Foi tudo muito rápido e eu nem se quer vi a Kate respirar de novo. Só vi seu vulto passar por mim e ouvi o barulho do corpo da Bia bater com força na parede. Olhei o chão e vi os pingos de sangue e o grito de dor que saiu da garganta da Bianca.

– Kate! – o Rick gritou indo em direção a ela.

Quando virei, encontrei uma cena que nunca havia imaginado. O sangue sujava o chão branco do quarto.

Finalmente movi minhas pernas, mas infelizmente não cheguei primeiro que o Rick. Ele puxou a Kate e imediatamente ela se virou e pegou ele pelo braço e jogou seu corpo no outro lado do quarto.

Pude ver o sangue no seu rosto e de onde saia o que sujava o chão: da Bia. Ela tinha mesmo mordido a sua amiga?

Cheguei perto dela, mas antes de tocar nela, ela se se virou e bateu o braço em mim fazendo meu corpo escorregar pelo chão. Recompus-me e fui de novo e dessa vez girei seu corpo fazendo ela me olhar.

– Katherine! – por algum motivo ela me ouviu e olhou confusa. Os olhos num vermelho vivo, o rosto pálido e as presas a mostra a tornando assustadora.

Ela ficou me encarando e eu segurei com força os seus braços.

– Kate! – falei em voz baixa e aos poucos seus olhos foram voltando ao normal, as bochechas ganhando cor e as presas diminuindo.

O cheiro de sangue invadiu minhas narinas e olhei brevemente para a Bia que se sentou com a mão no pescoço. Vi a Claire entrar no quarto assustada e se abaixar ao lado da Bia.

Voltei a olhar a Kate e vi uma lágrima descer pelo seu rosto.

– Desculpa! – ela falou em voz baixa.

Puxei-lhe para um abraço e apenas sussurrei perto do seu ouvido: “você ainda é uma vampira!”.

Soltei-me dela e fui me abaixando ao lado da Bia que mantinha a mão no pescoço e respirava com certa dificuldade. Vampiros não podiam morder elementares!

– Se ela morrer agora a culpa vai ser toda dessa vampira ai! – a Claire falou irritada.

– Os poderes estão anulados, acho que não matar ela! – o Rick estava vindo para perto de nós.

– Bianca, me desculpa, desculpa, por favor! – a Kate falava baixo atrás de mim.

– Está tudo bem! – a Bia falou em voz baixa.

– O Rick tem razão, os poderes estão anulados e não deve funcionar!– falei por fim.

– E quem garante isso Felipe? – a Claire perguntou.

– Não é garantia, é a verdade! – respondi ríspido.

– Está tudo bem! – a Bia falou de novo.

– Vem! – estendi minha mão para ela que pegou e veio comigo.

A Kate ficou um pouco afastada como se sentisse vergonha, a Claire me ajudou com um curativo e ainda bem que não aconteceu nada com a Bia além de uma mordida.

...

Todos estavam bem, ou quase. A Kate com expressão preocupada, a Bia estava conosco, a Claire estava bem e o Rick nunca esteve em perigo.

Tudo estava na perfeita ordem, nós só precisávamos voltar pro Rio e finalmente todos os elementos juntos.

A Claire não queria esperar outro dia, estava com medo da FEM nos encontrar e ia ser pior e eu tinha que concordar. Ela arrumou a mochila e mais uma vez olhou desconfiada para a Kate, peguei a minha e esperei.

A Bia tomou um banho rápido e logo depois a Kate que mal conversou comigo e estava um pouco estranha. Também depois do que aconteceu.

Descemos todos juntos e a Claire agradeceu a recepcionista e pagou tudo. Nós sabíamos que se a FEM viesse procurar por nÓs aqui na cidade e encontrasse esse hotel ela com certeza contaria, e então era arriscado demais ficar mais tempo por aqui.

Ainda bem que a rodoviária não estava vazia e isso era bom, pois dava para ficar no meio das pessoas e passar despercebido.

Chegamos ao nosso embarque e eu fui me sentar atrás junto da Kate. A Claire se sentou mais na frente com uma mulher do seu lado, a Bia ao lado do Rick.

Não que isso me incomodasse. Só que eu sabia que ela logo voltaria com ele e isso era bom, ou quase bom. Enfim eu só tinha que sufocar essa raiva que às vezes vinha e esquecer.

...

A Kate ficou em silencio olhando a janela, eu tinha que conversar! Será que ela não estava bem? Tinha que dizer que estava tudo bem, ou quase bem!

– Ei loira! – estendi a mão tirando uma mecha de cabelo que estava formando uma cortina entre nós.

Ela se virou e deu um sorriso desanimado e voltou a fitar a janela. Inclinei-me um pouco ate conseguir ver seu rosto de novo.

– Tudo bem Kate?

– Tudo Felipe!- respondeu em voz baixa

– O que foi? Me conta o está pensando!

– Nada! – ela se virou pra mim.

– Você nem conversou direito com a gente e está ai toda calada, conversa comigo, só comigo então! – fiz um biquinho e ela soltou um riso de sino e me olhou profundamente.

– Ela vai me odiar!

– Não! Claro que não! – passei a mão no seu rosto.

– Eu não sei o que aconteceu! Foi tudo tão estranho!

– Foi o que a FEM jogou em você! Pode ter tirado seu controle, e ela não vai te odiar por isso!

– Ai! Estou me sentindo a pior amiga do mundo!

– Você não é Kate, e ela esta bem, é isso que importa!

Ela suspirou e depois sorriu.

– Senti sua falta meu anjo! – estendi os braços para um abraço que eu tanto senti falta.

– Também senti sua falta loira! – falei no seu ouvido.

Ela se afastou e segurou meu rosto entre as mãos para me olhar.

– Obrigado! Por toda essa paciência!

– Sempre! – beijei sua testa.

– Cuida dela! Acho que a pessoa que ela quer que faça isso é você!

Suspirei, eu não ia falar nada agora, não queria dizer que tinha que me afastar da Bia e que faria isso assim que chegássemos ao Rio.

Assenti e sentei direito fitando a cadeira da frente, ela suspirou e colocou a cabeça no meu ombro.

Eu só queria que a Bia ficasse bem e não queria causar nenhum problema a ela e eu não causaria, não mais.

***

Rick

Fiquei feliz por a Bia ter ido se sentar ao meu lado e não do Pedrita do Felipe. Eu estava rindo por dentro e ao mesmo tempo morrendo de preocupação.

Eu sabia que a culpa não era da Kate, ela nunca faria isso de proposito com a Bia e eu estava preocupado com ela também.

Ela ficou em silencio como se estivesse cansada demais pra falar. A loira foi se sentar com o Felipe e a mal educada da Claire ficou sentada com uma mulher em algum banco da frente.

Observei pelo canto do olho a Bia olhando para o outro lado, a franja caindo no rosto e seu perfume chegando ate mim por causa do vento que vinha da janela.

– No que está pensando? – perguntei em voz baixa e ela se virou pra mim.

– Em... Nada especial!

– Fiquei preocupado!

– Eu estou bem Rick, foi um acidente!

– É. Eu sei!

– Fiquei preocupada com vocês! – ela riu.

– Eu fico feliz que a teimosa ali tenha aceitado vir conosco, parece que o Felipe tem o dom de convencer as mulheres não é?

Sua expressão mudou e ela ficou meio triste e depois forçou um sorriso.

– Ele é muito melhor do que nós com as palavras!

– Talvez! – sorri.

Fiquei em silencio apenas deixando alguns minutos se passarem. Eu sabia que por mais que a Bia tivesse dito que não tinha nenhuma magoa de mim e que estava tudo bem, mas eu queria ter certeza de que “nós” realmente tínhamos acabado.

– Bia... – ela se virou pra mim. – Você e o Felipe tem alguma coisa? – olhei meio sem graça de perguntar isso.

– O que? Claro que não!

Olhei meio desconfiado, porque na verdade não era isso que eu via, pelo menos não da parte dela.

– Por que está perguntando isso? – ela falou meio irritada.

– Nada, é que eu percebi que vocês dois ficaram bem próximos!

– Eu não tenho nada com o Felipe além de amizade!

Apenas suspirei e olhei pra ela que estava de novo virada para a janela.

– Sabe... – comecei. – Aquele dia em que tudo aconteceu, eu fui ate o seu quarto te procurar e acabei fazendo a maior bobagem da minha vida. Quando você entrou no quarto e eu te vi, primeiro veio confusão e depois arrependimento. Talvez a vida não seja muito justa, ou nós não somos justos. Ou então isso tudo aconteceu pra nos levar ao caminho certo, porque talvez não pertencemos um ao outro!

Ela se virou para me olhar e ficou me encarando, absorvendo minhas palavras e depois apenas se aproximou e sorriu.

– Eu realmente sinto muito pelo o que aconteceu conosco e nunca tinha imaginado isso e que ouviria isso de você e concordaria. – ela falou em voz baixa.

– Só não queria que tivesse terminado daquela forma!

– Nem eu! – ela se virou mais se aproximando.

Sorri e ela me abraçou carinhosamente. Por um momento eu queria que tudo voltasse como era antes, mas quando me lembro do Felipe, o maldito Felipe e eu penso que ela não pertence mais a mim.

***

Felipe

Se eu pudesse explodir com certeza já teria explodido!

Os dias passavam devagar, já estava fazendo uma semana mais ou menos que nós tínhamos voltado do Paraná. A Claire já tinha se adaptado e agora dividia um quarto com a Bia e eu estava ocupando um novo. A Bia ficou bem e tinha ate voltado ao trabalho na padaria e claro que sua amizade com a Kate não mudou em nada. A loira a cada cinco minutos pedia desculpas.

Ainda bem que consegui o meu trabalho de volta e agora eu saia um pouco mais tarde e assim que chegava ia direto para algumas aulas com o João. A Claire era a nova parceira de treinamento do Rick e eu tinha que admitir que ela era muito boa, apesar de sempre ver eles discutindo por alguma coisa. A Bia estava treinando com a Kate e eu às vezes ajudava, era pra eu ser o parceiro dela mais preferi não arriscar e já que a Claire vivia dizendo que era para me afastar, era isso que eu estava fazendo. Tentando ficar o mais longe possível dela e apenas sorrindo quando a via.

Doía-me bastante ter que ficar longe e sim, eu estava evitando ela.

O que eu queria mesmo era sair à noite para dar uma olhada nos vampiros, hoje à noite a Kate ficou de ir comigo, ela não queria deixar que eu fosse sozinho.

Felizmente meus machucados se curaram conforme a Bia foi tendo os poderes de volta e agora eu me sentia muito bem.

A Kate vivia dizendo que não para eu me esforçar muito e eu apenas concordava apesar disso não ser verdade. Tudo era a mesma coisa por aqui, exceto pelo fato dos quatro dominadores estarem vivendo no mesmo teto.

...

Sai da lanchonete e peguei minha moto que eu ainda tentava arrumar. O vento frio batia no meu rosto e assim que desci da moto fui direto para a praça onde tinha combinado de encontrar a Kate.

Fiquei ali vendo as arvores balançarem com o vento. Olhei para trás e vi a figura linda, como um anjo vindo em minha direção.

– Oi Lipes! – ela sorriu me dando um beijo no rosto.

– Oi loira!

– Desculpe a demora, eu tive que arrumar algumas coisas no café e a Bia teve que sair correndo pra ajudar o Rick com alguma coisa!

– O Rick? – perguntei meio que involuntário. Que droga!

– É sim! – ela sorriu e eu sabia o que ela havia pensado.

– Legal! – falei baixo.

– Podemos ir então anjo?

– Claro! – lhe entreguei um capacete.

A Kate era uma boa amiga e acho que o que aconteceu entre nós só serviu para nos unir ainda mais.

Chegamos perto da praia de Ipanema onde aconteciam os ataques mais frequentes. Eu definitivamente não estava a fim de vir em viagem perdida e queria logo tirar esses vampiros assassinos da cidade de vez.

– Você pode ir pra lá, acho que se nos separarmos será mais fácil e daqui a meia hora podemos nos encontrar aqui de novo! – a Kate falou observando algumas pessoas na rua.

– Tudo bem! Liga se achar alguma coisa!

– Ok!

Ela foi para o lado oposto do meu e andei depressa pela rua, algumas pessoas me observavam curiosas. Entrei numa rua estreita e olhei em volta procurando alguma coisa estranha, mas não tinha nada por ali.

Se eu fosse um vampiro, onde me esconderia para logo depois atacar pessoas na cidade? Era mesmo uma boa pergunta e com uma resposta muito difícil.

Andei por todo o quarteirão e nada, parece que os vampiros resolveram não atacar hoje.

Não sei que horas voltei onde tinha marcado de encontrar a Kate, mas quando cheguei, ela já estava ali.

– Parece que eles adivinharam e não vieram atacar hoje! – ela falou.

– Muita coincidência!

– Pode ser! Ou falta de sorte mesmo!

Dei de ombros e estendi a mão pra ela.

– Vamos embora então?

– Claro gatinho! – ela sorriu pegando minha mão.

Andamos de mãos dadas ate chegarmos à praça perto da padaria, já estava ficando mais frio e eu só queria tomar banho e tentar dormir.

– Amanha, por favor, seja muito legal com Bia e compre um lindo presente!

– Por quê? Não percebeu que estou evitando ela?

– Mais um motivo para dar um lindo presente! Mas é que amanha ela completa 19 aninhos e acho que mesmo como um amigo que a esteja evitando o aniversário deve ser lembrado!

– Isso não é mais truque pra me aproximar dela né?

– Acha que eu mentiria o dia do aniversário dela? – ela deu um sorriso malicioso.

– Talvez!

– Você é cruel comigo! Claro que nunca faria isso!

– Tudo bem! Eu vou tentar dar um presente! Satisfeita?

– Muito! – ela sorriu e depois me deu um beijo na bochecha. – Preciso ir! Arrume por favor, o melhor presente!

– Pode deixar Kate! Tchau! A gente se vê!

– A gente se vê!

Fiquei olhando ela seguir rumo a sua casa e depois andei devagar ate chegar à que agora era “minha casa”.

...

Tomei um banho rápido e fui me deitar. Fiquei olhando o teto e pensando se o que eu estava fazendo era mesmo o melhor! Pelo que observava o que aconteceu com a Bia e o Rick foi o suficiente para fazer ela se afastar, ou pelo menos não querer mais nada com ele.

Talvez eu fosse idiota mesmo e não estava me afastando porque queria proteger ela e sim porque tinha medo dos meus sentimentos, talvez a Kate tivesse razão. Eu estava fugindo deles!

***

Bia

Olhei o relógio e marcava 5 horas e 18 minutos. Virei de lado encontrando a Claire num sono profundo. Seu rosto delicado, traços perfeitamente lindos. Ela podia ser o sonho de qualquer garoto.

Suspirei e me levantei e troquei de roupa, vesti uma calça jeans clara, blusa branca com estampa de caveira, meu casaco, um all star.

– Feliz aniversário! – me virei encontrando a Claire com um pequeno presente nas mãos.

Eu nem ouvi ela se levantar ou se quer pegar alguma coisa.Fiquei para paralisada e olhei meio perdida.

– Nem faça essa cara, eu fiquei sabendo que hoje você completa 19 anos e tinha que te dar alguma coisa! – ela estendeu o presente.

– Nossa Claire, eu tinha ate me esquecido, acho que tanta confusão me fez esquecer. E não precisava.

– Claro que precisava!

– Obrigado! – sorri e peguei o presente.

Ela deu um sorriso animador. Puxei o pequeno laço e tirei o que tinha dentro. Uma pulseira prateada com strass, era linda.

– Não é muito, mas é de coração!

– Está brincando? É lindo! – dei um sorriso e coloquei a pulseira.

– Que bom que gostou!

– Muito obrigado Claire! – lhe dei um abraço e ela sorriu contente.

Peteei os cabelos e deixei soltos. Peguei minha bolsa branca e sai acenando para a Claire que penteava os cabelos.

Passei pelo corredor e muitas pessoas diziam: “feliz aniversario Bia!”. Agradeci e desci as escadas. Assim que sai encontrei o Rick encostado no muro com um embrulho nas mãos, os cabelos castanhos meio bagunçados e ele sempre lindo.

– Parabéns! – ele sorriu e me entregou seu presente.

– Obrigado Rick! – sorri pegando e lhe dando um abraço. Sua pele sempre quente fez meu corpo arrepiar, eu tinha me desacostumado com a sua temperatura.

– Por nada! – ele sorriu e me deu um beijo na testa.

Abri com um sorriso e peguei com cuidado um pequeno urso de pelúcia branco segurando um coração que dizia: Eu te amo!

Fiquei olhando o ursinho e depois um sorriso bobo saiu de mim. Olhei para o Rick que deu um sorriso tímido.

– A Rick é lindo! Eu nunca ganhei um destes!

– Fico feliz que tenha gostado! E que eu te amo, e sempre vou amar, mesmo sendo só uma amiga! – senti meu rosto corar e olhei pra baixo.

– Também te amo, como um bom amigo! – falei baixo.

– É bom ouvir isso! – ele riu e levantei o olhar e sorri.

– É muito lindo mesmo Rick! Muito obrigado!

– De nada B e feliz aniversario!

– Obrigado! Agora eu preciso ir!

– Tchau!

– Tchau! – levantei nas pontas dos pés e dei um beijo na sua bochecha.

...

Entrei na padaria e a Kate estava arrumando algumas mesas, ela se virou e sorriu e só vi seu vulto passar por mim e um segundo depois estar a minha frente com uma sacola nas mãos e um sorriso lindo.

– A não Kate!

– Feliz aniversario Best! – ela me entregou a sacola rosa choque.

– Obrigada loira! – lhe dei um abraço forte demais. Mesmo depois do que aconteceu eu não tinha o direito de ficar com raiva dela, afinal fui quem quis dar meu sangue e ela não tinha culpa. Era minha amiga e não seria isso que ia nos separar.

– Abre, abre! – ela estava mais empolgada do que eu!

Tirei da sacola um embrulho rosa e com um laço. Abri com cuidado encontrando um vestido lindo. Era azul claro com detalhes em renda, era tão delicado e perfeito.

Sorri satisfeita e olhei para ela que tinha um sorriso enorme no rosto.

– Gostou?

– Se eu gostei? Eu amei Kate! Muito obrigado, ele é lindo!

– Eu fico tão feliz que você gostou, foi bem difícil de escolher! - ela revirou os olhos.

– Obrigada amiga!

– De nada Bia! – ela me abraçou de novo.

...

Eu nem acreditava que estava completando 19 anos, era muito tempo mesmo. Um bom tempo e uma boa época.

Fiquei ali feliz pelos presentes e das pessoas que eu tanto amava terem lembrado e sim eu tinha aprendido a gostar da Claire. Ela era um pouco diferente de mim e isso a tornava especial. Mesmo sendo a mais nova, com apenas 17 anos ela era muito especial.

Mais algo em mim estava meio triste, eu tinha percebido que desde que voltamos o Felipe estava evitando minha presença e isso não era bom. Eu não era a melhor pessoa do mundo, mas gostava muito dele e só queria saber o que estava acontecendo e porque ele estava me evitando.

Talvez fosse pela aquela historia da conexão, ou porque ele não queria mesmo ficar perto de mim.

Suspirei e olhei a Kate atender mais um cliente. Eu nunca tinha tocado no assunto sobre ela e o Felipe e de certeza forma eu queria perguntar, talvez ele estivesse me evitando porque estava de vez com a Kate e não queria me contar. Ela é linda e não teria um porque dele não ficar com ela.

Assim o cliente saiu ela olhou no relógio que marcava 4 horas e como hoje era sábado nós fechávamos mais cedo. Ela se dirigiu ate a frente e foi fechando as portas.

Eu tinha que conversar com ela, tinha que tirar essa dúvida.

– Kate! – falei baixo mais sabia que ela ouviria.

– O que? – ela se virou.

– Por que não me contou o que aconteceu entre você e o Felipe? – perguntei de cara. Ela me olhou surpresa e veio parando de frente ao balcão.

– Bom... Bia eu e o Felipe não temos nada, o que aconteceu foi... Foi. Eu não contei porque ele pediu e ele mesmo te contou, não foi?

Assenti meio sem graça. Por que eu estava perguntando isso pra ela? Eu não tinha nada a ver.

– Desculpa!

– Tudo bem! Mas quero que saiba que eu e ele somos só amigos e mais nada!

– Não é isso! Eu fico feliz por vocês e acho que seria ótimo se estivessem juntos!

– Mais não estamos e nem vamos ficar! – ela riu.

Sorri de novo sem graça e ela foi de novo terminar de fechar as portas. Suspirei de vergonha, como eu era idiota, uma completa idiota!

...

Peguei a bolsa e a Kate saiu junto comigo tagarelando, ela estava mesmo animada hoje.

Meu coração quase parou quando o vi com um sorriso tímido e o capacete da moto nas mãos. Ouvi a Kate tossir ao meu lado e olhei pra ela que deu um sorriso e respirei tentando fazer meu coração voltar ao seu ritmo normal, o que ele pensaria? Que eu era louca?

– Oi! – ele falou em voz baixa.

– Oi anjinho! – a Kate correu lhe dando um abraço e ele sorriu. Senti-me um pouco intrometida.

– Oi! – respondi quase num sussurro e ele deu um sorriso torto.

– Eu já vou! Ate mais Bia e ate Lipe! – a Kate falou com um sorriso. Por que ela iria agora e me deixaria aqui com ele?

– Tchau loira! – ele sorriu.

– Tchau Kate! – fiz uma expressão para que ela ficasse. Ela notou mais deu um sorriso malicioso e saiu.

Respirei devagar e seu aroma veio, o cheiro de menta, delicado e doce. Fiquei fitando o chão, eu não sabia que falar.

– Como você esta? – ele perguntou quebrando o silencio.

– Bem e você? – olhei pra ele e me arrependi porque meu coração disparou de novo.

– Bem! – ele deu de novo o sorriso torto e que por sinal era lindo.

– Bom... Eu já estava indo embora! – eu queria fugir dali.

– É. Eu sei, e por isso eu vim! – olhei meio surpresa. – Queria te mostrar uma coisa!

Fiquei meio pasma e muda. Ele olhou sem graça.

– Tudo bem!

– Legal! Pode ir agora?

– Claro!

...

Fiquei mais aliviada de ser no instituto mesmo, eu não queria andar de moto, acho que morreria por ficar tão perto dele.

Assim que chegamos no pátio ele parou, me olhou e percebi que estava meio corado. Eu não sabia como ele conseguia ficar cada vez mais lindo.

– Vai ter que tampar os olhos!

– O que? – olhei meio confusa e ele tirou uma venda preta da mochila.

– É uma surpresa! – ele se aproximou. Apenas assenti e senti ele ficando mais perto, ate colocar a venda nos meus olhos e tirar meu cabelo para não atrapalhar, fazendo todo o meu corpo se arrepiar com seu toque. – Dá a mão!

Estendi a mão e ele a pegou. Saiu me guiando com cuidado e eu não fazia ideia de onde estava me levando. Subimos algumas escadas e finalmente ele nos parou.

– Pronta? – ele perguntou com a voz perto de mim.

– Acho que sim! – sorri.

Ele puxou tirando a venda e senti tudo dentro de mim explodir. Um sorriso saiu do meu rosto e olhei admirada o lugar. Era o terraço só que totalmente diferente. Parecia até mais iluminado, tinha flores por todos os lados, cada uma mais linda que a outra. Estava cheio de vida de novo, parecia um verdadeiro jardim daqueles filmes.

Olhei de novo admirada e depois me virem para ele.

– Felipe... Está lindo demais!

– Está mesmo! – ele deu um sorriso satisfeito.

– Eu não sei nem o que dizer, ficou maravilhoso!

– Mais eu sei o que dizer! – ele andou ate a mesinha branca e pegou um vaso e me entregou. Olhei curiosa porque só tinha terra.

Ele se aproximou e colocou as suas mãos em cima das minhas. Senti algo passar por elas e olhei atenta para o vaso. Um caule começou a se formar e crescer, foi se contorcendo e eu não entendi o que era, ate as formas começarem a aparecer. Foi se formando ate ficar completo e ali estava um Feliz aniversário perfeito a minha frente, daquele pequeno caule se formou a pequena frase.

Olhei surpresa e depois olhei o Felipe que deu um sorriso angelical.

– Feliz aniversário Bianca! – ele falou em voz baixa. Não consegui dizer nada apenas um sorriso saiu. Ele tirou suas mãos e ficou e observando em silencio.

– Obrigado Felipe, é lindo! Quer dizer é o presente mais diferente que já ganhei!

– Isso é bom ou ruim?

– Isso é ótimo!

...

Eu estava feliz por ele estar falando comigo de novo e ainda mais pelo o que ele fez no terraço. Nós sentamos para observar a cidade, mas eu não conseguia ver nada a não ser seu lindo rosto e sentir seu perfume.

– Qual sua flor favorita? – ele perguntou de repente se virando para me olhar.

Fiquei muda, os seus olhos verdes era hipnotizantes e ele me olhava esperando a minha resposta.

– Hum... – olhei em volta procurando. – A sempre-viva!

– Serio? – assenti. – É a minha também!

– Está brincando né?

– Claro que não! É a minha favorita!

– Por quê? – olhei curiosa.

– Por que... Mesmo sendo pequena e por mais que pareça frágil, ela esta sempre ali e viva, e sempre linda, sem medo de onde vão coloca-la... Por que...

– Não desiste de lutar pelo o que quer! – falamos juntos e ele me encarou surpreso. Senti meu rosto corar pelo seu olhar e desvie rapidamente.

– Parece que temos uma coisa em comum!

– Pois é! – falei e voltei a olha-lo.

Senti meu coração acelerar e não senti mais nada a minha volta, só os seus olhos verdes e lindos, sua presença bastava. Ele estendeu a mão para acariciar meu rosto e sorriu, meu rosto devia estar vermelho.

– Desculpa por ter me afastado!

Apenas sorri e abaixei o olhar brevemente. Ele se aproximou e seu perfume invadiu minha mente, me senti pressa ali, pressa a ele. Mas eu não queria me soltar, queria ficar.

Não pensei duas vezes e me aproximei também, ficamos a centímetros um do outro. Seus olhos eram ainda mais lindos de perto, ele era ainda mais lindo. Não pude deixar de sorrir e ele roçou o nariz no meu, fazendo uma corrente elétrica percorrer meu corpo e depois com todo o cuidado seus lábios se uniu aos meus, fazendo o mundo a minha volta parar.