P.O.V Annabeth

– Conte tudo.

– Contar o que Thalia? – repeti pela milésima vez debaixo das cobertas – já te falei o suficiente, eu quero dormir. Porque você não segue o exemplo das meninas e vai dormir também?

– Porque eu tenho coisas para te contar, e você vai acabar confessando o que aconteceu no dormitório dos meninos.

– Ai meus pâncreas – gemi e me sentei na cama – Tá, começa por você.

– O Nico ficou com a Rachel – sua voz estava fina e ela olhava mortalmente para a janela – eu achei mó sacanagem isso, ainda mais por causa do Percy. Não sei o que deu em mim, mas eu fiquei bolada.

– E o que você fez em troca?

– Peguei o Leo.

Carambolas, essa foi surpreendente.

– Qual Leo? O gnomo de jardim? – brinquei e ela fez um bico, então tentei ajeitar a frase – quer dizer, o Valdez?

– É, ele é bonitinho.

– Bonitinho nada, ele é daqueles que dá ate calor.

Ela corou.

– Agora me conte tudo sobre a sua madrugada.

– Tá. Eu fui pro dormitório dos meninos, tomei uma boa ducha e não, eu não estava bêbada. Depois fiquei pulando na cama do Percy com ele, mas ai ele ficou cansado de pular e disse que ia dormir, eu fui pra cama do Travis e ele ficou na dele, mas aí ele me chamou para dormir lá com ele. Só dormir, então começou a chover e fez muito frio, aí nós ficamos coladinhos pra ver se esquentava, só que aí rolou mais tesão sexual e nós confessamos um para o outro sobre atração, íamos nos beijando mas ai eu beijei a sua bochecha. Fiquei rindo da sua cara de taxo, eu achei que estava tudo bem, mas aí ele me puxou e me beijou de verdade, depois...

– PERAINDA, VOCÊS SE BEIJARAM?

– É, e daí?

– AI MEU DEUS, VOCÊS SE BEIJARAM! VOCÊS FIZERAM O QUE MAIS? MAS TIPO, VOCÊ E O PERCY DERAM UM BEIJO! O MEU DEUS!

Ela tem 16 anos? Sério? Parece uma bv/bvl de 10.

– Tá, mas e aí? O que aconteceu depois? Vocês hum... fizeram... hum, sabe...

– Como você interrompeu – disse colocando o travesseiro acima da cabeça – não vou contar mais. Agora dorme porque daqui a meia hora teremos que levantar.

Ela me olhou como se fosse me matar mas aí apagou a luz e se deitou, mas antes disse:

– Eu que vou ser a madrinha do casamento percabeth, só pra avisar.

Santos Deuses do Olimpo. Mereço.

(....)

O “café da manhã” do internato era um pão duro melado com uma manteiga e eu te juro, o queijo cheirava a mofo.
“E vocês tem sorte de hoje ter queijo!” Sr. Doods disse nos recebendo na porta do refeitório.
O café com leite parecia água com sal e açúcar, o suco não tinha gosto de nada e isso me fez perguntar a sí mesma o que eu fiz pra merecer aquilo.

– Sabe – disse Rachel em meio a uma mordida – quando se molha ele no café com leite, fica mais mole e dá pra engolir.

– Isso é nojento – Calipso empinou o nariz – muito estranho, prefiro não comer.

– Como quiser – Rachel sorriu, colocando a mostra seus dentes da frente cheio de migalhas do pão – o problema não é meu.

– Não sei por que se comporta assim, já que a família Dare é uma das mais ricas daqui.

Rachel revirou os olhos e molhou o pão.

– Você é rica? – perguntei enquanto tentava engolir o suco de acerola – Não parece, sem ofensas.

– Prefiro não parecer – ela deu de ombros – não sou muito de me esnobar por isso.

– Gente – Zoë colocou a mão na barriga – eu acho que vou vomitar, o queijo deve estar estragado.

– Mas que grande descoberta hein gata – Ironizei.

– Comam cereal pessoal! – Katie disse toda alegrinha – é ótimo.

– Nem vem que não tem Kay – Thalia resmungou – tá parecendo a tia Deméter.

– Magoou.

O hino do internato tocou, avisando-nos que a aula já iria começar.

– Eu tenho química e física agora – reclamei enquanto andava pelos corredores – e vocês?

– História. – Todas disseram em uníssimo.

Fiz um aceno e caminhei até a aula. Nunca gostei muito de química e fisica, é legal e tal, mas... sei lá, não é pra mim, definitivamente não. Sentei na segunda fileira, em frente a mesa do professor, que se chamava Julius.

O Sr. Julius era aquele sujeito de meia idade carrancudo com uma voz horrível, explicava bem, mas sempre cobrava mais do que o necessário. Segundo ele, aquilo iria servir de muitas coisas para nós e eu não duvido nada. A única coisa que ainda salvava a sua aula era o seu filho, um garoto relativamente gostoso de 20 anos, muito diferente do pai, e era o professor substituto de natação, por isso entrava de dez em dez minutos na sala todo molhado, com o aquele corpo amostra perguntando por fulano e ciclano e se ele queria se inscrever, e eu, é claro, fui uma das primeiras e obviamente me inscrevi.

Quando ele foi na sala pela quarta vez, seu pai teve uma crise.

– Ethan, saia daqui A-G-O-R-A.

– Desculpe Professor – ele nunca o chamava de pai – mas é que eu vim perguntar se...

– Se alguém quer se inscrever na sua aula idiota? Você já veio perguntar isso antes.

– Na verdade, eu estou procurando pelo Jackson.

Continuei escrevendo as formulas, mas com os ouvidos aguçados prestando atenção na conversa.

– Ele não veio, deve estar matando aula pelo campus.

Típico daquele idiota.

– Hum, tudo bem.

Ele saiu, ouvi as meninas suspirarem ao meu redor e contive a tentação de olha-lo.

Sr. Julius passou a mão pelos três fios de cabelos brancos na sua cabeça careca e suspirou.

– Bem, voltando ao assunto... A combinação química ocorre pela união de átomos de elementos químicos diferentes em proporções numéricas químicas.... alguém poderia dar um exemplo?

Ninguém alevantou a mão, então decidi ficar quieta, mesmo sabendo a resposta.

– Francamente, isso é um assunto do 8° e 9° ano e vocês que estão no ensino médio não sabem? Nunca achei que fossem burros a esse ponto.

Pode chamar um Chase ou Olympus do que quiser, menos de burro.

Alevantei a mão, ele fingiu não me ver.

– Ninguém sabe é? Que vergonha.

Alevantei a mão mais ainda, desesperada, meus óculos balançavam a medida que eu me mexia na cadeira.

– Hum, você loirinha, dê um exemplo.

– 1 átomo de A + 1 átomo de B; 1 átomo de X + 2 átomos de Y; 2 átomos de Z + 3 átomos de W e assim por diante.

Ele coçou a cabeça, acho que pensava que ainda tinha cabelos, só acho.

– Bom, isso é a forma mais complicada de se explicar, por isso é bom.

Senti algo cutucando minhas costas e me virei.

Drew mastigava um chiclete com a boca aberta, a boca com um batom vermelho vulgar, e ela parecia uma Barbie – isso poderia ser um comentário de admiração, porém não – só que uma Barbie recalcada; vadia.

– Então quer dizer que a novata aqui é a nova Nerd?

– Não te interessa.

– Nossa, que agressiva. Quem você pensa que é pra falar assim comigo?

– Alguém que tem o que você não tem.

– O que seria? Eu tenho tudo, sou perfeita.

– Você não tem cérebro, é fato.

Ela ficou vermelha de raiva.

– Quem é você? Qual o seu nome? Você sabe quem eu sou?

– Já disse, não lhe interessa. Meu nome não é osso pra estar na boca de cachorro. Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.

Eu não havia percebido, mas o Sr. Julius estava fora da sala e todo mundo se mantinha atento na nossa conversa. Ela do nada, se alevantou e saiu batendo pé, rebolando os quadris, parou na porta da sala com o peito estufado.

– Você vai se arrepender de ter nascido sua loira oxigenada.

Ela saiu fechando a porta de uma vez.

– Já vai tarde – gritei – E olha, é loiro natural viu, não é essa química e ninho de rato que você chama de cabelo.

Sorri triunfante. Ouvi alguns murmúrios no fundo, as garotas ao meu redor me chamando de louca, e tinha um garoto me cutucando com a ponta do lápis ao meu lado.

– Então linda, a gata do gato aqui tem telefone?

Mereço.

– Não, porque? Sua mãe tá no cio e você quer fazer uma ligação pra ela?

Ouvi vaias e saudações pela sala.

Ele pareceu não se importar e tentou novamente mais uma cantada.

– Sabe, se beleza fosse crime, eu faria questão de te prender.

– E se feiura fosse crime, você pagaria pena de morte.

Tentou novamente.

– Gata, você é linda de mais, só tem um problema: A sua boca tá muito longe da minha.

– Questão de higiene, sabe?

Ele me olhou magoado e voltou a encarar o quadro.

Tadinho.

Porém não.

Sr. Julius entrou na sala e nos liberou, disse que as regras do internato foram mudadas, não seriam duas aulas por dia de diferentes matérias, iria ser apenas uma. Olhei para o relógio e vi que já eram doze e vinte, as horas passam relativamente rápidas as vezes.

Sai e fui andando pelos corredores, recebendo vários olhares por onde passava, mas eu pouco me importava.

Entrei no refeitório e não consegui ver as meninas, então me sentei com os garotos.

– Hey Annie – Nico disse assim que me sentei – ouvi dizer que você fez sucesso na aula de química.

– Eu sempre faço.

Percy bufou.

– Nem se acha.

– Não sou você. Além do mais, aonde você estava? O Ethan foi procurar por você.

– Ele me encontrou, era só para perguntar se eu iria participar da competição esse ano.

– Você vai?

– Não sei.

Dei de ombros.

– O que será pro almoço hoje? – Travis perguntou olhando para os lados – tomara que seja algo legal.

– Provavelmente não será – Connor disse resmungando – tomara que coloquem veneno no meu prato.

Tossi.

– Como é?

– Eu quero morrer – ele enterrou as mãos no rosto – me matem!

–O que ele tem? – Nico perguntou ao Travis.

Ele olhou com pena para o irmão.

– Zoë irá para o convento próxima semana.

– Sério?

– Sério.

– Mas ela não ia só ano que vem?

– Não – Percy disse batendo os dedos na mesa – O pai dela encontrou um que tem uma escola perto, então ela vai pra lá.

– Sinto muito Connor.

– Eu estou bem – ele fungou – estou relativamente bem.

– Cara, tem a Calipso... ela é um pouco afim de você.

– Tô pouco me importando.

Decidi que não iria falar nada, apenas ficar no meu canto esperando as meninas chegarem. Creio que nada faria Zoë mudar de ideia e se ela quer isso, eu devo apoia-la. Eu já ia alevantar e ir pegar meu almoço quando me lembrei de algo.

Cheguei mais perto do Nico e lhe lasquei um tapa.

– Isso é por ter ficado com a Rachel na frente da Thalia – lhe lasquei outro tapa – e isso é por ter feito isso na frente dela.

Ele alisou o rosto, me olhando cabisbaixo.

– Espera, como assim ele ter ficado com a Rachel? – Percy perguntou, só agora havia notado o que eu disse.

Oh Oh.