O Começo De Uma Era 2 escrita por Moça aleatoria, Undertaker


Capítulo 50
Capítulo 50


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não é grande, ele é gigante! Eu ia dividi-lo em dois, mas desisti depois de ver como seria sacanagem com voces parar no meio disso. Viram como sou boazinha? kkk.
Alias, quero agradecer a GiFernandes pela linda recomendação! Agora O Começo de Uma Era 2 tem 2 paginas de recomendações! Muito obrigada mesmo!
Os comentários eu responderei logo, juro! Eu demoro mas sempre respondo!
Eu, particularmente falando, gosto bastante desse capítulo. Espero que voces gostem também! O começo é POV Katniss mas depois é POV Narrador, o último também.
Boa leitura, gente! Ah, e vejam as nitas finais!!



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Quando meus pés tocaram o chão, eu cambaleei por alguns passos. Não haviam escadas daquela vez, e mesmo que tivessem, não havia tempo de usa-las. Peeta caio em seguida, mas não cambaleou, apenas apoiou na parede, mostrando o quanto já havia melhorado.

Tentei concentrar minha atenção nele por alguns milésimos de segundos, tentando não pensar na cena que acabamos de testemunhar. Eu apenas tentava convencer a mim mesma como o modo com que Peeta corria já era mais confiante que antes, ele não precisava mais da concentração extra nos pés para correr sem tropeçar neles próprios. Tentava fixar minha mente em qualquer coisa que não fosse o fato de que cada vez o peso de mais mortes nos cercavam.

–E Max e Tally? –Simila pergunta. Eu apenas nego com a cabeça, e em seguia a abaixei para meus próprios pés, sem querer ver as reações dos demais. Me concentrei em meus pés por um tempo em quanto continuávamos a correr, eu não me surpreenderia se um passo meu falhasse, mas não podiam falhar.

Nós corríamos porque ainda estávamos próximos do bueiro, corríamos por que já tínhamos uma direção, e por que só havia um caminho agora. A passarela era continua.

Nós fomos diminuindo o ritmo aos poucos, até que nos vimos apenas caminhando em silencio pelos corredores. Eu senti o braço de Peeta me envolvendo pela cintura e depositando um beijo acima de minha cabeça.

Tudo que eu queria era sair dali de uma vez, parar com as mortes, com toda essa guerra. Eu só queria paz, queria estar em meu distrito, sentada na grama ao lado de Peeta e minha mãe e irmãzinha, eu queria poder beija-lo de verdade, eu queria poder apertar algum tipo de válvula de escape.

Meu corpo já estava cansado, porém, lotado de adrenalina. Eu tinha fome mas meu estomago estava embrulhado. Eu queria parar de andar mas não me aguentava parada. Eu queria parar de pensar nisso mas minhas mente continuava agitada. Eu queria sair, mas me obrigava a continuar.

Eu queria gritar por Leo, Tally, Zoe e Max, mas ao mesmo tempo eu não queria abrir a boca para nada.

A linha reta que era o túnel parecia se tornar mais longa a cada passo, a pouca largura do túnel parecia ficar cada vez menor, ou talvez fosse apenas o pânico tentando tomar conta.

Finnick passou uma garrafa d’água para mim, que tomei de bom grado. Agua era o último recurso que tínhamos. Haviam apenas a água, as armas e uma lanterna, a de Finnick, pois as demais haviam se perdido junto com os cadáveres e a vida de seus donos.

Quando passei a agua para Peeta, notei que ele segurava minha mão, e que eu segurava de volta com força, mas ele não reclamou nem disse nada. Não parecia se incomodar. Tratei que tentar relaxar e afrouxar o aperto em sua mão.

Andamos por mais um tempo, até que o som de um chiado começou surgir, no começo fraco, depois, forte, de uma forma persistente e irritante, sem maneira impossível de ignorar.

Então o cheiro começou. Eu vi todos nos puxarem a camisa para o nariz, segurando a respiração e correndo.

Só então notei que tínhamos entrado em um corredor liso, sem vãos e sem esgoto, simplesmente reto e continuo, também inteiramente prateado. O cheiro se intensificou pelo correr espreito com rapidez.

–Corram!

Eu nem consegui decifrar de quem foi a voz, talvez tenha sido minha mesma, talvez a voz em minha cabeça. Eu não consegui decidir, apenas a obedeci.

Comecei então a reparar em nosso caminho. Não se aprecia mais com o esgoto, e sim, uma passarela de construção abandonada para onde Gale estava guiando. O gás saia por onde devia entrar o oxigênio. Mas porquê?

A primeira porta apareceu ao longe, eu conseguia ver a maçaneta de cobre brilhar em contraste com o prata mesmo a essa distância.

Percebi que todos procuravam algo em suas mochilas. Máscaras de oxigênio. Só quando a primeira pessoa colocou sua máscara que notei que devia procurar a minha também.

Foi quando, ao olhar para trás por uma última vez, já com a máscara na mão, eu tropecei. Cai no chão com tudo, o impacto me fez rolar, antes que Peeta, que permanecia ao meu lado, pudesse me segurar. Com a queda, meu pulmão clamou por ar, e quando o puxei, repetidas vezes em busca de oxigênio e encontrando apenas um cheiro forte em seu lugar.

Os pontos pretos começaram a aparecer dançando engraçado em minha visão. Eu não conhecia aquela dança. Em seguida eles ficaram vermelhos. Eu me perguntava porque ficavam mudando de cor, eu gostava da cor preta... Porque tinham que mudar para vermelho? Vermelho era uma cor ruim, lembrava sangue. Eu não gosto de sangue. Mas era o único cheiro que eu sentia no momento.

Algo me levantou do chão, mas minha cabeça girava demais para notar quem ou por que. A tontura me dominava e minha cabeça doía. Os pontos pretos ganham dos vermelhos, mas eu não pude ficar feliz por eles, por que por culpa deles eu não conseguia enxergar, a visão escura vez com que eu perdesse a consciência. Ou talvez, eu tenha perdido a consciência e por isso tudo ficou preto.

Eu devia ter torcido para os vermelhos.

POV Narrador.

O que tinha acontecido? Era tudo que Peeta conseguia se perguntar. Quando Katniss tropeçou, inalou uma quantidade muito grande do gás, perdeu a consciência segundos depois, mas isso talvez tenha sido pela falta de oxigênio e não pelo gás em si.

Ele a tinha pego no colo e corrido com ela por um tempo, mas ele mesmo continuava fraco por sua quase morte anteriormente. Depois de alguns minutos correndo até a porta, Simila insistiu que levasse ele mesmo a garota. De contra gosto ele cedeu a esposa ao irmão, enquanto ele mesmo tentava não inalar o gás.

Eles estavam se afastando as saída do gás. Finnick foi na frente, e apressava os demais com a porta aberta, mascara tapando o rosto, olhos desesperados, uma mãos mantendo a porta aberta e a outra balançando freneticamente para que fossem rápidos.

Os irmãos passaram pela porta ombro a ombro, Peeta foi quem fechou a porta atrás deles com um forte chute por trás. A porta era feita de ferro e cobria toda a parede. Por lá o gás não passaria.

Simila parou a corrida em um estilo de derrapagem, sem tempo para diminuir o ritmo calmamente. Peeta tirou a máscara rápido, aquilo já o sufocava, mesmo que sua tecnologia fosse projetada para fazê-lo respirar normalmente, retirando apenas os resíduos do oxigênio. Era tecnologia de ponta da Capital, roubada da casa que haviam parado no início ainda. Mesmo assim, ele se sentia sufocado. Amarrou o objeto no cinto de qualquer jeito, assim como os outros em caso de alguma emergência.

–O que foi? –Finnick perguntou.

–Por que ela é sempre a primeira a perder a consciência?

–Cala a boca Johanna! –foi Peeta quem gritou, dividindo a atenção entre estar furioso com a garota e preocupado com Katniss, mas a preocupação ganhou rapidamente, assim que chegou os batimentos cardíacos.

Estava batendo, batendo rápido. Batendo rápido demais. Se continuasse daquela maneira a garota poderia sofrer uma parada. Por que o seu coração batia tanto? Que raio de gás foi aquele? Porque agora, de repente?

Peeta não conseguia encontrar nenhuma mas respostas em sua mente. Ele pensou em pedir os primeiros socorros, mas nem sabia o que fazer. O que um rolo de ataduras poderia ajudá-la a retomar a consciência? O que normalizaria seus batimentos?

No entanto, seus olhos se abriram logo depois, rápidos e amedrontados. Ele e os demais levaram um susto quando a garota abriu os olhos, ninguém esperava que fosse tão rápido. E ninguém esperava que sua reação fosse aquela.

Katniss encostou as costas na parede e se espremeu, com os olhos fechados e mãos contra a cabeça, em pânico. Ela começou a piscar rápido, a cada piscada seus rosto se contorcia, como se cada visão fosse um choque injetado em sua pele.

Peeta levou sua mão ao rosto dela, em um gesto confuso, desesperado e cuidadoso para tentar acalma-la do que quer que a incomodasse. Mas ela o afastou com um gesto desesperado, entre o medo e a violência. Finnick puxou o puxou para trás pelo ombro antes que ela tentasse algo perigoso.

–O que... –Peeta não tinha palavras, não havia o que descrevesse a cena. O garoto com o dom das palavras as haviam perdido.

–Gás alucinatório.

Katniss não conseguia decidir o que era real e o que não era. E agora não se tratavam de apenas lembranças e sonhos. Era como se seus sonhos confusos e assustadores se fundissem em um, a realidade. Se é que podia chamar aquilo de real.

Ela piscava, o homem a sua frente era Snow. Piscava de novo, era Peeta Mellark o homem de tentou lhe matar. Não! Mais um vez, era o garoto com o pão, mas por que ele gritava furioso com ela? Sua expressão agora era preoculpada. Ela torcia para que essa fosse a versão certa.

Ele se aproxima, ele está com uma faca. Não. Peeta não usa uma faca desde o massacre quaternário. Que massacre? Faca? Sim, ele é um ótimo atirador! Pode lhe acertar facilmente... Não. Ele não carrega faca alguma. Como sabe dessas coisas, ele é apenas o garoto do distrito 12. Não, sou casada com ele! É o que?

Sua cabeça se transformava em versões diferentes de Katniss gritando versões diferentes de sua própria história, tão diferentes, com vozes tão iguais que ela não conseguia dizer qual era a sua própria. Se pelo menos falassem mais baixo... Então conseguiria pensar com mais clareza.

Notou então que uma parte das vozes não vinham de sua cabeça, e sim, para o grupo de pessoas que discutiam em uma mistura do pânico, preocupação e indecisão. Quem eram mesmo? Por que discutiam? Ela gostaria de entender a conversa, mas as vozes em sua cabeça continuavam altas demais. Ela grunhiu com a dor e o pânico.

–Se for feito de veneno de teleguiada ela precisa parar de bombear sangue e respirar tão rápido. –Finnick argumentava. –se não o gás vai se espalhar pelo organismo e ai sim ela pode morrer!

A cabeça de Peeta trabalhava rápido, tentando pensar em alguma coisa, em qualquer coisa! Mas Finnick tinha razão, ela não podia continuar assim... Não havia qualquer coisa no estoque de primeiros socorros fora aquilo, Peeta sabia que não haveria outra opção.

Mesmo assim, quando Finnick a pegou por trás e tampou o nariz da garota para forçar a entrada do sonífero em sua boca, Peeta queria gritar para ele parar, mas não podia fazer nada. Foi tão simples dopa-la naquele estado frágil e agonizante que ela estava que pareceu injusto, isso, é claro, se não estivessem fazendo isso para ajudá-la. Considerou a possibilidade de fazer ele mesmo, mas descartou em seguida por saber que não teria a coragem de ir até o fim em faze-la desmaiar. Muito menos assim, a força.

Mesmo no efeito alucinatório do gás, Katniss se debateu por um momento, tentando se livrar de quem pensava ser seu agressor.

Ela perdeu a consciência segundos depois.

–Tem certeza que é seguro, não é? –Peeta perguntou pela decima vez, já agachado ao lado de Katniss.

–É seguro, é apenas um sonífero. –Finnick disse. –eu coloquei pouco, ela acorda em alguns minutos. –ele garantiu.

–Quando ela acordar ainda vai estar sob o efeito do gás?

–Provavelmente, mas não sabemos ao certo a densidade daquilo. –Finnick fala. –mas pelo menos isso dará a ela a chance de inalar oxigênio normalmente para tirar o gás dos pulmões. O cérebro deve ter absorvido pouco... Mas desmaiada impede que o coração bata muito rápido para espalhar o gás pelo restante do corpo.

–É um gás bem eficiente. –Johanna fala. –faz com que a pessoa tenha alucinações, fazendo o coração bater mais rápido, espalhando mais ainda o gás. Então afoga o cérebro.

–Não está ajudando Johanna.

–Só estou comentando, Finnick.

–Mas afinal que droga foi aquela? –Delly perguntou. –um gás, do nada?

–Vazamento de gás acidental, talvez? –Simila sugere.

–Talvez. –Delly diz. –mas qual foi a última vez que algo acidental aconteceu conosco, sem nenhuma conexão maior envolvida?

–É tudo muito estranho, rebeldes nos atacando no nada, como se soubessem onde estávamos. Isso não faz o menor sentido.

–Nada disso faz.

Peeta parou de prestar atenção no que os demais falavam, não queria saber porque foram atacados ou porque do gás, só queria que Katniss pudesse ficar bem logo. O que aconteceria quando ela acordasse? Seu coração voltaria a bater rápido e precisaria ser dopada novamente? Já foi horrível para ele ver Finnick dopa-la daquela maneira, não queria precisar fazer isso de novo.

Mas olhe assustou a forma como Katniss olhou para ele, como se temesse sua presença, se encolhendo no canto da parede, tentado passar por ela de alguma forma. Ela não estava bem...

–Peeta.

–O que? –ele perguntou, distraído, em quanto ainda tinha as mãos segurando as da garota.

–Terra para Peeta. –Johanna fala. –ouviu algo que dissemos?

–Desculpe, não ouvi.

–Enfim –Finnick disse, antes que ela pudesse dizer a ele algo grosseiro, o que era de seu costume. –acho que precisamos de algumas horas de sono.

Ele olhou novamente para Katniss, estávam imobilizados por pelo menos um tempinho.

–Tudo bem. –ele disse. –eu vigio.

–Tem certeza?

–Fui o único que não vigiou da última vez, vez de vocês dormirem. –ele falou, mas todos ali sabiam que ele só queria ficar acordado com Katniss. Ninguém protestou.

Haviam se passado poucas duas horas quando ela começou a despertar. Peeta, é claro, estava ao seu lado, e foi acudir e ajudar a garota, que levou a mão a cabeça pela dor antes mesmo de abrir os olhos.

A cabeça de Katniss girava, mas ela não abriu os olhos de imediato, tinha medo do que iria encontrar quando o abrisse. Quando finalmente criou coragem para faze-lo, fecho-o logo imediatamente. Ela não conseguia entender porque ao seu redor tudo pegava fogo.

No entanto, ela não sentia calor.

Usou o fato para tentar convencer a si mesma que aquilo não era real. E que a única quentura que sentia vinha dela, o pânico preso em seu peito e garganta. Aquela agonia lhe queimava por todo o corpo.

–Katniss? Kat? –ela se encolheu quando a voz chamou, milhões de coisas se passaram um sua cabeça até conseguir se lembrar da real. Era Peeta Mellark, o marido que você se esqueceu, agora se lembrou, e não voltaria a esquecer sob nenhuma circunstância. Ela repetia a si mesma. Se arriscou a abrir os olhos novamente. –graças a Deus, Kat. Voce está bem?

Sua voz soava doce e calma, ela tentava se concentrar nela. Mas a cada vez que piscava a imagem ao redor parecia mudar. Agarrou a cabeça com as mãos, ela ainda latejava. Katniss negou com a cabeça. Se existia na vida um momento para dizer que não estava bem, o momento era aquele. Ela se sentia horrível, o mundo tinha várias formas e várias faces, ela não conseguia diferenciar a verdadeira.

Ele tocou sua mão, por puro instinto ela a afastou.

–Katniss, sou eu. -ele dizia. –não vou lhe fazer mal, você está sob o efeito de um gás alucinatório. Precisa me dizer como está.

Ela não conseguia pronunciar nada, sentia o coração bater contra o peito com força, sua respiração acelerou. A cada batida ela sentia a cabeça girar mais, imagens se tornando cada vez mais confusas. Mas ela simplesmente não conseguia se acalmar.

O que podia fazer? Em que podia se prender para manter a sanidade se não podia decidir o que era real é o que não era? Por que a cabeça não podia simplesmente parar de girar para que ela pudesse finalmente pensar com clareza?

Quando foi encostada contra o chão onde ainda estava deitada, ficou tensa, tentou se soltar com toda a forca de tinha, mas ela continuava pressionada contra suas costas. Seu primeiro impulso ainda era correr, lutar contra aquilo. Ela não conseguia imaginar como de alguma forma, no fundo, ela poderia estar gostando do que parecia ser uma luta.

Ele nunca havia feito isso, nunca imaginou que um dia se viria fazendo isso, mas Peeta não tinha mais opções. Odiava vê-la daquela maneira, essa era a única maneira que Peeta encontrara de tentar despertar alguma lembrança ou sentimento familiar na cabeça confusa dela. Ele não podia deixa-la daquela maneira.

Segurou os braços de Katniss contra o chão atrás dela para beija-la, pressionado o corpos e prendendo o dela com o seu, talvez daquela maneira conseguisse que ela se lembrasse de alguma coisa, qualquer coisa. Força-la a algo era a última coisa que queria, mas ele não tinha mais opções, já estava desesperado.

Ela se debatia e tentava soca-lo, chuta-lo ou seja lá o que tentava fazer em meio daquela confusão de mistura de corpos, entre o combate e um beijo. Mas ele continuava segurando os brações dela contra a parede, tocando seus labios com uma agressividade que nunca haviam feito.

Por um instante, ela hesitou, e então relaxou, parou de se debater, e ele parou de segurar seus braços fortemente, passando apenas para um toque leve. O beijo violento passou para algo mais calmo conforme ela se acalmava. A posição que estavam parecia cada vez amis confortável do que agressiva.

–Minha cabeça doi muito. –foi a primeira coisa que pronunciou, ainda com os olhos fechados, quando se separavam, com os labios ainda quase se tocando. Peeta podia sentir o ar das palavras fracas e roucas além de melancolias, cheias de pânico e medo, contra seu rosto.

Ela se sentia como na época da Capital, com medo de tudo e de todos, como um animal ferido em busca de um abrigo. Ela tremeu novamente nos braços do garoto.

–Abra os olhos. –ela negou com a cabeça e sentiu ser tocada na bochecha. –confie em mim.

Ela queria explicar para ele que não conseguia, que não sabia se saberia diferenciar o real do não real, por que as imagens se confundiam tanto. Mas naquele momento, de olhos fechados, ela conseguiu confiar na voz calma do garoto.

Seja lá o que havia acontecido com ela, seja lá o porque que se sentia tão confusa, ela não podia negar, de todas as imagens e sentimentos de angustia, pânico e raiva, a imagem mais real, o sentimento mais real que poderia sentir foi o daquele momento. Como não conseguia perceber antes que não era agressão alguma? Apenas um beijo da pessoa que mais amava no mundo? Se perguntava também como chegou a um ponto em que precisou de um beijo forcado contra o chão de um esgoto para se lembrar de quem eram.

Quando abriu os olhos, viu os azuis dele a encarando preocupados. Ele tentou pegar sua mão novamente, dessa vez ela a segurou com forca contra a sua. Ele a ajudou se sentar, finalmente.

Peeta sentiu a mão dela tremer fortemente, estava gélida. Ele a soltou a passou o braço pela cintura da garota e a abraçou com forca. Tentando lhe passar o máximo de confiança que podia, mas ele não podia conter o alivio de a ver com a sanidade novamente, mesmo que ainda corresse o risco de perde-la a qualquer minuto, aquele momento era são. Enroscou os dedos em seus cabelos, tentando aproxima-la ainda mais, mesmo que não chegasse a ser possível.

O corpo dela tremia inteiro, e quando se separou, ela tornou a fechar os olhos. Não era com forca, mas com mais confiança agora, abriu novamente após respirar fundo por alguns segundos.

–Seu nome é Katniss Everdeen Mellark, você tem 17 anos, quase 18 agora. –ele disse, como se lesse as expressão ainda confusas da garota, ele decidiu repetir a história inteira. -Seu lar é o distrito 12, participou da 74 edição dos jogos vorazes ao meu lado, voltamos para casa e nos casamos, voltamos para a 75 edição e você estava gravida. Voce perdeu o bebe e foi capturada pela capital, eu voltei para te resgatar junto com amigos que estão aqui agora. Morou no 13 por muito tempo, é o símbolo de toda uma rebelião, salvou parte de um hospital do distrito 8 e praticamente o distrito 2 inteiro. É a garota mais incrível do mundo, que me apaixonei aos 5 anos de idade e ainda amo, e espero que ainda me ame.

Ele continuou falando, dessa vez ele tinha as olhos fechados e ela tinha as dela encarando as pálpebras dele, onde antes estavam os brilhantes olhos azuis.

–Sua cor preferida é verde, você ama estar na floresta e caçar com o seu arco e flecha, acerta o animal sempre no olho. Ama tomar café mas sempre esquece de colocar o açúcar, não importa o quanto eu tente lhe ensinar você é péssima em decorar bolos, mesmo que eu ache que juntos já tenhamos dado muito bem conta de um. Seu nome é Katniss Everdeen Mellark... –ele repete, agora abrindo os olhos. –voce consegue se lembrar?

Ela queria dizer que conseguia se lembrar, um pouco, embaralhado e embaçado, mas conseguia. Queria dizer que se lembrava de Peeta Mellark, o garoto com o pão que salvou sua vida na infância e até hoje continua salvando, mesmo ao longo dos anos. O homem que ama e que se casou... E talvez com alguma dessas partes não tão nítidas em sua cabeça, mas existentes. Ele dizia que eram reais, e ela simplesmente confiava nele. Se lembrava que como ele amava ficar na padaria dos pais, que agora já não existia pela bomba do 12, de como também amava pintar. Ele era o padeiro, o pintor, dava dois laços no cadarço do sapato, gostava de dormir com as janelas abertas e gostava de açúcar em seu chá, o açúcar que ela sabia que ela própria sempre se esquecia.

Mas ela não disse nada disso. Tinha medo que todas as lembranças e um pouco da sanidade que havia adquirido pelo beijo acabace no momento que as palavras saíssem de sua boca. Tinha medo que as lembranças se fossem com a mesma rapidez que haviam vindo. Ela já podia sentir o efeito passando aos poucos. Não tão nítido quanto quando ele a beijara, mas muito mais do que quando acordara.

–O que está acontecendo comigo? –ela perguntou, tentando ao máximo manter a calma, mas soou como uma criança pequena choramingando por um doce.

–Voce se lembra do que aconteceu?

–Eu me lembro de cair no chão, do meu pulmão ficar sem ar algum, então desmaiei. –ela conta. –depois eu acordei e vi imagens sem sentido e... aterrorizantes. Depois disso eu... perdi a consciência de novo, eu acho.

–Finnick teve que lhe dar um sonífero, para você se acalmar. –ele explica. –o gás entrou na sua corrente sanguínea e voce estava em pânico, com o coração muito rápido, tínhamos que impedir que a circulação rápida levasse toxinas para o seu cérebro. Com o tempo, o gás saio de seu pulmão, mas ainda há um pouco circulando pelas suas veias.

Mas o cérebro de Katniss continuava a dar voltas, embaralhando suas lembras e visão. Sua cabeça não poderia doer mais.

–Está tudo tão confuso Peeta... –ela choramingou novamente.

–Hey, quer jogar o real e não real? –ela acenou com a cabeça.

–Estamos indo para a mansão de Snow para mata-lo, real ou não real?

–Real

–Estamos com Johanna, Finnick, Simila e Delly.

–Real também

–Os outros morreram pelo caminho. –ele demorou um pouco mais para responder a essa.

–Infelizmente, real

–Estamos perto?

–Real.

–Nós somos casados, e você me ama. Real ou não real?

–Real, e cada vez mais. –ele sorri.

Ela queria chorar, queria chorar por que odiava aquele jogo, odiava se sentir tão dependente de um jogo pra medir a realidade. Ela queria poder distinguir sozinha as coisas. Porque agora? Estava tudo começando a dar tão certo... ela podia se lembrar. Porque agora, de repente teve todas as lembranças se misturando novamente?

Peeta se aproximou dela novamente, mas foi um beijo completamente diferente. Ele não a segurou, ela não se afastou, foi sincero. A única palavra que poderia descrever aquilo era essa, sinceridade. Sentiu o corpo pressionado contra a parede, mais delicadamente agora.

A mente de Katniss ainda era um confusão, mas elo menos aquele momento parecia ser certo. E aos poucos, sua mente foi clareando, tão calmamente quanto o beijo.

–Ah serio gente, essa história está começando a ficar cansativa, não acham não? De novo, cara... –era Simila dizendo, acabando de acordar e se deparando com o casal ainda se beijando contra a parede. Os dois se separam, não tão ruborizados como antigamente. Peeta olhou feio para o irmão que debochava deles mesmo sonolento. –é o que? A terceira ou quarta vez que eu vejo vocês no maior amaço! Escolham um local mais reservado na próxima!

–Vale lembrar que na, maioria das vezes, estávamos e um lugar reservado até você aparecer. –Peeta fala.

–Ponto pra você. –ele admite. –mas enfim... –ele fala, agora adquirindo um expressão mais séria. –está se sentindo melhor, Katniss?

Ela concordou com a cabeça. E relembrava sua mente de quem se tratava. Não aceitaria de si mesma esquecer novamente de mais ninguém, mesmo que sua mente rodasse. Já tinha feito isso vezes demais.

Ao ver a expressão seria de Simila, ela se lembrou como ele sempre fora irônico e engraçado, mas as vezes sem muitos limites. Pensou em como é mais sério hoje, colocando limites entre suas gracinhas. Todos eles tinham crescido durante a guerra, a mudança do garoto era de se espantar.

Ela ficou feliz por poder comparar o antes e o depois. Mesmo que sua cabeça doía mais ainda quando forcava lembras muito distantes, ela ficava feliz em poder encontra-las em alguma parte do cérebro.

–Vão dormir, casalzinho, eu vigio por mais umas duas horas. –Simila fala. –temos que partir logo, mas é melhor que descansem mais um pouco.

–Obrigado. –Peeta agradeceu, o irmão apenas acenou com a cabeça e lhe deu um sorriso fraco.

–Por nada.

Katniss e Peeta se juntaram ao canto que os demais dormiam, Katniss caio no sono quase imediatamente, o sonífero ainda fazia efeito. Peeta demorou um pouco mais, mas finalmente conseguiu relaxar, lembrando a si mesmo que Katniss está bem, que ela estava ali. Novamente, ela não estava no seu auge, não estava saudável como gostaria, mas mantinha-se forte. Ele sorrio uma última vez antes de cair no sono por cima do chão frio e sujo, em um lugar carregado de sombras e agonia, porém, ao lado dela. E isso já lhe bastava.


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Notas finais do capítulo

Como voces sabem, eu ao fazer jogos e dinâmicas pelos comentários, já devo ter feito isso umas 3 ou 4 vezes, no minimo! E hoje estava ouvindo musica e pensei que musica combinaria com a fic? Me deem sujestoes de qualquer musica que voces acham que seria a trilha sonora para essa história! Apenas por pura curiosidade!