Apenas Amigos. escrita por Yang
– O que tá fazendo? – perguntou Apolo curioso com a movimentação de Júlia na cozinha.
– Nosso almoço. – respondeu.
– Pensei que fosse pedir alguma coisa como fizemos ontem, e antes de ontem, e antes de antes de ontem, e também... – ele foi interrompido.
– Tá! Eu já entendi! – gritou ela. – Só estou enjoada de comer comida japonesa, comida chinesa, e macarrão instantâneo. Além do mais, onde você aprendeu a fazer macarrão instantâneo? Você simplesmente queimou a panela. Olha só como o fundo dela tá preto Apolo! – disse ela irritada enquanto mostrava a panela queimada.
– Deixei muito tempo no fogo. A água secou e deu... nisso. – defendeu-se.
Ela revirou os olhos.
– Tudo bem. Agora por favor, arruma aquele banheiro. Acho que um macaco se depilou ali e esqueceu de limpar. – informou ela mais zangada ainda.
– OOOOH! Desculpa, eu realmente esqueci disso. Já vou resolver. – disse ele enquanto seguia pelo corredor do apartamento.
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– Veja só! Isso está ótimo! – elogiou Apolo a comida de Júlia.
– Obrigada.
– Melhor que macarrão queimado, com certeza.
Eles riram. Ficaram em silêncio boa parte do tempo, mas Júlia fez o favor de interromper ao se relembrar de uma dúvida que estava corroendo a garota.
– Eu sei que não temos mais nada, mas quero perguntar uma coisa que pode até não ser do meu interesse agora, mas que foi do meu interesse antes...
– O que? – indagou ele.
– Quem é a tal “Rebeca”? – perguntou enquanto encarava a expressão desatenta de Apolo. Ele tentou fingir que a situação era ótima, mas desviava o olhar.
– Isso realmente importa agora?
– Não, mas quero ter certeza de que realmente fui iludida na cara dura. – respondeu com um tom de total mágoa.
– Importa sim. Você não quer admitir Júlia, mas ainda gosta de mim.
– De onde tirou essa ideia absurda? – questionou ela em um tom de voz elevado, como se fosse gritar com Apolo a qualquer momento.
– Quer saber de uma coisa que aconteceu há uns quatro ou cinco meses atrás, sei lá. Foi só uma ficada. Nada mais.
– Ah, e ela já tinha autoridade de atender seu telefone em uma ficada? Não me engane Apolo!
– Júlia, eu e você não temos mais nada então eu acho que você não deve se meter tanto assim na minha vida. – disse ele em um tom gentil, mas que magoou profundamente Júlia.
– Tudo bem Apolo. Desculpe.
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Júlia já estava deitada no colchão na sala lendo um livro emprestado por Lucas. Apolo ainda organizava alguns documentos para levar ao emprego no dia seguinte e outros para a faculdade. As férias terminariam logo e as novas turmas da faculdade também.
Assim que chegou ao final do livro, ligou para comentar com lucas o que havia gostado no livro.
– É incrível! – disse ela eufórica. – realmente o melhor que li até agora.
– Ah, isso é porque você nunca leu “Dom Casmurro” ou então “Senhora”. Esses também são muito bons. Sabe o meu favorito? “Divina comédia”. É de um autor italiano chamado Dante. Ele divide o livro em três partes: céu, inferno e purgatório. Cada parte contém um poema tão detalhadamente descrito de cada lugar que faz você imaginar tudo. É incrível de verdade. Tem uma música de uma banda chamada Scracho que tem esse nome.... Devia ouvir, acho que iria gostar.
– Eu vou sim! Pode deixar. Quero ler esse livro também.
– Eu posso levar pra você no seu apartamento... Se você me convidasse a ir por aí...
– Poxa, é que não está tudo muito arrumado. Não estou nem dormindo no quarto porque tem infiltração e o concerto vai ser no final de semana.
– E você tá dormindo onde? – perguntou preocupado.
– Na sala!
– E o Apolo?
– Também.
Isso não soou muito bom para Lucas.
– Então você me avisa quando eu puder ir ver você.
– Tudo bem então, preciso desligar.
Apolo estava ouvindo a conversa na saída do corredor.
– Era seu “amiguinho”? – perguntou ele.
– Isso não interessa pra você. – respondeu ainda magoada com o ocorrido durante o almoço.
– Ei ei... Por favor, vamos parar de alfinetar um ao outro e agir como gente grande. Sério, eu sinto falta da minha amiga... Me desculpa por hoje mais cedo.
– Tudo bem Apolo. Tudo bem...
– Sabe no que eu tava pensando? – disse ele enquanto se aproximava do colchão de Júlia. Ela o encarava.
– Em putaria, com certeza! – respondeu.
– O que? Como assim? – perguntou surpreso.
– Sempre que você pensa em putaria, sua sobrancelha direita sobe e você fala como um “garoto mimado” querendo alguma coisa... E também, essa tua cara entrega todo o jogo.
Ele riu. Ela continuava a encará-lo.
– Você devia ganhar um prêmio! – exclamou ele.
– Hum. – disse ela tentando parecer interessada com a situação.
– Eu estava pensando que uma vez você me disse que queria dormir de “conchinha” comigo, igual àqueles casais idiotas fazem... E hoje está frio, e eu sou um cara legal. E você uma garota chata... Olha só como isso pode dar certo.
Júlia aproximou seu rosto ao dele. Parecia que iriam se beijar. Mas ela apenas sussurrou:
– Você só quer sexo de graça com uma garota gostosa. Vê se cresce e paga uma prostituta porque eu não vou transar com você! Ainda tenho dignidade e não vou perdê-la com meu ex-melhor amigo. Fique claro isso aqui Apolo. Você teve a chance e simplesmente a desperdiçou. Você seguiu em frente, estou tentando fazer o mesmo.
Ele mal conseguia mover os olhos. Estava perplexo com o que ouvira. Ela voltou-se para seu lugar, desligou o abajur e cobriu-se para dormir.
As únicas palavras que saíram dele foram:
– Eu gosto muito de você Júlia, mas isso vai passar. Eu te prometo.
– Não prometa mais nada. – disse ela.
A luz da sala apagou-se e o último barulho que Júlia ouviu foi a da porta sendo fechada.
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