Abela entrou novamente no carro quando o seu telefone tocou.

– Bela, onde você está? – perguntou a mulher do outro lado da linha, com uma voz tão calma que imediatamente lhe transmitiu paz.

– Annie? – falou ela.

– Não, Abigail. – respondeu a mulher. – Annie e eu estamos esperando você aqui na porta da loja de vestidos. Marcamos de nos encontrar para você fazer a ultima prova antes do casamento, esqueceu?

– Abbie, como é bom falar com você.

– Bela, a gente se falou ontem. – respondeu a mulher.

– É, eu sei, mas senti saudades. – Abela respondeu.

– Então, você vem ou não?

– Eu vou, só... me dá o endereço.

– Como assim? É a Boutik’s, a loja que você sempre falava que iria fazer seu vestido de noiva. Fica na principal

– Oh, sim... Eu chego ai em alguns minutos. – Abela colocou a chave na ignição e quando ajeitou o retrovisor deu de cara com uma menina jovem, vestida de branco e com um olhar triste, uma aparição que a encarava do banco de trás do carro. Abela se virou rapidamente para olhá-la, mas quando o fez, a menina sumiu.

...

A mulher fechou a porta do carro e seguiu rápido para dentro da loja. Buscava apressada por suas irmãs e quando finalmente viu Annie e Abbie juntas, sentadas em um sofá branco, extremamente confortável, rindo como se nada nunca tivera acontecido, como se elas não fossem filhas de Azazel, como se elas nem ao menos soubessem o que estava acontecendo, Isabela sentiu uma paz interior que nunca havia sentido antes.

Abela caminhou na direção das jovens com aqueles pensamentos e nostalgias. E lá estava sua segunda irmã, Abbie. Era de uma vivacidade invejável, a mais velha queria abraçar a mulher e nunca mais largar, mas outra pessoa o fez antes dela.

Um homem de cabelos loiros e olhos azuis. Vestia uma farda preta com alguns nomes escritos no braço e no peito. No rosto tinha um telefone ligado a orelha, como se a todo instante estivesse em comunicação com outra pessoa. Ele se aproximou de sua irmã Abbie e a beijou nos lábios. A caçadora se espantou grandemente, já que Abigail havia sido a mais pura das três. Nunca havia tido um namorado na vida e também nunca estivera com um homem naquele sentido.

Ela estava tão focada naquilo que nem percebeu o outro homem, usando a mesma farda que o primeiro. Ele se aproximou de Annie e a beijou. Era o Sam, que ela via.

Eles conversavam e sorriam e a medida que se aproximava, a jovem pôde perceber o nome POLICE nas costas dos dois homens que finalmente perceberam Abela, parada com cara de boba.

– Pensei que não viria mais. – falou Annie e se levantou. Chegou na irmã e a abraçou.

– O Dean veio com você? – perguntou o homem loiro que Abela tentava identificar, mas era impossível.

– Não. – respondeu ela. – Eu peguei o carro emprestado.

– Mas você não sabe dirigir. – falou Sam curioso.

– Aprendi. – concluiu Abela ainda sem conseguir assimilar tudo com clareza.

– Mark, querido. – começou Abbie a falar, interrompendo os devaneios da Irmã. – Você poderia pegar o Adrian no colégio? Acredito que não conseguirei chegar a tempo. – A mulher se levantou e só então a caçadora percebeu que sua irmã estava grávida e que usava uma aliança de casamento, extremamente grossa no dedo. O homem usava outra igual.

– Eu pego querida, não se preocupe. – falou ele e beijou novamente Abbie. – Vamos indo, Sam.

– É melhor mesmo. Ainda estamos em horário de serviço. – o Winchester mais novo deu uma risada despreocupada. – Nos vemos no jantar amanhã. – Os dois seguiram para a saída e deixaram o local em uma viatura policial.

– Jantar? – falou Abela.

– O jantar de natal. – respondeu Annie. – Bela, você está bem?

– Mais ou menos. – respondeu ela e se sentou. – Estou cansada e confusa.

– Confusa? – perguntou Abbie, mas não esperou a resposta da irmã. – Annie, protocolo vermelho.

– Protocolo vermelho?

– Noiva em fuga. – falou Annie. – Não está pensando em desistir agora, está?

– Na verdade, eu estou.

– Abela, faltam apenas dois dias para o seu casamento e você não pode voltar atrás agora.

– É normal sentir nervosismo, Bel, mas não é por isso que devemos desistir. – falou Abbie. – Se lembra que eu fugi para a casa do lago faltando quinze horas para me casar? Eu precisava espairecer e agora olhe só para mim. Senhora Campbell.

– Campbell? É o mesmo sobrenome de Sam e Dean.

– Isso e obvio Bela, já que Mark é primo de segundo grau dos rapazes.

– Deus! Acho que vou pirar. – falou a mulher e respirou fundo. As irmãs abanavam umas revistas em direção a jovem, até que a vendedora chegou trazendo uma caixa rosa, com uma roupa branca dentro.

– Pronta para provar o vestido?

...

Abela permaneceu na loja, única e exclusivamente por causa de Annie e Abbie que não a permitiu sair desesperada pela única porta de acesso do lugar. Mesmo ela sendo mestre na arte furtiva, escapar de suas irmãs estava fora de cogitação. Elas eram melhores.

Finalmente, depois de todos os ajustes e todas as mudanças no vestido, ela pode voltar para casa. Quando chegou, já passava das cinco horas.

Dean estava sentado no sofá, com a televisão desligada. Apenas esperando a chegada de sua noiva. No momento em que ela entrou pela porta, ele se levantou.

– Precisamos conversar. – Falou Abela e Dean ao mesmo tempo.

– Pode falar primeiro. – falou o loiro se aproximando.

– Dean, eu... – Antes que ela pudesse falar alguma coisa, ouviu passos de alguém e uma garota, de cinco anos, apareceu na sala carregando alguns brinquedos nas mãos. Assim que viu Abela em pé, largou tudo e correu em sua direção.

– Mamãe. – gritou ela e se jogou nos braços da caçadora. Ela era exatamente igual a Dean. Os olhos verdes e a boca carnuda. Os cabelos loiros, cumpridos e presos em dois rabos de cavalo, um de cada lado da cabeça e ainda duas covinhas nas bochechas, que apareciam quando ela sorria. – o vovô John me contou várias histórias de quando era marinheiro.

Abela não tinha reação alguma, apenas olhava a menina contar como o avô interpretava o que acontecia em alto mar. Ela e a vovó Mary, não paravam de rir. Dean, percebendo que a mulher nem ao menos se mexia, tomou Dakota de suas mãos e então o colocou no chão.

– A mamãe não está se sentindo bem, querida. Deixa o papai conversar com ela, está bem?

– Está bem, papai. – falou ela e beijou a bochecha de Dean. Saindo correndo logo em seguida com uma caixa de legos nas mãos. Assim que percebeu que a filha havia voltado ao seu quarto. Dean encarou a mulher séria.

– Qual é o seu problema? – falou ele com raiva na voz. – Sua filha lhe conta algo que aconteceu com ela e você nem ao menos demonstra interesse? O que há de errado com você, Isabela?

– Eu não estou sendo eu mesma, ultimamente, Dean.

– Eu consigo perceber isso sozinho. – falou ele. – Olha, se é alguma coisa errada com o casamento, pode me dizer. Eu sou o noivo, tenho o direito de saber.

– Não é o casamento. – falou ela. – Quer dizer, é o casamento.

– É ou não é?

– É tudo isso aqui. – Abela começou a chorar e se sentou no sofá. – Essa casa, essa família, essa vida. É tudo o que eu sempre quis e, no entanto nunca tive a oportunidade de ter. Foi me privado isso aqui. Eu sei que há alguma coisa acontecendo e isso me assusta, mas ao mesmo tempo, eu quero isso para mim e por incrível que pareça, Dean... – A caçadora encarou o homem e então respirou fundo. Entendeu que aquilo era uma segunda chance. Uma forma de fugir de tudo aquilo que a rondava. De esquecer o fato de ser filha de um demônio, de viver percorrendo o país atrás de serviço que ninguém gostaria de fazer e o pior de tudo, não ser reconhecida por isso. Percebeu ali que o loiro sempre esteve com ela e dessa forma, resolver aceitar o presente.

– O que?

– Eu estou feliz que seja você o meu marido. – O loiro sorriu e alisou o rosto dela.

– E eu de você ser minha mulher. – Ela olhou séria para o rapaz, mas depois sorriu.

– Só vamos com calma, está bem? Como se acabássemos de nos conhecer.

– Como você quiser. – respondeu o loiro e estendeu a mão para ela. – Prazer, eu me chamo Dean Winchester.

– Muito prazer, Dean. Meu nome é Isabela McAllen. – Os dois sorriram até que a filha deles, voltou e parou no corredor.

– Eu já posso voltar, papai? - falou a menina segurando os soldadinhos de brinquedo que o tio Sam deu a ela.

– Claro que pode. – falou Abela e abriu os braços. Ela correu e se sentou no colo da mãe. – Me conta como foi com o vovô.

– Ele disse que ficou quase três meses a “deniva” no mar.

– Deniva? – perguntou a caçadora.

– É á deriva, amor. – corrigiu Dean.

– E o que isso quer dizer? – ela olhou para Abela.

– Quer dizer que seu avô ficou sem rumo certo, durante três meses.

– Ah, entendi agora. – falou ela e Abela sorriu. Adorou o fato de ser mãe e parecia mesmo que Dakota era a filha que ela sempre quis ter.