Colégio Interno escrita por Híbrida


Capítulo 4
Friozinho e Paramore




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As bochechas da garota se enrubesceram, me fazendo rir de incredulidade. Era incrível como agora não se podia mais bater boca com alguém no campus que já se estava tendo um caso!

— Desculpe – disse, corando mais – Você... Mora aqui.

— Sim – respondi, sem tirar as feições de vadia-mor da cara: uma mistura de blasé com um sorriso cínico que era só meu. Passei anos me especializando e acompanhando os maiores ícones como Regina George e Blair Waldorf pra desenvolver minha própria marca registrada de menina má.

— Você...

— Sim, quase saí no tapa com seu amadinho.

— Por quê?

— Ele é insuportável!

— Não! – resmungou ela, fazendo beicinho.

— Eu concordo plenamente – disse a menina de cabelos azuis – Chloe Dornier.

Ela tinha um adorável rosto de criança, o que não combinava muito com os cabelos azuis. Era um perfeito paradoxo entre a fofura e excentricidade. Não podia imaginá-la como uma brasileira, pra ser sincera. Ela me cumprimentou com um beijo estalado na bochecha, fazendo-me sorrir.

— Eu sou Natalie.

Ela era o tipo... Gostosa. Os cabelos castanhos claros eram ondulados e muito longos, sua pele era bronzeada, e ela sim parecia brasileira. Tinha mais corpo do que qualquer uma de nós. Sorriu timidamente para mim após já entrar no quarto batendo a porteira e me xingando.

— E você é Mandie?

— Tá zoando que ele citou meu nome? – perguntei ironicamente. Ela assentiu, abaixando a cabeça – Que ótimo. Sim, eu mesma.

Ela riu timidamente e deitou-se no chão. Ficamos todas ali deitadas conversando por muitas horas, nos descobrindo muito parecidas. Era sábado e amanhã não teríamos aula. Algumas horas depois de estarmos esparramadas no chão, meu instinto primordial falou mais alto do que eu: eu tinha fome.

— Se eu não comer alguma coisa nos próximos 15 minutos, eu vou desmaiar. Ou matar alguém.

— Duas – disse Chloe, apoiando-se em mim para levantar.

— Então vamos comer, pequenas dragas.

— Tô sem fome – miou Natie.

— E vai perder a chance de ver seu amado Gabrielzinho? – cantarolou De.

— Opa, você está certa! Levantem suas bundas gordas daí e vamos embora.

— Se a rainha abelha manda, as operárias obedecem – caçoou Heloise.

— Calem a boca.

— Está na hora de elegermos outra rainha – resmungou Chloe – Eu voto na mistura de Blair e Weasley.

— Calem a boca – ironizei.

— Quando você fala, parece mais gentil!

Sorri, abraçando-a. Descemos e estávamos andando tranquilamente pelo campus quando Chloe resolveu sair correndo em direção a Rodrigo. Bufei.

— Mas que caralho é...

— Eles namoram.

— Ela... – resmunguei – Nós vamos... Precisamos ficar na companhia... Ah não! – grunhi.

— Vamos, Mandie. Lá tem o Lucas. Ele é bonzinho.

— Ele é bonzinho e tem um piercing que você tá louca pra morder – resmunguei, empurrando Bruna.

— Amanda!

— E não é verdade?

Ela fez careta e começou a corar, fazendo-me rir. Caminhamos até Rodrigo. Rodrigo, Lucas, mais três garotos e uma ameba.

— Amorzão! Que saudades

Natie abriu um sorriso sonhador e eu sorri pra ela. Gabes fitou-a com um olhar de desdém e segurou minha mão. Encarei-o com o mesmo olhar e a puxei de volta.

— Bebeu?

— Não se pode mais fazer um carinho na mão da amada que é sinônimo de bebedeira?

— Ah, Gabriel, para de se humilhar, vai. Vai atrás de quem te queira! 

— É assim? Vai me tratar como lixo mesmo?

— Sim. Olha, se você não fosse tão implicante, eu até...

— Amanda, não complete essa frase, por favor – disse Bruna, massageando as têmporas.

— Poderia tentar mais simpática. Que foi?

— Nada – disse ela, rindo baixinho.

Bruna me conhece bem demais paa saber o tipo de coisa que eu falo. E acho que nem precisaria me conhecer pra saber que eu não falaria aquilo, já que Chloe riu baixinho e Rodrigo afagou seu rosto. Eles eram um casal fofinho. A criança e... A outra criança que cresceu demais. Desirèe fitava um dos garotos que correspondia a seus olhares e Bruna e Lucas estavam na mesma situação. Haviam mais dois garotos: um estava muito perdido, fitando o vazio. O outro encarava Gabriel de maneira paterna.

— Seu irmão? – perguntei a Gabriel.

— Sim, como sabia?

— A expressão paterna dele pra cima de você. Achei que fosse me bater porque fui estúpida com seu neném.

— É mais fácil eu o bater. Apenas pelo prazer de vê-lo apanhar – disse o garoto, rindo. Era como uma versão maior de Gabriel, com os olhos negros. Muito mais bonitos do que os olhos azuis do irmão caçula – Eu sou o Thiago. Aquele secando a Desirèe é Henrique Gaspard, e o que está com cara de quem não vive sem a planta, nosso amigo Gustavo... Nogueira. Um sobrenome um tanto sem graça, mas o que temos pra hoje. E os outros dois, creio que você conhece. E você, pequena do Gabes?

— Olha, eu nem vou lhe responder.

— Ah, não fique bravinha!

— Amanda – disse, rindo – Meu nome é Amanda – disse em português.

— Brasil! – exclamou – Posso xingar alguém que entenda!

— Não vai me xingar.

— Chata – resmungou.

— Sabe que pode xingar e falar palavrão pra todos os seus amigos brasileiros, certo?

— Sim, mas com eles não tem graça.

— Por que você é engraçadão, né? – disse o garoto da brisa – Hilário.

— Ah, eu sou – disse Thiago, confiante.

— Com certeza – disse Gabriel.

— Eu achei.

Era legal irritá-lo. Gabriel ficava muito fofinho quando... Que merda é essa que estou dizendo? Gabriel Casiraghi não é fofo! É um inútil, babacão, e... É, enfim.

— Então, também acho. Você quem manda.

— Olha, eu vou procurar novos amigos, porque os que eu achei, têm um amigo que eu não posso suportar.

— Desculpe – disse Casiraghi – Parei.

— Bom mesmo.

— Se soubesse o quão linda fica nervosa...

— Vá à merda.

— Vamos juntos?

Bufei e ele me abraçou de lado. Natalie suspirou, e apesar de ter me chamado de vadia, senti um pingo de pena da garota, então empurrei Gabriel.

— Ui, ela é forte – disse, rindo. Eu o encarei – Ok, você está ficando meio brava e me assustando. Pode me matar. Tem um belo punho aqui.

Ri enquanto ele segurava meu punho, afagando-o com o dedo polegar. Encarei-o, encostando o outro cotovelo na mesa e o rosto sobre a mão.

— Dá pra me largar?

— Não! Acho que me apaixonei.

Corei. Ok, agora sim: que porra é essa?! Eu não fico vermelhinha. Não sou esse tipo de menina que fica com vergonha por tudo. Não eu! A única pessoa na vida que já conseguira fazer minhas bochechas ganharem tal rubor foi o... Foi o Caio.

— Você tá vermelha?! – gritou Bruna.

— Sim. Acho que sim. E só... Você sabe.

— Eu não – disse Gabriel.

— Não seja intrometido, garoto – disse Natalie, o empurrando.

— Obrigada.

— Mas eu quero saber!

— E daí?

— Você atiçou minha curiosidade! – miou ele.

— E vou mantê-la.

— Gosta de me ver estressado?

— Não, nem de você eu gosto.

— Conta pra mim? – disse Thiago, agitado – Conte no meu ouvido.

— Relaxa, Thi. Um dia te conto.

— Thi? Que porra é essa de THI?! Até apelidinho carinhoso ele tem agora? O cachorro bastardo aqui é Gabriel. Gabriel porque meu sobrenome é muito complicado!

Ri e me ajeitei sobre a cadeira. Logo, Chloe surgiu do inferno, segurando muitos e muitos cafés e os colocando em nossas frentes. Pra ser sincera, mal vi quando a pequena fora buscá-los. Gabriel se sentou ao meu lado e colocou sua mão gélida sobre minha cintura. Bufei e coloquei as mãos nos bolsos.

— Tá frio – disse ele – E como bom amigo que sou, estou lhe esquentando.

— A Natie tá com frio. Vá aquecê-la.

— Ela está acostumada. Você não está habituada ao frio de Genebra ainda.

Bufei. Ia mandá-lo aquecer Brubs, mas Lucas já desempenhava tal função. Cruzei os braços e beberiquei meu café, deixando-o manter-se ali abraçado a mim. Gabriel sorriu vitorioso.

— Sem agressões físicas nem morais?

— Pelo visto, isso só faz você gamar mais.

Ele riu, assentindo. Continuei abraçada a ele enquanto comia alguns biscoitinhos e tomava meu chocolate. Estar na Suíça era maravilhoso. Espreguicei-me, esquecendo-me da proximidade com o garoto.

— Opa, perdão – disse, após acertar seu rosto – Estou cansada. Comer me deixa assim. Vou subir.

— Ah, vamos lá, pessoal.

— Hein?! E minha privacidade, cadê?

— Junto com a educação – disse Lucas, piscando.

— Boa memória. Parabéns.

— Vamos, não vamos molestá-las – disse Rodrigo, abraçado a Chloe. Tenho algumas dúvidas a respeito disso, mas não quis contrariá-lo.

— O toque de recolher é pontualmente às 20h00. 19h55 eles já estarão em seus respectivos dormitórios, e agora são 14h54 – disse Desirèe, sorrindo – Vamos. Você aguenta, garota.

— Odeio. Vocês.

Subi na frente, mas Gabriel tinha pernas muito compridas, me alcançando sem esforço. Maldita seja minha sina. O garoto me abraçou de lado.

— Não estou com frio.

— Mas eu sim.

— Natalie! – berrei – Esquente-o aqui, que o garoto está com frio.

E saí andando na frente, praticamente correndo. Peguei o elevador e subi até a cobertura, jogando-me no sofá.

— Montinho! – gritou Rodrigo.

Os demais soltaram gritinhos histéricos e se jogaram em cima de mim. Depois, apenas senti o peso de nove adolescentes caindo em cima de mim. Todos, sem exceção, maiores do que eu.

— Puta que...

— Que palavras feias – ironizou Lucas – Olha lá hein. Agressão moral. Eu lhe processo e tiro até seu no...

— Dane-se! Quer dizer, uma pessoa não pode chegar cansada com o jetlag sem ninguém pulando em cima dela pra recebê-la?!

Eu me estresso com uma facilidade incrível. Não é nem um pouco legal, mas essa sou eu. Quando perceberam que eu falava sério, saíram de cima de mim. Respirei fundo e caminhei até minha cama, sentando-me nela com o celular nas mãos.

— Pequena? – chamou Desirèe – Está brava?

— Que nada. To radiante! Será que não deu pra perceber?

Ela não respondeu. Minha ironia naquele momento assustava qualquer um. Era uma arma quando usada em momentos em que parece que eu sofro de um mal de TPM crônica. Encostei-me na parede, fitando os idiotas e dei por falta de um deles. Espera! Onde está a sina?

Percebi que Natalie jazia com feições de mal-comice e então Gabriel aparatou sentado e posição de indiozinho sobre minha cama.

— Mas de que buraco do inferno você saiu, Pazuzu? – perguntei, arqueando a sobrancelha.

— Eu subi aquelas escadas ali – disse ele, apontando pra elas e sorrindo doce.

— Que maravilha – murmurei, deitando-me na cama e colocando os fones de ouvido.

— Ah, você me ama que eu sei! – gritou, deitando-se e colocando um fone em seu ouvido – Que tá ouvindo?

— Paramore – disse, sem humor.

— Ah, que menininha de bom gosto eu fui arranjar.

Pelo menos, havia algo em comum. Ele gostava de Paramore. Passamos as horas ali ouvindo música e eu mal me lembrava que ele era o garoto endemoniado que estava discutindo comigo desde que eu cheguei ali.

— Toque de recolher. Siga seu rumo, menino Gabes – disse Chloe, jogando uma almofada nele.

— Tchau, pequena – disse, doce.

— Vai na fé.

— Até amanhã.

— E eu tenho escolha?

— Ne-nhu-ma!

Gabriel beijou minha testa e pulou da cama, depois saiu correndo. Ri e fiz o mesmo.

— Vou tomar um banho.

— Acha que já vai dormir? Temos uma festa do pijama, minha cara.

— Estão brincando, certo?

— Não mesmo!


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