Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 88
38 - A Civilização Cretense


Notas iniciais do capítulo

Boa noite pessoal, demorou mas saiu. Aproveitem. Comentem. Compartilhem. Vão lá



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38 - A Civilização Cretense 

 

Os destroços do Alcione boiavam nas águas do Egeu enquanto Percy Jackson deslocava-se até a faixa de areia que não estava tão longe. Ele mantinha o pequeno tornado circulando até a cintura dele e de Annabeth. A garota estava pendurada no pescoço dele, a mochila preta pendendo em uma só alça, a outra havia sido arrebentada em algum dos baques que ela sofreu em danos colaterais da batalha de Percy contra Fórcis.

Por sorte ela havia pegado alguns biquínis e camisetas para não andar por aí sem roupas. Percy não tinha tanta sorte, ele só vestia um short acizentado, ambos estavam descalços. O dinheiro mortal viria a calhar, eles não estavam totalmente desamparados.

Iráklio ou Heraklion, como Annabeth chamava, dispunha de um pequeno atracadouro onde pequenas escunas e ferry boats trocavam mercadorias em uma pequena enseada salpicada de pequenos restaurantes e peixarias. O calçadão de pedra em paralelepípedo lembrava o do Rio. Alguns turistas tiravam fotos e se amontoavam embaixo de guarda-sóis. O sol havia retornado à praia, após a pequena tempestade provocada por Percy se dissipar com os ventos do verão.

Percy não pensou em continuar na rota da faixa de areia, provavelmente chamaria atenção desnecessária para eles, afinal sabe se lá o que a névoa faria os mortais verem. Percy estava literalmente flutuando em um tornado, não seria nem de longe algo muito comum para a população. 

Ele guinou para a esquerda e a faixa de areia dava lugar a um quebra-mar modesto iluminado por postes pretos e com alguns bancos de concreto. Não havia muito movimento por ali.

As construções de Iráklio lembravam a arquitetura de Veneza, casas de alvenaria em cores vibrantes e distintas, restaurantes bonitos com toldos brancos cobriam toda a extensão da calçada. Percy se encolheu e deixou os pés tocarem a linha d’água, desfazendo o tornado. Ele soltou Annabeth e os dois nadaram sorrateiros até chegarem ao quebra-mar.

O sol já estava beijando as águas, dando um brilho especial aos cabelos de Annabeth, Percy subiu pelo quebra-mar primeiro e estendeu a mão pra ela. 

Os dois subiram à rua e por sorte não chamaram muita atenção, somente alguns olhares desconfiados de um garçom limpando uma mesa, os restaurantes deveriam estar iniciando a noite. 

Ele pareceu não se importar muito.

—Precisamos de roupas — eles começaram a caminhar pela calçada, Percy abriu a mochila e pegou o dinheiro em um dos bolsos. As cédulas estavam ensopadas. 

Ele as segurou e fechou os olhos por um breve momento. Elas desprenderam um pouco de fumaça e se secaram. Percy fez o mesmo com os shorts e com as roupas de Annabeth, que murmurou um obrigado. 

—Eu peguei umas peças lá naquele guarda roupas — Annabeth retirou uma camiseta branca e a vestiu, cobrindo a parte de cima do biquíni. 

Na calçada haviam algumas lojas de artigos de pesca, Percy largou a mochila com Annabeth e ela ficou na porta enquanto o garoto entrava. 

Ele andou pelos corredores e escolheu as costumeiras calças cargo e um par de coturnos bege, confortáveis e funcionais, como Perseu diria. 

Percy também pegou uma camiseta cinza lisa. Bem básico, mas serviria de qualquer modo. Percy também comprou um par de alpargatas brancas para Annabeth. 

Ele pagou com o dinheiro mortal e retornou para a rua. Annabeth estava um pouco à frente absorta em um folheto de turismo. 

—Cnossos não fica longe daqui — ela apontou para um pequeno mapa turístico da cidade, Percy entregou o calçado pra ela. 

—Deve ser um lugar cheio de turistas mortais — Percy leu os horários no folheto. Haviam algumas excursões diárias que levavam as pessoas aos salões do palácio do rei Minos. 

—Sim, vamos ter que esperar a noite — Annabeth pegou o folheto da mão dele e o colocou na mochila — Precisamos de um carro, o palácio fica longe daqui. 

—Precisamos é de um almoço — a barriga de Percy estava roncando. O cheiro dos bolinhos de uma padaria fez o garoto salivar — E você não vai roubar um carro. 

Eles andavam pela calçada de paralelepípedos, por sorte ainda havia sobrado alguns euros. Mas Annabeth não queria parar, negando sempre que Percy pedia para entrar num dos restaurantes da praia de Mátala.

A fortaleza de Koules se erguia imponente enquanto a faixa de areia fazia uma curva e seguia as falésias irregulares da costa de Iráklio.

Um grande estaleiro de barcos cobria as águas do Egeu, eles passaram por uma praça grande onde pessoas tiravam fotos ao lado de uma escultura de bronze e mármore representando Poseidon. O deus segurava seu tridente apontando para o forte grego que servia como um museu. Percy imaginou como seria nos tempos em que foi construído, com guardas vigilantes protegendo as praias de Creta contra invasores rivais.

A cidade de Iráklio era multicultural, com influências gregas, britânicas, otomanas e egípcias. O porto onde as embarcações estavam ancoradas era totalmente veneziano, as construções, o terminal de cargas e os adornos cobrindo o chão e as paredes de um pequeno terminal rodoviário construído em pedras de mármore com grandes arcos e entalhes nas paredes. 

Percy e Annabeth entraram no terminal, o garoto impediu a filha de Atena em sua tentativa de “pegar emprestado” o carro de um mortal que havia parado para tirar foto de um arco íris que começava a ser formar indo de encontro à fortaleza de Koules. Annabeth estava meio cleptomaníaca desde que retornou ao lado dos semideuses do Acampamento, aparentemente. 

—Olha lá — Annabeth apontava para uma tela acima dos guichês de empresas rodoviárias. Uma televisão mostrava horários e datas de partida e chegada de ônibus de turismo. 

Um dos ônibus estaria partindo em 15 minutos até Leuforos, uma cidade vizinha a 150 quilômetros de distância de Iráklio. 

—Que sorte — Percy seguiu Annabeth até um dos guichês, ela retirou algumas dezenas de euros de dentro de um dos bolsos e retornou até Percy com duas passagens nas mãos.

—Temos que nos apressar, em tempo chegaremos lá após o sol descer. 

Os dois se foram até as portas de um dos terminais de passageiros da estação. O grande ônibus cor de pastel plotado com os dizeres “Iráklio como você nunca viu” cobria toda a lateral. Percy e Annabeth se aconchegaram em uma das fileiras dos fundos do ônibus. Eles não conversaram muito durante o percurso. Annabeth estava bastante apreensiva. 

 

***

 

Annabeth se maravilhava com a arquitetura de Creta. Os minoicos eram uma das primeiras civilizações helênicas da era do Bronze, mais antigos que os atenienses e espartanos que tanto lutaram por domínio nas terras do Egeu

Os templos e praças eram retangulares e com átrios e baluartes que circulavam igrejas e monastérios cheios de árvores frutíferas e campos de eucaliptos altos. 

Por se tratarem de um povo mercante, os minoicos absorveram bastante influência de seus clientes na Idade Antiga. Um pequeno filete d’água corria ao lado da rodovia pela qual o ônibus passava, com um canal e pequenos estabelecimentos banhados por águas cristalinas, pontes de arcos circulares e velhas casas de alvenaria colorida que lembravam muito a arquitetura Itálico-Romana, não que Annabeth já estivesse lá para saber, mas um bom livro com gravuras ajudava na percepção. Ela se lembrou de uma maquete que havia feito nas Artes e Ofícios no Acampamento, retratando a Praça de São Marcos de Veneza. Os canais de gôndolas e trovadores fizeram ela suspirar um pouco, ela se imaginou lá com Percy, em um passeio romântico de barco, diferente daquele que tiveram no parque de diversões de Circe, anos antes.

Algumas estrelas já salpicavam os céus à medida em que os bairros e shoppings começavam a ser substituídos por campos de agricultores subsistentes e pequenas fazendas circundada por amontoados de árvores de todos os tipos. O filete d’água despediu-se da vista de Annabeth quando eles passaram por uma ponte, ela conseguiu ver uma placa com as distâncias faltantes até o destino dos dois. Não faltava muito, a noite com certeza já estaria mergulhando as ruínas do palácio do rei Minos quando eles chegassem.

Ao longe já era possível ver algumas das ruínas do palácio, o complexo era enorme. Algumas colunas dóricas marcavam a entrada de algum arco de mármore parcialmente destruído, o ônibus dobrou uma rua para a esquerda e parou em um grande estacionamento, que à esta hora já estava quase vazio. 

Eles não se demoraram para descer. 

O resto dos passageiros se dispersou entre alguns dos turistas que retornavam do que parecia ser um dos últimos tours por dentro das fortificações de Cnossos. Alguns guias usando camisa branca de botões dirigiam as pessoas para fora dos portões de ferro monitorados por câmeras e cercas de concertina à frente.

Percy os seguiu com olhar e tentou buscar algum ponto de entrada. Seria difícil, o palácio real minoico era uma das atrações mais visitadas da ilha de Creta, uns guardas armados com tazers e lanternas observavam a postos em uma das guaritas montadas que seguiam a arquitetura dos bastiões da fortaleza exterior. Eram como sentinelas de um quartel militar.

—Ei, Percy — Annabeth o livrou de seu estupor. 

A garota estava escondida à sombra de um poste embaixo da marquise de uma sorveteria fechada. Ela estava ajoelhada ao lado de sua mochila preta.

Annabeth retirou um pedaço de tecido preto de dentro de mochila e o colocou na testa, envolvendo os cabelos louros e circundando a cabeça. A bandana preta provocou um calafrio em Percy. 

—E essa bandana aí? — ele torceu o nariz ao ver os cabelos dela caindo sobre o rosto, não fosse pelas roupas em tons mais claros ele já estaria com caneta/espada em mãos, por precaução.

—Me acostumei com ela, é ótima para não ser atrapalhada pelo meu cabelo caso entremos em alguma luta — ela deu um nó na bandana e fez um coque, prendendo com uma caneta esferográfica, que também retirou da mochila.

Annabeth retirou mais um tecido preto de dentro da mochila e estendeu para Percy — Cobre o seu rosto, não queremos que alguém aqui sabiba quem invadiu o palácio caso sejamos descobertos. 

Percy passou a balaclava preta pelo pescoço e cobriu a boca e o nariz. Ele também abriu a mochila e vestiu uma das jaquetas corta-vento que pegou em Leptokarya. Deu a outra para Annabeth. 

Ela se levantou e andou alguns passos até um beco escuro ao lado da marquise. Annabeth descalçou as alpargatas e retirou os shorts que estava usando. Ela havia pegado as calças camufladas sujas, seria burrice deixá-las na casa daqueles mortais só para o vulcão olimpiano destruí-las.

Annabeth calçou novamente as alpargatas e vestiu a jaqueta preta. Eles estavam parecendo ladrões que iriam roubar o legado de Minos. Annabeth bufou — Você podia ter comprado um coturno pra mim, também. Essas sapatilhas aqui não são nada confortáveis. 

Percy não respondeu. Ele olhava para Annabeth como se ela estivesse doente ou fosse explodir. O garoto estava encarando a mesma pessoa que o atacou na floresta e o prendeu numa cela escura nas masmorras do Olimpo.

Ele estava tão absorto que não se deu conta de que ela se aprumou pra fora do beco e se apoiou na sombra de outro poste,  do outro lado da rua. 

Annabeth fez um sinal para ele se aproximar, impaciente.

—O que foi? — ela o encarou — Está estranho, desembucha. 

Percy se aproximou desconfortável. Ele cobria as mãos com os bolsos da jaqueta. 

—Nada, é só que ver você vestida assim não me traz boas recordações. 

Ela sustentou o olhar de Percy.

—Eu entendo, mas não posso voltar atrás — os olhos cinzas penetrantes fizeram Percy se envergonhar — Não tive escolha, mas agora eu tenho. E estou escolhendo ajudar você, ajudar o Perseu. Mas não posso mudar o que aconteceu, e não sou a mesma Annabeth de antes. Estar ao lado dele me fez refletir sobre muitas coisas. Coisas que nós dois julgamos como certas, mesmo que na prática não sejam. 

“E essas roupas me caem bem, você me conhece. Não sou do tipo que fica de vestido ou biquíni todo o tempo. Já tive minha cota do ano. Acostume-se.”

Uma coisa era certa, a Annabeth mandona jamais mudaria. Nem o poder do Veneno ou do Véu podia apagar isso. Percy não podia reclamar, ele também não era o mesmo de antes. Tudo estava diferente. 

Percy notou um movimento à frente. Um dos guardas estava andando na muralha superior com a lanterna ligada. O homem subitamente se desequilibrou e seu corpo ficou pendurado na muralha. Percy conseguiu ver a silhueta de uma flecha de penas negras na altura das costelas do guarda. 

—Não somos os únicos visitantes noturnos — ele apontou para o sentinela caído. Não pareceu chamar a atenção dos outros guardas. Um deles dormia numa das guaritas da muralha e outro estava absorto em um celular, no portão. 

—Devem ser os seguidores de Tártaro — Annabeth avançou sorrateiramente por entre os poucos carros estacionados e se agachou atrás de um deles, cerrando os olhos na direção do portão de ferro negro — Eu posso sem querer ter soltado essa informação acerca da oficina de Dédalo ao senhor dos abismos. 

—Mas é claro, seria fácil demais. 

Os dois se esgueiraram por entre os carros e avistaram um grupo vestindo roupas pretas usarem um ponto cego nas muralhas para escalar. Percy viu o arqueiro que atirou a flecha no guarda. Era um garoto franzino armado com um arco leve simples, ele não devia ter mais do que dezoito anos de idade. Também não era parecido com nenhum dos campistas do Acampamento. Talvez nem fosse um meio-sangue. De acordo com as Moiras e Annabeth, Tártaro não reunia apenas seguidores divinos

Percy e Annabeth esperaram uns momentos atrás de um Peugeot preto. Annabeth espiava a muralha pelas janelas escuras do carro.

O arqueiro foi primeiro e escalou a muralha com destreza. Ele foi até o corpo do guarda e o retirou da beirada do para peito. Pegou de volta a flecha de obsidiana e colocou na aljava novamente. 

Outras duas figuras encapuzadas surgiram das sombras de um beco ao lado da muralha e correram com as silhuetas baixas até a beirada onde o arqueiro estava patrulhando. Arco em mãos. 

Percy projetou o corpo um pouco para observá-los e pisou em uma garrafa de cerveja quebrada. O som do vidro se partindo despertou a atenção do grupo encapuzado. Ele praguejou baixinho e se abaixou. Annabeth o repreendeu com um olhar mortal. 

Ela conseguiu ver a figura da garota Lou Ellen. Os cabelos negros encaracolados saiam pelas beiradas do capuz dela. As roupas pretas características e botas de couro, além da espada de ferro negro que estava na bainha. Filha de Hécate. Fazia todo sentido ela estar ali, a ferramenta de Dédalo deveria funcionar com algum poder da deusa da magia, a filha estar ali facilitaria as coisas para o senhor da escuridão

Os dois se encolheram atrás do carro e torceram para o bando de Lou Ellen não ir verificar a origem do barulho. Percy já estava com a caneta/espada na mão, ele tamborilava os dedos girando-a.

Por sorte a garota filha de Hécate não mandou um de seus capangas verificar os carros, eles se foram e escalaram um dos baluartes da fortaleza de Minos.

Annabeth correu pelas sombras dos postes incandescentes e tentou se esgueirar atrás de um banco de praça e uma banca de jornal.

Ela conseguiu chegar até a beirada do muro de pedra. Os outros dois guardas ainda pareciam absortos, um deles fazia sombras na parede com a lanterna e o outro continuava no celular. 

Annabeth agarrou as saliências entre os blocos de concreto e projetou o corpo como uma ninja. Ela passou o corpo pela amurada e se agachou no topo da muralha. A garota foi até o guarda caído chegar o pulso. Ele estava morto. Annabeth murmurou uma prece em grego e fechou os olhos dele, que ainda estavam arregalados de surpresa. 

Ela olhou para o outro lado da muralha.

O grupo de Lou Ellen corria rapidamente por entre os jardins exuberantes misturados com ruínas de templos e armazéns cercado por átrios de colunas dóricas enormes. Afrescos brilhantes cobriam as paredes retratando o povo minoico em toda sua glória e luxúria. Suas vestimentas não pareciam ser herdadas de nenhuma civilização conhecida, com mangas bufantes e saias drapeadas, em tons azulados. Os murais representavam competições atléticas como as Olimpíadas de Atenas.

Os semideuses caídos avançaram por entre as muitas escadarias e passagens que ligavam os cômodos em ruínas, a arquitetura era uma bagunça, segundo Annabeth.

Annabeth presumiu que a ala leste deveria pertencer aos aposentos reais, com o salão do trono se erguendo no fim do corredor das Procissões, esta porção do palácio estava mais conservada que a maioria dos pátios e oficinas destruídos e gastos por eras de intempéries. 

Percy se aproximou dela. 

—Olha lá — ela apontava para Lou Ellen. Os semideuses haviam parado e analisavam um dos afrescos nas paredes. Um deles havia roubado a lanterna do guarda caído e iluminava em volta, protegendo as costas deles. Annabeth se encolheu um pouco quando o feixe de luz passou perto demais de sua silhueta.

—Esse lugar é uma confusão — a mente de Percy se embaralhava com as construções esparramadas de forma irregular — Não parece arquitetura grega, é muito diferente do Olimpo, tanto o original quanto o do Empire State.

—Não é arquitetura grega — Annabeth respondeu como se fosse óbvio. Percy levantou uma sobrancelha e a encarou. A garota bufou. 

Ela apontou para os jardins da ala oeste e seus baluartes fortificados. As conexões entre eles e algumas pequenas salas parcialmente destruídas destacavam os antigos templos religiosos do Rei dos Olimpianos, segundo Annabeth — Zeus era o único deus que eles veneravam, dos Olimpianos. Haviam muitas divindades femininas também. Dizem que Zeus nasceu numa caverna não muito longe daqui.

Ela mostrou o setor dos armazéns antigos, onde o governante concentrava todas as riquezas e tributos do povo. Bem centralista. 

Lou Ellen fez sinal pra seu bando segui-la mais à frente. Eles estavam indo em direção a ala do salão do trono, depois dos jardins e dos templos.

—Por que estão indo pros aposentos reais? — ela os seguiu com o olhar até que a luz do feixe da lanterna só era visto escapando entre as construções, de forma indireta.

“Dédalo não era da nobreza, ele não dormia nos aposentos reais. A ala das oficinas é do lado oposto ao salão dos Reis.” 

Annabeth cutucou Percy e apontou para uma escada entalhada no muro de pedras. Ela desceu rapidamente e começou a correr até a ala das oficinas.

Eles subiram uma escada de patamares e passaram pela parede onde o bando de Lou Ellen parou para analisar o belo afresco minoico. Annabeth se conteve para não ficar babando na bela retratação da glória do palácio em sua era de ouro. O afresco era colorido e brilhante, mesmo tendo sido pintado a milênios. 

—Eles tem azar de não ter a Arquiteta do Olimpo ao lado deles — Annabeth deixou um sorriso vitorioso escapar. 

A ala das oficinas estava bem próxima, as paredes estavam conservadas, levando-se em consideração a idade do palácio. 

Haviam algumas cercas para proteger as paredes dos dedos sujos de turistas. Annabeth as ignorou.

Ela conseguiu encontrar uma parede repleta de hieróglifos de grego arcaico, uma receita de massa e um ritual de sacrifício animal. Não estava ajudando muito.

Percy não tentou fazer perguntas, as vezes era melhor deixar Annabeth trabalhar do jeito dela e apenas seguir ordens.

Annabeth já estava na quinta salinha escura, a faca de bronze dela brilhava fracamente. A determinação da garota era forte. 

Percy estava de guarda na porta enquanto ela investigava os cômodos abandonados. Ele estava olhando para uma bigorna velha em um pedestal, cercada por um daqueles organizador de filas de shopping. Quanto alarde por uma simples bigorna — ele pensava.

No acampamento haviam dezenas delas, e funcionais. Aquela ali só estava de enfeite, não servia pra nada. Talvez a mente de Percy não fosse voltada para apreciar esse tipo de coisa, ele preferiria forjar uma espada nova do que ficar parado olhando pra bigorna.

Annabeth chamou a atenção dele com um assovio. Percy passou pela soleira da porta e a viu ajoelhada no chão. 

—Olha essas marcas — ela mexeu as mãos no chão e subiu um pouco de poeira. Haviam alguns arranhões circulares no chão de pedra.

Percy se agachou ao lado dela. 

—Parece que há uma passagem por aqui — ela dirigiu o brilho da adaga de bronze até a parede mais próxima. 

Annabeth estreitou os olhos e se aproximou da parede empoeirada. Ela estendeu a adaga para Percy. 

A garota remexeu entre os tijolos sobrepostos e deu alguns socos em tijolos distintos — Talvez algum deles seja a chave de pressão de alguma dessas paredes. Percy a ajudou a vasculhar entre os tijolos. 

O som estava bastante sólido em todos eles. Os grânulos de poeira ofuscavam um pouco o brilho da adaga de Annabeth. Percy retirou a caneta do bolso e fez Contracorrente se materializar — Assim está melhor — ele disse.

Percy conseguiu ver um entalhe num dos tijolos. Ele assoprou a poeira e colou o rosto na pedra. Parecia uma coruja, mas era diferente das que ele conhecia. Estava mais para um híbrido de coruja e morcego, com asas esqueléticas e um bico avantajado. Pés de galinha e garras afiadas. 

—Ei, Annabeth — Percy afastou o nariz da parede e apontou a lâmina para o estranho animal entalhado. 

A garota se aproximou e tateou o entalhe — Não parece uma coruja. Pelo menos não uma que eu reconheça. 

Ela dirigiu a lâmina de sua adaga pelos rejuntes de massa dos tijolos e o rasgou, seguindo a silhueta retangular da pedra de mármore. Após isso ela tentou fazer uma alavanca com a faca para tentar retirar o tijolo da parede. 

O tijolo deslizou graciosamente e se desprendeu do resto da parede. Ela o pegou. 

Ela o deixou no chão e iluminou o buraco na parede com a lâmina de bronze. Havia uma espécie de fio dourado que seguia mais fundo na parede — Pode ser um contrapeso. 

Ela enfiou a adaga na parede e cortou o fio sem hesitar. Um estrondo percorreu toda a parede, a poeira balançou-se no ar e no chão. 

Percy pegou o tijolo do chão, a extremidade oposta ao desenho entalhado era oca. 

O garoto esticou a outra mão e girou o tijolo. Dentro havia um colar de couro com três chaves velhas. 

Percy cutucou Annabeth, a coluna de tijolos estava se projetando para frente e para o lado. A garota o ignorou, maravilhada com tamanha engenhosidade de um povo arcaico como os minoicos. 

Alguns tijolos se partiram no processo, mas a passagem secreta havia cumprido muito bem seu papel, se transformando numa porta. Pareciam até haver dobradiças, pois os blocos de alinharam perfeitamente como uma porta aberta para fora — Incrível — a garota disse. 

—Essas chaves aqui também são — Percy mostrou a ela o colar de couro. Annabeth o tomou dele e o analisou por uns momentos, até o colocar no bolso. 

Ela avançou em direção à porta, que revelava um corredor escuro — Vamos, esse barulho com certeza vai atrair os guardas e o grupo de Lou Ellen. 

Percy não retrucou, os dois avançaram juntos até o corredor escuro. A passagem se fechou atrás deles, os jogando no breu das sombras.


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Notas finais do capítulo

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