Minha mente estava vazia, abri os olhos ainda sentindo dor, olhei em volta encontrando paredes brancas, uma janela ampla com cortinas, e a cama com lençóis azuis onde eu estava. Sentei observando e tentando me lembrar de quando fui parar ali.

Levantei olhando o quarto, estava num hotel? Eu não fazia ideia de como havia parado ali.

Sai do quarto e andei pelo corredor, era sim um hotel e dos melhores. Desci as escadas ate chegar à recepção onde tinha uma moça de cabelos curtos.

Parei no balcão e ela sorriu como se me conhecesse.

- Oi! – falei.

- Oi! Você esta melhor? – olhei confuso.

- Estou sim, obrigado!

- Ah! Não se preocupe ela disse que vai voltar logo, só foi buscar uns remédios! – ela quem? A Kate?

- Ela...

- A garota que esta com você, sua namorada?

- Não! – apesar de não saber quem era. Eu não tinha namorada mesmo. – Desculpa, eu estou meio confuso, na verdade nem sei como cheguei aqui e quem está comigo!

- É verdade você chegou desmaiado, a garota que está com você tem os cabelos compridos, pele clara, muito bonita, Stella é este o nome dela!

- Stella? – quem?

- Isso mesmo! – ela sorriu.

- Claro! Muito obrigado! – mas onde estavam os outros? – Você disse que ela foi comprar os remédios e por acaso você sabe onde é?

- Desculpe, mas ela disse que se você acordasse era melhor ficar no quarto que ela já voltaria logo.

- Claro! Talvez seja melhor ficar no quarto. – sorri. – Eu vou voltar então, muito obrigado!

- Qualquer coisa é só chamar!

- Obrigado! – virei voltando a subir as escadas.

Entrei no quarto e comecei a procurar e não tinha nada ali, era a Claire, eu acho. Sentei na cama e suspirei, onde estava a Bia? Onde estavam os outros? Mais que droga!

Olhei minha mão e tinha um corte ali, onde eu havia segurado o canivete, a pequena dor me veio do machucado no meu peito causado pela bendita estaca. Levantei a camisa para olhar e parecia ter melhorado, embora ainda doesse.

Passaram-se alguns minutos, apenas fiquei olhando os detalhes do quarto, alias onde ela tinha arrumado dinheiro para pagar um hotel assim?

Assustei-me com a porta se fechando e virei para olhar.

- Que bom que você já acordou! – era mesmo a Claire.

Ela andou deixando algumas sacolas na mesa. Percebi que tinha trocado de roupa, usava uma calça jeans clara, blusa vermelha de mangas com alguns detalhes em renda, os cabelos estava soltos caindo em ondas e pude sentir seu perfume delicado.

- Onde a gente está? – perguntei enquanto ela pegava uma garrafa de vinho.

- Paraná!

- Cadê a Kate, o Henrique e a Bianca? – ela me estendeu um copo e eu neguei com a cabeça.

- Eu não sei! – ela sorriu.

- Como assim não sabe? E o que eu estou fazendo aqui com você?

- Salvei sua vida, devia começar me agradecendo e depois fazer as perguntas.

- Como saímos da floresta? E por que não sabe onde os outros estão? Como está pagando este hotel? E...

- Ei calma ai gato! Vai devagar com as perguntas. – ela se sentou na cama ao meu lado. – Primeiro eu não sei onde estão porque nos separamos, segundo eu tirei você da floresta porque se não a FEM ia levar você, terceiro eu posso ter cara de quem não trabalha, mas por incrível que pareça eu trabalho e muito bem e tenho dinheiro guardado.

- Por que nós separamos dos outros?

- Foi melhor assim!

- O que? Eu não estou entendo nada! – levantei andando pelo quarto.

- Felipe você vai precisar confiar em mim, coloquei vocês nessa e agora tenho que tirar.

- Confiar em você? Depois de ter quase matado a gente quer que eu confie em você? Eu nem sei quem a Claire ou Stella, sei lá.

- Stella é um nome que eu uso para não deixar rastros e a Claire... Não aquela que você viu, aquela estava cega por vingança e não se importou em colocar pessoas que nem conhecia em perigo, a verdadeira Claire não é assim.

- Por que estou com você?

- Porque a Kate achou melhor assim.

- A Kate? Quantas horas são? Quer dizer, quanto tempo tem que a gente saiu de lá? – eu nem fazia ideia de que horas eram.

- São 14 horas e já faz dois dias que saímos de lá! – ela falou isso em voz baixa.

Dois dias? Eu dormi por dois dias!

- Eu dormi por dois dias? – olhei indignado.

- Sim. – ela falou como se fosse normal.

- Por que não me acordou?

- Eu tentei, mas acho que a conexão fez isso e se você acordou agora a Bianca deve ter acordado também e agora vamos saber o que esta acontecendo com ela, já que você sente tudo o que ela sente.

- Mas...

- Pelo que vi a conexão está completa e só uma pergunta: Vocês... Ficaram juntos?

- Não, claro que não! – não acredito nisso.

- Nem um beijo?

- Claro que não, por que está perguntando?

- Mas... – ela levantou e veio em minha direção pegando minha mão para olhar o corte e depois virou observando meu pescoço.

- O que foi?

- Se não tiveram contato físico mais intimo e você não tem o mesmo machucado dela, a conexão não está completa! Então por que você ficou desacordado esse tempo?

Parei para pensar, se essa tal de conexão não tinha sido completa, o que estava acontecendo comigo?

***

Rick

Minha mente estava confusa e eu podia sentir a dor borbulhar dentro de mim, o que faríamos? Nem a Kate, quanto menos eu, sabíamos o que fazer, se eles a matassem?

- Rick, vem! – a Kate me chamava.

- Kate a gente precisa voltar, acho que você se esqueceu de que eu não sou um vampiro, não aguento mais, já faz dois dias que não como direito e minha cabeça parece que vai explodir e preciso parar!

- Rick eu sei que está sendo difícil, mas precisamos fazer, pela Bia, por favor! – ele se ajoelhou ao meu lado.

Seus olhos dourados suplicavam e eu sabia que tinha fazer isso se quisesse salvar a Bia.

- Vai ficar me devendo um ano grátis de lanche na padaria viu loira! – ela sorriu me puxando.

A mata era uma grande porcaria, cheia de mosquitos e tudo mais e antes tivemos que fugir e não deu tempo de tirar a Bia e isso me deixava com raiva. Eu me perguntava se a FEM estava machucando ela e queria invadir aquele lugar tira-la de lá.

A Kate achou melhor a Claire mal educada levar o cabeça de pedra já que ele tinha entrado num sono profundo. Grande idiotice isso, se ele estava mesmo conectado na Bia era pra ficar conosco para sabermos se ela estava bem.

Eu estava cansado e não aguentava mais ficar dando voltas para deixar nosso rastro, eu queria invadir a porcaria da FEM logo e tirar a Bia e ir embora.

- Olha só Rick! – a Kate apontava para algo no chão.

Olhei atentamente, era certo tipo de animal todo sujo de sangue e tinha um cheiro horrível.

- Mais que droga, eu não quero ver isso! Vampiros atacando animais indefesos.

- Não é um vampiro qualquer! – ela andou virando o animal para ver a mordida no pescoço.

- Que nojo Kate, tira a mão disso! – falei fazendo uma careta com o cheiro.

- Parece que temos companhia por aqui, um vampiro dotado.

- O que? Pensei que vampiros com dom tinham que se alimentar de sangue humano e não de animais!

- É sim, mas quando não tem precisamos de algo, e por isso meu dom se foi já que não estou bebendo sangue humano. E parece que nosso vampiro aqui também não.

- O que nós temos haver com isso? Vamos voltar a andar e ir atrás da Bia.

- Rick se tem mais vampiros por aqui pode ser perigoso, eu não tenho certeza de que pode ser mais jovem do que eu.

- Tudo bem! O que a gente faz então?

- Sai! – ela gritou e se moveu ficando na minha nas minhas costas. Virei-me para ver e algo tinha acertado ela.

O agente da FEM estava ali com uma arma apontada para nós.

- Rick sai! – ela ordenou com uma voz fraca.

- Claro que não! – esquentei as mãos fazendo uma bola de fogo e atirei no homem que parecia estar sozinho.

Não foi algo bonito de se ver, mas entre ele e eu é claro que me escolho.

Sorri satisfeito e andei ate ficar de frente para a Kate e me assustei. Ela estava mais pálida que o normal, os olhos num vermelho sangue vivo e as presas a mostra, mas não parecia ameaçadora e sim sentir dor.

- Kate o que foi? – perguntei me aproximando. Ela não respondeu apenas abaixou a mão para tirar algo. Acompanhei seu olhar encontrando uma mesma seringa igual a que a Bia tinha levado.

Ela tirou e deixou cair, respirou com dificuldade e eu não conseguia entender, se ela era uma vampira, essas seringas devia funcionar só em mutantes comuns, não nela.

- Deve ser feita para vampiros! – ela respondeu aos meus pensamentos.

- O que você está sentindo?

- Está... – ela não terminou e caiu desmaiando.

- Kate? Kate! – abaixei ao seu lado. Ela parecia não respirar.

- Não, não, não. Kate fala comigo, Kate! – mais que droga o que era essa merda de seringa?

Eu estava perdido, sem a Kate, a Bia com a FEM, O Felipe de boa com a Claire e eu sozinho.

***

Bia

Abri os olhos encontrando uma sala escura, minha cabeça estava doendo e não me lembrava de onde estava e nem como fui parar ali. Só me lembro da dor e da escuridão.

Eu estava no chão, mas estava tão escuro que eu não conseguia ver direito, me sentei e tudo girou, mas que droga de lugar era esse?

A porta se abriu e dois homens entraram, olhei atentamente suas roupas e tinha símbolos da FEM, pera ai, eu estava na FEM? E os outros?

- Que bom que já acordou dominadora! – um deles falou e outro me puxou pelo braço me fazendo ficar de pé.

Minha voz não saia, estava tudo confuso e eu me sentia fraca demais para caminhar, então os dois me puxou, um deles colocou algemas e eles começaram a me puxar para fora.

Eu mal conseguia dar os passos então fui praticamente arrastada ate uma sala que mais parecia um laboratório, me levaram ate uma parede laminada e prenderam minhas mãos e pés. Com certeza eu não fugiria, minha fraqueza na deixava.

- É um prazer tê-la aqui elemento água! – uma mulher de cabelos castanhos presos num coque, olhos azulados e muito bonita falou pra mim.

- O que vocês querem? – finalmente minha voz saiu baixa e fraca.

- Dominadora você é um mutante único e é muito bom termos te encontrado por aqui e eu só quero fazer algumas perguntas! – ela exclamou sorridente.

- O que fizeram comigo?

- Você é poderosa demais com seus domínios, precisamos parar e daqui a pouco você estará melhor.

Ela caminhou ate pegar um pequeno controle e depois se aproximou de mim.

- Só quero saber onde estão seus amigos? – quer dizer que eles não estavam com eles!

- Não estão aqui?

- Claro que não, foram mais espertos e conseguiram fugir deixando você para trás! – eles me deixaram?

- Mas certamente você deve saber pra onde eles foram!

- Eu nem sabia que tinham fugido!

- Tudo bem, mas só me diga pra onde foram!

- Eu não sei! – realmente eu na sabia.

- Está mentindo! E eu odeio mentiras! – ela girou o pequeno controle apertando um dos botões.

Não pude conter o grito ao sentir o choque elétrico percorrer meu corpo com toda a força.

A dor era insuportável, estava fazendo minha mete perder o foco e tudo a minha volta ficar somente em vultos.

- Não tenho muita paciência dominadora, portanto não brinque!

A dor parou e eu mal consegui respirar, definitivamente não eram meus dias de sorte.

- Onde vocês se escondem? – ela falou chegando perto.

Essa pergunta eu sabia responder, mas claro que não responderia, nunca, nem que tivesse que morrer eu não responderia sobre a instituição.

- Vai pro inferno!

Ela deu um sorriso e voltou a apertar o botão, mais um grito saiu.

Talvez eu morresse, mas uma coisa era certa, eu morreria na lealdade ao João, nunca entregaria nenhum deles.

***

Claire

Era mesmo estranho, se o sono dele não foi pela conexão, o que estava acontecendo?

- Felipe você lembra se teve algum sonho, ou sei lá... Alguma coisa?

- Não me lembro! Isso é mesmo estranho muito estranho! – ele falava enquanto enxugava os cabelos depois de sair do banho.

- Eu não entendo!

- Sinceramente, nem eu. Só estou preocupado com os outros!

Ele se sentou ao meu lado na cama.

- Claire, precisamos voltar! – ele estava maluco?

- Claro que não, ainda mais com esse seu sono súbito. Nós não vamos voltar Felipe.

Ele me olhou com raiva e se levantou.

- Se você não vai, eu vou sozinho então!

- Não! Você vai ficar aqui!

- Você não manda em mim! – ele pegou uma jaqueta e foi em direção à porta abrindo-a.

Respirei devagar e estendi a mão fazendo uma onda de ar ir ate a porta fazendo-a bater com força. Ele me olhou com raiva.

- Disse que você vai ficar aqui! – falei dando um sorriso.

- Vai me prender aqui agora?

- Se for preciso sim!

Ele suspirou e veio se sentar de novo. O sol já tinha se posto e começa a escurecer.

- Eu posso pelo menos ir comer mamãe? – ele perguntou fazendo uma careta.

- Claro filhinho, contando que eu vá com você! – dei um sorriso entrando na sua brincadeira.

Ele se levantou e foi ate porta, o segui e saímos juntos. A moça da recepção me lançou um olhar de inveja e eu apenas sorri.

Fomos ate um café ali perto, ele se sentou perto da porta e pedimos um bom lanche.

Ele ficou em silencio o tempo todo e assim que terminamos me olhou e sorriu. Eu tinha que admitir: ele era lindo. E na verdade eu só tinha que mantê-lo ali em segurança e longe da dominadora.

- Vamos? – ele se levantou.

- Sim senhor!

Andamos pela rua numa lentidão ate ele parar e olhar fixamente para uma loja.

- Felipe o que foi? – perguntei olhando para o mesmo lugar que ele e não vendo nada de anormal.

Ele não respondeu apenas me puxou ate me encostar no muro e ficar a centímetros do meu rosto. O que ele estava fazendo?

- O que você pensa que esta fazendo? – perguntei e ele tampou minha boca com a mão.

- Ali na loja, a garota de cabelos pretos é a vampira que me atacou na floresta. – ele quase sussurrou. – E parece que ela tem acompanhante! O garoto moreno é um vampiro que está atacando a cidade lá no Rio e o outro parece ser amigo dela.

- Será que estão nos seguindo? – perguntei assim que ele tirou a mão da minha boca.

- Eu não sei, mas acho que não seria nada bom eles me verem. – olhei vendo a garota que ele falava. O garoto moreno e o... Era o vampiro que tinha me atacado na noite em que estive na floresta.

- Felipe aquele ali que você não conhece me atacou na floresta quando cheguei e falou alguma coisa sobre os outros elementos e disse que queria falar com a vampira!

- A Kate?

- Deve ser! – ele me olhou confuso.

- O que ele ia querer com a Kate?

- Eu sei lá!

- Vamos voltar pro hotel!

Assenti. O seu perfume estava nublando minha mente, pude perceber a cor dos seus olhos que por sinal eram lindos.

- Vem! – ele me puxou pelo braço para andarmos abraçados.

- Que disfarce horrível! – ri baixo.

- Cala boca e anda logo! – bufei e voltei a andar.

Entramos no hotel e a recepcionista olhou desconfiada e ele me soltou e subiu as escadas numa rapidez tremenda.

- Por que ele estaria procurando pela Kate? – ele andava de um lado para o outro no quarto.

- Não sei!

- Isso é estranho! O que ele disse exatamente?

- Disse que queria falar com a vampira! – me lembrei da noite.

- Que droga! – ele suspirou.

Ambos viramos ouvindo o toque do seu celular, ele correu pegando.

- Kate! – ele olhou pra mim.

- Atende logo! – falei.

- Oi!

- Felipe, nós precisamos de ajuda! – a voz do outro lado parecia aflita.

- Rick? – o Felipe perguntou.

- Vocês precisam voltar!

- O que aconteceu?

- A FEM levou a Bia e a Kate está...

- O que? Como assim a FEM levou a Bianca?

- Não dá pra explicar agora, a Kate está mal, eu não sei o que fazer. Vocês precisam voltar. Por favor!

- O que a Kate tem?- o Felipe olhou pra mim preocupado.

- Ela está morrendo!