Meu Vampiro De Estimação escrita por Eica


Capítulo 5
O anjo e o demônio




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Não foi fácil fazer Sébastien sair de seu quarto para que pudesse dormir. O vampiro grudava igual chiclete e usava artimanhas muito eróticas para tentar convencer. Finalmente Eric pôde trancar a porta e descansar. O vampiro protestou quando os meninos foram embora no dia seguinte e tentou convencer Eric, quando encontraram-se ainda naquele mesmo dia, a ficar mais uns dias.

Na próxima semana, os irmãos iniciaram atividades para que o vampiro se acostumasse mais depressa àquele mundo estranho. Levaram Sébastien para fora da propriedade na noite de segunda-feira. Este achou tudo muito claro e confuso, cheio de luzes para todos os lados e fios sobre suas cabeças. Além, é claro, de reclamar do barulho das “carruagens sem cavalos”. Andaram lado a lado pela calçada, devagar. Sébastien olhou a tudo muito atentamente e fez muitas perguntas. Eric tranquilizou-o, dizendo que logo, logo não sentiria mais falta do tempo em que vivia. Também passearam nos dois dias seguintes. Na quinta-feira, puseram o vampiro para dentro do carro e o levaram pelas redondezas. Tentaram ensinar-lhe o básico, mas no caso de Sébastien, nem o básico adiantava.

- Ao menos ele elogiou o carro. - comentou Eric a Caio.

Dizer que o carro era confortável foi a única palavra simpática que Sébastien pronunciou durante o passeio. Os hábitos do vampiro quando sozinho em casa resumiam-se a: acordar cedo e estudar dentro do escritório. Tinha horários esquisitos para dormir. Às vezes ia dormir cedo demais. Às vezes tarde da noite. Irritava-se quando percebia que a bolsa de sangue fora trazida e Eric não se encontrava. E esforçava-se, em segredo, para aprender sobre o mundo moderno.

Eric vendeu as outras quatro moedas que pegara outro dia e conseguiu ganhar, desta vez, 85 mil reais. Um dia, chegou à mansão quando Sébastien trocava de roupa no quarto. Entrou em seu aposento e colocou a bolsa de sangue sobre a cama. Espreguiçou-se e sentou sobre o colchão. Observou Sébastien vestir uma camisa azul marinho.

- Por que não vem morar aqui? Não assusto seu irmão como antes.

- É difícil morar nunca casa onde alguém fica te agarrando aonde quer que você vá.

- Posso me comportar mais.

- Verdade? - indagou, sem acreditar.

- Posso tentar. Se ao menos entrássemos num acordo... Você e eu...

- Acordo?

- Sinto que tenho liberdades com você, mas você não confirma e nem nega. Já falei que o quero como amante. Só preciso de sua resposta.

- Não acredito que se eu te disser não você vá parar de ser indecente comigo.

- Então já sabe que sua única alternativa é dizer sim. - replicou o vampiro, sorrindo.

- Me esquece, Sébastien. - disse o rapaz, virando-se de costas para o outro.

Sébastien, após terminar de abotoar a camisa, foi até o rapaz e ajoelhou-se diante dele. Apoiou as mãos no colchão, ao lado de seu corpo.

- Como me pede para esquecê-lo se já me agradou? Se já está em minha mente? Se já desejo senti-lo sempre perto de mim?

Embora tenha gostado de suas palavras, Eric levantou-se da cama para afastar-se daquele homem tão atraente e ousado.

- Não vai rolar. Quero dizer, não vai acontecer. Por mais... Por mais que você me atraia... E atrai muito...

Sébastien levantou-se e encarou-o de uma forma sofredora.

- Por mais que tenha sido bom... Eu tenho planos de achar alguém e começar um relacionamento. Eu gosto de namorar. Caio e eu já conversamos sobre isso tantas vezes... Queremos achar alguém interessante, bonito, romântico, que gosta da gente e que queria uma relação séria. Já faz mais de um ano que terminei com o Renan. Já está na hora de achar alguém. De conhecer alguém.

- Eu não sirvo aos seus propósitos?

- Para namorar sério? - indagou, dando risada. - Ah, Sébastien... Você dá em cima de mim e do Caio.

- E...?

- Aí é que está! Quando se está namorando alguém, você não pode dar em cima de outras pessoas.

- Não?

- Claro que não!

- Ainda não compreendi perfeitamente o que significa essa palavra. Namoro. O que seria?

Eric explicou.

- Então... Não poderia namorar aos dois?

- Não. Além do mais, não iniciamos um namoro sem sentir algo especial pela pessoa. Ao menos no meu caso é assim. E você... Não sente nada especial por mim. Vamos ser amigos. É o mais certo.

O rapaz foi embora, deixando Sébastien com muitos pensamentos na cabeça.

Os três voltaram a passear pelo bairro. Desta vez, Sébastien estava muito pensativo e falou muito pouco, deixando evidente que algo não estava certo. Quando foi para o escritório para estudar, observou os meninos que lhe faziam companhia. “Era preciso paixão. Era preciso estar apaixonado”. Por mais que pudesse parecer mentira, Sébastien sabia bem como era este sentimento. Já se apaixonara muitas vezes em sua vida. Já foi traído e também traiu. Certamente que seus pensamentos a respeito dos dois irmãos mudaram desde a primeira vez em que se viram. Agora tinha opiniões diferentes sobre cada um deles. A inocência de Caio... A intensidade de Eric... Como não atrair-se por eles? Como não gostar de seus rostos, de seus olhares, de seus trejeitos... Como não gostar de suas companhias? Por mais que necessitasse de ambos para sobreviver, sentiria falta se um dia fossem embora. Mas dizer-se apaixonado apenas levando tudo isto em consideração? Sentia-se assim por um deles? Era melhor deixar o tempo dizer.

Como o comportamento de Sébastien mudara, a convivência melhorou bastante. Não mais seduzia quando os três ficavam juntos na mansão. Os irmãos comentaram a respeito disso quando estavam em casa, certa noite, no quarto de Caio. Também falaram a respeito de uma data muito importante: seu aniversário.

- Onde quer fazer? Aqui em casa ou na mansão?

- Não sei. Também não sei se convido minhas amigas...

- Uma paquera? - indagou Eric, dando uma piscadela.

Caio sorriu, encabulado.

- Tem, Caio? Rola alguma coisa?

- Tem o Marcos. A Érica disse que ele está a fim de mim. Não tenho certeza.

- Ah, é? Então nunca ficou com ele?

- Não.

- Ele é bonito?

- Bastante. O único garoto bonito da escola.

- E está a fim de você? O que está esperando para ficar com ele?

Riram.

Como queriam que Sébastien interagisse com outras pessoas, decidiram fazer a festa de aniversário de Caio na mansão. A festa íntima ocorreu no sábado, por volta das sete e quinze da noite. Vieram cinco amigos de Caio, incluindo Marcos, sua paquera. Também três amigos de Eric. Ajeitaram a sala de jantar. Compraram salgados, doces e bebida. Apresentaram Sébastien como um primo. Ligaram um aparelho de som para que a casa não ficasse no silêncio. O vampiro passou a maior parte do tempo na primeira sala, sentado no sofá, sem falar com ninguém, e quando não estava na sala, fazia uma caminhada pelo jardim, como uma alma penada.

Numa de suas caminhadas, viu Eric mostrar alguma coisa dentro de seu carro para um rapaz. Viu-os rir e cochichar. Após isto, atravessaram o portão e o fecharam atrás deles. Sébastien, curioso, foi atrás de ambos. Pensou em abrir o portão, contudo, parou em frente a ele para ver se escutava alguma coisa.

- O movimento está sossegado. Não é como era há um tempo atrás.

- É, - concordou Eric. - antes era pior. Nossa! Você não via a hora de acabar o expediente.

- Verdade. Também, ele perdeu muitos clientes. Fez umas mudanças que ninguém aprovou.

Após uma pausa:

- Já pensou no que vai fazer quando for seu aniversário?

- Está muito longe. Tenho tempo.

- Pensei em alugar uma chácara, algo assim, com churrasqueira, piscina... E passar um final de semana. Você gosta? Podíamos ir. Só você. E eu.

Eric riu:

- Só nós dois?

- É.

- Não tem como eu ficar longe de casa por um final de semana inteiro.

- Fala por causa do Caio? Ele já é maior de idade.

- Não, não é por causa dele. Tenho coisas para fazer que não podem ser deixadas para depois.

- Então um jantar?

- Um jantar tudo bem.

- Posso te confessar uma coisa?

- Acho que já confessou muito por hoje.

- Você acha?

- Acho.

- Sou óbvio, não sou?

- Nem tanto.

- É, gosto de ficar com você. Todo mundo já sabe.

- Sério?

- Você sairia comigo como num encontro?

- Não preciso te conhecer mais do que já conheço.

- Então... Você me namoraria?

Sébastien voltou para dentro de casa e tornou a sentar no sofá da primeira sala. Ficou ali o resto da noite. Mesmo depois de todos terem ido embora, ele continuava na sala. Caio apareceu, após despedir-se do último convidado no jardim. Parou ao lado de Sébastien e olhou-o um pouco mais quando reparou que ele estava quieto demais. Parecia uma estátua.

- Você está bem? Sébastien?

- O que?

- Você está bem?

- Estou.

Eric parou na soleira da porta e observou-os.

- Vamos, Caio. Boa noite, Sébastien.

- Boa noite, Sébastien.

Os irmãos saíram da casa.

O vampiro só estudava. Também passou a sair sozinho de noite para caminhar. Cada vez que saía, sentia-se desprotegido, contudo, aguentou firme e continuou saindo. Já percorria longas distâncias, sem sair da avenida e entrar por ruas desconhecidas. Agora sabia como funcionava o aparelho de som e o celular. Usava este último para saber o que os irmãos estavam fazendo. Sentia-se incomodado quando ligava para Eric. Algo não estava certo. Quanto a Caio, já conversava naturalmente com ele. Um dia, indagou-lhe por que Eric ficava pouco tempo na mansão. Por que tinha que sair tantas vezes.

- Está saindo com o Cléber.

- Quem é Cléber?

- Aquele moço que estava no meu aniversário. Não lembra dele?

- Está saindo? Como assim?

- Se encontrando com ele. Ele diz que não é namoro, mas eu acho que é.

Em certa ocasião, quando os meninos estavam no escritório com Sébastien, o vampiro pediu uma caneta a Caio. Quem lhe passou uma caneta nova, porém, foi Eric.

- Eu disse Caio.

Eric fitou-o, sem compreender.

- Por que precisa que o Caio te passe uma caneta? A que eu te dei não serve?

- Não falo com traidores. - disse o vampiro, sem olhá-lo.

Eric encarou Caio.

- Sabe do que ele está falando?

Caio respondeu que não.

- Que isso agora, Sébastien?

- Não quero sua companhia. Não quero ouvir sua voz. Não me dirija a palavra.

- Por que?

- Você tem me aborrecido.

- O que eu fiz?

- Caio, tire seu irmão daqui antes que eu cometa uma loucura.

- Que frescura é essa agora? Eu não te xingo, não te trato mal... Por que esse aborrecimento todo? Seja mais claro. Ande. Fala.

Sébastien levantou-se da cadeira.

- Saia.

- Sébastien!

- Saia. Saia!

Sem nenhum dos dois esperar, Sébastien levou Eric para fora do escritório e trancou a porta.

- Abra a porta para mim, Caio.

- Não abra a porta, Caio. - disse o vampiro, tirando a chave da fechadura.

- Abra a porta.

- Cale-se!

Sébastien voltou a sentar-se, guardando a chave no bolso.

- Caio, pegue a chave e abra a porta, por favor.

- Ele está com a chave.

- Pegue, ora. Esse idiota está maluco.

Sébastien olhou brevemente para Caio e continuou lendo o livro aberto sobre a mesa. Caio andou até ele, um pouco nervoso. Lembrou-se da forma como o irmão agia com ele disse:

- Me dê a chave.

- Não. - respondeu, secamente.

- Me dê a chave agora, Sébastien! - retorquiu, com firmeza na voz.

O vampiro olhou-o cheio de espanto.

- Agora, Sébastien!

A contragosto, Sébastien tirou a chave do bolso e passou-a ao rapaz. Vitorioso, Caio abriu a porta.

- Qual seu problema? - indagou Eric, ao entrar, explodindo de indignação.

- Você. Você é meu problema.

- Me proíba de entrar nesta casa e não terá comida. Ou se esqueceu que sou eu quem estou pegando sangue para você? Por que toda essa raiva agora?

Sébastien olhou-o, com o queixo apoiado nas mãos juntas. Pensou em dizer muitas coisas, mas no final, a resposta não saiu como queria:

- Nada. Não é nada.

- Não quero mais ficar aqui. Vou pra casa. Você vem comigo ou fica, Caio?

Não houve outro confronto entre os dois. Ainda nesta mesma semana, os meninos compraram uma TV de LCD e instalaram TV por assinatura na mansão. Convidaram Sébastien para unir-se a eles após os técnicos irem embora. Sentaram-se no sofá e apresentaram a televisão ao vampiro.

- Você que reclama que lhe falta diversão... - comentou Eric, com o controle na mão. - Vai se interessar muito pela TV.

Como havia lido a respeito da televisão, Sébastien não se assustou tanto quando percebeu o que aquele aparelho podia fazer. Os meninos ficaram muito contentes por terem assinado o pacote com todos os canais e fizeram companhia ao vampiro durante todo aquele dia. Mais tarde, nesta semana, num dia de chuva furiosa que parecia não querer dar uma pausa, Eric estacionou o carro no jardim e entrou no hall, deixando seu guarda-chuva encostado à parede. Era umas onze da manhã. Encontrou Sébastien na sala, vendo televisão. Ao olhar para a tela da TV, viu que o vampiro assistia Razão e sensibilidade.

- Já consegue acompanhar as legendas?

- Sim.

Observou um pouco e depois tirou a bolsa de sangue de dentro da mochila.

- Olhe.

Passou a bolsa ao vampiro. Despediu-se dele, recolheu seu guarda-chuva e saiu. Abriu o portão e entrou no carro, sentindo um calafrio repentino. A temperatura não estava agradável. Não fazia frio demais, mas também não estava quente. Ligou o carro e olhou para o retrovisor.

- Que??

Misteriosamente, o portão estava fechado. Olhou para trás. Em seguida, virou o rosto para seu lado esquerdo. Levou um susto quando reparou que Sébastien estava ao lado de sua porta. Abaixou o vidro da janela.

- Foi você que fechou o portão? Não pode abrir pra mim? Tenho que ir pra casa.

Sébastien não respondeu e nem moveu um músculo. Em poucos segundos, as partes de seu corpo que ainda não estavam encharcadas, molharam-se de todo.

- Sébastien, sai daí. Vai pra dentro.

Eric levou o carro para mais perto do portão. Saiu novamente do carro de guarda-chuva na mão e correu até o portão para abri-lo. O vampiro, com sua rapidez sobrenatural, entrou na frente e não permitiu que ele o fizesse.

- Sébastien! Pare! Está me atrasando. Tenho um monte de contas para pagar. Estarei ocupado o dia inteiro.

Encarou o vampiro, que não disse nada e não fez nada. Seus cabelos estavam tão molhados que pareciam um rio negro. A roupa já estava toda grudada ao corpo. As gotas de chuva golpeavam-no sem piedade. A chuva estava muito pesada.

- Por favor. Abre o portão.

- Por que você e Caio não vem morar aqui?

- Ham?

- Venham morar aqui.

- Eu converso com ele. Agora, pode abrir o portão?

Enfim o vampiro saiu da frente. Eric abriu o portão e foi embora. O rapaz contou ao irmão mais novo sobre o pedido de Sébastien. Consideraram por um dia inteiro. Por fim, numa última conversa, decidiram ir para a mansão. A mudança de ambos para o casarão não pôde deixar Sébastien mais satisfeito. Para mostrar que estava mais comportado, o vampiro passou a fazer tudo o que lhe era ordenado sem enlouquecer de raiva. Para atender ao seu próprio capricho, Eric deu entrada num carro maior, que foi aprovado por Caio. Quando já se fazia oito dias que os meninos estavam morando na mansão, Caio sentou no sofá ao lado de Sébastien e mostrou-lhe seu mais novo notebook.

- Isso tudo... É muito estranho. - comentou o vampiro, enquanto via Caio mexer no aparelho.

Teve a oportunidade de escrever o próprio nome no Word. Usou o dedo indicador para apertar as teclas com as letras certas. Enquanto Caio divertia-se com a burrice do vampiro, Eric apareceu na sala, lindamente vestido.

- Hmmm, está cheiroso. - disse Caio, quando viu o irmão chegar.

Eric deu uma voltinha.

- Estou bonito?

- Está. - sorriu Caio.

Sébastien olhou para Eric. O rapaz viu uma expressão séria na cara do vampiro. Despediu-se dos dois e saiu. Eric voltou para casa após as oito e meia da noite e viu que os meninos continuavam na sala. Foi ao quarto para tomar banho e se trocar.

Na manhã do outro dia, Caio passou em frente do quarto de Sébastien e viu-o deitado na cama.

- Sébastien? Está legal?

Sébastien, deitado de bruços, virou o rosto para o garoto.

- Venha cá. Faça-me companhia.

Caio entrou no quarto e sentou ao seu lado.

- Pode me fazer carinho?

O menino, um pouco embaraçado, tocou na cabeça de Sébastien e começou a afagar-lhe os cabelos.

- Você não parece bem.

- Não estou.

Após uma pausa, acrescentou:

- Tudo está fora de controle.

- Como assim?

Sébastien acariciou a mão que o afagava. Em seguida, sentou-se no colchão e, para surpresa do garoto, levou seu rosto ao dele. Caio não se afastou, pois a ação do vampiro causou-lhe um curioso prazer. Sébastien ficou com o rosto colado ao dele até beijá-lo suavemente. Só aumentou a intensidade do beijo quando Caio retribuiu o carinho. Parou um momento para fitá-lo, e só depois beijou-o novamente. O coração de Caio nunca foi tão afetado em sua vida ao receber um beijo. Os lábios de Sébastien eram gostosos demais, e seu aroma... Não havia igual.


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