Meu Vampiro De Estimação escrita por Eica


Capítulo 12
Verdadeiro amor




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A construção da piscina foi finalizada nos últimos dias. No entanto, ninguém a aproveitou. Os irmãos permaneceram em casa, na sala e às vezes no quarto. Sylvian escolheu uma poltrona para sentar e observar pela janela quando o sol não lhe atrapalhava. Já Sébastien, andava aqui e ali, a pensar. Estava claro que todos estavam inquietos. Quando anoitecia, os ânimos mudavam ainda mais. Os vampiros ficavam muito mais atentos, especialmente quando era final de semana e os dois rapazes estavam em casa.

- Você que conhece Thibaut, - disse Sébastien, certa vez. - o que acha que ele fará?

- Eu não sei.

- Está com medo?

- Estou.

- De verdade? Tem medo da morte?

- Não da minha.

Sébastien fitou-o fixamente enquanto o outro mantinha o olhar na direção da janela.

- Você está preparado? - indagou Sylvian. - Para deixar este mundo? Acha que sua existência é um bem ou o contrário? Deve pensar no futuro. Não só no seu, mas no dos garotos também.

- O que quer dizer?

-... Não devíamos existir, Sébastien... Suponho que já tenha pensado assim alguma vez na vida. Acredito que tenha pensado. Você não é uma pessoa ruim. Quero que faça uma coisa por mim.

- O que?

Sébastien ficou surpreso com seu pedido, mas prometeu cumpri-lo. Sylvian agradeceu-lhe e ficou mais tranquilo. Enfim, os dias passavam e Thibaut não aparecia. A última semana de aulas de Caio finalmente chegou. Eric tentou ajudá-lo nos estudos, porém, a mente do irmão estava distraída.

- É só essa semana, Caio. Vamos lá. Você consegue.

- Não preciso tirar nota alta nas últimas provas. Eu fui bem o ano todo.

- Já está acabando.

Foi assim na segunda-feira. Na terça, Caio teve a ajuda de Sylvian que, surpreendentemente, era um homem extremamente inteligente. Entendia de matemática, física e química como ninguém. Explicou ele que aprendeu lendo livros e tendo aulas com grandes professores. “Se ele tivesse sido meu professor, eu teria aprendido a matéria muito mais rápido do que aprendi”, comentou Caio, ao irmão.

No meio da semana, quando Caio era levado ao colégio pelo irmão e os dois vampiros, o rapaz que dirigia o carro percebeu que um motoqueiro não saía de trás deles. Comunicou Sébastien e Sylvian. O motoqueiro, de repente, saiu de trás do veículo e parou ao lado da porta onde estava Sylvian. Acertou-lhe uma bala no meio da testa. O corpo do vampiro caiu no colo de Sébastien que pediu aos meninos que abaixassem. Curiosamente, o homem armado aumentou a velocidade de sua moto e desapareceu na avenida.

- O que aconteceu? O que aconteceu? - indagou Eric, assustado.

Caio, que estava sentado no banco ao seu lado, virou-se para trás e viu.

- Atiraram no Sylvian. Ele...

- Não está morto. - assegurou Sébastien.

- Não está? Eric, quero ir para casa. Vamos para casa. Por favor.

Eric atendeu ao pedido do irmão. Voltaram. Sébastien carregou o corpo de Sylvian e o deixou no sofá. Escorria muito sangue de sua testa. O vampiro tirou a bala de sua cabeça e lhe fez um curativo.

- Por que ele não acorda? Você disse que não morreu. - disse Eric.

- Acertaram-lhe no cérebro. Quer que ande normalmente depois disso? Daqui a pouco acordará. Seu corpo precisa de um tempo para se recuperar... Isso só foi um aviso, ao que parece.

Os meninos esperaram Sylvian levantar-se. O vampiro só abriu os olhos trinta minutos após ser deitado no sofá.

- Você está bem? - perguntou Eric.

Sylvian sentou-se. Pegou seu celular.

- O que está fazendo? - perguntou Sébastien.

Atenderam a chamada:

- Mon cher?

- Eu também sei brincar.

Thibaut riu:

- Então vamos brincar. Alguns amigos meus irão até aí para brincar conosco. Pedi a eles que se divertissem muito, mas ninguém tirará minha diversão de brincar um pouco com mon cher. Diga a Sébastien para se preparar. Até breve.

- O que ele disse? - perguntou o vampiro, quando Sylvian desligou o celular.

Este não respondeu.

No dia posterior, os vampiros pediram aos irmãos que começassem a dormir no porão. Fizeram o local parecer um quarto, arrumando-o e colocando uma das camas para que os meninos a usassem. Sébastien ordenou que trancassem a porta toda vez que fossem dormir. Na primeira noite, Sébastien e Sylvian puseram duas cadeiras ao lado da porta do porão e nelas sentaram. Ficaram de guarda a noite toda. No segundo dia, a mesma coisa. Montaram guarda ao lado da porta trancada.

- Ainda seguirá seu plano?

- Naturalmente. - respondeu Sylvian ao vampiro do seu lado.

Levantaram-se das cadeiras e olharam para a direção da porta do hall. Ouviram alguém cantarolar do lado de fora da casa. A voz afastou-se. Em seguida, aproximou-se.

- Posso sentir o seu cheiro. - disse a voz suave. - Está aí, vou até você. Que cheirinho delicioso! Hmmmm, hmmmm, hmmmm, quero cada pedacinho de você. Se não me der, vou tomar à força!

A voz mudou de direção, e agora soou atrás da porta do hall:

- Deem-me o menino. - disse, de maneira mais firme. - Deem-me e eu não farei nada ao resto de vocês.

Sébastien riu:

- É?

- Deem-me agora. - a voz soou mais feroz.

- Saia de trás da porta, covarde.

- Hmmm... DEEM AGORA! - a voz soou extremamente monstruosa. -AGORA! AGORA! AGORA!

A cada palavra sua, o vampiro dava um soco violento na porta.

- Hmmm... Estou sentindo. Caiooooooooo! Caioooooooooo! Menino lindo.

Sylvian permaneceu em frente a porta do porão. Já Sébastien, aproximou-se da porta do hall. Parou em frente a ela.

- Desta vez não vou dividi-lo com você, meu querido Sébastien. - riu a voz. - Há coisas que não podemos compartilhar com os amigos. Você foi um amante perfeito, compreende? Sabe como é isso? É a vez de Caio agora. Eu lamento, mas as coisas mudam.

- Sébastien! - chamou Sylvian.

O vampiro apontou para uma das janelas do hall. Thibaut estava visível atrás da vidraça da janela mencionada.

- Mon cher... Você me traiu... Você sabe o que faço com traidores. Vou pegar cada um de vocês.

Num instante, Thibaut desapareceu e três ruídos foram ouvidos na casa. Um vindo do andar de cima e os outros dois vindos do andar térreo. Sébastien e Sylvian não se moveram. Apenas esperaram algo acontecer. Ouviram sons de passos. Eles silenciaram em pouco tempo. Não ouviram mais nada.

- Sabe o que acontece com Justine no livro do Marquês? - disse a voz de Thibaut. - É o que vai acontecer com você, mon cher. Donatien aprendeu muitas coisas comigo. Você sabe.

- Por que não aparece de uma vez?

- Onde estaria a graça?

Eric, que estava acordado, levantou-se da cama, subiu a escada e parou em frente da porta. Deu duas batidinhas nela.

- O que está acontecendo? - indagou.

- Não saia daí! - disseram Sylvian e Sébastien, ao mesmo tempo.

Sylvian recolheu um estojo que havia colocado ao lado de sua cadeira, e do estojo tirou duas espadas de cavalaria. Deu uma a Sébastien.

- Sabe usar?

- É só acertar o alvo.

- Sim, claro.

Seguraram as espadas com firmeza e aguardaram. Subitamente, as janelas do hall quebraram de fora para dentro. Em um minuto, as demais janelas da casa também quebraram e dois homens desconhecidos apareceram, um vindo da primeira sala e o outro vindo da sala de jantar. Armados, atiraram contra os dois vampiros que desviaram habilmente. Sylvian arrancou a mão daquele que veio da sala de jantar, e Sébastien arrancou a cabeça do outro. Os inimigos multiplicaram-se como praga. Vieram das salas e da escada. Todos eles tinham por objetivo chegar à porta do porão. Sébastien levou tiro no ombro. Sylvian; uma facada no antebraço.

- Como...? - pensou Sébastien em voz alta.

De onde vinham tantos homens? Alguns deles eram vampiros, e deram mais trabalho. Enquanto os dois enfrentavam uma leva de mortais e imortais, Eric pegou o seu inseparável atiçador de fogo que havia guardado no porão e pediu ao irmão que se acalmasse. “Vai dar tudo certo”.

- É tudo minha culpa. - chorou Caio.

- Você não tem culpa de nada.

BAM!

Sébastien entrou no porão ao ser arremessado contra a porta. Seu corpo rolou escada à baixo. Lá em cima, Sylvian fez de tudo para que os vampiros não entrassem no porão. Eram tantos que não conseguiu dar conta.

- ERIIIIIIC!

Os vampiros desceram a escada aos montes. Sébastien recuperou-se rapidamente e foi retalhar os primeiros que desciam. Eric levou o irmão para um canto afastado e ficou de costas para ele. Sébastien conseguiu cortar a cabeça e os membros de seis vampiros.

- Sylvian! Depressa!

Os inimigos não pareciam estar levando o confronto a sério, pois só provocavam cortes superficiais nos dois vampiros. Sylvian e Sébastien já estavam cheios de cortes pelo corpo e também levaram muitos tiros. A perda de sangue já começava a preocupar. Após minutos atormentadores, os inimigos desapareceram. Com a porta do porão destruída, Sébastien e Sylvian tiveram que redobrar os cuidados.

No momento em que Sébastien subiu para o hall, usou uma fronha que pegara de um dos travesseiros dos meninos e tentou fazer um curativo na mão. Ou melhor, do que não restou de sua mão. Sylvian impressionou-se ao ver que cortaram a mão esquerda do vampiro.

- Ajude-me aqui.

Sylvian amarrou a fronha em seu ferimento. Era tanto sangue pingando que foi complicado amarrar com precisão. A mão de Sébastien estava lá no porão, junto dos corpos dos vampiros. Havia muitos corpos no hall também. Não dava para caminhar sem pisar em alguém. Sylvian recolheu uma pistola do chão e, vendo-a carregada, passou-a a Sébastien. Este largou a espada e pegou a arma. Sylvian também pegou uma pistola.

Vinte e cinco minutos se passaram. E silêncio. E tranquilidade.

- Estão bem? - gritou Sébastien.

- Não. - respondeu Eric, gritando.

Caio estava tremendo. Bem, Eric também estava tremendo, mas seu irmão estava muito chocado com tudo o que viu. Olhar para os cadáveres no porão não era legal. Tanto Sébastien quanto Sylvian sentiam a presença de Thibaut. Ele estava na propriedade. Ambos desejavam ir atrás dele, no entanto, não podiam deixar os meninos desprotegidos. Qualquer erro seria fatal. Quarenta minutos passaram-se. E tranquilidade. Sébastien e Sylvian não se moveram do hall. Com o tempo que passou, o sangue dos mortos tornou-se o tapete do cômodo. “ A incerteza é a pior das angústias”, citou Sylvian, de modo distraído. Entrava uma brisa fria pelas janelas. O céu estava bastante estrelado. Não havia nuvens. Ouviam o som dos carros na avenida. Aparentemente ninguém do outro lado ouvia seus tormentos. Era quase como se estivessem noutra dimensão. Como se gritassem alto e ninguém pudesse ouvir.

O coração de Sylvian estava pesado. Tocou no peito e sentiu. Nunca sentiu tanta angústia. Nunca precisou ter tanta certeza de algo. No instante em que Sébastien virou-se para ele, pegou-o cheio de lágrimas.

- Que houve?

Um sorriso suavizou a face do vampiro, que respondeu:

- Estou amando.

Sébastien franziu o sobrolho.

- É um sentimento tão bonito...

Quando Sylvian fechou os olhos, as lágrimas escorreram.

- Você descobre que ainda é humano... - disse ainda. - Quando percebe que o que você sente vem lá do fundo de sua alma. Devo agradecê-lo por me fazer ser humano outra vez.

Abriu os olhos e fitou Sébastien.

- É tarde para dizer o que sinto por ele?

Os vampiros retornaram. Agora em menor número. Ocupados com quatro deles, um quinto entrou no porão. Eric foi para cima dele com o atiçador, no entanto, levou uma pancada muito forte no rosto e caiu no chão. Caio foi pego pelos braços e carregado para fora do porão. Eric recuperou-se, mesmo com muita dor na face. Com o atiçador em mãos, foi atrás do irmão. O vampiro arrastou Caio pela escada do hall. Nem Sébastien e nem Sylvian conseguiram chegar até ele. Eric, mesmo de modo muito lento, pois o vampiro era naturalmente mais rápido, seguiu-o até o primeiro andar.

- Eric! - gritou Caio, tentando se soltar.

O rapaz mais velho correu a toda velocidade e pulou sobre o vampiro. Tentou enforcá-lo com o atiçador. Caio conseguiu soltar-se e esconder-se num quarto vazio. Eric usou toda força que conseguiu para sufocar o vampiro. Este bateu as costas do rapaz contra a parede para tentar soltar-se dele. Terminaram caindo no chão de um quarto. Eric golpeou-o com o atiçador, no entanto, ficou inconsciente quando recebeu vários socos no rosto. Não contente ainda, o vampiro espancou o rapaz e jogou-o pela janela. Os vampiros no andar térreo foram todos derrotados. Sébastien e Sylvian foram ao andar superior.

Caio estava quietinho no quarto. De pé, num canto da parede. A porta estava fechada. Não tirou os olhos dela com medo de alguém entrar. Porém, já havia alguém lá dentro.

- Caio.

- AAAH! - gritou o garoto.

Rapidamente entrou no banheiro e trancou-se ali.

- Caio, meu menino lindo. Não quero te fazer mal. - disse Thibaut, surgindo das sombras do aposento.

Parou em frente da porta do banheiro.

- VAI EMBORA! VAI EMBORA! - berrou Caio.

- Fico triste quando diz isso. Por favor, venha comigo e tudo isso se acaba.

Sébastien escancarou a porta do quarto e disparou contra Thibaut. Não acertou nenhum tiro. Sylvian chegou e também participou do confronto. Agora não havia mais nenhum outro vampiro na casa além dos três. Thibaut estava sozinho, e como era mais experiente, sabia usar seus poderes melhor do que Sébastien. Sylvian era o mais indicado a enfrentá-lo, pois teve muito tempo para aprimorar o que ganhou ao se tornar vampiro. Os dois ex-amantes moviam-se rápido. Seus golpes eram fortes e precisos.

Sylvian perdeu a pistola, mas usou a espada. Sébastien não tinha mais munição em sua arma, por isso pegou o que tinha mais próximo: um pedaço de madeira da janela quebrada. Certamente que Sébastien e Sylvian estavam muito mais exaustos. Thibaut machucou-se na briga, todavia, não estava cansado. Os três se agrediram com fúria. Sébastien usou todo seu ódio e desprezo. Sylvian usou toda sua decepção e raiva. Thibaut usou todo seu repúdio.

A luta estendeu-se do quarto ao corredor principal deste piso. Sébastien ficou parecendo um bonequinho vermelho de tanto que perdeu sangue. Thibaut ia machucá-lo com a espada que tirara de Sylvian, no entanto, este recuperara a pistola e disparou três vezes contra sua cabeça. Thibaut caiu no chão. Na raiva, Sébastien chutou-o com toda fúria.

- Por favor, ajude-me a levá-lo. Depressa. - pediu Sylvian.

Ambos levaram o corpo de Thibaut para o jardim. Pegaram o caixão de Sébastien e puseram o vampiro lá dentro. Acorrentaram os pulsos do vampiro e fecharam o caixão. Também enlaçaram o caixão com uma corrente maior. Colocaram o caixão dentro da limousine. Recolheram os mortos e os amontoaram dentro do veículo. Quando tudo estava pronto, Sylvian abriu o portão da casa.

- Obrigado.

- Obrigado. - respondeu Sébastien, recebendo um aperto de mão.

Sylvian entrou na limousine, ligou o motor e saiu da casa. Sébastien fechou o portão e suspirou. Voltou para o quarto e bateu na porta do banheiro.

- Caio! Sou eu. Já acabou. Está tudo bem.

O menino saiu do banheiro e abraçou o vampiro. Soluçava.

- Está tudo bem.

- Eric... Cadê meu irmão?

Sébastien sentiu um aperto no peito. Ainda não vira Eric! Onde estava? Procuraram por ele no primeiro andar. Depois foram para o andar térreo. Não estava no interior da casa. Foram para o quintal. Um berro desesperado de Caio confirmou os piores temores do vampiro. Correu até o jovem e descobriu-o ajoelhado diante de Eric, no chão, imóvel.

O vampiro caiu de joelhos ao lado de Eric e tocou em seu rosto machucado. Seus olhos estavam fechados. O nariz sangrava. Em pouco tempo, lágrimas arderam os olhos de Sébastien. Caio já estava na milionésima lágrima.

- Eric! Eric! Meu Deus! - dizia o menor. - Ajuda ele, Sébastien! Por favor! Por favor! Ajuda!

O que poderia fazer? O vampiro segurou Eric com o braço esquerdo e com a mão direita, tocou-lhe no rosto. Foi inevitável. Ele chorou. Muitos pensamentos atormentaram-lhe a cabeça. Ao passar-lhe a mão pelo corpo, observou que a respiração do rapaz estava muito fraca.

- Feche os olhos, Caio. - pediu, engolindo um soluço.

- Não, não, não!

- Feche os olhos!

Caio obedeceu, sem soltar a mão do irmão, que ele segurava com força. Sébastien aproximou a face do pescoço de Eric e mordeu-lhe a carne. Bebeu-lhe uma grande quantidade de sangue. Em seguida, olhou para ele. O jovem continuou imóvel.

Sylvian entrou no cemitério Santo Antônio arrombando o portão da frente. Deixou a limousine lá no finzinho do terreno. Tirou o caixão de dentro do veículo e colocou-o no chão. Fechou a porta da limousine e sentou sobre o caixão. Permaneceu sentado até Thibaut mover-se. Quando já era cinco da manhã, Sylvian abriu o caixão. Encarou o olhar alucinado de Thibaut. Tirou-o do caixão, sem soltar seus pulsos. Sentou no gramado, prendendo Thibaut pelo pescoço. O vampiro ficou deitado no chão, tendo o pescoço preso pelos braços de Sylvian. Evidentemente que tentou soltar-se quando descobriu o que o outro pretendia.

- Ao contrário de você... - disse Sylvian, calmamente. - Eu não tenho medo da morte.

- Não, por favor! Mon cher! Por favor! Faço tudo o que quiser, por favor! Por favor! Mon cher!

Thibaut desesperou-se mais quando o sol ascendeu no céu. Esperneou, dando muito trabalho a Sylvian para segurá-lo. Este depositou todas as suas forças nos braços, sem, no entanto, enforcar Thibaut. Esta não era sua intenção. Sylvian tinha uma expressão de paz no rosto.

- O mundo já está cansado de nossa existência. Ninguém sentirá falta de nós.

- Por favor, mon cher! Mon cher!!

- Não é bonito? Não sabe o quanto sinto falta de minha família e dos amigos que vi morrerem. Já está mais do que na hora de nos unirmos a eles.

Quando o céu finalmente clareou, os corpos dos dois começaram a queimar. Sylvian apenas fechou os olhos, enquanto Thibaut sacudia-se todo.

- Mon cher!! Meu amor!! Por favor! Tire-me daqui!!

Sylvian segurou-o com mais força. Não abriu os olhos. O corpo todo ardia. No caso de Thibaut, por ter deixado os olhos abertos, estes perderam a coloração no mesmo instante em que o corpo começou a queimar. Logo, não enxergava mais nada.

- Quando ele vai acordar? - indagou Caio.

Sébastien ficou aflito, pois não sabia se tinha feito corretamente. Havia a possibilidade de Eric não voltar à vida, pois nunca antes mordera alguém com este propósito. Sentiu as dores de Caio, debruçado sobre o corpo imóvel do irmão. Cada soluço do menino entrava dentro de seu peito e ardia. “A incerteza é a pior das angústias”, lembrou-se. Estavam na primeira sala da mansão. O corpo de Eric fora deitado no sofá. Já esperavam há muitas horas e nada.

- Sébastien!

O vampiro aproximou-se do sofá quando o menino chamou. Olhou para o corpo. Eric abrira os olhos. Um alívio inacreditável assaltou seu coração. Caio apertou o irmão como nunca antes fizera. Mais lágrimas escorreram dos olhos do vampiro, e ele se deu conta, de que a vida não teria sentido se não tivesse os dois ao seu lado. Embora tenha condenado Eric a uma vida de privações, não podia deixá-lo morrer. Podia conviver com todas as mortes que causara em vida, mas não poderia, jamais, conviver com a sua.

Um morador de uma casa próxima encontrou o portão do cemitério quebrado. Descobriram uma limousine dentro do terreno e dois corpos que pareciam feitos de pó próximos do automóvel. A cena chocou os moradores curiosos que, sabendo do ocorrido, entraram no cemitério para investigar. Várias fotos foram tiradas. Quando os policiais chegaram ao local, encontraram vários corpos dentro da limousine que, ao serem tirados do veículo, queimaram diante de seus olhos e viraram poeira. As investigações os levaram ao dono da limousine, de nome Thibuat Naudé, que há alguns meses comprara uma casa na cidade. O mais surpreendente do caso foi a descoberta de mais de cinquenta arquivos do falecido, como fotos datadas de 1840 e cartas ainda mais antigas, com a assinatura de Thibaut, levando-os a crer que este tinha mais de trezentos e cinquenta anos. Aquele que estava junto a ele, Sylvian Boulle, também foi investigado. Encontraram, inclusive, numa coleção particular de um londrino, um quadro com o retrato de Sylvian, que foi pintado em 1739 por um pintor desconhecido. Compararam o retrato com fotos atuais e não tiveram dúvidas.

Os corpos feitos de cinzas teriam sido preservados se uma chuva não os tivessem destruído. No entanto, as fotos tiradas dos falecidos foram examinadas por peritos de diferentes países e todos chegaram a mesma conclusão: Sylvian e Thibaut eram vampiros. Os resultados das investigações correram o mundo e levantaram uma questão: há outros vampiros entre nós?


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