Meu Vampiro De Estimação escrita por Eica


Capítulo 11
Estranhos sentimentos




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A limousine voltou para a mansão de Thibaut. O automóvel entrou no jardim. Sylvian saiu com o corpo de Eric nos braços. Pediu ao motorista que voltasse para a casa dos meninos. Quando já estava sozinho, caminhou em direção a outra limousine (a preta, que geralmente era usada por ele), e enfiou o corpo do menino lá dentro. Sentou-se no outro banco e aguardou. Dali a menos de quinze minutos, o corpo do rapaz moveu-se, e Eric abriu os olhos.

- O que houve? Eu desmaiei?

- Lamento tê-lo feito passar mal. Não foi minha intenção. Apenas desejava que dormisse.

Eric sentou-se no banco. Olhou a sua volta.

- Como assim?

- Permita-me explicar o que está acontecendo. O plano era matá-lo. Eu deveria colocar veneno em sua bebida, mas não coloquei.

- Como é?? - exclamou, sentindo uma afliçãozinha. - Onde estamos?

Sylvian parou-o quando este quis abrir a porta.

- Escute-me. Escute com atenção. Thibaut ficou obcecado por seu irmão e acredita que tanto você quanto Sébastien são um obstáculo que ele deve tirar do caminho.

- Ele continua em casa? Preciso voltar. Não posso deixá-lo com Caio.

- Não, devemos esperar. Thibaut deve achar que seu plano está dando certo. Se descobrir a verdade, poderá fazer algo muito pior.

- Mas não posso deixar o Caio sozinho com ele!

- Não se preocupe. Caio não será ferido. Thibaut quer ganhar sua confiança. Seu plano é matar você e Sébastien para que Caio não tenha mais ninguém na vida além dele. Quer ser o único a cuidar dele. O resto será conseguido com o tempo.

- Meu Deus!

Após refletir, Eric fitou Sylvian.

- Como posso confiar em você?

- Salvei sua vida.

- E se tudo não faz parte do plano?

- Eu não sou Thibaut.

- Quando Sébastien voltar para casa... Meu Deus! Thibaut vai matá-lo?

- Sébastien foi preso num caixão e o caixão só abrirá quando amanhecer.

- O que? C-como assim?

- O caixão foi levado ao cemitério da cidade. Ele ficará lá durante a noite e se abrirá ao nascer do sol.

- Não! Sébastien! Temos que...

Sylvian segurou-o pelo pulso.

- Já falei que devemos esperar.

- Como me pede para esperar? Sébastien e meu irmão estão correndo sério risco!

- Sébastien não está morto. Ainda. E Caio está bem, por mais que possa parecer mentira. Fique aqui comigo. Antes do amanhecer, tiraremos Sébastien do cemitério e iremos atrás de seu irmão.

Eric acomodou-se no banco. O coração estava muito agitado e dolorido. Não tirou Sébastien e o irmão da cabeça. Ao olhar para Sylvian, viu-o de cabeça baixa. Devia confiar nele? “Já liguei para Thibaut avisando que você faleceu. É esta a informação que seu irmão precisa receber”, avisou o vampiro.

- Ficaremos aqui a noite toda?

- Sairemos à meia noite. Ficaremos escondidos por umas cinco horas mais ou menos.

Se a espera dentro da limousine foi angustiante, a espera de Sébastien dentro do caixão foi, quem sabe, pior. Tentou sair tantas vezes que acabou se cansando. Que martírio não saber o que estava acontecendo! Que martírio não saber onde estava!

- ALGUÉÉM! - berrou.

A perda de sangue deixava-o mais cansado. Logo viu-se deitado num acolchoado encharcado do líquido vermelho. À meia noite, Sylvian tirou a limousine do jardim da mansão e levou-a para um bairro mais distante. Estacionou em frente a um terreno baldio e ali aguardou, em companhia do inquieto Eric.

- Por que está nos ajudando? Você não é amigo de Thibaut?

- Já compartilhei da sua loucura por tempo demais. Acredite, não é a primeira vez que ele faz algo assim. Ele não se importa em matar. Se achar que a pessoa não é de utilidade, fará o que for preciso para destruí-la. Aqueles vampiros que tentaram matá-lo há uns tempos atrás não vieram atrás de você por coincidência.

- Thibaut os enviou?

- Certamente. Já estamos na cidade há muitos meses. Thibaut e eu fugimos da França por motivos de segurança. Estão nos caçando por lá. Os vampiros estão morrendo. Thibaut imaginou que não nos encontrariam neste país. Por isso viemos. Ele tinha planos de abrir um grande e luxuoso clube. Uma espécie de casa para abrigar pessoas como nós. Quando os vampiros te encontraram na avenida, contaram a Thibaut que havia um vampiro com você. Thibaut reconheceu Sébastien e por isso veio a procurá-lo. Seus planos mudaram totalmente quando conheceu seu irmão. Não quero deixá-lo preocupado, mas Thibaut é perigoso. Nunca deixou de ser. Embora eu tenha sido cúmplice de suas loucuras, não desejo mais.

A grande preocupação de Eric não permitiu que o jovem caísse de sono no banco da limousine. Quando o céu começou a clarear, Sylvian sentou no banco de trás do carro e Eric foi para o banco do motorista. Dirigiu até o cemitério Santo Antônio.

Sébastien já estava trancado no caixão há muito tempo. Sua última tentativa de quebrar a tampa do caixão custou-lhe dores nos punhos. Quando achou que seu destino era morrer de fome neste espaço pequeno, a tampa do caixão subitamente abriu-se. O vampiro levantou-se rapidamente com medo de perder a oportunidade. Viu-se num cemitério de grama cortada. O caixão em que lhe colocaram estava no chão, longe das lápides. Ao olhar para o céu, viu que o sol começava a aparecer no horizonte. Saiu do caixão e procurou um lugar para esconder-se. Não havia nada por perto.

Eric bem que quis continuar acelerando mesmo quando os sinais ficavam vermelhos. O tempo estava se esgotando. Precisava chegar ao cemitério antes que Sébastien virasse história.

Sébastien correu muito, todavia, o sol foi mais rápido. Já estava alto no céu e seus raios acertaram Sébastien em cheio. O vampiro protegeu o rosto e continuou correndo na direção de um mausoléu. Os braços vulneráveis começaram a queimar. A dor foi insuportável. Manteve a face voltada para o chão. Os dedos das mãos arderam, assim como o topo da cabeça. O vampiro disparou. Conseguiu arrombar a grade do mausoléu e proteger-se em seu interior. Olhou para os braços e para as mãos queimadas. Derramou algumas lágrimas, pois teve certeza de que morreria. Era questão de tempo até o sol mudar de posição e seus raios atravessarem a grade.

Eric finalmente chegou ao cemitério. Sylvian pediu a ele que levasse uma capa para que Sébastien fosse trazido ao carro em segurança. O rapaz entrou no cemitério e correu o tanto que conseguiu, berrando o nome do vampiro sem pausas. Desceu a leve inclinação do terreno em grande velocidade.

- SÉBASTIEEEEEEN!

"Meu Deus”, pensou. “Onde está?”. Continuou descendo o terreno. No milionésimo berro, Sébastien ouviu. Atentou os ouvidos para ver se não estava delirando. Não. Não estava. Era Eric. Levantou-se do chão e aproximou o rosto da entrada do mausoléu. Chamou pelo rapaz. Aliviado por ouvir sua voz, Eric correu ao seu encontro. Ao parar em frente do mausoléu, Eric não teve tempo de observar o vampiro, pois este puxou-o pelo braço e agarrou-o com força. Beijou-lhe inúmeras vezes no topo da cabeça e em seguida, nos lábios.

- Que bom que não morreu! Não morreu! - chorou Eric.

Sébastien tocou-lhe no rosto, nos ombros e na cabeça como se quisesse se certificar de que o rapaz estava mesmo ali e que estava bem.

- Minha única certeza era a morte. - confessou o vampiro, sentindo uma grande dor no peito.

- Vamos, preciso te cobrir com isto. Temos que ir até o carro. Precisamos voltar para casa.

- Como me encontrou?

- No caminho eu explico. Vamos sair daqui.

Eric jogou a capa sobre o corpo do vampiro e levou-o para fora do cemitério. Felizmente a capa protegeu-o do sol, mas a situação deixou o vampiro muito desconfortável. Eric abriu a porta da limousine e Sébastien entrou. Descobriu-se e viu Sylvian sentado no banco.

- O que está acontecendo?

Sylvian disse a Sébastien o mesmo que dissera a Eric. O vampiro quis bater em Sylvian, contudo, concordou que, não fosse ele, Eric e ele não estariam vivos agora.

- O que sugere que façamos?

- A esta hora do dia, Thibaut deve estar certo de sua morte. Espero não encontrá-lo na casa, mas é certo que teremos de enfrentá-lo, cedo ou tarde, teremos de enfrentá-lo.

Eric sentiu uma grande aflição quando parou a limousine em frente da casa. A limousine branca usada por Thibaut não encontrava-se em frente ao portão, mas bem que podia ter sido estacionada no jardim. Deixou Sylvian e Sébastien no carro, abriu o portão e não encontrou o carro do vampiro. Ficou mais aliviado.

- CAIO! CAIO!

Correu até a porta. Abriu-a. Chamou o irmão mais uma vez. De súbito, o menor apareceu, vindo da primeira sala. Quando Caio viu o irmão, caiu de joelhos no chão e chorou do fundo da sua alma. Tentou falar algumas palavras, mas não conseguiu expressar-se de modo satisfatório. Eric foi até ele e abraçou-o. Caio estava pálido.

- Diss... Qu...

- Onde está Thibaut?

Havia uma camada de lágrimas em frente aos olhos do garoto. Abriu um berreiro e grudou-se ao irmãos mais velho. Demorou-se até Caio conseguir falar uma única palavra.

- Você... Morto... Não? Não? Deus!

- Foi tudo mentira. Não me aconteceu nada.

Caio continuou chorando, agora com o coração menos pesado. Uma alegria inundou-o de todo. Se antes chorava de angústia, agora chorava de felicidade.

- Conte para mim. - pediu Eric, com as mãos no rosto do irmão. - Thibaut fez alguma coisa a você? Ele fez?

O menor sacudiu a cabeça, dizendo que não. Tornou a abraçar o irmão, agora com mais força.

- Te amo, te amo, te amo!

- Também te amo.

Quando o mais velho conseguiu acalmar o outro, trouxe a limousine para dentro do jardim e trancou o portão. Protegendo Sébastien e Sylvian com a capa, ambos entraram no interior da casa um de cada vez. Eric e Caio fizeram curativos nas queimaduras do vampiro. Na cozinha, Sébastien pediu que alguém tirasse a bala alojada em sua nuca. Como nenhum dos meninos teve coragem de fazer tal coisa, com uma pinça, Sylvian arrancou a bala. Em seguida, o próprio Sébastien fez um curativo na nuca. Precisou tomar um banho e trocar de roupa. Após o banho, o vampiro foi até a sala onde todos estavam reunidos. Viu Sylvian sentado numa poltrona e Caio agarrado ao irmão num dos sofás.

- Que fazemos agora? - indagou Eric, a Sylvian.

- Esperar. É só o que podemos fazer.

- Por que não vamos embora? - sugeriu Caio.

- Uma opção que não nos salvará por muito tempo. - respondeu o vampiro de olhos claros. - Não importa para onde formos. Thibaut virá atrás de nós. Atrás de todos nós.

- E você? - perguntou Eric. - Thibaut...

- Ele não vale nada. Se um dia valeu alguma coisa, este dia foi há muito tempo. Pelas coisas que me contava, nem quando era criança ele valia. Nunca prestou. Estou convencido disso. Já enganou milhares de pessoas e isto não lhe trás nenhum remorso. Pelo contrário. Para ele enganar é necessário. É uma questão de sobrevivência e também de divertimento.

- Por que só esperou este momento para nos contar tudo? Por que não nos poupou o sofrimento? - replicou Sébastien.

Sylvian olhou de Sébastien para Eric e respondeu:

- Não podia mais ignorar...

Sébastien sentou-se no mesmo sofá onde os meninos estavam.

- Então... Você sugere que fiquemos aqui e esperemos a morte bater na porta? É isso? - disse o vampiro.

Sylvian confirmou:

- Se tiver uma ideia melhor... Mas não acho que terá. A questão não é exatamente essa. A questão é que não podemos fazer nada. Teremos que nos proteger. E esperar o inevitável.

Naquele instante, Sylvian assustou-se quando seu celular tocou.

- É ele! - exclamou Eric.

Sylvian atendeu a chamada.

- Onde você está, mon cher? - disse a voz de Thibaut. - Já é dia e está fora de casa. Ficou louco?

- Eu estou bem.

- Contaram-me que encontraram o caixão aberto, mas Sébastien não estava nele. Disseram-me que viram sua limousine em frente ao cemitério. O que fazia lá?

- Suspeita de mim?

- Não suspeito. Quero ouvir de sua própria boca que ajudou o menino e Sébastien. Após todo trabalho que tive... Você enganou-me muito bem, mon cher. Mas não gostei da traição. Não imaginei que fosse tão ardiloso.

- Agradeço o elogio. - disse Sylvian, numa calma sobre-humana.

- Não quero fazer-lhe mal, mon cher, mas você me obriga. Você me obriga. Não queria machucar-lhe. Você sabe o quanto gosto de você. Você sabe, não sabe?

- Claro.

- Jamais encontrarei alguém como você.

- Quando você virá?

Thibaut riu:

- Acha que te avisarei? Farei uma surpresa, é claro. Agora que me traiu, sei que posso esperar tudo de você. Nos veremos em breve. É só o que posso dizer. Tenha um bom dia.

Sylvian desligou o aparelho.

- O que ele disse? - perguntou o vampiro.

- Ele virá.

Naquele momento, caiu um pesado silêncio sobre os quatro.

Os meninos dormiram no quarto de Caio. Abraçados. Não descansaram nada na noite anterior, por isso dormiram quase a tarde inteira. Sébastien, mesmo exaurido por tudo o que passou, não recolheu-se em seu caixão e fez muitas perguntas a Sylvian a respeito de seu inimigo.

- Lamento que tenhamos nos encontrado, Sébastien. - disse o vampiro, com uma expressão triste. - Cruzar-se com Thibaut nunca trouxe sorte a ninguém.

- Eu não te entendo.

- Minhas participações nos planos de Thibaut nunca exigiram muito de mim. Geralmente eu apenas omitia coisas. Não atrapalhava. Ficava de fora, mas ao mesmo tempo sabia de tudo e não fazia nada. Uma boa ação não será suficiente para livrar-me de todo o mal que causei, mas se puder salvar suas vidas, isso me deixará muito feliz.

Quando Eric pegou a bolsa de sangue, Sébastien dividiu o líquido com Sylvian. Ao escurecer, Sylvian fez um passeio pelo jardim da mansão. Eric espiou-o pela janela e resolveu aproximar-se.

- Eu ainda não agradeci por ter salvo minha vida. - disse. - Obrigado.

Sylvian sorriu.

- Não precisa dizer nada. Fico contente que nada tenha acontecido.

- Você ficará conosco?

- Neste momento é essencial que eu fique. Se tudo acabar bem...

- Ainda continuará com a gente? Ou pretende ir embora?

Sylvian sentiu uma dor no peito.

- Farei o que você quiser que eu faça.

O rapaz não esperava ouvir uma resposta dessa.

- Sinceramente... Eu não quero que você vá.

- Então eu não irei.

- Obrigado.

- Não, eu devo lhe agradecer... Por me querer por perto.

Após um breve momento de silêncio, Eric acrescentou:

- Volte para dentro. Está ficando frio.

Nesta segunda-feira, Caio não foi ao colégio, mas no dia seguinte, seu irmão aconselhou-o a ir, pois não devia parar de estudar. O ano letivo já estava acabando. “Aguente firme, Caio”, disse, “faltam poucos dias”. Para garantirem a segurança de Caio, Eric não voltou para casa após levar o irmão à escola. O plano era permanecer em frente ao colégio até o fim das aulas. O jovem não ficou sozinho dentro do carro. Sylvian e Sébastien lhe fizeram companhia.

- Thibaut tem quantos espiões? - indagou Sébastien, sentado no banco de trás ao lado de Sylvian.

- Sete.

- Também são vampiros? - perguntou Eric.

- Quando Thibaut quer. Sabe fazer a cabeça das pessoas. Sabe confundir... Sabe fazê-las desejarem coisas que não desejariam na realidade.

- Como se transformarem em vampiro. - disse Sébastien.

- Sim, claro.

- Você mencionou que os vampiros estão sendo caçados na França. - lembrou-se Eric. - Quem está caçando?

- Não sei ao certo. - respondeu o vampiro, olhando pela janela. - Mas muitos morreram quando estávamos lá. A população não foi informada do caso. Sem dúvida vampiros descuidados e inexperientes revelaram nossa existência. O número de desaparecimentos no país cresceu de modo alarmante por nossa culpa.

- Como vamos nos defender de Thibaut quando ele aparecer?

- Você e Caio não devem se preocupar com isso. - respondeu Sébastien. - Não serão vocês que o enfrentarão.

- Acha que penso em brigar com ele? Só em saber que ele pode aparecer a qualquer momento já tremo de medo. Mas isso não quer dizer que eu não vá defender vocês quando precisarem de mim.

- Não precisaremos de você. Ele quer te matar, Eric. Não lhe dê nenhuma chance.

Esta noite, nada suspeito aconteceu. Quando voltaram para casa, Caio foi direto ao quarto do irmão. Pediu para dormir com ele. Eric permitiu. No momento em que já estavam na cama, o rapaz mais velho acomodou sua caixinha de música sobre o colchão, ao seu lado, e deixou-a tocar. Observou-a até os olhos fecharem de sono.


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