Meu Vampiro De Estimação escrita por Eica


Capítulo 6
Estranhos entre nós




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Eric e Caio foram ao centro comercial da cidade de manhãzinha. Conseguiram uma vaga num estacionamento e passearam pelas ruas a procura de algo interessante para comprar. Gastaram bastante dinheiro com roupas. Compraram tantas que suas mãos nem mais conseguiam segurar as mais de dez sacolas. Também compraram roupas novas a Sébastien (escolheram bem, pois sabiam quais roupas ficavam perfeitas nele). Caio mascarou seu nervosismo durante todo o passeio, pois refletia muito sobre o beijo com Sébastien. Pensava em dizer ao irmão, mas tinha receio de seu julgamento. Tinha pensamentos muito conflitantes a respeito do vampiro e não sabia se seu relacionamento com ele iria mudar daqui para frente.

Quando ainda estavam no centro, pararam numa banca de jornal para recarregarem seus celulares. Enquanto Eric dizia os números dos aparelhos ao dono da banca, Caio trafegou pela banca que era grande, mas pouco espaçosa devido a quantidade de materiais que vendia. Parou em frente a uma pilha de jornais do Cruzeiro do Sul e leu as principais manchetes. Uma delas chamou sua atenção.

- Eric?

- Oi? - disse o mais velho, virando-se para o irmão.

- Vem ver uma coisa.

- Só um minuto.

O rapaz deu o dinheiro ao dono da banca e foi até Caio.

- Que foi?

Caio pegou o primeiro exemplar da pilha e pediu ao irmão que lesse uma certa matéria. Eric, surpreso, pagou pelo jornal e voltou apressado para casa. Ambos colocaram as sacolas das compras na primeira sala, onde Sébastien se encontrava, assistindo televisão. Estava deitado num dos sofás de pano, com as pernas a descansar sobre os assentos e os pés descalços a balançar suavemente.

- Sébastien! Leia isso aqui.

Sébastien só sentou-se no sofá quando terminou de ler toda a matéria.

- Onde fica essa Avenida General Carneiro? - indagou o vampiro.

- A meia hora daqui, mais ou menos, dependendo do trânsito. - respondeu Eric.

Os irmãos se entreolharam.

- Não foi você, foi?

Sébastien olhou para Eric como se tivesse sido insultado.

- Eu mal sei andar nessa cidade dos infernos!

- Desculpe, é que... Como pode outro vampiro por aqui? É...

- Impossível. - completou Caio.

- Isso! É impossível. Não que você seja impossível... Mas... Outro?

- Havia outros vampiros vivendo aqui no seu tempo? - indagou Caio.

- Não creio que os que eu conhecia tenham voltado para cá. Todos eram da França. Ficaram pouco tempo por aqui. Não sei...

- O que fazemos? - indagou Caio.

- Nada, é claro. - respondeu Eric. - É muito perigoso. Até mesmo para o Sébastien.

- Acha que sou um velho caquético?

- Não quis dizer isso.

- Sim, não faremos nada. Aliás, eu não farei nada. Se bem que... Estou curioso...

Neste mesmo dia, a morte da prostituta encontrada na Avenida General Carneiro foi divulgada no jornal da televisão. E no dia seguinte, mais um corpo de mulher foi encontrado na mesma avenida, há alguns metros de distância da anterior. Ambas haviam sido encontradas com marcas de dentes no pescoço e estavam sem sangue. A polícia ia investigar as mortes e como o sangue do corpo das vítimas foi extraído.

Agora que sabia que havia outro vampiro na cidade, Sébastien pediu a Eric que comprasse o jornal todos os dias para saber mais informações. Um dia após a divulgação da segunda morte, os três acordaram quase no mesmo horário e uniram-se na cozinha, para tomar o café da manhã. Os vidros das janelas estavam abertos, contudo, as cortinas bloqueavam a luz do sol para que não atingissem o vampiro sentado em frente a mesa, a ler o jornal. Caio e Eric comiam pães e tomavam suco de laranja.

Vez ou outra, Caio olhava de esguelha para ambos (olhava para o irmão para ver se estava de bom humor, e olhava para o vampiro porque... Bem, porque queria alegrar aos olhos).

- É estranho que tenham noticiado essas mortes. - comentou Eric, de repente, ganhando a atenção dos dois. - Achei que fossem encobrir. Não é isso o que fazem quando há casos estranhos?

- “Dengue em Sorocaba já é quase epidemia”, - leu Sébastien. - O que é dengue?

- É uma doença transmitida por um mosquito. - respondeu Caio.

Eric levantou-se da cadeira e parou ao lado do vampiro, para ler a notícia.

- Aaaah! Olha só, Caio! - disse Eric. - Mais de 543 casos na cidade.

- Nossa!

- Tem gente que é ignorante e por ser ignorante, ferra os outros.

Eric afastou-se da mesa e foi para o fogão, onde esquentou uma frigideira para poder dar uma torradinha nos seus pães.

- Faz pra mim também? - pediu Caio.

Eric pegou o pão da mão de Caio e passou-o na frigideira também, para ficar quentinho e torradinho. Em seguida, derreteu fatias de queijo generosas na mesma frigideira.

- Gosto desse queijo. Ele não gruda como os outros. - comentou.

- Oh! Vai fritar bacon de novo? - exclamou o vampiro, quando viu Caio tirar um pedaço grande de bacon da geladeira.

- Por que? - indagou Eric.

- A casa ficará cheirando.

- Aaaah, reclamão. Sai da cozinha então. Corta pra mim, Caio? Obrigado.

Sébastien mandou um olhar de descontentamento ao rapazinho que tirou fatias do bacon e passou-as ao irmão.

- Vocês tem comido demais.

- É porque temos dinheiro para gastar. - riu Eric.

Caio sorriu em concordância.

- Você era rico. Não tinha tudo o que queria e não comia tudo o que queria?

- Naturalmente.

- Então? Por que o espanto?

Tarde da noite, Eric entrou no quarto do irmão para saber se ele estava melhor, pois, há umas horas atrás, Caio havia reclamado de mal estar corporal.

- Já passou.

- Que bom.

- Dorme aqui hoje? - indagou Caio, deitado de costas em sua cama box.

- Aqui com você?

- É.

Eric sentou ao seu lado, sobre as pernas. Caio sorriu-lhe. Virou de lado, de frente para o irmão.

- Queria te dizer uma coisa, mas não sei como.

- Só falar. Diga de uma vez.

- Antes vou fechar a porta. - disse Caio, levantando-se. - Não quero que o Sébastien escute.

- Escutar o que? - disse o vampiro, de repente, na soleira da porta.

- Tem que parar de aparecer de repente, sabia? - disse Eric.

- Não apareço de repente. - retorquiu, entrando no aposento. - Só me movo rápido. O que diziam? Ouvi meu nome.

- Caio ia contar uma coisa, mas você precisa sair do quarto para eu poder ouvir.

- Ah, sim, claro.

Sébastien foi até a porta e a fechou, mas fechou com ele dentro do quarto.

- É particular. - disse Caio, encabulado.

- Diga amanhã. Podemos dormir?

Para espanto dos meninos, o vampiro, muito audaciosamente, descalçou os pés e sentou na cama, ao lado de Eric.

- Sai, encosto. - pediu Eric, quase a rir.

- Está me dando agonia ficar sozinho naquele quarto.

- Te compro um urso de pelúcia para você abraçar. Espera, está falando sério? Quer dormir aqui?

- Sim, dormirei. A menos que um de vocês tenha coragem de tirar a chave de mim.

- Trancou a porta? - indagou Caio.

- Sim, de modo que só sairemos deste quarto quando eu quiser.

Os meninos entreolharam-se. Eric chamou Caio com a mão. Este sentou ao seu lado. Observaram o vampiro. Em seguida, Eric recolheu um dos travesseiros sobre o colchão e golpeou a nuca do vampiro com ele.

- Ah! Desculpa! Eu ia mudá-lo de lugar. Calculei mal a distância!

Caio segurou o riso por pouco tempo. Sébastien, sabendo bem que se tratara de um ataque proposital, pegou o outro travesseiro que estava atrás dele. Eric levantou-se rapidamente da cama para não ser golpeado. Contudo, Sébastien acertou o rosto de Caio.

- Para não rir de mim.

Sem o vampiro esperar, Eric arremessou o travesseiro em seu rosto.

- Para não bater no meu irmão.

Aquela brincadeira levou-os a uma guerra de travesseiro onde o vampiro levou a pior. Seu cabelo ficou todo despenteado. Só pararam de se atacar quando ficaram cansados.

- Você tem senso de humor, Sébastien! - disse Eric. - Fiquei impressionado.

- Obrigado.

- O que você fazia para se divertir? Lá no seu tempo? Além de açoitar os seus escravos?

- Participava de caçadas... Festas... E o que me deixava mais feliz: tinha muitos amantes.

Os irmãos se olharam.

- Você nunca ficou noivo? Nunca se casou?

- Não.

- Só se relacionava com homens?

- Apenas homens.

- Durante toda sua vida?

- Não. Uma vez engravidei uma jovem, mas ela perdeu a criança.

Após muita conversa, os três deitaram para dormir.

- Se tocar no meu irmão, eu furo seus olhos. - advertiu Eric.

Sébastien sorriu:

- Não tocarei no seu irmão... Quando estiver olhando.

- Controle-se.

- É muito tentador, eu sei, mas não vim aqui para isto. Só queria a companhia dos dois.

Pela sua expressão, Sébastien parecia dizer a verdade. Enfim, fecharam os olhos e sossegaram. Em certa hora da noite, Caio acordou sentindo Sébastien abraçado a ele. Não pensou em afastá-lo, pois sua aproximação o deixou com uma sensação gostosa de satisfação e curiosidade. Em outro momento da noite, quando finalmente viu Eric de costas para ele, Sébastien avizinhou-se vagarosamente para não acordá-lo. Conseguiu abraçá-lo sem despertar o rapaz que, pelo gênio, poderia repeli-lo.

O relógio sobre o criado-mudo anunciou que já era nove e cinco da manhã. Sébastien foi o primeiro a abrir os olhos. Fitou um dos meninos, depois fitou o outro. Caio deu uma tossida.

- Caio?

- Hm?

- Acordado?

- Mais ou menos.

Sébastien saiu da cama. Calçou os pés, abriu a porta e saiu. Resolveu aventurar-se na cozinha. Usou o fogão e fez bacon com queijo do mesmo jeito que já vira Eric fazer. Também encheu copos com suco de laranja e recheou alguns pães com o bacon e o queijo. Atrapalhou-se muito. Fez sujeira, mas o resultado foi satisfatório. Quando terminava tudo, Eric entrou na cozinha.

- Não acredito! Você quem fez?

- Sim. E o Caio?

- Não vai descer. Acho que está gripado.

- Está doente?

- Não é nada grave. Só tomar uns remédios que daqui a poucos dias estará melhor.

Eric tirou três remédios da caixa onde só guardava remédios, que ficava numa das gavetas do armário.

- Quer que eu leve a comida pra ele? Vou subir.

Sébastien subiu com ele. Deram a comida e os remédios para o jovenzinho deitado na cama.

- Obrigado.

Eric sentou do seu lado.

- Aaaah! É tão chato quando você fica assim, Cacá.

- Não fica perto de mim, senão vai ficar doente também.

Espirrou.

- Toma conta do Caio, Sébastien? - pediu Eric, levantando da cama. - Vou buscar sua bolsa.

Para aproveitar a viagem, Eric comprou o jornal. Ao voltar para casa, encontrou o irmão deitado no sofá, vendo televisão ao lado de Sébastien. O vampiro pediu o jornal.

- Alguma coisa?

- Nada.

Eric caminhou até o irmão e sentou do seu lado. Afagou-lhe o braço e fitou-o com carinho.

- Leve-me até a avenida. - disse Sébastien, subitamente.

- Que avenida? A General?

- Sim.

Eric olhou para o irmão e disse:

- Acho que a loucura é natural dos vampiros. - em seguida, olhou para Sébastien e completou: - Ficou maluco? Não vou te levar a lugar algum.

- Leve-me. Preciso descobrir quem é este vampiro.

- Não tem que descobrir nada. É perigoso.

- Eric? Leve-me.

- Não, e se o vampiro aparece lá de novo?

- É com isso que estou contando. Se ele aparecer por lá, saberei quem é. Não se preocupe. Não acontecerá nada. Provavelmente terei de exterminá-lo.

- Exterminar?

- Melhor não irem. - disse Caio.

- Leve-me e deixe-me lá. Poderá me buscar mais tarde.

Eric fitou-o bem. Provavelmente foi a segurança do olhar de Sébastien ou sua insistência que fez o rapaz concordar. Então, naquele mesmo dia, quando já estava escuro, Eric, mesmo ouvindo os apelos do irmão, saiu de carro com o vampiro em direção a avenida onde os corpos das mulheres foram encontrados. Já era uma hora da noite.

- Acho que a loucura é contagiosa. - comentou, enquanto dirigia. - Não sei o que estou fazendo aqui. Acho melhor voltar.

- Não, não volte. Não sossegarei até descobrir o que está acontecendo.

- Ponha o cinto, Sébas... Ah, não. Esquece. Você não precisa.

Chegaram à Avenida General Carneiro. Pararam em frente de uma loja de carros que ficava numa esquina, mais ou menos próximos de onde os corpos foram encontrados. A noite estava friazinha e silenciosa. Quase nenhum carro passava por ali.

- É... Acho que este lugar está bom. Consegue sentir alguma coisa?

- Não sou um cachorro.

- Fareje, Sébastien, fareje! - gargalhou o rapaz.

- Fique aqui. - disse o vampiro, abrindo a porta. - Não saia deste carro.

- Espere. Para onde vai?

- Dar uma volta. Ver se encontro alguma coisa.

- Mas... Te espero?

- Não vou demorar. Mas se você ver algo estranho, vá para casa sem mim.

- Não tem como. Se eu não te levar pra casa, vai amanhecer e...

- Isso é o de menos.

- Como é o de menos? Não vou deixar você...

- Não discuta!

Sébastien bateu a porta e saiu andando pela calçada. Eric observou-o, nervoso. Quando desviou o olhar dele por um segundo, Sébastien havia desaparecido.

- Como ele faz isso? - pensou.

Para se distrair, ligou o rádio e deixou o volume bem baixo. Quando viu um carro passar, aliviou-se (Era bom saber que havia gente por perto caso algo desse errado). Após três minutos, Eric levou um susto quando viu alguém parar ao lado de sua porta.

- Ah! Sébastien! Já falei para não fazer mais isso.

Quando olhou atentamente para as roupas do indivíduo, percebeu que não eram as roupas de Sébastien, pois Sebastien estava usando um sobretudo. O tempo para reação foi muito curto. Logo as mãos do estranho atravessaram o vidro da janela, quebrando-o em mil pedaços. Alguns cacos acabaram ferindo o rosto do rapaz. As mãos do estranho agarraram Eric pela camiseta e puxaram-no para perto da janela. Percebendo que o homem era possuidor de uma força sobre-humana, o rapaz precisou pensar rapidamente. Pegou um grande pedaço de vidro que havia caído em seu colo e golpeou o homem no pescoço. Mesmo cortando a mão com o vidro, Eric deu outro golpe.

O estranho deu um grito, soltou-o e caiu no chão, perdendo litros e litros de sangue. Em estado de choque, Eric conseguiu ligar o carro e andar alguns metros pela rua. Olhou para o retrovisor várias vezes e em todas as vezes, viu o indivíduo caído.

- Meu Deus! Meu Deus! - repetiu, sem parar.

Seus olhos procuravam Sébastien.

De súbito, alguma coisa foi jogada contra o para-brisa. Eric deu uma freada e notou que era Sébastien.

- Sébastien! Vamos sair daqui!

O vampiro entrou no carro pelo próprio buraco no vidro causado pelo impacto e foi neste momento em que Eric viu um homem no meio da rua.

- É... É outro vampiro? São dois?

- Não. São cinco.

- O QUE??

- Ponha esta carruagem para andar! Vamos!

Eric deu partida e acelerou. O vampiro, que estava no caminho, deu um pulo sem precisar fazer muito esforço, e caiu sobre o capô. Eric perdeu o controle do carro, mas conseguiu recuperá-lo mesmo com o vampiro atrapalhando. Sébastien iniciou uma luta violenta com ele. Era um homem de uns trinta anos. Cabelos curtos e escuros. Sébastien tentou derrubá-lo do carro. Sem sucesso. Por fim, agarrou-o pela roupa e bateu sua cabeça várias vezes contra o carro. Por último, furou-lhe a testa com um pedaço de vidro do para-brisa quebrado. O corpo do vampiro foi arremessado para longe e rolou pelo asfalto.

- Faça o caminho para casa.

- Mas e os outros? Não eram cinco?

Sébastien refletiu. Sentia que os outros estavam próximos, mas não conseguia enxergar onde se escondiam.

- Continue andando.

Eric saiu da Avenida General e entrou em outra.

- Eles vão nos seguir. Não posso dirigir até em casa. O Caio está lá. - disse o rapaz, tremendo.

A mão ferida ardia muito e não parava de sangrar. Já havia sujado o volante.

- Estão se afastando. Pode continuar.

- Estão? De verdade?

- Sim.

Chegaram em casa lá pelas três horas. Eric deixou o carro no jardim. Exausto e ainda trêmulo, saiu do automóvel tentando não se machucar com os cacos de vidro. Sébastien saiu do carro, contornou-o e parou ao lado do rapaz.

- Você está bem?

- Não.

- Ele o mordeu?

- Não.

De súbito, Eric deu socos em Sébastien.

- Você é um protetor imprestável! Seu imprestável! Imprestável!

Depois do que passou, só faltou a Eric chorar. Sébastien abraçou-o quando o coração do jovem não aguentou.

- Perdoe-me.

- Eu... Achei... Qu-que fosse morrer. - disse o rapaz, entre soluços.

Ficou acolhido nos braços do vampiro por um tempo, até soltar-se de suas mãos.

- Preciso ver o Caio.

O jovenzinho estava na sala. Não conseguiu dormir sabendo que o irmão havia saído. Eric agarrou-o forte quando se encontraram.

- Você está machucado!

- Foi só um corte. - disse o outro, enchendo o menor de beijos.

Sébastien não entrou na casa, mesmo depois que os irmãos subiram para o quarto para tentar descansar. O vampiro continuou no jardim. Depois, subiu para o telhado e ficou lá em cima. Viu que o sol já começava a nascer. O coração estava uma loucura. Mais confuso e dolorido que de costume. Ao levar a mão para a direção onde os raios de sol iluminavam, a ponta de seus dedos ferveram como se tivessem tocado em brasa. Quando olhou para eles, estavam queimados. Por alguns segundos, pensou em levantar-se e esperar que o sol consumisse sua carne, no entanto, lembrou-se que havia dois rapazes na casa que precisavam dele. Não era hora de abandoná-los. Não agora depois de tudo o que aconteceu. Sébastien entrou em seu quarto e contemplou o céu até os raios de sol golpearem sua janela.

Os meninos só acordaram ao meio dia. Caio estava mais gripadinho, e o curativo de Eric precisava ser trocado.

- Por que não vai ao médico? - indagou Caio.

- Não é nada. Não está tão fundo.

Caio aconchegou a cabeça no peito do irmão. Ainda estavam deitados em sua cama. Naquele momento, Sébastien apareceu em frente da porta aberta. Entrou.

- Como estão?

- Está tudo bem. - respondeu Eric.

- Perdoe-me mais uma vez.

- Tudo bem, Sébastien. - sorriu Eric. - Eu podia ter voltado para casa, mas não voltei. Não quis te deixar. Não nego que estivesse com medo. Eu estava. Mas não podia voltar. Muitos meses já se passaram e você se tornou importante para mim. Eu me preocupo. Nós dois nos preocupamos, né, Caio?

Caio confirmou. O vampiro não esperava por essas palavras. Ficou em silêncio. Naquele instante, Eric levantou da cama.

- Vamos fazer o café da manhã do Caio, se bem que já está na hora do almoço, né? Alguém aqui quer almoçar?

- Minha garganta ainda está ruim, mas eu estou com fome. - disse Caio, levantando também.

- Então pelo jeito você vai querer almoçar. É, acho que também vou. Vem, Sébastien. Vamos pra cozinha.

Sébastien, ainda um pouco atordoado, demorou a descer. Quando foi para a cozinha, viu os irmãos ajeitando a mesa e preparando as panelas sobre o fogão.

- Ih! Me esqueci! Tenho que pegar a bolsa! - exclamou Eric.

- Pode ir que eu faço o almoço. - disse Caio.

- Eu não demoro.

Eric foi impedido de cruzar a porta pela mão de Sébastien. O vampiro chamou Caio para que se aproximasse. Quando Caio já estava próximo dos dois, Sébastien beijou cada um no rosto e trouxe-os para perto de si. Abraçou-os forte. Assim que o abraço terminou, o vampiro ainda acariciou-lhes o rosto com ternura.

Eric sorriu-lhe.

- Eu já volto.

E saiu da cozinha. Caio foi para o fogão e Sébastien passou um tempo caminhando na cozinha até Eric regressar, vestindo outra roupa.

- Esqueci que o carro está todo quebrado. Vou chamar um táxi.

Sébastien foi até o escritório, pegou um livro e voltou à cozinha. Sentou em frente da mesa e ficou por ali até Eric sair de mochila nas costas. Fez companhia a Caio enquanto o garoto adiantava o almoço. Em dado momento, o interfone tocou. Caio atendeu.

- Oi, Caio. É o Cléber.

- Oi!

- Queria falar com o Eric.

- Ele saiu. Não quer entrar e esperar?

- Vai demorar muito?

- Acho que não. Ele só foi buscar um negócio e... Não é demorado. Se quiser entrar...

- Tudo bem, então. Eu espero.

Caio correu até o portão e deixou Cléber entrar. Quando passaram ao lado do carro, o moço assustou-se com seu estado.

- Eric sofreu um acidente? - indagou, preocupado.

- Sim, e não. Não, não sofreu. Foi só... Um descuido... Nada grave.

- Ele está bem?

- Sim.

Quando observou o interior do carro, viu sangue no volante. Caio explicou que Eric havia cortado a mão no vidro, mas estava bem. Enfim, chegaram na cozinha. Cléber parou o olhar na figura do vampiro, que fitou-o seriamente. Cumprimentou-o com um aceno de cabeça e um sorriso, no entanto, o vampiro não retribuiu e voltou sua atenção ao livro que segurava. Cléber sentou numa cadeira da extremidade da mesa oposta a de Sébastien. Era uma mesa retangular de doze lugares, de modo que o vampiro e o recém-chegado não ficaram tão próximos.

Após mexer nas panelas, Caio sentou ao lado de Cléber.

- Vai almoçar com a gente?

- É, acho que sim. Olhe, eu comprei um presente ao Eric. Se você puder olhar... Será que ele vai gostar?

Cléber tirou um estojinho do bolso e passou-o a Caio. O garoto viu um anel prateado dentro dele.

- Que lindo!

- Ele vai gostar?

- Com certeza. Então o namoro é sério? - indagou, devolvendo o estojo.

- É o que pretendo dando este anel a ele.

Só neste momento, quando olhou na direção de Sébastien, Cléber viu que o vampiro estava com cara de poucos amigos. Fitava-o sem pudor. “É mesmo um cara muito estranho”, pensou. Sébastien vestia-se bem, no entanto, tinha toda essa cabeleira negra, tez clara - como se estivesse doente, e unhas compridas. Um homem que se destacaria na multidão pela bela aparência, mas também pela excentricidade.

Caio e Cléber conversaram bastante. Sébastien não participou da conversa. Não tinha nada a dizer. Alguns minutos passaram e Eric regressou de mochila nas costas. Cléber recebeu-o com um abraço e um beijo ligeiro nos lábios. O rapaz foi até Sébastien e deixou a mochila em frente ao vampiro, dizendo discretamente que aquilo que fora buscar estava dentro da mochila.

Sébastien tirou a bolsa de sangue na frente de Cléber, no entanto, Caio entrou na frente para que Cléber não pudesse ver. Eric distraiu o convidado fazendo com que ficasse de costas para o vampiro. Caio pegou uma leiteira e fez Sébastien despejar o líquido da bolsa dentro dela. Em seguida, passou-lhe uma caneca de cerâmica. O vampiro despejou um pouco de sangue na caneca e tomou do líquido como se fosse suco.

Cléber voltou a sentar-se na mesma cadeira, enquanto Eric foi olhar as panelas. Pediu a Caio que descansasse, sendo assim, o menor sentou-se também. Caio, ao olhar para o vampiro, viu-o levar a caneca – em formato de gato preto – à boca. Seus lábios ficaram um pouco vermelhos e isto chamou a atenção de Cléber. O moço prestou mais atenção a Sébastien, enquanto conversava com Eric. Em certo momento, viu Sébastien despejar o líquido da leiteira na caneca. Aquela cor vermelha... Não parecia com nenhum suco que já vira na vida. Era vermelho sangue. Muito esquisito.

Sébastien tomou do líquido da caneca de uma vez só. Lambeu os lábios e, por descuido, sorriu quando Eric disse algo que lhe desagradou, mostrando, assim, seus caninos pontudos. O almoço foi servido. Sébastien continuou na cozinha com o livro na mão.

- Os raios de sol estão do outro lado agora. - observou Eric. - Posso correr as cortinas?

- Sim. - respondeu Sébastien.

Eric correu as três cortinas das janelas. Os vidros já estavam abertos, permitindo que uma brisa fraca entrasse. Sébastien cerrou os olhos por conta da claridade, mas logo acostumou-se a ela. Após os três terminarem de comer, conversaram um pouco mais na cozinha e foram para a sala. Sébastien sentou-se no mesmo sofá que Caio. Cléber e Eric sentaram no outro. Dali há pouco tempo, Cléber pediu para conversar com Eric e os dois saíram da sala.

Não se sabe o que foi dito nesta conversa particular. Não se demoraram muito e Cléber foi embora. Eric voltou para a sala e os três permaneceram ali, assistindo televisão. De noite, Eric teria dormido com Caio, se o irmão não tivesse dito que era melhor ficar longe. Enquanto os meninos dormiam, Sébastien passeou pela casa como um fantasma, em silêncio, refletindo até a exaustão sobre sua vida e seu futuro.

Quando andava pelo corredor dos quartos dos meninos, alguma coisa o fez parar subitamente e seu olhar transformou-se. Correu até a escada, desceu-a e abriu a porta do hall. Ao olhar para a direção do portão, percebeu que alguém estava em frente a ele. Caminhou pelo gramado. Às vezes depressa, às vezes devagar. Chegou ao portão e o abriu. No momento em que atravessou-o e parou na calçada, viu um homem de pé, elegantemente vestido, olhando-o fixamente.

- Você?!


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