Nisemono

            Ela prendia o cabelo em duas marias-chiquinhas altas, punha sua saia de prega e sua regata de botões. Ajeitava a franja na altura dos olhos, abria um sorriso largo e animado e saudava os pais adotivos alegremente.

         Ela cantava em tom agudo, sempre músicas alegres. Era cumprimentada na escola e retribuía a todos com acenos e sorrisos. Ignorava os boatos de que estava namorando um garoto com cabelos da mesma cor que os seus, assim como fazia com os de que ela e um adorável loiro de rabo-de-cavalo estavam juntos. Compartilhava risadas com seus contentes e agitados amigos.

         Então chegava em casa e, enquanto jantavam, contava aos pais todas as suas novidades bobas, comentava sobre partes de conversas, falava sobre como haviam sido as aulas e zombava de momentos idiotas e engraçados.

         E apenas ao fechar a porta do quarto para dormir permitia-se não ser ela. Permitia-se ser Teto. Permitia-se cair na cama, com os olhos refletindo pensamentos tristes e a expressão séria. Permitia-se se desculpar com a verdadeira dona daquela vida, a amável moça de cabelos azul-esverdeados.

         Mas no dia seguinte o ciclo recomeçava.

         E para sempre assim seria.

         Pois sem Miku seus pais se entristeceriam.

         Pois sem Miku não havia ninguém para reconhecer sua existência.

         Pois Teto era aquilo.

         Uma mera imitação.