Ronald Billius Weasley P.O.V

Será errado? Digo, me parece tão certo, mas ao mesmo tempo tão errado. Porque não consigo controlar esse sorriso maldito no meu rosto, mesmo sabendo que em algum lugar desse castelo, está o corpo de meu irmão, de dois pais que deixaram seu filho órfão e de outras tantas pessoas que perderam a vida nessa batalha?

A resposta é muito simples: porque os dedos dela estão entrelaçados aos meus, enquanto ela descansa a cabeça em meu ombro, sem pressa ou urgência de trocarmos uma palavra. Estamos apenas aqui, ambos agradecendo pelo outro estar vivo, ambos agradecendo por estarmos bem.

Harry se retirou a pouco para poder dormir um pouco e Hermione mandou uma mensagem por seu galeão falso. Pouco depois pude jurar ver longos cabelos ruivos indo em direção a Torre da Grifinória, mas sequer dei importância. Se eu posso ter afinal minha garota, que Harry tenha a dele.

_ Você está tão quieto... – sussurra Hermione após um tempo, erguendo o rosto e me olhando séria – Sei que é uma pergunta idiota de se fazer, mas você está bem Ron?

Eu reflito por alguns instantes antes de responder, porque não quero parecer insensível ou imaturo, o que sei que desencadearia uma briga entre nós. Se bem que agora eu poderia calá-la com um beijo. Bom, acho que poderia.

_ Eu estou sentindo um misto de emoções que nunca senti. – respondo após ponderar – Digo, eu jamais perdi alguém de minha família, ainda mais um irmão. – nessa hora minha garganta se fecha – E bom, Fred era... Era... Bom, era simplesmente ele, e junto de George isso bastava. Agora, não sei o que acontecera.

Ela sorriu tristemente, acariciando meu rosto e beijando minha mão que se mantinha junto a dela. De repente, me lembrei de algo e meu sorriso se tornou mais triste.

_ Fred foi o único para quem, sabe... Para quem eu contei o que sentia por você. – admiti e os olhos dela se encheram de água – Acho que não era segredo para ninguém, mas eu nunca tive coragem de admitir, nem para o Harry, não com todas as palavras como admiti para ele. Eu queria que ele nos visse aqui agora.

_ Tenho certeza de que ele está vendo Rony... E está muito feliz e orgulhoso. – sussurrou ela com a voz rouca, secando algumas lágrimas minhas – Mas... Er, se me permite perguntar... – acenei positivamente – O que você sente por mim?

Senti meu rosto queimar e sabia que minhas orelhas deviam estar escarlates, o que fez com que ela desse um sorrisinho tímido. Mordi o lábio inferior pensando em uma resposta que não me fizesse parecer um idiota.

_ Eu gosto de você Mione, muito. – disse e ela assentiu – E não é como uma amiga é... Mais, muito mais do que isso. Eu não sou bom com sentimentos, você sabe. Mas se eu tivesse que escolher um nome para ele... Eu poderia dizer que é amor. – sussurrei a última palavra e ela riu, me fazendo corar mais ainda. Ótimo, ela realmente me acha idiota.

_ E você acha que eu sinto o que por você, seu ruivo cabeça-dura? – perguntou ela, ainda com um sorriso divertido e eu dei de ombros – Sério Rony, depois de tudo que aconteceu quando você ficou com a Lilá, você ainda dúvida que eu sinto o mesmo por você?

_ E depois de tudo que aconteceu com Krum, McLaggen, Harry... – comecei a falar e fiz careta, enquanto ela ria – Acho que eu realmente dei muito na cara ao longo dos anos né?

_ Tão na cara quanto suas sardas. – garantiu ela, sorrindo – E apesar de isso me irritar profundamente, acho também extremamente fofo e charmoso, algo digno de Ron Weasley.

_ Bom, serei conhecido por Rony Weasley, o ciumento fofo e irritante. – brinquei e ela revirou os olhos, bocejando logo em seguida – Acho que você está com sono.

_ Você também. – disse ela sorrindo – Essas olheiras não mentem. – e se levantou me puxando pela mão – Vamos dormir Ron, porque mais tarde há muito o que se resolver.

Concordei e caminhamos de mãos dadas em direção a Torre da Grifinória, cruzando com vários estudantes pelo caminho. Vi Simas, Dino e Neville descendo as escadas, dizendo que iriam para a casa de Neville e deixariam o quarto para que eu, Harry, Mione e Gina descansássemos melhor. Então ela estava mesmo lá.

Subimos as escadas sobre os olhares dos poucos presentes no Salão Comunal e ao entrarmos vejo que Harry e Gina estão deitados lado a lado. Normalmente isso me deixaria furioso, mas a expressão de paz dos dois contrastando com o rosto marcado de lágrimas simplesmente me faz sorrir e sentir alivio pelos dois estarem vivos. Outro dia eu daria um chilique para irritá-la.

Vejo sobre a cama um calção e uma camisa, provavelmente deixados pelos rapazes. Dou a camisa para Mione, que vai se trocar num canto mais afastado, enquanto troco minhas roupas sujas pelo calção. Um banho seria bom, mas meu corpo precisa de uma cama macia rapidamente.

Quando me deito ela vem correndo toda tímida, querendo esconder as pernas, para as quais evito olhar. Ela entra embaixo das cobertas, se aninhando a mim e suspirando. Mal consigo me lembrar a última vez que dormimos, mas sei que foi há mais de um dia.

Acaricio seus cabelos castanhos sujos e queimados, me espantando em constatar que ainda me parecem macios ao toque. Aos poucos a respiração dela se acalma contra meu peito e começo a sentir nossos corações batendo em sintonia. Fecho meu olhos ao senti-los pesar e sei que é o fim de uma era, e o começo de uma vida.