Pov Malu

Abri meu closet e o encarei por vários minutos esperando que um jato de criatividade entrasse em meu corpo e fizesse que eu escolhesse uma roupa a altura do evento. Como isso não aconteceu, resolvi que tomar banho primeiro seria uma excelente saída. 

Entrei no box e leguei o chuveiro. Senti que todos os meus problemas estavam indo embora pelo ralo, juntamente a água morna que caia sobre minhas costas nuas. 

Passei o banho inteiro pensando no assunto de hoje. Por que será que ele estava namorando com aquele ser? Ele nem conhecia ela. Fazia apenas dois que ele estava na escola. Será que é por ela ter peitos grandes?

Tenho certeza que metade daquilo é silicone. Que é tudo falso e que se tirasse cai tudo no chão. Será que ele aproveitava sexualmente dela? Não, ele não tinha cara de quem fazia isso. Ele tinha uma carinha de santo que dava vontade de agarrar. Arg Rafael, vem cá. Vem aqui agora e me morde garoto. Ok, parô com a putaria. 

Balancei a cabeça para tirar meus pensamentos absurdos da cabeça enquanto pegava uma toalha e me enxugava. 

Fui até o closet e tirei do mesmo um short jeans preto - se é que aquilo podia ser chamado de short - uma blusa que amarrava na barriga e tinha um emblema do time de basquete desenhado, e um salto preto maior que eu. 

Fiz uma maquiagem preta super exagerada, que se eu fosse pro Alasca e me escondesse debaixo da neve me achariam, peguei a chave do carro, minha bolsa e sai. 

...

Cheguei na escola e estacionei meu carro o mais perto do ginásio possível, mas como já existia muita gente presente lá tive que o deixar perto da saída. Esperei até que todos os torcedores adentrassem o local. Quando me certifiquei que todos já estavam em seus devidos lugares a espera de seu time, saltei do carro e tranquei o mesmo. 

Caminhei até a porta dos fundos do ginásio e abri uma pequena porta. Até onde eu sei, aquela porta daria.. Exatamente. Daria ao vestiário masculino. 

Adentrei o local imundo, por existirem vários homens - gostosos -   juntos no mesmo lugar, e caminhei até o final do corredor. Sentia minhas mãos suando e jurei que meu chuveiro havia vindo comigo. Mas não, eu não desistiria agora. 

A medida que eu chegava mais próxima ao local desejado, esbarrei com vários meninos que assobiavam e batiam palmas para mim. 

Quando cheguei a sala de armários me escorei na porta que para minha sorte estava aberta, e o fitei. Quando ele percebeu que vários meninos elogiavam alguém, ele virou e me fitou, deixando sua boca se transformar em um pequeno "o". 

- Wow Maluzinha, você ta linda hein? - Disse Arthur, amigo de Rafael e da gangue dos populares do colégio, na qual eu nunca fiz nem vou fazer parte. 

- Nossa. Falou o que até ontem me zuava - Eu disse totalmente irônica. 

- Ah, esquece isso, que tal um drink qualquer dia desses? 

- Hum, pode s.. - Eu falei mas fui interrompida. 

- Você não vai tomar drink com ninguém ouviu bem? Ninguém. - Disse Rafael, que ainda não tinha se manifestado. 

- Ah ta. E você é quem pra me mandar fazer alguma coisa? - Quando eu felei isso, ele saiu me puxando pelo corredores do vestiário - Me solta. Ta. Me. Ma-chu-can-do. 

- Por que você ta assim? Ta parecendo uma.. uma.. - Ele disse sem me soltar. 

- Parecendo com o que? Vai fala. - Eu falei o fitando. Mais do que o meu espaço de segurança permitia.

- Uma puta. 

- Como se a sua namorada não fosse isso. Ah e antes que eu esqueça. Nunca mais olha na minha cara, ouviu bem? Nunca mais - Eu falei com os olhos marejando. 

...

Cheguei em casa e me joguei na minha cama permitindo que minhas lágrimas escorressem a vontade. Borrando toda  minha maquiagem. 

Meu celular vibrou dentro da bolsa e eu o peguei. 

SMS ON ~

Malu, cade você? Pensei que ia vir pro jogo. Enfim, hoje vai ter festinha na rua XXX. Todo mundo foi convidado, quero te ver lá.. 

Clara. 

SMS OFF ~

Ótimo. Resolvem dar uma festa logo hoje. Espera, se todo mundo foi convidado, quer dizer.. que ele vai ta la? Ele e um monte de gatinhos. Me espera Rafael Cortez. 

Arrumei toda a minha maquiagem, coloquei um vestido super colado com um decote nos seios, salto alto preto e sai. 

Ao chegar perto do endereço, avistei um casal. Na verdade, um casal brigando. Aparentemente a garota estava batendo no menino e ela estava chorando. 

Dirigi lentamente para ver se identificava alguém. E era ele. Ele era o menino que estava brigando com a menina, que havia levado o tapa e que estava chorando como ela. 

- Entra no carro Rafa - Eu falei alto para que o garoto que estava no meio fio ouvisse - Vem logo. 

Percebi que ele se dirigia ao carro rapidamente. Assim que ele entrou, guiei o carro até uma pracinha perto do local em que estávamos, o caminho até o local foi repleto de silêncio. Exceto pelo fungado do menino, que era constante. 

Dessemos do carro e eu o puxei pela mão até um banquinho que continha ali. O deitei sobre meu colo e fiz carinho em seu cabelo. 

- Quer me contar o que aconteceu? - Eu perguntei limpando uma lágrima solitária que escorreu sobre sua face. 

- Por que você ta assim? - Ele me pergunto sussurrando. 

- Assim como? - Eu perguntei confusa. 

- Você não parece você.