Kage

         Elas nunca se deram realmente bem.

         Eram como luz e trevas. A amada e a odiada. A desejada e a rejeitada.

         E à noite tudo isto se apagavam e subiam no carro, dirigindo até algum lugar isolado e montando o telescópio. A única paixão mútua que as unia. E a única coisa que a sombra superava a luz.

         Elas não sabiam qual era seu grau de parentesco, mas nunca fora possível negar suas semelhanças. Eram como gêmeas opostas. Tudo o que a outra era, a outra não era, e vice-versa.

         Até que a morte fez sua jogada cruel. E, como uma serpente traiçoeira, que sabe que pode morrer pelo veneno de suas companheiras igualmente malignas se aproximar-se demais, jogou a morena para fora do carro e deixara a azulada bater com a cabeça no vidro, manchando-o com um vermelho tão intenso quanto os olhos de sua sombra.

         E agora, mesmo Zatsune não podia encontrar um defeito em sua amiga. Pois ela se fora antes de deixar que o mundo visse que era imperfeita.

         Aquela que uma reflexo sempre fora não sabia mais a onde ir, o que fazer ou que papel desenvolver. Ela nunca tivera um que não fosse estar ao lado da outra para tornar sua luminosidade, graça e bondade mais evidente. Apenas sabia que aquele que insistiam em lhe tentar fazer aceitar não era o correto.

         Com a respiração, observou a sala, com cadeiras e mesas viradas, objetos quebrados e pessoas apavoradas a encarando.

         Virou-se de costas ainda trêmula se saiu.

         Ela não era a assassina de Hatsune Miku.

         Era sua sombra.

         E não permitiria que qualquer um lhe tirasse isto.

         Jamais.