Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 89
39 - A Oficina de Dédalo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite pessoal. Desculpem a demora, tava de mudança esses dias, fui transferido no trabalho aí não tive tempo.
Sem mai delongas, enjoy! Esse tá uma uva.

Boa leitura



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39 - A Oficina de Dédalo 

 

Por um instante tudo ficou escuro. O estreito corredor parecia absorver todo o brilho das lâminas de bronze celestial de Percy e Annabeth. Com um calafrio o garoto se lembrou do Tártaro, a escuridão era familiar. 

A porta para o corredor havia retornado ao seu lugar original, a coluna de tijolos se encaixou juntamente com o resto das outras, uma corrente de ar cruzava o ambiente partindo da frente deles e passando através do buraco deixado pelo tijolo o qual Annabeth havia retirado com sua faca. 

—Tem uma corrente aqui — Percy localizou a voz dela um pouco à frente — Significa que há uma saída desse breu. 

Annabeth andou alguns passos cautelosos abananando as mãos no ar, tentando se agarrar a alguma coisa. Ela tateou os tijolos da estreita passagem e torceu para não haver uma armadilha com um alçapão e lâminas afiadas caso pisasse em um lugar errado — Me acompanha, Percy. 

Ela abanou a mão direita para trás e esta foi de encontro à mão de Percy. Eles entrelaçaram os dedos ao continuar a caminhada escura. 

Annabeth sentia a corrente de ar açoitar seus cabelos mais fortemente à medida que um filete de luz fraca começava a iluminar o teto da passagem secreta, ela conseguia ver um brilho azulado vindo de baixo. 

—Eu falei, tem uma saída sim — a garota se aproximou o suficiente para espiar a passagem abaixo. Ela torceu o nariz — Diz que aquilo lá embaixo é água, por favor.

Annabeth estava apoiada num dos joelhos observando a tal Oficina. 

Percy seguiu o olhar dela. Ele se agachou a seu lado. 

A passagem era larga o suficiente para eles passarem juntos. Havia uma enorme caverna abaixo. Percy conseguiu ver um poço de águas escuras como piche, não dava pra saber se era fundo suficiente para aguentar o impacto de duas pessoas despencando mais de cinquenta metros de altura. As bordas do pequeno lago eram circundadas de cerâmica e peças de mármore brilhantes, como um termas romano. 

—Então… — ele tentou não soar pessimista — É água. Mas não sei se tem o suficiente pra gente se jogar daqui de cima. 

O garoto também conseguiu notar os braseiros que iluminavam toda a caverna, haviam algumas esculturas não acabadas em uma mesa cheia de ferramentas e quinquilharias esparramadas. O poço era como um termas natural, as águas desprendiam um pouco de fumaça. Tinha uma pequena área comum com cadeiras de madeira trançada de aparência confortável e uma tenda grande que Percy pensou ser os aposentos, talvez. 

—Nunca te vi hesitando assim — Annabeth tentou não soar rude, mas acabou saindo de qualquer jeito — Sem ofensa

—Não estou hesitando — ele rosnou em defesa — Só não estou afim de morrer hoje. 

Percy se levantou e se aproximou do buraco, as pontas dos pés dele se alinharam com o começo entrada da caverna. Ele estendeu a mão para Annabeth, ela torceu o nariz. 

—E se eu morrer, você também vai — Percy ignorou a careta dela. Annabeth bufou vencida. Ela entrelaçou os dedos com os de Percy e se aprumou ao lado dele na borda. 

Percy segurou a mão dela firme. Ele moveu a perna direita e bambeou o corpo. Os dois saltaram juntos.

Não demorou muito até os dois alcançarem o poço na queda. Percy usou seus poderes para abrandar o impacto da queda, eles cortaram a linha d’água como balas de canhão. A água era morna, bastante agradável até. 

Percy sentiu os pés encostarem no fundo do poço e se projetou para cima, à esta altura já não sentia a presença de Annabeth a seu lado. 

Ele emergiu e olhou em volta, a tenda e os braseiros estavam logo à frente. 

Annabeth brotou na superfície logo depois. Ela se aproximou dele.

Viu? — a garota nadou até a margem e apoiou as mãos na cerâmica para sair do poço — Você se preocupa demais. É só um velho termas. Duvido que os mortais o conheçam, do contrário estaria cheio de placas de não atravesse e barreiras de fita zebrada em volta de tudo. 

Percy se convenceu e a seguiu para fora do poço. 

Ele se levantou já usando os poderes para se secar. Aproveitou para fazer o mesmo com Annabeth através de um leve toque no ombro da garota, esta que já ia andando na direção da tenda. 

Percy a seguiu. 

Eles passaram pela área comum e Percy sentiu vontade de se jogar na cadeira de madeira trançada, havia um estofado felpudo aparência confortável cobrindo o chão, uma mesa de centro estava munida de frutas de todos os tipos. Morangos, maçãs, uvas. As pernas de Percy pareciam ter criado vida própria, ele já estava com um cacho de uvas na mão, pronto para abocanhar todas elas. 

—Não coloque isso na boca — era a voz reprovadora de Annabeth. Percy olhou para ela. A garota estava de braços cruzados.

—São só uvas, Sabidinha — ele zombou e retornou a atenção para o cacho de uvas enormes. 

—Olhe de novo — ela avisou.

Percy tomou um susto. O cacho de uvas roxas enormes havia envelhecido pelo menos uns cinquenta anos, estava cinza, podre e empoeirado — Mas o que…

“Como isso é possível? Eu vi as frutas, deu até pra sentir o cheiro”

Annabeth assobiou e chamou a atenção dele. Ela acenou com a mão e fez sinal para ele se juntar a ela. 

Percy devolveu o cacho de uvas podres para a fruteira da mesa de centro. Ele passou a mão pela calça com certo desespero. 

Na tenda, Annabeth analisava as esculturas e quinquilharias espalhadas pela mesa de trabalho de Dédalo, ela presumiu. 

Haviam bugigangas de todo tipo, papiros com projetos de máquinas antigas, sistemas de irrigação, armas de formatos estranhos e pinturas de um homem magricela de aparência cruel, vestindo roupas caras de nobre. 

Martelos de ferreiro e cinzéis de prata estavam espalhados e quebrados num balde ao lado da mesa, além de pedras de mármore trincadas, esboçando falhas na tentativa de replicar um busto masculino. Não parecia ser o homem da pintura, pelo menos não que Annabeth reconhecesse. 

Algo chamou a atenção de Annabeth, vários dos papiros esboçavam um pequeno punhal de corte duplo com cabo de couro marrom, forjado em bronze celestial. 

Annabeth sentiu um calafrio na espinha. Parecia muito com a adaga dela. A garota retirou a adaga da bolsa e a colocou ao lado de um dos papiros. Eram idênticas. 

—É a sua faca, Annabeth — ela deu um pulo de susto. Percy chegou sorrateiro até demais, falando ao pé do ouvido dela. 

Annabeth murmurou um palavrão em grego e o olhou mortalmente. Percy deu de ombros. 

—Sim, parece muito com ela, mesmo — Annabeth estava maquinando a possibilidade daquela ser a adaga dela — Mas foi o Luke que me deu ela, e antes disso ela pertenceu aquele cara, Halcyon Green. E antes dele pertenceu a uma mulher. Não é possível… 

—Claro que é — Percy não conseguiu entender a dúvida dela, porque não podia ser a mesma faca? — E se essa tal mulher era uma amiga de Dédalo, ou sei lá. Até onde sabemos, nesse nosso mundo tudo é possível. E Dédalo é seu irmão, também. 

Annabeth não respondeu. Ela retirou a bainha da adaga da mochila e a prendeu num dos ilhós da cintura de suas calças camufladas, ela guardou a adaga na bainha. 

Percy andou em volta da mesa e viu baldes cheios de moldes de barro e pedras quebrados no chão. Pareciam tentativas frustradas de forjar o punhal. 

—Parece que o Dédalo teve dificuldades em forjar sua faca — Percy pegou um dos moldes e colocou em cima da mesa. 

—Você nem sabe se é mesmo minha adaga. 

—Tenta encaixar ela aí, então — Percy cruzou os braços e a encarou. 

Annabeth retirou o punhal da bainha e o depositou no molde. Encaixou perfeitamente. Estranhamente até o cabo e o pomo cobriram perfeitamente o molde.

—Isso sim que é estranho — Percy coçou os cabelos — Eu não sou nenhum mestre armeiro, mas quando Perseu me ensinou a forjar espadas geralmente o molde cobria somente a lâmina, o cabo é uma peça feita separadamente. Mas este molde aqui leva em conta o tamanho do cabo, até o pomo da sua adaga encaixou. 

Annabeth não sabia muito sobre forjar armas, não havia se dedicado a isso como os filhos de Hefesto do Acampamento. 

—O que significa… 

—Não sei bem… pode ser que ele estava tentando imbuir alguma coisa na adaga já forjada e montada. Eu vi algumas peças de lâminas quebradas no balde com os moldes. 

Percy foi até o balde e pegou uma das velhas lâminas quebradas, esta também possuía um cabo de couro modesto e o mesmo pomo achatado igual ao da faca de Annabeth — Ele não deve ter tido muito sucesso nessa aqui. 

Percy analisou a lâmina do punhal quebrado e comparou com a da faca de Annabeth. Eram iguais, o tato das mãos de Percy não detectaram nenhuma diferença aparente. 

—A questão é, será que ele falhou em todas as tentativas e desistiu? Ou conseguiu imbuir sabe se lá o que na sua faca? Alguma vez já notou se ela dispara lasers ou algo fora do usual? 

Annabeth deixou um sorriso escapar. Só Percy para conseguir fazê-la rir nesse tipo de situação — Acho que eu notaria se minha adaga disparasse lasers

—Só estou dizendo, pode ser qualquer coisa. E aquelas chaves que eu achei na parede lá em cima? Certeza que tem algo a ver com elas. 

Annabeth pegou na mochila o cordão de couro com as três chaves de ferro fundido. Elas estavam enferrujadas e corroídas em alguns pontos. 

—Não vejo nenhuma porta aqui em volta. Vamos nos separar e procurar.

Percy assentiu. Ele procurou em volta da tenda, haviam algumas esculturas inacabadas e um estande de armas feito em madeira parecido com os que Perseu tinha na cabana do Michigan. Algumas espadas e martelos de ferreiro estavam penduradas em pregos na madeira. 

Percy não se atreveu a mexer em nenhum deles. 

Annabeth saiu da tenda e tentou procurar nas paredes da caverna por algo que chamasse a atenção. Uma parte da rocha estava pintada em tinta óleo representando alguns templos gregos no alto de uma colina solitária. Não parecia ser o monte Olimpo. Algumas figuras divinas também estavam expostas na parede. A garota reconheceu o senhor dos céus segurando seu raio, Poseidon manejando o tridente e Hades com seu elmo embaixo do braço. 

Acima deles haviam algumas figuras mais detalhadas. Annabeth reconheceu um dos generais do senhor da escuridão. Céos tinha os mesmos cabelos brancos cortados em estilo militar, armadura de batalha de bronze e olhar penetrante. Ao lado dele havia uma mulher, Annabeth não conseguiu associar a pintura a nenhuma deusa que ela conhecia. 

A figura feminina estava vendada e segurava uma balança na mão direita e uma cornucópia na outra mão. Usava um vestido de linho branco simples e os pés descalços. 

Algo chamou a atenção na garota. Havia alguma coisa na balança da mulher. Uma espécie de rocha acizentada que emitia brilho fraco e desprendia uma leve névoa. Annabeth se aproximou da parede. A pequena rocha cinza não era parte da pintura, e sim parte da estrutura da caverna de Dédalo. 

Os vapores que se soltavam da parede adentraram as narinas de Annabeth. Ela coçou o nariz com a mão e sua visão se ofuscou um pouco. A garota sentiu uma leve tontura e se apoiou com a mão na pedra. Ela respirou fundo e tossiu algumas vezes. 

Ela se afastou receosa da pintura da deusa desconhecida. 

Annabeth sentiu-se enjoada e novamente sua visão começou a ficar borrada, como se usasse óculos feitos para alguém com a visão muito pior que a dela. A garota ficou incomodada, como se estivesse sendo perseguida. Ameaçada. 

Ela levou a mão até a bainha da adaga e a retirou. Annabeth apertou o cabo da faca com força. Sua cabeça estava a mil, a mente da garota estava se fixando em pensamentos contraditórios, os deuses e os primordiais, Tártaro e Percy, dia e noite, luz e sombras.

Annabeth sentiu uma raiva enorme encher suas veias, a mesma raiva que ela sentia quando esteve ao lado do abismo. Não era possível, ela havia se libertado espontaneamente do Veneno. Escolhido lutar ao lado do homem que jamais a abandonou realmente. Porque então será que ela de repente queria matá-lo?

Annabeth não estava conseguindo resistir, quase como se seu corpo se mexesse sozinho. Ela apertou ainda mais o cabo da adaga de bronze. As pernas dela se moveram mecanicamente até a tenda, onde o desavisado Percy Jackson seria pego de surpresa pela velha Arma de Tártaro. 

Percy notou a aproximação dela. 

—Annabeth… — ele olhou para a mão dela e para a adaga. Percy arqueou uma sobrancelha, como se não estivesse acreditando — Não é hora para piadas, pare com isso. 

A garota continuou avançando na direção dele, os olhos cinzas estavam arregalados e quase pretos. A garota girou a faca na mão e jogou a mochila preta no chão. Ela pegou o boné dos Yankees.

—Achei que tínhamos combinado que não usaria esse seu boné contra mim de novo — o garoto recuou um passo, começando a entender a seriedade da situação. 

Ele engoliu em seco ao ver aquele sorriso se formar no rosto de Annabeth. Era o mesmo sorriso que ela havia mostrado na floresta do Acampamento antes de desaparecer no ar e o atacar com toda força. 

E assim foi novamente, Percy fechou os dedos na caneta Contracorrente quando a figura de Annabeth desapareceu diante de seus olhos.


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