Hermione Jane Granger P.O.V

Abro os olhos me deparando com a escuridão vinda da janela e me assusto, antes de lembrar quão “cedo” fomos dormir. Corro os olhos e percebo que ao lado da cama de Ron está o relógio que seus pais lhe deram ao se tornar maior de idade e que o mesmo marca 5h47, provavelmente da manhã.

Meu ruivo continua a ressonar tranqüilo, seu semblante tão em paz que por um momento me esqueço que uma guerra se acabou, que pessoas morreram, o irmão dele morreu. É como se tudo estivesse na mais perfeita ordem e alegria, e nada pudesse acabar com isso.

Mas eu sabia que não era assim. Logo teríamos que encarar a realidade, sair da bolha de alegria que cercava a nós dois por finalmente termos deixado nossos sentimentos aflorarem, e encarar o que nos esperava lá fora: uma família Weasley em pedaços, um pequeno Teddy órfão e um mundo bruxo desorientado.

_ Você fica linda com essa ruguinha na testa. – alguém sussurra e eu levanto os olhos, encarando aquele par de orbes azuis sorrindo preguiçosas – Bom dia sabe-tudo.

_ Bom dia energúmeno. – respondo sorrindo e me aproximo para lhe dar um selinho, ato que o surpreende e faz corar – Qual é Rony, vai corar cada vez que nos beijarmos?

_ Er... Essa é a terceira vez que nos beijamos? – diz ele em voz baixa e eu dou uma risada abafada.

_ Por favor, se forem ficar se melando arranjem um quarto só para vocês. – um voz sonolenta diz e eu vejo a silhueta de Gina se erguer, mostrando que ela sentou.

_ Deixa eles Gi... Eles têm sete anos para compensar. – a voz de Harry e tão rouca e sonolenta quanto a de Gina, mas ela permanece abafada pelo travesseiro. A ruiva ri enquanto eu e seu irmão coramos e logo se abaixa, dando um beijo em Harry – Que horas são?

_ Pouco mais de seis da manhã. – responde Rony olhando seu relógio. Nossa, fiquei tanto tempo assim aérea? – Acho que mamãe mandou buscar nossas coisas em casa.

Realmente havia ali uma troca de roupa para cada, apesar de achar que a dos meninos e minha tenham sido pegar em minha bolsa que havia ficado com Madame Pomfrey noite passada. Mas as roupas de Gina, tal como os relógios dos meninos e aqueles suéteres novinhos tinham cara de terem sido trazidos d’A Toca.

Nos levantamos e os meninos saíram do quarto para que eu e Gina nos trocássemos. Depois enquanto arrumávamos as coisas eles se trocaram ali mesmo e saímos sem muita pressa do dormitório.

O Salão Comunal estava vazio e pouco barulho vinha dos dormitórios. Pelos corredores, vários alunos e seus pais circulavam, provavelmente haviam voltado ao colégio buscar seus pertences. Todos nos apontavam e comentavam, alguns acenavam ao longe, mas ninguém se aproximou e eu vi que Harry estava grato por isso.

Chegando ao hall de entrada, vimos Filch e alguns voluntários, entre eles Hagrid, removendo os destroços e começando a limpeza do local. As mesas no Salão Principal ainda estavam bagunçadas, com as casas misturadas e vários familiares presentes. Gina apontou um canto cheio de cabeças vermelhas e calmamente caminhamos em direção aos Weasley’s.

Molly foi a primeira a nos ver e vir em nossa direção. Seu semblante era abatido, tinha grandes olheiras, mas mesmo assim sorriu ao nos ver. Primeira prendeu Harry e Gina em um único abraço, depois eu e Rony.

_ Sentem-se, sentem-se. – disse ela nos puxando – Sei que não fazem uma refeição realmente decente há meses, sem querer desmerecer Fleur e Gui... Então tratem de se alimentar bem.

Artur nos cumprimentou com um sorriso torto, enquanto os irmãos de Rony apenas acenaram com a cabeça, muito ocupados em observar a interação entre Harry e Gina. Somente George parecia alheio a tudo, mas isso era esperado. Ele revirava os ovos em seu prato e falava em voz baixa, e eu logo desviei o olhar, começando a sentir um mal-estar.

Rony, para variar, estava comendo como se tudo fosse acabar. Conhecia bem o estômago do ruivo para saber que os últimos meses foram apertados para ele e que ter aquela mesa farta era como um sonho. Mas não pude evitar encará-lo até que me olhasse, para por fim revirar os olhos e começar a me servir.

_ Alguma notícia de Andrômeda? – perguntou Harry ao Sr. Weasley, que lhe confirmou.

_ Ela vira em algumas horas com Teddy... O ministério está preparando um enterro coletivo para os mortos na batalha e ela e o bebê viram para ver o sepultamento de Lupin e Tonks. Creio que ela irá querer lhe falar Harry. – respondeu o homem mais velho, acariciando o braço da esposa que tentava não chorar ao falar sobre o enterro. Gina passou a mão por cima da mesa, juntando-a a da mãe.

Não demorou muito para que Minerva viesse chamar Harry, que foi com ela após dizer que eu e Rony podíamos ficar por ali. Nós dois então engatamos em uma conversa amena com Gui, Fleur e Gina, enquanto Molly, Artur, Percy e George iam em busca de informações sobre o enterro e sobre a chegada de Carlinhos, que ainda não conseguira vir da Romênia.

Perto do meio dia, o local estava insuportável de cheio e foi do consenso de todos que fossemos para o jardim. Lá uma brisa fresca soprava e eu inspirei o ar puro, começando a desejar que tudo se acabasse rapidamente para eu poder me dirigir até o banheiro dos monitores e tomar um longo banho.

Não tardou para Harry, Percy e Carlinhos aparecerem, o primeiro carregando nos braços um embrulinho.

_ Er, gente... – disse meu amigo com um meio sorriso – Esse é o Teddy.

Ele virou o pequeno bebê em nossa direção e todos sorriram involuntariamente. Os poucos cabelos estava amarelos como o sol e os olhos numa cor que variava de cinza para castanho, as vezes parando em verde ou azul. Seus rostinho era redondo e gorducho, como o de um bebê deve ser.

_ Onde está Andrômeda? – perguntou Gui enquanto Harry passava o pequeno bebê para os braços de Gina, que lhe sorria toda boba.

_ Com nossos pais e George, conversando com Minerva e os demais que perderam seus entes queridos, sobre como proceder o sepultamento. – explicou Percy – Creio que em mais uma hora devemos estar começando as solenidades.

E assim foi feito. Pouco mais de uma hora depois, várias cadeiras e bancos foram conjurados para abrigar os milhares de presentes. A beira do lago foi demarcada e cada família dirigida para onde seu ente querido estaria. Eu e Harry concordamos que seria melhor deixar os Weasley’s a sós, mas nem Rony, nem Gina pareciam concordar e não soltaram nossas mãos por um único segundo.

O pequeno homenzinho do funeral de Dumbleodore estava ali, com sua voz grave e suas palavras profundas sobre a dor da separação, a morte e o sacrifício. Molly logo era abraçada pelo marido e por Carlinho, enquanto Gui e Fleur consolavam George, Gina chorava ao ombro de Harry e Rony mordia os lábios tentando não chorar, enquanto segurava minha mão apertada.

Não tardou para que os caixões estivessem com uma grossa camada de terra e Gina estar nos braços da mãe, deixando Harry livre para se aproximar de Andrômeda e Teddy, os únicos parentes vivos de Lupin e Tonks. A senhora o abraçou em prantos, enquanto Harry acariciava a cabeça do pequeno bebê, tentando mantê-lo calmo.

Encarei Rony que continuava a observar o lugar onde o corpo do irmão mais velho jazia e apertei sua mão. Ele ergueu os olhos em minha direção, me puxando e abraçando, enquanto beijava o topo de minha cabeça. Em seguida foi até a família e os abraçou por alguns instantes, antes de se afastar e me pegar novamente pela mão, caminhando rumo ao castelo.

Subimos as escadas em silêncio e logo ele abria a porta do banheiro dos monitores. Eu fiquei parada estática, enquanto ele abria a torneira e tirava a roupa, ficando só com a cueca e entrando, parecendo relaxar. Ele me olhou alguns instantes, antes de eu dar de ombros e tirar minhas roupas, ficando apenas com as peças íntimas e entrar ao seu lado. Ele passou o braço pelos meus ombros e ficamos sentindo a espuma tocar nossa pele em silêncio, sabendo que naquele momento nada poderia ser dito.