Colégio Interno escrita por Híbrida


Capítulo 3
Ciúme bobo.




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Mais uma vez, me encontrei perdida em pensamentos desconexos, lembrando-me de Pietro, meu irmão, e Caio, meu... Meu.

— De novo? – resmungou, cruzando os braços – O que tem de errado com você hoje, hein, sequelada?!

— Nada... Só estava me lembrando deles.

— Caramba, Amanda. Já falei para parar com isso.

— Eu sei, eu sei...

E ela me abraçou da forma materna com que sempre fez. Fechei meus olhos, apertando-a. Era incrível como ela tinha um poder de fazer com que eu me sentisse melhor. Ela afagou meus cabelos e deu uns tapinhas em minhas costas, sorrindo.

— Vamos, cabeça erguida. Onde está minha garota má?

— Deixe-me resgatar minha máscara de Regina George.

Sorri para ela e ela retribuiu. Entramos na recepção e uma loura de meia idade nos encarou.

Mademoiselles Froidefond e Pommepuy? – perguntou e nós assentimos – Chambre 657.

Merci— agradecemos num uníssono.

Saímos de lá em direção ao dormitório feminino. Tagarelávamos a respeito de besteiras quando cruzamos novamente com Gabriel.

— De novo, cabelo de salsicha? – perguntou, sorrindo doce.

— E de onde saiu tamanha ousadia? – perguntei cínica.

— Hmm, não sei. Mas gostei de você.

— Queria poder dizer o mesmo.

— Caralho, Gabriel, parou por que agora?

Desta vez, não era um garoto tão alto e bombado quanto ele. Era um pouco... Menor. Em todos os aspectos.

— Que foi agora, Luke? – perguntou, rolando os olhos.

— Ela fala português? – exclamou “Luke”

— Não, seu trouxa. É aramaico, não percebeu?

— Olha só que garotinha abusada. Esqueceu a educação no Brasil, foi?

— Vou é enfiar no teu...

— Amanda!

— Foi ma - praticamente cuspi as desculpas, direcionadas à Bruna, não a ele.

— Olha só quem tem uma mamãe!

— Garoto, não me provoca... – sussurrei de maneira ameaçadora.

— Não subestime minha coragem – disse, aproximando-se.

Devíamos estar numa situação um tanto constrangedora. Ainda mais para Luke – provavelmente Lucas, já que era brasileiro – e Bruna, que nos encaravam de maneira estranha. Empurrei-o com uma mão.

— Hey Gabes – disse o amigo dele – Vai mesmo discutir com uma garota que mal chegou aqui?

— Ele já me tacou uma bola de golfe! Não duvido que fique aqui discutindo comigo antes mesmo de eu guardar minhas malas.

— Que falta de educação a minha, não tinha reparado que as moças estavam com a bagagem jogada no meio do campus. Vamos, Gabes, vamos embora.

— Muito obrigada... Lucas?

— Yeap.

Pude perceber que Bruna havia saído de seu estado vegetativo. Do jeito que a garota o encarava, acho que boa coisa não estava pensando.

— Esta é...

— Bruna Pommepuy – exclamou com um sotaque francês que eu juro que não entendi.

— Lucas Vieira, seu eterno escravo.

Ele agachou no chão e segurou sua mãozinha, beijando-a. Pude reparar que ele não era do tipo convencional de Brubs: tinha os olhos castanhos, quase negros. Os cabelos eram de um louro escuro, emoldurando um rosto muito fino, assim como ele. Algo que chamava muito a atenção a Lucas era um piercing de argolinha ao lado esquerdo do lábio. Branco. Se destacava por conta da pele queimada de sol.

Incrível como todos esses garotos pareciam mais bronzeados que eu mesmo morando na Europa.

— Feitas as apresentações, podemos subir agora? Foi um prazer lhe conhecer, Lucas.

— Digo o mesmo... Mandie?

— Exato.

— Espera! – exclamou Gabriel – Ele pode te chamar assim?

— Sim. Ele me tacou uma bola de golfe?

O atrevido se calou. Puxei Bruna pelo braço e com a mão livre carregava minhas malas. Não podia evitar um sorriso malicioso, que fez Bruna soltar o seu famoso suspiro de reprovação. Eu odiava aquele suspiro.

— Você precisa mesmo esnobar o garoto desta forma? Sério, Mandie, eu tô com dó.

— Larga mão de ser mulherzinha.

Bruna mostrou a língua e eu ri. Após caminharmos até o bloco onde estava localizado nosso quarto, subimos de elevador até o andar. Era uma cobertura. Adorei isso, achei realmente muito chique e tudo mais, mas haviam outras duas garotas ali.

— As novatas – disse uma delas, desinteressada.

Salut — disse, sorrindo (a partir de agora, não colocarei mais os diálogos em francês, já que é o idioma que elas estarão falando entre si, já que nem todas falam português e tal)

— E vocês são...?

— Bruna Pommepuy– disse Pomme, colocando a mão sobre o próprio peito – E Amanda Froidefond.

— Desirèe Andrieux – disse, apontando pra si – e Heloise Dousseau. Pode nos chamar de Dê e Loi.

As garotas pareciam anjos.

Desirèe parecia ter sido esculpida em gelo, com olhos incrivelmente azuis, a pele muito pálida e os cabelos finos, lisos e platinados. Já Heloise tinha um encantador charme infantil. Os cabelos cacheados, exceto por uma franja lisa, castanha escura, caindo sobre os olhos de mesmo tom. Sua pele era quase tão pálida quanto a de Dê, destacando ainda mais seus olhos.

— Tem outras duas garotas – disse Heloise – Chloe e Natalie. De onde vocês são?

— Brasil.

— Eu também – disse Dê. Eu a encarei, um tanto confusa – Olha, não me julgue por me chamar Desirèe, ok? Mamãe é bastante excêntrica e papai é francês, então... Enfim! Chloe sofre do mesmo problema de excentricidade materna. E Heloise e Natalie são canadenses.

Assenti. É, morar no Brasil e se chamar Desirèe não deveria ser fácil. Vindo para um país francofônico, a pequena Dê devia se sentir bem aliviada, e sofrer bem menos bullying. Já as meninas canadenses não deveriam ver grande diferença.

Sentei-me no sofá, jogando a cabeça para trás.

— A Natie está a fim de um garoto brasileiro – disse Heloise, sorrindo – O Gabriel, e...

— Heloise! – gritou Dê.

— Santo Deus – resmunguei baixinho – Não pode ser o mesmo.

— O quê?! – perguntaram as duas.

— O garoto estava jogando golfe no gelo e acertou a bolinha em mim. E nós discutimos por algum tempo. Gabriel. Brasileiro. 

— Se a Natie descobre isso, te mata. Tem um ciúme possessivo, chega a dar medo.

— Então se for o mesmo, espero que ela mantenha o bonito bem longe de mim.

Heloise riu sem graça, fazendo-me sentir-me mal por ela. Quero dizer, a garota não tem nada a ver com isso e cá estou despejando meus problemas nela. E olha que acabei de chegar.

— Ok, qual é minha cama? – perguntei, quebrando o gelo.

— A beliche do canto é a de vocês.

— A cama de cima é minha! – gritei, jogando minhas coisas em cima delas – E não me importo se você liga ou não, Bruna.

Ela fez careta, resmungando e jogando as coisas em cima de sua cama. Depois de ambas tomarmos bons banhos, sentamo-nos cada uma em um pufe e as outras garotas fizeram o mesmo.

— O que as traz a este amável Instituto para jovens especiais?

— Quê? – questionou Bruna, fazendo a sonsa.

— Ah, vai dizer que vieram pra cá porque estavam em busca de um futuro melhor! – brincou Desirèe.

 

— Uma festinha – respondi, sorrindo maliciosa – Para quase dois mil de nossos amigos mais íntimos.

— Nossos? – perguntou Heloise – Eu esperava isso da Amanda, mas jamais de você com esta carinha de neném, Bruna.

— Engana muito, a pequena Pommepuy.

— E vocês?

— Eu fui expulsa de um internato estadunidense – disse Desirèe, sorrindo – E Heloise... Bom... Ela foi expulsa de casa.

Ficamos trocando histórias tensas e nos descobrindo completas marginaizinhas por algum tempo. Eu e Bruna pudemos nos identificar a beça com as duas, já que enganávamos muito com nossos rostinhos angelicais – eu. Ruiva dos olhos verdes e sardinhas no rosto. E minha pequena Brubs, ainda menor que eu de altura, corpo estereótipo da brasileira da cor do pecado, cabelos encaracolados e negros e olhos mel – e elas também. Mais duas garotas chegaram.

— Chegamos, minhas lindas! – gritou uma garota de cabelos castanho-claros

— E tivemos um dia um tanto cansativo – resmungou a garota de cabelo azul-bic.

— É verdade. Tem uma garota mexendo com o coraçãozinho do Gabes, e isso me deixou muito brava. Ele acertou uma bola de golfe na vadia, e...

— Prazer! – saudei, animada – A Vadia.


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