Meu Vampiro De Estimação escrita por Eica


Capítulo 3
O sorriso do vampiro




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Eric parou o carro no jardim da casa. Pôs a mochila nas costas e abriu cuidadosamente a porta da frente, pois não queria ser surpreendido por Sébastien. Como não encontrou o vampiro neste andar, foi para o de cima. Entrou em seu quarto e deu-se com ele no banheiro. Estava dentro de uma banheira. Os braços apoiados nas bordas, os joelhos descobertos pela água e as partes que mais chamavam a atenção, escondidas na água perfumada. O rosto e os cabelos também estavam molhados. Parecia um convite para a luxúria.

- Que atrevimento seu vir depois do que me causou.

O jovem olhou para o peito do vampiro. Não tinha ferida alguma, ou cicatriz.

- Eu não deveria perdoá-lo. Tentou me matar.

- Só queria que parasse. E você não morre.

Eric tirou a bolsa de sangue da mochila e colocou-a sobre a pia.

- Não admito desperdícios. - disse o vampiro, olhando para a água.

- Desperdício?

- Fez-me perder muito sangue. Tem sorte por eu ter conseguido fechar o ferimento.

- Me desculpe... Podemos esquecer o que aconteceu?

- Eu não posso. Ainda quero deitar contigo.

Tal frase entrou fundo no coração de Eric. Sébastien fez cara de agoniado.

- Estou preso em minha própria casa... Estou rodeado de coisas e pessoas estranhas... Não tenho nenhuma distração, nenhum divertimento... Você ainda me aparece... Para me tentar... Seu demônio leviano.

- Não faça tanto alarde. Não é tão ruim ficar sem sexo.

- “Não é tão ruim” você diz. Sabe o que está dizendo?

- Sei. Já fiz sexo.

Sébastien olhou-o admirado:

- Já teve amantes?

- Claro que já.

A declaração do rapaz fez o vampiro rir:

- Que interessante...

Olhou para Eric de uma forma sedutora. O rapaz precisou esforçar-se para não ser levado por aquele olhar inquietante. Decidiu baixar a tampa do vaso sanitário para sentar-se e descansar as pernas. O vampiro continuou olhando para ele, agora com o sorriso mais largo.

- Já deitou muitas vezes?

Eric corou:

- Isso não te interessa. É minha vida particular.

- Você já tem um amante, por isso se recusa a ser o meu?

- O que?

Rindo de nervosismo, Eric replicou:

- Acha que preciso ter um amante para te recusar? Acha que não te recusaria estando sozinho?

- Eu te chamarei de tolo se recusar. Não sabe o que posso fazer com você.

A última frase do vampiro fez Eric sentir uma excitação incômoda.

- Você se acha demais. Deve se achar o homem mais maravilhoso e extraordinário do mundo.

Sébastien sorriu, revelando os dentes pontudos.

- Não poupo esforços para sentir prazer... Nem para dar prazer. Eu o exploraria até que me suplicasse para parar. Comigo, você sentiria tanto prazer que mal conseguiria levantar-se. Eu posso levá-lo à loucura.

Eric riu:

- Parece com um ex namorado meu. Fala, fala, mas no final, não faz nada que mereça elogios.

Sébastien ficou sério.

- Não perderei meu tempo com você, fedelho impertinente. Sabe o que você merece? Levar umas bem fortes para calar essa sua boca atrevida. É mesmo muito sortudo. Tem sorte por eu não amarrá-lo àquela cama e acabar com tudo que ainda lhe resta.

Eric, agora aborrecido, levantou-se e andou em direção à porta. Saiu do banheiro. Quando foi cruzar a porta do quarto, porém, Sébastien entrou na sua frente.

- No fundo, quem se acha esperto é você. Não é tão diferente dos garotos que já levei para a cama. Fazem-se de difíceis, mas se eu lhes toco por cinco segundos, já estão tirando a roupa.

- Que tipo de homem você acha que eu sou? - perguntou, irritado.

- Posso ver em seu olhar que tem curiosidade. Eu estou aqui. Por que não se aproveita de mim? Por que não acaba com essa curiosidade? Estou preso a você. Não tenho como fugir. Você me tem em suas mãos. Vamos, faça alguma coisa.

Enquanto falava, Sébastien caminhava na direção de Eric, forçando-o a dar passos para trás. Estava tão atraente e sensual que Eric ficou na dúvida sobre o que deveria fazer.

- Toque-me. Você não quer?

O vampiro foi rápido: pegou a mão direita de Eric e levou-a ao seu peito. O rapaz estremeceu quando o tocou, logo, porém, o nervosismo acabara. Sébastien não soltou a mão do rapaz. Deixou-a em contato com sua pele.

- Nós dois podemos tirar proveito dessa situação.

Era difícil ouvi-lo falar. Sua voz soou de uma maneira tão cálida e envolvente que foi impossível a Eric resistir. Sébastien beijou-o com um ímpeto que não causou ao jovem nenhum medo ou desconforto, mas excitação. O rapaz foi deitado na cama e sentiu um calor indizível quando o corpo do outro caiu sobre ele. Nunca teve um homem como Sébastien nas mãos. Sem ao menos conseguir dar-se conta, ficou nu como aquele que lhe beijava com ardor e recebeu tudo aquilo que Sébastien lhe prometera: o mais forte tocou-lhe das formas mais impensáveis, beijou-o em todos os lugares, apertou-o, arranhou-o, puxou, lambeu. Cada ação do vampiro era um tormento ao jovem rapaz que nunca antes tivera um amante como ele. Contorceu-se a cada acometida cheia de vigor. Foi-lhe agarrado os cabelos enquanto era levado ao orgasmo.

“Sébast... Sébas... Sébastien...”, repetiu Eric, nos momentos mais quentes e desesperadores. Suou muito. Estremeceu em demasia. Foi pego de frente, foi pego de costas... Não teve minutos de descanso. O vampiro foi devastador, inclemente, ardente. Um amante perverso. Eric não desejou que ele parasse em nenhum momento, por mais que se sentisse incapaz de tolerar mais. Estava cansado quando Sébastien quis aproveitar-se dele pela segunda vez.

- Ainda não é suficiente. - disse o vampiro, com aquela mesma entonação de voz.

Uma tortura. Uma tortura deliciosa. “Sou um sádico”, pensou Eric, enquanto o vampiro lambia suas costas e descia a língua cada vez mais. Quando terminaram, Eric mal se mexeu sobre o colchão. O vampiro, entretanto, deitado ao seu lado, estava bastante animado e parecia ainda muito disposto.

- Meu Deus! O que eu fiz? - murmurou Eric.

O coitado respirou fundo e levantou da cama, precisando, para isto, reunir todas as suas forças. Começou a vestir-se.

- Já vai? Fique aqui.

- Preciso voltar.

Eric estava um pouco zonzo e, no peito, já começava a sentir o arrependimento crescer. Após vestir-se totalmente, pôs a mochila nas costas e caminhou na direção da porta.

- Eric.

O rapaz voltou-se para o vampiro com olhar de admiração, afinal, era a primeira vez que ele o chamava pelo nome.

- Preciso ir. Tenho coisas a fazer lá em casa.

Saiu do casarão. Entrou no carro e dirigiu pela avenida. Não havia partes do seu corpo em que não sentisse a mácula. A tão prazerosa mácula. Foi excitante demais, ardente demais, mas também muito estranho. Tentou tirar da mente a ideia de que transara com um vampiro. Não. A palavra vampiro não lhe via muito à cabeça. Um morto. Sim. Transara com um morto, com uma criatura imortal. Sébastien era um homem espetacular, todavia, tinha conceitos muito rudimentares. Não deixara de ser um homem do século XVIII. Era um mau caráter, dominador, arrogante, convicto de sua beleza e elegância. Sem dúvida capaz de tudo para atender aos seus caprichos.

“Caí na sua lábia”, pensou Eric, “Sou um idiota”.

- Meu Deus! Como sou idiota!

Quando Eric voltou para casa, seu irmão não estava. Havia saído com duas colegas da escola. Mesmo que estivesse ali, no entanto, Eric não lhe diria uma palavra sobre seu “caso” com o vampiro, pois não tinha como saber como o irmão reagiria. Caio estava bem. Quanto menos visse o vampiro, melhor. Agora vivia inquieto. Não eram mais só os assuntos da casa e do colégio que o preocupavam. A preocupação maior estava relacionada ao seu envolvimento e a de seu irmão com a criatura perigosa, também com o documento falsificado que lhes permitiam receber sangue. Por tudo isto, já havia pensado em convencer o irmão a largar a criatura à própria sorte. Isso, contudo, seria quase como matá-la, caso ela não conseguisse se virar sozinha. Pensara também em prendê-la na urna se tudo fugisse ao controle...Era sua opção de livrar-se disso tudo...

Antes das cinco horas da tarde, Eric ouviu chamarem no portão de casa. Abriu a porta da sala para ver quem era. Um rapaz alto de olhos claros e cabelos castanhos estava em frente ao portão, segurando uma sacola da Cacau Show.

- Renan! O que faz aqui?

- Vim te ver.

- Não é uma boa hora. - disse o rapaz, aproximando-se do portão.

- Não está feliz em me ver? Faz tempo que eu não vinha.

- Não deveria vir. Nós terminamos, lembra?

- Eu não terminei nada.

- O que você quer?

O moço passou-lhe a sacola. Eric pegou-a. Não viu o que tinha dentro com a atenção necessária.

- Pegue. Não quero.

- É um presente. É só um presente. Não vou pedir nada em troca.

Eric suspirou. Quando ia dizer algo, Renan viu umas manchas avermelhadas nas curvas do pescoço de Eric. Não havia dúvidas. Eram chupões. Ficou incomodado.

- O que tem feito? - indagou, olhando de vez em quando para os chupões.

- Só trabalho.

- Tem saído? Para se divertir? Ainda sai?

- Não, ultimamente não tenho tido tempo.

- E o Caio? Como ele está?

- Está bem.

- Acha que podemos voltar a nos falar? Como amigos?

- Não sei.

- Bom, espero que tenha um bom dia.

Olhou uma última vez para o pescoço de Eric, entrou em seu carro e foi embora. Os chupões incomodaram tanto a Renan, que este necessitou vigiar Eric para descobrir com quem ele se encontrava. No domingo, estacionou o carro bem longe da casa do rapaz e seguiu-o quando viu-o sair de carro, sozinho, um pouco antes do meio dia. Em alguns momentos perdeu-o de vista, mas não deu-se por vencido. Seu sangue estava fervendo de indignação.

Viu o carro de Eric entrar numa grande propriedade. Parou o carro ao lado da calçada, saiu do automóvel e examinou o enorme portão. Estava aberto.

- Ótimo.

Fechou o portão atrás dele. Viu o carro de Eric parado no jardim. Admirou-se com a casa. Era magnífica. Concentrou-se. Andou devagar. Tencionava pegar o ex-namorado no flagra, mesmo que isto fosse lhe causar mais ódio e dor ao confirmá-lo com outro homem. No interior da casa, Sébastien estava sentado na cadeira da mesa do escritório. Continuava estudando, enquanto Eric lia as anotações de seu caderno.

- Como você pode escrever torto em linhas retas? - disse Eric, ao folhear o caderno.

- Essas linhas são ridículas. - respondeu o vampiro, sem tirar os olhos da enciclopédia.

Havia mais cinco livros abertos sobre a mesa. Além, também, de um pesado dicionário.

- Não entendo o que você escreve. Acho que vou ter que te comprar um caderno de caligrafia para você treinar essas suas letras.

- Minhas letras são perfeitas. As suas que são um garrancho desesperador.

Eric ia retrucar, quando viu que o vampiro começou a farejar.

- Que foi?

- Tem alguém na casa. Não sei quem é. Não é seu irmão.

- O que?

Sébastien levantou-se. Eric levantou-se em seguida, sentindo um pouco de apreensão.

- Um ladrão?

Saiu do escritório logo atrás do vampiro. Passaram pelo hall. Passaram pela primeira sala e pararam em frente da porta da segunda quando toparam-se com o intruso.

- Renan! O que... Como?

- Você o conhece?

- Conheço.

Eric deu mais alguns passos para frente. Renan aproximou-se dele, sem tirar os olhos de Sébastien.

- É com ele que está se encontrando? É o seu novo namorado?

- Que? Não, não é. Não estou namorando ninguém.

Sébastien fitou Renan com mais curiosidade, enquanto o outro lhe assassinava com o olhar.

- Ele... Ele é meu primo.

O vampiro olhou para o jovem com admiração.

- Não minta para o cavalheiro, Eric. - disse, com expressão alegre. - Não somos primos. Somos amantes.

Eric congelou.

- Não somos amantes coisa nenhuma.

- Se não somos amantes, com quem eu deitei no dia anterior?

Eric precisou agarrar Renan para que este não partisse a cara de Sébastien.

- Quem é o cavalheiro? Por que parece tão aborrecido? Como entrou em minha casa? Explique-se e depois saia. Não quero perder meu tempo.

- Você dormiu com esse cara? - perguntou Renan, indignado.

- Ai, vai embora. - pediu Eric. - Depois nós conversamos.

- Eric... Tinha esperanças de que voltássemos. Achei que poderíamos nos entender outra vez.

- O cavalheiro era seu amante, Eric?

- Vem comigo. - disse o rapaz, tentando puxar Renan para fora da sala.

Mas ele não quis sair.

- Não, antes vai me explicar.

- Vai embora. Não vou conversar com você aqui. - disse Eric, com mais firmeza.

- É melhor fazer o que ele manda, ou ele irá te ferir com um atiçador. - riu Sébastien, apoiando a mão no encosto do sofá.

- Cale a boca! Não estou falando com você.

- Pare, Renan! E vá pra casa. Sai daqui. É melhor pra você.

- Não vou te deixar sozinho com esse imbecil. - disse o moço, olhando para Sébastien como um cão raivoso.

Em contrapartida, o vampiro estava bastante tranquilo e até achou a situação divertida.

- Estou vendo um prato de comida na minha frente... E não posso comê-lo. - divagou Sébastien.

- Do que está falando? - perguntou Eric, ainda entre o vampiro e o ex namorado.

- Olhe para ele. É maior e mais cheio que uma bolsa de sangue. Ele está te incomodando. Não posso mordê-lo?

- Não! Não pode.

- Ele é maluco? - soltou Renan. - O que está dizendo?

- Não vai acreditar se eu disser, agora vai embora. Vai.

Eric conseguiu empurrar Renan até a primeira sala, contudo, Sébastien irritou tanto a Renan com seu olhar e andar arrogante, que o moço tentou avançar em cima dele. Sébastien, para piorar a situação, começou a rir.

- Do que está rindo, idiota?

- De sua desgraça.

Sébastien riu ainda mais. Eric pediu que ele parasse, pois não estava conseguindo segurar Renan. Ele era muito mais alto e forte.

- Não pode tirar o meu divertimento. O desespero dele é cômico demais. O cavalheiro está certo em perder a razão. Você é uma perda lastimável.

Embora tenha soado como um elogio, Eric precisou censurá-lo. Pediu que Sébastien parasse e que Renan se acalmasse. Quando disse que Sébastien era mais forte que ele e poderia machucá-lo, Renan, de orgulho ferido, soltou-se das mãos de Eric, avançou em direção a Sébastien e deu-lhe o soco mais forte que conseguiu dar. Eric paralisou. Seu coração contraiu-se de medo. Sébastien não desviou do soco. Recebeu-o. Em seguida, virou a cara para Renan e abriu a boca, como num bocejo. O moço não compreendeu sua atitude. Sébastien não demonstrou nenhuma dor. Estava com a mesma expressão arrogante de antes. Outra coisa: que dentes pontiagudos eram aqueles?

- O cavalheiro me ataca dentro de minha própria casa? - disse o vampiro, calmamente.

Eric correu até os dois. Entrou na frente de Renan, para que ele não tentasse outra vez e para impedir Sébastien de responder à agressão.

- Por favor! Renan, vai embora. Sébastien, não o machuque.

Sébastien olhou seriamente para Renan.

- Fique muito agradecido por sua mão ter-me feito cócegas. Se tivesse me machucado, teria que quebrar-lhe todos os ossos.

Eric finalmente puxou Renan para fora da casa e a preocupação de novo confronto teve seu fim. Assim que conseguiu convencê-lo a ir para casa, Eric voltou para dentro do casarão. Sébastien estava sentado num dos degraus da escada do hall. Eric encostou-se à porta assim que a fechou. Suspirou e olhou para Sébastien.

- Por que precisava provocá-lo?

- Não ponha toda a culpa em minha pessoa. Ele que é facilmente levado à cólera.

O vampiro levantou-se e andou em direção à sala de jantar. Eric seguiu-o. Voltaram para o escritório.

Ainda esta semana, Eric conseguiu vender cinco moedas de ouro que estavam na urna pelo valor de 34.500 euros. No dia em que foi trocar o dinheiro para a moeda nacional, teve a surpresa do valor ter aumentado para 90.269. Deixou esse valor depositado em sua conta e contou ao irmão.

- Cinco moedinhas dão tudo isso? - impressionou-se Caio.

- Sim! O que vamos fazer? Podemos... Podemos reformar a casa... Podemos dar entrada em outra casa... Podemos comprar um carro novo... Até podemos nos aposentar... Viver de aluguéis! Como a mãe sempre quis. O que fazemos primeiro?

- Eu quero comer tudo o que sempre tive vontade de comer.

- Nos lugares mais caros?

- Sim.

Riram. Aprontaram-se. Eric tirou quinhentos reais de sua conta e passeou com o irmão pelo centro comercial da cidade. Comeram tudo o que tiveram vontade: doces, pratos de comida em restaurantes, salgados... Passearam pelos shoppings e compraram muitas roupas. Até mesmo objetos que jamais serviriam para alguma coisa. Eric prometeu tirar mais dinheiro do banco para aproveitarem um pouco mais. Na quarta-feira, foi ao casarão para dar de comer a Sébastien. Também foi ao porão para pegar mais moedas.

- O que faz aqui? - indagou Sébastien, flagrando Eric no porão.

- Ai! Me assustou! Pare de aparecer de repente.

Sébastien observou o rapaz colocar quatro moedas dentro de um estojo de veludo preto.

- O que fará com isso?

- Vou vender.

- O que? Por que essa fixação por vender minhas coisas? Meu dinheiro!

- Ninguém pode adquirir nada com essas moedas de ouro. Elas só servem para serem vendidas. Acredite em mim: uma moeda dessa vale, digamos, doze mil moedas iguais a ela.

- Doze? Doze mil?

- Sim, doze mil. Até doze mil. Pode valer menos. - respondeu, fechando o estojo. - Com essa urna cheia de moedas, você será mais rico do que era.

A frase pareceu agradá-lo.

- Quanto mais rico?

- Vamos dizer que... Numa escala de um a dez, no seu tempo você era cinco. Hoje em dia, você pode ser dez.

Sébastien ponderou.

- Venderá todas as moedas?

- Acho que não será preciso.

- Quero a minha parte nos lucros.

- Imaginei que fosse dizer isso. Tudo bem. O que vai querer fazer com a sua parte?

Sébastien olhou a sua volta.

- Não farei nenhum serviço em minha própria casa, por isso quero criados. De preferência rapazes. Jovens.

- Aaaah, está pedindo demais. Entenda uma coisa: ninguém pode suspeitar que você é “diferente” das outras pessoas. Ninguém pode descobrir que você é vampiro. Deve saber disso. E quanto aos rapazes, nunca vi rapazes trabalhando como “domésticas”.

- Se é impossível, então traga-me senhoritas. Não levantarei um dedo para limpar essa casa.

- Preguiçoso.

Eric subiu a escada e chegou ao hall. Sébastien apareceu logo depois.

- Você tem estado muito relaxado. - disse o vampiro. - Quando foi a última vez que limpou os móveis? Não viverei numa pocilga.

Eric riu:

- Aaaah, falou o senhor limpeza. - disse, com ironia. - Se dependesse do senhor, você ainda estaria fedendo a carniça. Um curral de porcos é mais que apropriado para um porco como você.

- Quero criados.

- Ah, não me encha o saco! Eu já penso nisso. Já vejo o que posso fazer. Se bem que, o mais certo a fazer é obrigá-lo a limpar a própria sujeira.

- O que? Não vou trabalhar.

- Aprenda, para ser mais humilde.

Sébastien agitou-se de raiva.

- Ou você limpa a casa ou me dá criados.

Eric, muito tranquilamente, abriu a porta da frente, deu um passo para fora e disse, olhando para o vampiro:

- Venha me obrigar.

Riu, fechou a porta e saiu da propriedade.

Após ser tão ousado, o próximo encontro com o vampiro foi tempestuoso. Discutiu com ele a respeito da limpeza do casarão. Foi ameaçado várias vezes, mas manteve-se firme. Acabou sendo trancado no escritório com o vampiro, que guardou a chave da porta no bolso da calça.

- Ficará trancado aqui, menino insolente.

Quando Sébastien ia avançar contra ele, Eric foi esperto e abriu as folhas da janela atrás de si, afastando-o de imediato. Ficou na frente da janela, de braços cruzados, com a luz do sol a iluminar-lhe as curvas do corpo e a cegar Sébastien.

- Você prometeu que não me machucaria. - disse Eric .- Mas está sempre querendo vir pra cima de mim.

- Feche a janela.

- Não.

- Não vou encostar-lhe a mão.

Mesmo desconfiado, Eric fez o que lhe foi pedido. Logo, o aposento estava escuro outra vez. Somente as velas sobre a mesa emprestavam um pouco de luz ao lugar. O rapaz não tirou os olhos do vampiro.

- Você me deixaria ao sol para morrer? Faria isso?

-... Não. Não quero um assassinato em minha consciência.

Sébastien caminhou lentamente pelo escritório.

- Não lhe causa pena saber que não posso fazer nada a não ser consentir com tudo o que você diz?

- Faço pelo seu bem e pelo bem das outras pessoas.

Sébastien calou-se por um tempo. Depois foi até Eric, parou em frente ao rapaz e passou a mão por seu rosto.

- É tão parecido comigo... Não tem medo de nada... Nunca conheci ninguém assim, que discordasse tanto de mim... Que me enfrentasse dessa forma... Sempre tive amantes submissos... Entendiantes... Ninguém que pudesse me ferir da forma como eu feria... Como você me tenta, demônio descarado.

Eric achou que o vampiro fosse beijar-lhe, no entanto, Sébastien cheirou-lhe o pescoço. Em seguida, fitou o jovem, com a face muito próxima à dele. Olharam-se fixamente, deixando claro o desejo mútuo, a vontade recíproca em se oferecerem um ao outro. Diziam com o olhar que um olhar não era o bastante. Era preciso tocar, era preciso beijar, era preciso ir muito além disso.

- Não acontecerá de novo. - freou-se Eric. - E quando você puder sair lá fora, outras pessoas lhe interessarão. Só fica atrás de mim porque sou a única opção que tem.

Sébastien sorriu, maravilhado:

- Acaso não tem nenhum pensamento positivo sobre a sua pessoa? Se considera minha única e indesejável opção?

- Não procuraria outras pessoas se tivesse a chance?

- Eu teria muitos amantes, é claro. - respondeu o vampiro, afastando-se. - Mas sempre recorreria a você quando sentisse falta.

“Quando sentisse falta?” O que queria dizer com isso? Eric afastou os pensamentos da cabeça e decidiu não mais envolver-se com Sébastien, mesmo que ele fosse uma calorosa companhia. Endureceu o próprio coração e obrigou-se a sentir-se ofendido com o que lhe foi dito. Tudo para não cair em tentação novamente.

Durante uma semana inteira, Sébastien notou a diferença nas ações de Eric. O rapaz passou a falar somente o necessário e muitas vezes só deixava a bolsa de sangue em frente da porta do hall e ia embora, sem trocar algumas palavras com ele. O vampiro chegou a tentar iniciar uma discussão, todavia, o rapaz não respondeu adequadamente. Sébastien já começava a se incomodar com sua frieza e lá no fundo, temia que o rapaz estivesse pensando em abandoná-lo. No sábado, ao invés de aparecer de manhã, Eric veio no final da tarde. Entrou no hall. Procurou o vampiro, mas não o encontrou nos ambientes do andar térreo. Por descuido, deixou a lâmpada do hall ligada, e foi embora. Sébastien, que encontrava-se no quarto do primeiro piso, desceu as escadas e levou um susto quando percebeu a luz no ambiente. Recuou rapidamente.

O tempo foi passando. Tudo ficou mais escuro e a luz do hall ganhou mais força. Sébastien ficou assustado. Não podia ir para o escritório e muito menos pegar a bolsa de sangue que estava em frente da porta. No desespero, porém, fez o impensável: esticou um pouco a mão até onde a luz incidia, depois afastou-a. Examinou os dedos. Não sentiu nada. Repetiu a ação. Em seguida, deixou toda a mão à mercê da luz. Aos poucos foi notando que aquela luz estranha não lhe causava nada. Mesmo nervoso, desceu a escada. Degrau por degrau. Devagar. Tocou no rosto. Não sofrera queimaduras. Chegou ao final da escada e olhou para o teto. A luz brilhava como um pequeno sol envolto em vidro. Confuso, mas inofensivo. Sébastien refletiu e quando deu-se conta da descoberta que fizera, gritou cheio de ira.

No domingo, aguardou a vinda de Eric atrás da porta. Assim que sentiu sua presença, esperou-o se aproximar e destrancar a porta para empurrá-lo para dentro do hall. Puxou-o pelo antebraço e segurou-o com força para que não fugisse.

- O que está fazendo?

- Você... Mentiu... Pra mim!!

- O que? - perguntou o rapaz, sentindo mais receio.

- Esse sol de vidro não me machuca! Demônio mentiroso! Traiçoeiro!

- Q...

Somente agora Eric levantou os olhos e viu que a lâmpada estava acesa.

- Eu precisei mentir. - explicou-se rapidamente. - Você é mais forte que eu. Precisava defender a mim e ao Caio.

- Traiçoeiro miserável! Que outras mentiras me contou? Diga!

- Mais nenhuma. Eu juro.

- É bom que seja verdade.

- Me solte. Está me machucando.

Sébastien aproximou o rosto de Eric e advertiu:

- Não quero fazer-lhe mal... Só não me provoque.

Eric, com uma coragem prodigiosa, soltou-se do vampiro e retrucou:

- Você que não me provoque, ou te largarei no jardim em plena luz do dia.

O rapaz encarou o vampiro sem baixar a guarda. De repente, Sébastien suavizou a expressão do rosto

e beijou-o à força.

- Chega! Isso está impossível! Eu desisto! - disse Eric, desvencilhando-se das mãos de Sébastien.

- O que? O que está dizendo?

- A culpa é toda minha. Caio tinha razão. - disse, pegando na maçaneta da porta.

Sébastien conseguiu agarrá-lo e pará-lo.

- Eric! Eric! Não me deixe aqui. Não me deixe. Não consigo passar dos muros da propriedade. Tenho medo do que há lá fora. Não me deixe.

Eric cruzou a porta e fechou-a fingindo nada escutar.

- Eric!

O jovem continuou andando até o carro, mesmo sentindo remorso.

- ERIC!

Sébastien golpeou a porta várias vezes, frustrado por não poder passar dela. Desesperou-se.

- ERIIIIIIIC!


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