POV’ Felipe

Depois da nossa discussão eu não olhei mais na cara dela. Tipo, acho que ela já tinha percebido que eu estava a fim dela, mas Clara me ignorou. O meu orgulho estava ferido!

Depois da aula, quando Clara saiu com o tal do Gui, eu estava sentado em um banco de pracinha, tomando uma Coca-Cola, quando a Suzane veio falar comigo. E posso dizer: aquela garota não é feia. Muito pelo contrário. E tem um corpinho de matar um cara. Ela se sentou do meu lado, ignorando qualquer tipo de espaço entre nós.

– Está com problemas, fofo?

– Uhum...

– Quer conversar sobre isso?

– Não sei... acho que não.

– Mas quer ajuda para esquecer?

Olha, antes de vocês pensarem que eu era louco de ficar com ela, pensem na minha situação. Eu sou homem. Eu não posso simplesmente ignorar mulheres que ficam me dando mole.

– Claro! Porque não?

E eu beijei ela. E sim, ela beija muito bem, mas eu ainda queria estar com a Clarinha. E ficava o tempo todo pensando em como aquele Gui podia estar beijando ela também. Que ódio!

Mas eu tive que voltar para casa assim mesmo, e como era folga da empregada e meus pais estavam trabalhando eu ficaria sozinho.

Depois de eu tomar banho e comer um sanduíche, eu deitei no sofá e dormi. O meu sono tem vida própria.

Eu acordei com o som irritante e insistente da campainha e batidas fortes na porta. Droga! Que tipo de pessoa vai visitar alguém em uma sexta feira, à tarde?, eu pensei enquanto ia até a porta. Dei de cara com uma Clara super brava.

– Qual é o seu problema?! – ela entrou quase me atropelando.

– Oi. Sim, eu estou bem, e você? Quer entrar? Claro que pode, vamos entre!

– Eu não quero brincar, Felipe – xiiii, ela me chamou de Felipe. Eu fiz alguma coisa errada.

– O que eu fiz?

– Você beijou uma vaca! Qual o seu problema?!

– Hã? A tá... o que foi? Tá com ciúme?

– Pff! Claro que não! – a voz dela entregava tudo.

– Com ciúmes de mim... interessante. Mas e aí, como foi o seu almoço com o Gui?

– Foi legal, mas... peraí que você não me respondeu. Bateu a cabeça na privada?

– A Suzi tem potencial.

– Suzi?! Petencial?!

– É.

– Sabia que tinha alguma coisa errada com você. Ninguém pode ser tão perfeito assim – e ela saiu.

Perfeito? Tipo, ela me acha perfeito? Afinal, o que eu estou fazendo? Ficando com uma garota só porque ela tem o corpo no lugar e sabe beijar? Qual é o meu problema?, eu pensei enquanto ia até a porta para comprar um pouco da “branca”.

POV’ Clara

Tudo bem, o que eu fiz não foi certo. Eu falei coisas que não devia ter falado para o Lipe. Aquilo foi automático. Mas, ele me decepcionou realmente. Eu pensando que ele era um garoto legal e que não era galinha, e fiquei sabendo que ele pegou a Suzane? É pedir para ser julgado com idiota...

O encontro com o Gui foi... foi horrível. Ele me chamou para um encontro, e não para um almoço. Ele pediu para namorar comigo e tudo. É claro que eu disse não. Apesar de eu estar com ele, que é uma pessoa maravilhosa, eu ficava o tempo todo pensando no Lipe, mesmo ele tendo brigado comigo.

Como esse garoto consegue fazer isso comigo?, eu pensava enquanto voltava para casa. Fiz minha lição de casa e deitei na cama para assistir TV. Depois de três episódios Friends eu acabei dormindo.

O meu sonho foi estranho: eu e Lipe voltando até o dia que eu dei comida para aquele garoto.

– Tá vendo aquele menininho? – perguntou Lipe. O pequeno parecia nem perceber que estávamos lá.

– Sim.

– Ele sou eu. E essa garotinha – ela passou por nós como se não estivéssemos lá, uma garotinha de cabelos pretos e olhos azuis –, é você.

– Então quer dizer...

– Clara, eu preciso da sua ajuda. Mesmo. Às vezes eu posso parecer um idiota, mas eu gosto mesmo de você. Por favor.

Eu acordei. Estava suando frio e arfava. Ele precisa da minha ajuda para quê? Ele gosta de mim? Como assim?

Eu tomei um banho e resolvi caminhar um pouco, para refrescar os pensamentos. Mesmo sem querer, comecei a reparar umas coisas: a mãe do Lipe era morena e tinha olhos castanhos, o pai era loiro, mas tinha olhos verdes. Como seria possível ter um filho com olhos azuis acinzentados? Claro, existiam aqueles casos raros de mães que tiveram gêmeos, um de pele morena e um branco. Mas eram casos raros.

Voltei para casa e minha mãe já estava lá. Nem conversei direito com ela, afinal, no outro dia eu teria que acordar cedo para ir na casa do meu pai.