– O que quer dizer com isso?

– Abe não deixou Nathan para cuidar de você quando morreu? - Ele cruza os braços e se encosta entre as gavetas da cômoda.

– Sim. Deixou. - digo e cruzo os braços, ainda pensando em suas palavras sobre eu ser a bonequinha de Nathan.

– Então. Ele vai te proteger até que você morra. Mas se ele morrer antes, ele vai deixar você com outra pessoa. Uma pessoa em que ele tenha certeza que não vai deixar você para trás quando as coisas ficarem complicadas.

A tosse.

– Porque acha que ele faria isso? - pergunto.

Brandon suspira e movimenta os braços, ajeitando-os ainda cruzados.

– Ele disse isso para mim. - Ele balança um pouco a cabeça enquanto fala. - Não acho que seja eu, mas ele disse.

– Quando?

– Dez segundos antes de você entrar. - Ele estala a língua. - Cale a boca ok? - Ele aponta o dedo para meu nariz e eu concordo com a cabeça. - Você vai ajudar ou vai ficar destraíndo ele com essa blusa apertada da Brook?

– Como sabe que é dela? - Encaro a blusa vermelha e um pouco apertada na barriga.

– Porque ela acha apertada para ela mesma e passou o dia reclamando e quando eu disse para que ela calasse a boca, ela deu um soco no meu olho e quase me deixou cego com aquela droga de anel. Então, sim, eu me lembro dessa blusa.

– Ficou olhando para... - digo indignada.

– Como se Nathan só olhasse para esses seus olhinhos.

– Nathan é o Nathan.

– Mas ele continua sendo um homem. Assim como eu. - Ele ri e a porta se abre. Nathan me encara e encara minha blusa.

– Não acha que está muito...

– Te incomoda?

– A blusa não. O fato de alguém estar olhando para você o tempo todo a não ser eu. - Ele aperta minha bochecha. - E não - Ele aponta para Brandon. - Não vai me distrair.

– Ok. - Brandon ri e anda na direção da cama, se sentando na cama com um caderno. - Quarenta e quatro mais quarenta e quatro. - Ele encara os olhos de Nathan.

– Ei! Acabei de chegar. - Nathan levanta as mãos na linha das orelhas.

– Está atrasado. - diz Brandon. - Quarenta e quatro mais quarenta e quatro.

Nathan olha para o teto e balança a cabeça, dando de ombros.

– Quatro mais quatro. - pergunto.

– Oito? - Ele encara meus olhos com os olhos estreitos. Concordo com a cabeça. - Mas não são contas diferentes? Espera...

– É a mesma conta. - diz Brandon anotando no caderno e virando para Nathan. - Quatro e quatro. - Ele aponta para os números. - Oitenta e oito.

– Ah. - Nathan revira os olhos. - Eu estou pensando que não quero mais isso. Me faz me sentir com treze anos de novo, quando eu já tenho vinte e cinco.

– Vinte e dois. - corrijo, ficando com o rosto vermelho. Por favor, eu não posso ser seis anos mais velha do que ele.

Brandon e Nathan começam a rir.

– Olha como ela fica vermelha. - diz Nathan com uma garrafa de água na mão.

– Do que está rindo? - Encaro seus olhos.

– Você acha que é muito errado estar com um homem bem mais velho. - Nathan ri mais uma vez. - Brincadeira. Continuo com vinte e dois. Continuam sendo três anos. - Ele segura minha cabeça. - Você é tão certinha.

– É. - digo e concordo com a cabeça. - Seria mais certo ficar com o B. do que com você. - Movimento as sobrancelhas e ele me encara com os olhos estreitos. - Dezoito.

– Ok. Fica com a criança, esqueça o velhote burro. - Ele dá de ombros e anda até a porta.

– Sabe que é brincadeira. - digo.

– É óbvio que sei. - Ele ri e anda em minha direção. - Qual o próximo desafio?

– Feche os olhos. - diz Brandon para mim. Nathan franze o cenho. - Feche os olhos. - Fecho os olhos. - Ok. Agora Nathan, você vai seguir as direções que eu falar, como se estivesse guiando a Shan. Se errar, Shan vai bater a cabeça na parede.

– Você me odeia. - digo sentindo as mãos de Nathan em meus ombros.

– Quem mandou me deixar lá no meu aniversário? - Abro os olhos e Nathan o encara. - Foi mal. - Feche os olhos! - Fecho os olhos. 

– Não importa o que aconteça, não foi por mal. - Nathan ri.

Suspiro.

– Lembre-se que você o ama. - Brandon ri.

– Cale-se. - digo. - Só dê as coordenadas.

– Aonde vamos? - pergunta Nathan.

– Se eu disser, você vai saber. E então a única coisa que vai acontecer é Shan ficar de olhos fechados e vai parecer que vocês estão dançando Conga pela colônia. Ok. Vamos. Siga em frente.

**

– Ai! - grito e coloco a mão na testa. Já é a terceira vez que bato a cabeça na parede e isso está começando a me irritar.

– Desculpa. - diz ele.

– Direita. - repete Brandon.

Nathan muda de direção e acabo batendo a cabeça na parede de novo, me fazendo cravar as unhas em seus braços.

– Ai! - grita ele.

– Vou bater a sua cabeça na parede também. Ai você vai ver como é bom.

– Não precisa me arranhar! - diz ele.

– Minha cabeça está doendo! - grito e abro os olhos, vendo um lugar escuro, cheio de caixas, como a adega. - Que lugar é esse?

– A adega. - diz Brandon com um caderno na mão.

Dou vários passos para trás, querendo achar uma porta para sair daqui, mas não acho nenhuma porta.

As paredes são escuras de madeira, fazendo a porta se misturar com uma das paredes.

– Me tira daqui. - digo segurando o pulso de Nathan, com a mão trêmula.

– O que foi? - Ele segura meu rosto e encara meus olhos, com os olhos arregalados.

– Me tira daqui. - digo um pouco mais alto, com as mãos totalmente trêmulas.

E foi assim, que eu descobri mais uma loucura.