Quatro Elementos: O Começo escrita por Amanda Ferreira
Notas iniciais do capítulo
;D
Rick
Às vezes eu me lembro do passado e da sorte que de vez em quando aparecia. Até mesmo quando, com alguns meses eu fui deixado na porta do orfanato. Irônico! Mas verdadeiro!
Nunca soube o motivo de minha mãe ter me deixado, mas eu tenho algumas sugestões: Talvez quando ela me pegou pela primeira vez pensou que eu estava morrendo. Minha temperatura é... digamos... diferente. Tenho a temperatura mais alta que os humanos, como se eu sempre estivesse com febre. Tem também que talvez, quando eu abri os olhos, ela provavelmente se assustou. Quando os viu estranhos e avermelhados e digo isso literalmente, não como conjuntivite. Eles realmente tem um tom vermelho no fundo do castanho. Por que? Talvez porque eu tenha sorte. Como a Dona Maria vivia dizendo: “Você ai todo bonitinho, mas com esses olhos esquisitos vai espantar as pessoas!". Eu tinha que rir disso, afinal foi ela quem cuidou de mim durante doze anos. Era a mãe que eu nunca tive e que me deu todo o amor e me ensinou muitas coisas importantes.
...
Algumas crianças adoravam me colocar no seu time, diziam que eu era o melhor jogador. Sim, eu tinha que admitir que levava jeito e gostava bastante, mas as vezes preferia ficar só olhando e me perguntando o porque de ser diferente das outras crianças. Eu não queriam ser diferente, só queria encontrar uma família que me adotasse e o mais importante: que me aceitasse.
Eu era feliz vivendo ali, mesmo sabendo que algum dia teria que ir embora e traçar o meu caminho sozinho. Eu nem sabia se conseguiria ou se daria certo.
– Vem! Está na hora do almoço! - a Dona Maria cutucava meu braço chamando.
– Tudo bem. - respondi desanimado.
– No está pensando meu querido? - ela se sentou ao meu lado e segurou minha mão.
– Quando eu tiver que sair daqui. - suspirei. Ela me olhou e sorriu.
– A vida lá fora não é fácil Henrique, mas não impossível e tenho certeza que você vai conseguir vencer. - pensei por um minuto em suas palavras.
– Talvez. - respondi.
– Nunca se esqueça que você é especial e a vida vai sempre tentar te derrubar, mas você pode ser melhor que ela. Você é melhor.
Assenti dando um sorriso torto. Ela esticou os braços me apertando em seguida num abraço caloroso.
– Agora vamos logo ou vai tudo esfriar!
...
Eu sempre me pergunto por que a vida é tão injusta, porque coisas inesperadas acontecem e te destroem por dentro.
Lembro-me exatamente do pior dia da minha vida, onde tudo se desmoronou e caiu sobre minha cabeça.
Eu tinha apenas doze anos e já tinha algumas responsabilidades no orfanato e também já fazia um bom tempo em que às vezes eu me senti mal, podia ter certeza que estava com febre, mas a Dona Maria dizia que isso era coisa de adolescente e eu tentava ignorar. Já estava escuro e todos tinham se acomodado em seus quartos, eu dividia com mais três garotos e dormia na cama perto da janela. Nessa noite foi o dia em que tudo aconteceu...
Acordei sentindo um cheiro estranho, era cheiro de fumaça. Olhei em volta e os meninos dormiam. Olhei na janela e não tinha nada lá fora. Andei em silencio e abri a porta. O corredor estava vazio, desci as escadas e olhei nos cômodos de baixo, mas nada estava diferente. Então respirei fundo e senti o cheiro mais forte. Vinha do andar de cima.
Subi as escadas de novo e fui ate a dispensa e lá estava o cheiro de fumaça. Vinha do fogo que se espalhava pelo quarto. Corri desesperado e entrei sem pensar no quarto onde a dona Maria dormia e a Senhora Lúcia. Elas acordaram num pulo e me olharam com os olhos arregalados.
– Menino, ficou doido? - a Senhora Lúcia falava.
– Fogo! - foi só o que saiu da minha boca e as duas se levantaram imediatamente.
– Como assim fogo Henrique? - a Dona Maria agora perguntava pegando na minha testa.
– Vem, eu mostro! - eu peguei as duas pelas mãos e comecei a arrasta-las pelo corredor chegando à dispensa que já fora toda tomada.
As duas saíram correndo e em instantes depois, eu ouvi o alarme tocar e varias crianças chorando e muitas descendo pelas escadas assustadas A Dona Lúcia gritar que não era um teste de incêndio, era de verdade.
Corri também observando que o fogo já tinha começado a tomar conta de outro quarto, desci as escadas no meio da multidão de crianças e consegui sair. Eu podia sentir o cheiro cada vez mais forte e vários vizinhos saindo de suas casas para poderem ver. Vi a Senhora Lúcia falar no telefone desesperada, minha mente estava confusa. Por que só eu tinha sentido o cheiro de fumaça? O que tinha causado todo aquele fogo? Eu não conseguia entender. Tinham várias crianças tossindo e eu relativamente estava bem. Não sentia nada de diferente a não ser o fato do cheiro de fumaça cada vez mais forte, mas ainda assim não me sentia mal.
Ainda tinham pessoas saindo da casa e eu pude ver que o fogo tinha chegado na parte de baixo do antigo casarão.
Não demorou muito para ouvir a sirene da ambulância chegando perto e logo estacionando. Alguns enfermeiros saírem com aparelhos e muitas crianças começaram a ser atendidas. Depois os bombeiros chegaram e ouvi-os perguntarem se todos tinham saído. Olhei em volta certificando que todos estavam ali e foi ai que me dei conta que a Dona Maria não estava. Comecei a andar procurando por ela e não encontrei, minha cabeça girou. E se ela ainda estivesse lá dentro?
Corri ate a Senhora Lúcia e falei desesperado:
– Cadê a Dona Maria?
– Eles vão acha-la Henrique.
– Ela ainda está lá dentro? - perguntei.
– Eu não sei, ela ficou tirando as crianças e eu não a vi sair. Mas não se preocupe.
– Eu vou lá ajudar! - falando isso sai correndo entrando na casa sem pensar.
– Henrique volte aqui! - ouvi a Senhora Lúcia gritar lá fora.
Estava tudo destruído e o fogo acabava com o resto sem dó. Corri passando onde podia, mas ela não estava ali e só me restava subir. Respirei fundo e passei pelo fogo correndo. Foi ai que eu não senti nada, absolutamente nada, então corri e olhei quarto a quarto, a vi deitada perto de um baú velho em um quarto em chamas. Não pensei muito e entrei passando pelo fogo que não me causou nada novamente.
As chamas subiam pelos meus braços, ponta dos dedos e tudo o que consegui sentir foi um calor gostoso na pele. E a sensação de estar... completo.
Mas não era hora disso, a Dona Maria precisava de mim. Levantei sua cabeça e ela estava desacordada, peguei um cobertor que eu achei ali mesmo e coloquei sobre ela e juntei minhas forças e consegui tira-la dali.
...
Abri meus olhos com a claridade e olhei em volta, era um hospital. Levantei e sai pelo corredor claro e em uma sala pequena eu vi a Senhora Lúcia conversando com um médico, entrei e ambos me olharam assustados e eu vi uma coisa diferente nela, eu vi dor.
– Cadê a mãe Maria? - perguntei e ela me olhou e se abaixou.
– Ela deve estar muito orgulhosa de você e ficaria muito feliz com o seu gesto! - os cabelos brancos estavam presos em um coque e eu pude ver lágrimas em seus olhos.
– Ficaria?
– Eu sinto muito! - então eu entendi, ela não tinha aguentado.
Senti meus pés saírem do chão e uma dor me dominar. Soltei-me de seus braços e quando dei por mim estava correndo já saindo do maldito hospital e tinha um homem atrás de mim e a Senhora Lúcia gritando meu nome.
O homem pegou meu braço e involuntariamente eu me virei pegando seu braço com força e senti minha mão esquentar. Ele me soltou se afastando. Eu olhei para minha mão que pegava fogo.
Minha cabeça girava e eu não sabia o que era aquilo e então voltei a correr para nunca mais voltar ali.
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