For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 14
XIII - Transformação


Notas iniciais do capítulo

Beta reader: Keli-chan

P.S.: Deh-Cullen-chan não tem mais argumentos pra brigar comigo! =P



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O que ela tem que fazer aqui ainda?!” Pensei com muita raiva.

_ Será que eu sei quem é que está aí? - perguntei sem encará-lo.

_ Acho que sabe, sim.

Suspirei insatisfeita.

_ Coisa da minha irmã de novo. Não fica brava vai...

É mesmo, eu devia era ficar feliz, não?

_ Não estou brava. Mas... Sei lá.

Ele pegou minha mão e tentou me beijar, mas já não tinha mais clima.

_ Acho melhor eu ir, Aquiles.

_ Fica Mel... Não precisamos falar com elas.

Eu não estava mesmo a fim de ir embora e deixá-lo a sós com as duas pessoas que mais queriam que ele voltasse com a Daphne. Sendo que uma delas era a própria.

_ A situação está meio... Dissonante. Eu não vou ser uma boa companhia. Acredite em mim.

Depois disso me levantei e terminei de desamassar minha blusa.

_ Você sempre será minha melhor companhia. Mesmo quando for a pior.

Ele segurou minha mão, me encarando decidido.

Eu já tinha ido até lá, não é mesmo? Quando aceitei namorá-lo, sabia que não seria simples e fácil. Voltei a me sentar a seu lado.

_ Não vá se acostumar.

Ele riu e me beijou.

Acabei ficando com ele até mais tarde. Sob tensão. Adiei minha partida silenciosamente várias vezes, esperando que ela fosse antes de mim, mas nesses casos a "lei de Murphy" sempre prevalece...

Olhei mais uma vez no relógio. Oito e cinco.

_ Agora eu tenho que ir. - Já estava mais que na hora.

Ele também conferiu as horas.

_ Queria poder pedir pra ficar mais um pouco... Mas não vou poder te acompanhar se ficar muito tarde.

_ Não precisa se preocupar. - Quem ia querer me atacar mesmo? - Mas até a porta você pode, então vamos?

_ Vou até a portaria. Tudo bem passarmos pela sala agora?

Traduzindo: “Tudo bem conhecê-la?”.

_ Claro. Sem problemas. - Na verdade eu tinha essa curiosidade mórbida.

Nos levantamos e ele pegou minha mão.

A cada passo que dávamos, a conversa na sala ficava mais clara. Até o tom de voz delas parecia igual. Meio nasal, meio afetado. Meio forçado.

_ Ah, olha só quem está aqui. Daphne, essa é a Amélia Cristina. - A forma como disse meu nome deixava bem claro que eu era um assunto constante.

A Daphne, que estava sentada de costas para a gente, se virou para nos observar.

Estava exatamente como eu me lembrava. Cabelos no estilo chanel bem pretos e lisos. A parte de trás era mais curta que na frente, o que lhe conferia um visual moderno. As sobrancelhas finas a deixava com ar delicado, mas os olhos escuros demonstravam o contrário. Usava um vestido cinza de mangas compridas até os joelhos, pelo que podia ver, e por baixo dele uma meia calça preta com uma bota da mesma cor. Além de linda, se vestia muito bem.

_ Oi... Amélia. - disse ela, me olhando de cima a baixo.

_ Oi... Daphne.

_ Por que estão aqui? - ele perguntou, incomodado com a visita.

_ Ué, também moro aqui. E a Daphne é minha amiga. - concluiu Íris.

Que beleza...

_ Vamos Aquiles? - pedi com medo do contraste que crescia entre nós.

_ Vamos.

Em seguida deixamos o apartamento.

_ Ah Mel, não sei nem o que dizer.

_ Não precisa dizer nada.

_ Então posso só te beijar?

Dei risada e o beijei também. Ficamos algum tempo na portaria, pois eu não queria que ele fosse comigo ao ponto. Já sentia pena ao vê-lo mancar pela portaria.

_ Você vai ficar brava, muito brava ou possessa? - perguntou ele, beijando uma das minhas mãos.

_ Está me incentivando?

_ Não, pelo contrário.

Ficamos ambos em silêncio. E não sei por qual motivo, senti que não tinha nada a temer.

_ Se cuida. De preferência... Trancado no quarto.

Depois ri e esclareci:

_ Brincadeira. Sei que não preciso me preocupar.

_ Olha só, de repente estou ficando confiável.

Mas era eu quem estava ficando confiante.

Despedi-me dele e segui para o ponto de trólebus.

 

*~*~*

 

Minha mãe ainda não tinha chegado. Pelo jeito ela estava bem melhor que eu nessa coisa de relacionamento.

Acabamos não nos vendo durante a semana, pois ele ainda estava com o pé engessado e não conseguira me convencer a voltar à casa dele.

Acordei tarde no sábado seguinte, por ter ficado até tarde da noite teclando com ele.

_ Bom dia! Conseguiu desgrudar? - perguntou minha mãe ao me encontrar.

_ Do Aquiles? - indaguei sonolenta enquanto terminava de descer as escadas para a sala.

_ Eu me referia ao colchão.

De repente me senti acordar completamente. E o calor que eu sentia indicava que estava corando. Corri para a cozinha a fim de evitar as piadinhas de minha mãe.

Me servia de café e leite, quando ela abriu a geladeira e colocou um pouco de suco num copo. Encostou-se na pia e bebericou o líquido lentamente.

_ O que foi hein, mãe? - perguntei finalmente.

Ela agia como se quisesse me dizer algo e não soubesse como. E não era bronca, pois nesses casos ela era bem direta.

_ Oi? Nada, oras.

E sempre começava assim.

Encolhi os ombros, pois sabia que somente assim ela falaria. Parti um pão ao meio e comecei a recheá-lo com manteiga.

_ Na verdade... - ela começou.

Não consegui segurar um sorriso ao pensar no quanto conhecia minha mãe.

_ O Fred perguntou se eu não gostaria de conhecer os filhos dele...

Parei com a minha atividade. Nesse momento esqueci do café da manhã, do Aquiles, de mim, de tudo...

_ Conhecer os filhos dele? - Qual seria o próximo passo? Casarem-se?

_ É. Ele queria marcar um passeio entre nós. Todos nós.

Engoli em seco. Eu ainda não tinha parado pra pensar no quão sério estava ficando o relacionamento da minha mãe. E parecia que que era muito sério.

Fiquei encarando-a estarrecida.

_ Mel... Não vai ser ruim. - ela fez uma pausa e ficou mais séria – Eu queria fazer isso.

Pisquei repetidas vezes para lubrificar meus olhos que começavam a arder por ficar tanto tempo esbugalhados. Depois voltei-me para ela, também séria:

_ Vocês estão pensando em... Oficializar?

_ Casar?! Não! Não estou falando disso... Mas.... Eu quero jogar limpo. Quero conhecer a família dele. E quero que conheça a minha também. Para que ele saiba porquê sou tão apaixonada pela minha filha.

Fiquei em silêncio, mordendo a membrana interna de minhas bochechas. Não queria desapontá-la, mas não conseguia deixar de pensar que “jogando limpo” com o Fred, estaria “jogando sujo” comigo.

_ Tá bom, mãe.

Ela me abraçou apertado e agradeceu.

_ Você não sabe como estou feliz, Mel!

_ Dá pra ver, mãe.

Estranhamente, me senti nostálgica.

 

*~*~*

 

_ Oi. - atendi ao celular, já sabendo quem era.

_ Tudo bem? - perguntou ele, preocupado com a animação em minha voz.

_ Sim. Tudo.

_ Não senti firmeza.

_ Não é nada sério, Aquiles. Bobagem minha.

_ Que tal conversarmos pessoalmente hoje?

_ Hoje não é um bom dia para me encontrar com a sua irmã. Ou possivelmente com a Daphne. - É, não consegui esconder que estava ligeiramente irritada.

_ Parece que não é uma bobagem qualquer. Eu estava falando em sairmos. Tirei a tala essa manhã.

_ Ah. - Depois caiu a ficha... Sair?! - Ah!

_ É. É! - ele imitou.

_ Digo... - olhei-me no espelho. Levaria dias até ficar apresentável... - Hoje?

_ De preferência... Tá tudo bem?

Dei risada da minha própria atitude.

_ Tá sim.

_ Vamos ver um filme?

_ Vamos.

_ Que horas?

_ Bom... Tenho o sábado inteiro livre. - Como sempre.

_ Umas cinco horas? - sugeriu.

_ Pode ser.

_ Quer que te encontre aí?

_ Não precisa. Podemos nos encontrar no shopping.

_ Tá. No centro mesmo, né?

_ Sim. Nos vemos lá então.

_ Tá...

_ Então até lá. Beijo.

_ Até Mel, outro.

Deixei o celular sobre a penteadeira. Andei de um lado a outro. Parei novamente em frente ao espelho. Queria tentar algo diferente.

Tomei um banho e lavei meu cabelo. Enquanto o enxugava, observei-o de vários ângulos. Ergui-o de várias maneiras. Observei também minha sobrancelha. Parecia que eu era a única garota que ainda não me preocupara em delineá-la. Apoiei na pia com as duas mão, encarando meu reflexo com reprovação. Por que tinha que ser tão desleixada? Por preguiça? Por descaso? Por protesto?

Já não tinha mais motivos para me rebelar, e inúmeros para me cuidar. Sabia que a aparência era fundamental até para arrumar um bom emprego, ou conseguir um cargo melhor. As pessoas dão mais confiança para aquelas que se amam.

_ Amélia Cristina, Amélia Cristina... Não tá na hora de tomar jeito?

Eu estava insatisfeita com a minha aparência havia tempos... Mas não sabia o que fazer. Ou por onde começar. Até chegar à conclusão que precisava de uma consultoria. E eu já tinha alguém em mente.

Corri para o meu material ainda enrolada na toalha e abri meu caderno. Folheei-o com pressa. Sabia que ela tinha anotado seu telefone em algum lugar...

_ Ah!

Exclamei ao encontrar o nome dela com uns corações e umas estrelas estilizadas perto do número. Era na folha de SIC.

Disquei o número do celular dela, torcendo para que atendesse logo. Ele tocou três vezes até eu reconhecer a voz dela no “Alô?”.

_ Thaís, que bom que atendeu!

_ Cris?! Que surpresa amiga!

_ Quero ir a um ótimo salão! Hoje! Agora!

_ Oh! Essa sim é uma surpresa!

_ Ah, me desculpe! Pensando bem, não queria incomodar... Será que você podia me ligar quando puder?

_ Ei, calma Cris! Não sapeca a perereca! Estou de boa! Meu namorado está jogando na casa do amigo, coisa que detesto... Mas sabe como é... Não dá pra ficar prendendo também, né!

Ouvir sobre o relacionamento dela não era o que eu mais queria naquele momento, mas até com aquilo eu talvez pudesse aprender uma lição.

_ Eu que o diga, Thaís...

_ Mas me diga, o que aconteceu?

_ Ahn... Bem... Nada. Eu só queria... Queria me ver de uma perspectiva diferente. Acho que tô precisando me valorizar um pouco.

_ Que liiiindo Cris! - depois disso ela riu – Quando eu vou ao salão é só porque quero abafar mesmo. Mas sua justificativa é bem mais poética!

Forcei uma risada.

_ Então não vamos perder tempo! A minha cabeleireira fica no centro. Podemos nos encontrar no ponto da escola?

_ Tem certeza que não vai te atrapalhar em nada?

_ Absoluta. Pelo contrário, vai me render uma boa adrenalina! Te vejo lá em meia hora Cris!

_ T-Tá bom então...

_ Beijo!

_ Outro.

Desliguei ainda meio apreensiva com a confusão na qual estava me metendo. Depois de voltar a mim, revirei meu armário em busca do cartão de crédito adicional que minha mãe me concedera.

Em exatos trinta minutos eu estava descendo no ponto da escola. Ela ainda não tinha chegado. Passados pouco menos de dez minutos ela se aproximou.

_ Pensei que vinha de trólebus... - comecei.

_ A minha irmã acabou me dando carona até aqui. Mas e aí? Preparada? Tenho grandes planos para nós!

A animação dela era inversamente proporcional à minha, o que era muito assustador.

_ Bem, depende... Eu ainda não sei exatamente o que pretendo fazer...

_ Então deixa comigo, pois planejo isso há muito tempo. Confia em mim?

Eu não tinha alternativas mesmo...

_ Sim.

_ Ótimo, vamos!

Ela segurou meu pulso e me puxou pela rua que estava menos movimentada que eu me lembrava. Depois de alguns minutos eu parei de relutar e passei a andar a seu lado sem que ela precisasse usar a força.

Chegamos a uma escadaria que levava a um salão de nome “Pelli & Capelli” ou algo assim, e muito animada, a Thaís começou a galgar os degraus.

Estaquei na entrada do estabelecimento, ainda em dúvida sobre a minha decisão.

_ Ah, nem pense nisso! - ela gritou, me puxando pelo braço.

_ Pensar no quê?

_ Em desistir. - Subiu umas escadas até a porta me arrastando com ela.

_ Eu não estava pensando nisso...

_ Que bom, então pense no que tiver que pensar sentadinha lá dentro enquanto fazemos a coloração. Ah, a sobrancelha vai doer um pouco, mas nada que não possa suportar. Aposto que já fez coisas que doeram bem mais! - disse lançando um sorriso maldoso para mim.

_ Thaís! - exclamei entre encabulada e enraivecida.

_ Tá bom, tá bom, mas vamos logo para essa transformação, mal posso esperar para ver a cara de todo mundo... - chegou mais perto de mim - Especialmente a da Bia.

Certo, me convenceu.

_ Você não estava com pressa? - perguntei impaciente ao alcançar a porta do salão antes dela.

Estava decidida. Ser somente inteligente ainda não era páreo para a beleza Daphne, e menos ainda para os desaforos da Bia... Ou o olhar de pena da mãe dele ao descobrir que seu lindo filho trocara uma modelo por uma aprendiz de eremita.

A movimentação do lugar me assustou. Estava bem cheio e barulhento. E cheiroso.

_ Suuuu!!! - a Thaís gritou e abraçou uma mulher.

_ Thatha! Que bom que veio!

_ Mais importante que ter vindo, é ter trazido companhia! Veja!

A mulher olhou para mim.

_ Oi! Amiga da Thaís?

_ Sim. Amélia Cristina...

_ E então, o que vai querer? - ela me perguntou.

Mas eu não sabia...

_ Su, isso é comigo! - interveio a Thaís.

_ Então... O que reservou para a sua amiga?

A Thaís me virou de costas para mostrar meu cabelo à mulher.

_ Vamos dar uma clareada para deixar o rosto dela mais visível? E será que dava pra fazer um corte selvagem aqui?

Selvagem?”

_ Dá sim. Vai ajudar a diminuir o volume.

_ Ahn, Cris... Já pensou em fazer algum tipo de escova progressiva?

_ O que seria? - perguntei em minha infinita falta de vaidade.

_ Su, quanto ficaria?

A mulher ficou quieta um instante.

_ A gente podia fechar um pacote...

_ Olha lá Su, seja generosa, afinal ela vai vir aqui fazer a manutenção...

Manutenção?” Estava ficando mais complicado que eu imaginava.

_ Vamos ver... Vai ter mais alguma coisa?

_ Com certeza. Sobrancelha e unhas.

_ Tem certeza que precisa de tudo isso, Thaís? - perguntei ainda de costas para elas.

_ Absoluta. E aí Su?

A mulher fez o preço, e decidi ir embora, mas depois de negociar com ela, a Thaís conseguiu um desconto, ainda dividido em várias vezes, e não tive argumentos.

Fomos para o lavatório, onde a cabeleireira lavou minha cabeça, enquanto uma outra lavava a da Thaís.

Depois ela me levou para uma cadeira onde cortou meu cabelo.

_ Fique calma, não parece, mas não estou mexendo no comprimento. - dizia, tentando me tranquilizar quando constatava meus olhos arregalados diante dos tufos que caíam no meu colo.

Em seguida passei por uma espécie de circuito. Sentava numa cadeira, levantava, lavava, sentava em outra cadeira e o resto se repetia.

Depois da última lavagem, uma moça veio fazer minha sobrancelha. Não pensei que doesse tanto. Fazia vária caretas enquanto continha uns gritos de dor.

_ Prontinho, foi tão ruim quanto imaginava?

_ Não... Foi pior... Você não teria um analgésico aí?

Ela riu e deixou que a outra terminasse com a minha unha.

Eu sentia muita dor de cabeça quando ela me pediu para voltar para uma outra cadeira.

_ Criiis!!! Tá gata hein!! - ouvi muito distante entre secadores.

Ao procurar pela voz, encontrei com a Thaís vestindo uma touca engraçada. Fiquei curiosa em ver como estava, então observei cuidadosamente enquanto secavam meu cabelo. Meu rosto parecia muito diferente. E eu havia apenas tirado alguns pelos... O que era muito engraçado.

Ela virou a cadeira de costas para o espelho para terminar o trabalho.

Depois de terminar de secar, ela começou a passar uma chapinha. Em seguida passou mais um produto e ficou estudando o serviço que realizara.

_ É! Continuo a melhor! - comentou consigo mesma. - Não concorda? - dizendo isso, girou a cadeira para que eu mesma opinasse.

Toquei meu rosto para ter certeza que era eu mesma. Por sorte era.

_ Gostou? - perguntou Su ao constatar meu interesse no espelho.

_ Sim... Eu estou muito bonita.

_ Parece que não está muito acostumada a isso.

_ E tem razão.

_ Como pode? Uma garota linda como você!

_ Obrigada.

Voltei a admirar meu novo cabelo. Parecia estar mais claro, mas só tinha alguns fios tingidos de dourado. O corte dera leveza, pois estava repicado nas pontas, o que diminuía em muito o volume. Ou talvez fosse a tal escova que ela havia feito.

_ Estão terminando de secar o da Thaís. Se quiser ir até lá... - ela me avisou.

_ Tá. Obrigada.

Levantei da cadeira e fui até onde estava a Thaís. Faltava só uma mecha para acabar. Ela estava realmente ainda mais bonita com os cabelos mais claros e tão lisos que davam a impressão de ser uma superfície espelhada. Por que ela também não decidira ser modelo?

_ Cris! Não posso acreditar! - disse quando veio até mim.

_ Ah, não exagera! - pedi ficando constrangida.

_ Cara! Você já se olhou no espelho? Tá muito gata! Aquiles que se cuide! - e riu alto depois disso.

Eu também acabei rindo.

_ Mas calma, ainda tem uma coisa...

_ Mais?!

Ela me puxou até a cadeira mais próxima e tirou uma necessaire da bolsa. Tirou algumas coisas que inicialmente não identifiquei. Depois de destampar uma das coisas, me pediu licença e começou a passar na borda inferior do meu olho.

_ Viu como faz toda a diferença?

_ Deixa minhas lágrimas secarem, aí eu vou conseguir enxergar...

Ela deu risada, enquanto eu olhava pra cima tentando normalizar minha visão. Depois disso olhei-me no espelho.

_ É... Parece que ficou legal.

_ Legal não! Tá linda Cris! Você devia adotar a prática.

Dei mais uma olhada no espelho.

_ Vou tentar.

_ Toma. Isso também faz parte. E não vai te fazer chorar.

Era um brilho labial.

_ Ahn Thaís, não acha que já está bom?

_ Cris, 90% da beleza feminina sai com água e sabão. Os outros 10% só com removedor. Você não está fazendo nada de errado.

Por que não experimentar? Resolvi fazer o que ela sugeria.

_ Aaah Cris... Como eu queria ver a cara do Aquiles quando te encontrasse... Você está uma outra pessoa. Não me leve a mal, mas... Bem melhor, vai!

Rimos novamente. Conferi as horas e percebi que ainda tinha tempo para encontrá-lo.

_ Já que é assim... - ela disse observando minhas roupas – Se incomoda de ir comigo ao shopping?

_ Tudo bem. Foi lá mesmo que marcamos...

Depois de quinze minutos de caminhada chegamos ao nosso destino. Ela andou apressada até uma loja de roupas.

_ Vai comprar alguma coisa? - perguntei desconfiada.

_ Acho que sim. Mas você vai, com certeza.

_ Hã?

_ Não faça essa cara!

_ Mas... Por quê? O que tem de errado com a minha roupa?

_ Nada. Para uma missionária. Vem, e sem chorumelas.

_ Não Thaís! Já usei todo o limite do cartão, o que já foi uma loucura!

_ Se esse é o problema... - ela tirou o cartão da loja da bolsa e completou – Depois te mando a fatura!

_ Não posso Thaís...

_ Só uma blusa! Vem.

Não entendi o que ela tinha contra a minha camisa branca de mangas curtas. Os botões perolados eram tão bonitinhos...

_ Vem, experimenta essa aqui. Eu vou experimentar essa saia, olha que luxo!

Acabei nem tendo a oportunidade de ver a blusa antes de entrarmos no provador.

Quando abri a cortina para mostrar para a Thaís como tinha ficado, já estava decidida em não ficar com ela.

_ Jesuuuus, apaga a luz! Olha as peitcholas da Cris!!! - exclamou.

Corei tão forte que devo ter esquentado todo o local. Cruzei os braços na frente do corpo enquanto dizia:

_ Definitivamente não vou usar essa blusa!

_ Ah Cris, não é pra tanto! Só estou admirada por ter escondido tanta coisa por tanto tempo! Está linda!

_ Estou vulgar.

_ Não está coisíssima nenhuma!

Ela me puxou de volta para o cubículo para que eu pudesse me observar no espelho.

_ Você sabe que não está vulgar.

Observei com mais cuidado. Era uma blusa preta de poliamida sem mangas. Tinha um decote que não chegava a ser vulgar como eu definira com um pequeno babado ao redor. Tinha umas fitas que permitiam regular a ondulação do babado, coisa que achei muito divertida. Era uma blusa bonita.

_ Fechado! Você gostou, eu gostei e tá tudo certo. Vamos logo antes que se atrase!

Ela saiu do vestiário, e não vi outra saída a não ser levar a blusa.

Depois de pagarmos, ela me levou até o banheiro onde me obrigou a vestir a blusa.

_ Deixa que eu levo a sua pra você. Te entrego outro dia que nos encontrarmos, pode ser?

_ Pode.

_ E então, falta muito para ele chegar?

Olhei no relógio.

_ Menos de quinze minutos.

_ Então melhor eu ir embora. Prefiro não correr o risco de segurar alguma vela...

_ Certo.

_ E, ó! Tá abafando!

_ Obrigada, Thaís.

Ela se despediu de mim e deixou o banheiro. Observei-me novamente no espelho. Mais do que nunca estava satisfeita. Me atreveria a dizer que estava me achando ainda mais bonita que a Daphne.

E antes que começasse a ficar narcisista, deixei o banheiro.

Caminhei tranquilamente até a entrada onde havíamos combinado, afinal ainda tinha muito tempo.

_ Moça... - ouvi alguém chamar.

Não conhecia o rapaz que havia me abordado.

_ Hum?

Depois, abrindo um sorriso, ele perguntou:

_ Tem namorado?

Voltei a andar enquanto respondia, irritada:

_ Sim.

_ E não gostaria de ter um amante? - ainda ouvi enquanto me afastava.

Eu já havia presenciado algumas cantadas antes, mas nunca imaginei que algum dia uma fosse dirigida a mim.

Alcancei a porta do shopping e fiquei aguardando por ele. Enquanto isso, tentava me desviar de alguns olhares mais interessados do que estava acostumada. Um chegou até a assoviar enquanto passava por mim.

Decidi ficar recostada atrás de uma viga, pois como não tinha costume com aquela situação, ela me incomodava profundamente.

Por causa disso, acabei não vendo quando ele chegou.

_ Oi. - comecei ao me aproximar dele.

Ele estreitou os olhos, como se não me conhecesse, mas em milésimos de segundos me reconheceu. Seus olhos se arregalaram numa surpresa.

_ Mel?!

 

Continua


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Notas finais do capítulo

*
N/A: Super kissu para Loolita-chan e Carol-chan!
Atóron leitoras novas!
Atóron leitoras antigas!
Atóron todas v6!
=P