfiada, e ele me lança seu sorriso de lado.

–Isso tá ficando estranho- falo- Acho melhor entrarmos!- passo pela porta, e o Fred me segue, mais é barrado no meio do caminho.

–Hei você não!-fala o Lipe.

–Porque não?-Fred pergunta.

–Ei Lipe, deixa ele entrar-falo.

–Anna você está louca? Não pode simplesmente trazer pessoas de fora com você pra cá!-fala ele.

–Mais eu confio nele, ele não vai contar nada pra ninguém- falo e agora olha para o Fred- Não é?- pergunta a ele.

–Seja lá o que for, eu prometo que não vou contar pra ninguém- fala. Nisso lanço meu olhar pidão pro Lipe.

–Tá bem, tá bem, mais para de fazer essa carinha- fala olhando pra mim, e eu sorrio. Ele olha para o Fred com a cara amarrada- E você? Se falar para alguém, vai se ver comigo!- fala sério, mais nisso o Fred começa a rir.

–Sério? Tá me ameaçando?- fala.

–E se estiver?-pergunta o Lipe.

–Olha como fala moleque, eu tenho o dobro do seu tamanho!-fala o Fred.

–É, posso ser moleque, mais tenho o dobro do seu cérebro!- fala o Lipe. Nesse momento, entro no meio deles, pois a coisa já está passando do limite a muito tempo.

–Parem vocês dois!!!!!- falo, não, grito pois aquilo estava me irritando. Na mesma hora ele me olham assustados. E nisso começo a chorar. O Lipe sabendo o motivo, me abraça forte, e eu retribuo colocando meus braços em volta dele- Você sabe onde quero que me leve, eu preciso ir lá- falo pra ele, que me solta do abraço, mais pega minha mão.

–Vem que eu te levo-fala. Olho para trás e vejo o Fred ainda no mesmo lugar parado, apenas observando. Faço sinal para que ele nos siga, e ele concorda com um aceno de cabeça.

Atravessamos toda a casa, e por fim saímos pelos fundos, em direção a um mato, que é completamente fechado na parte de fora pela vegetação. Entrando nele, a sensação é outra, pois é completamente limpo, como uma clareira. Passamos por várias plaquinhas enterradas no chão, até que paramos em uma que dizia “Rex”. Meu coração se apertou. Sentei no chão, sem me importar de sujar minha roupa de terra.

–Eu preciso ir lá fazer uns curativos-falou o Lipe, e colocou uma mão no meu ombro- Fica bem tá.

–Tá-falei e ele foi embora.

Não demorou muito e senti alguém sentando ao meu lado no chão. Não precisei nem olhar para saber quem era, pois simplesmente sabia. Então, deitei minha cabeça em seu ombro, e ele colocou um braço protetor por cima de mim. Não sei quanto tempo ficamos assim, eu chorando e ele em silêncio. Ele realmente me conhecia bem, pois sabia que precisava desse momento em silêncio para colocar tudo aquilo para fora.

–Obrigado por estar aqui comigo-falei, quando já havia me acalmado.

–Sempre que precisar!-ele falou, e no fundo sentia que podia confiar nele. Ficamos assim mais um tempo, até ele quebrar o silêncio.

–O que realmente é esse lugar?-perguntou.

–É um refúgio para animais abandonados, e que precisam de cuidados-falei.

–Nossa, mais isso é algo muito legal, porque vocês mantem isso em segredo?-perguntou curioso.

–Minha mãe não aprovaria!-falo apenas.

–Porque não? Ela cuida de pessoas e...- não deixei ele terminar.

–Pois é, aí está o problema, ela cuida de pessoas, e quer que eu siga a mesma profissão dela-falo.

–Ah já entendi, você quer fazer é outro tipo de medicina né?-fala.

–É, quero fazer veterinária-falo triste.

–Eu me lembro que você vivia falando que queria cuidar das pessoas assim como sua mãe.

–É eu queria, até encontrar um cachorro todo machucado na rua, o Rex- falei e olhei para a plaquinha a minha frente- Não sei o que deu em mim, mais senti que eu precisava ajudar ele. Então para minha mãe não ver, levei ele pra casa do Lipe. Daí ele me contou que conhecia essa casa aqui, que estava abandonada. Com isso, trouxemos o Rex pra cá. E foi assim que tudo começou. O tempo foi passando e novos animais foram trazidos pra cá por nós.

–Posso ver os animais que vocês tem aqui?-perguntou. E um sorriso apareceu no meu rosto, acho que mais alguém estava sentindo-se solidário.

–Claro- falei. Levantamos e voltamos pra casa.

–Aqui tem os cachorros-falei, apontando para o lado, onde vários cachorros estavam.

–Aqui tem alguns gatos-falei- Pelo menos os que não fugiram sem serem tratados, ôh bichinhos teimosos-falei e rimos. Vi que ele prestava atenção em tudo que eu falava.

–E aqui por fim, temos esse cavalo, que chegou a mais ou menos um mês- falei, e nos aproximamos. Lipe estava limpando alguns machucados do animal-O cavalo antes estava muito magro, e mal tratado. Encontramos ele caído no chão quase morto, então trouxemos pra cá, e veja só como já estão melhor seus machucados- falei olhando para o Lipe, que sorriu para mim.

–Para um pirralho, você até que faz um bom serviço por aqui!-fala o Fred mexendo com ele. Que olha com cara de que não gostou.

–Pirralho não- fala ele.

–Pela sua cara não tem mais do que 12-falo o Fred.

–Pra sua informação tenho 13- falou ele bravo.

–Muita diferença-falou ele rindo. Bati com meu cotovelo no braço dele.

–Hei vamos parar vocês dois aí.

Ficamos mais um tempo, e então fechamos tudo depois de ter dado água e comida para os animais. O Fred deu carona para mim e para o Lipe, que subiu e sentou no banco do meio, ficando entre mim e o Fred. O Fred lançou um olhar mortal pra cima do Lipe, que fez cara de “faz alguma coisa comigo, que eu conto pra ela”, e por fim abriu seu sorriso diabólico. Passamos pela casa do Lipe primeiro, então desci, para ele poder descer. Ele me deu um beijo na bochecha, e sorriu para o Fred, que fez uma carranca. Subi novamente, na caminhonete, e ele foi com o carro, até o portão da minha casa. Fui descer, mais ele segurou meu braço.

–Que foi?-perguntei.

–Só ele que ganha beijo é?- falou e eu tive que rir.

–Você parece mais novo do que ele!-falei.

–Mesmo assim ainda quero meu beijo!-falou.

–Tá falando sério?-perguntei, nisso ele mudou completamente sua postura, e me olhou sério.

–É claro que estou falando sério- falou, e agora meu riso simplesmente sumiu. Fiquei nervosa- Que foi Anna só quero um beijo na bochecha, é pedir demais?-perguntou levantando uma sobrancelha.

–Tudo bem- falei. Então me aproximei do seu rosto, mais bem na hora que iria beijar sua bochecha, ele virou o rosto selando nossos lábios.