Sophia escrita por Ana Carol M


Capítulo 6
Capítulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/323824/chapter/6

Fiquei um tempo olhando o fogo, tentando digerir toda situação. – Porque tivemos que nos mudar dessa cidade?

Muitas pessoas estavam suspeitando da criança que seus pais haviam adotado e eles não tinham certeza de quanto aquelas duvidas poderiam ser perigosas, então todos nós partimos para a cidade grande.

- Como meus pais sabiam do Conde? 

- Todo mundo no nosso mundo sabe. Pessoas importantes são conhecidas. Eles te encontraram no orfanato e pela carte deduziram que você  era a herdeira do conde. Por sorte ao invés de te matarem ou te entregarem, eles cuidaram de você e te protegeram. 

- Na carta o conde agradece aos meus pais, como ele sabia?

- Ele não sabia, você era uma criança saudável e pequena, havia todas as chances de ser adotada. É claro que ele não deve esperar que você fosse adotada por uma família do nosso povo. Mas como eu disse, foi sorte. 

- Por que encontrei a carta logo agora? E meus pais disseram que eu não estava preparada antes.

- Isso tem a ver com seu amadurecimento. Sua mãe te conhece, ela sabia que você não lidaria bem com isso quando era mais nova. E respondendo ao que ela mesmo imaginava, sua própria mente te levou até a carta. Certo ?

– Sim - Não queria mais falar dos meus pais - Todo mundo tem nomes assim?

– São nomes muito estranhos. O meu, por exemplo, é Hator, o de Valentina era Tale e o seu é Merit. Aqui mudamos de nomes para ficarmos mais comuns. E eu ainda prefiro que me chamem de Peter. 

Ao ouvir meu nome tive um lembrança, como aquela em que me levou até a carta, uma mulher me chamava de Merit e me colocava um medalhão no pescoço. Levei a mão involuntariamente ao pescoço e o encontrei vazio. Mas o rosto da mulher se manteve em minha mente. Ela era linda e tinha olhos verdes como o meu. 

– E que marca é essa da família?

– É a marca da família Sanakht. Surge naturalmente com a idade, ou com fortes emoções – Mas eu sentia que ele me escondia alguma coisa. – A propósito Feliz aniversário um pouco atrasado – disse ele com frieza.

– Obrigada. Mas agora eu volto para colocar as coisas no lugar? Isso não faz sentido – perguntei meio atordoada.

– É o que parece – falou Peter rispidamente. – Acho que seu pai acredita que se você for coroada colocará algum juízo no Conde Hórus. Na verdade não sei o que ele espera que aconteça com seu retorno.

A minha história parecia preencher um vazio, algo que eu não saberia dizer por qual motivo sentia, mas era algo reconfortante.

– Existe algo não é? Esse negócio de realidade paralela, egípcios, imortalidade, marcas . Algo que as pessoas comuns não sabem.

– Sim, existe.

– Desde pequena sempre acreditei nisso, e eu sinto. Sei que você fala a verdade, de alguma forma. É como ter uma certeza. Isso é...

– Magia – respondemos juntos.

Pairou um silêncio frenético no ar. Algo na parede me chamou a atenção. Um mapa da capital com todos os lugares que eu frequentava marcado, foi ai que eu percebi uma coisa. Ele me protegia a anos. 

– Por que esses lugares estão marcados aqui? – perguntei com um pequeno tom de ameaça.

– Eu tive que estudar no mesmo colégio, frequentar os mesmos lugares e a vigiar você quase constantemente . Sabe quantas vezes arrisquei minha vida com alguns idiotas que andavam por perto? Não, você não sabe, estava comendo um sanduíche com seus amigos e não notou duas pessoas se matando nos arbustos por sua causa. – Peter gritou ressentido.

– Que droga, porque você tem que ser meu guardião? - Ele havia passado a vida inteira me protegendo, isso não era justo com ele.

– Você acha que eu escolhi isso? È um pacto entre as famílias. Não escolhi estar aqui. Logo que eu soube que você estava vindo tive que me mudar mais rápido do que posso pensar. Tive que descobrir tudo que estava acontecendo na sua vida e na sua casa sozinho. 

Apenas resmunguei. - Não tive a intenção de arruinar sua vida.

– Vou preparar nosso jantar – falou Peter com raiva, e virou as costas pra mim.

Me sentei no sofá de couro a frente da lareira e abracei a almofada que ao menos não vi ter pego. Fiquei encarando o fogo. Desejando acordar em casa com uma dor de cabeça enorme por ter dormido demais.

Peter colocou na mesa na cozinha os pratos servidos. E me convidou para sentar com um gesto. Como eu estava faminta não hesitei. O jantar foi silencioso e ao acabarmos fiquei o olhando desafiadoramente.

– Nunca me machuquei isso tem alguma coisa a ver?

Ele sorriu discretamente – Poucas coisas nos machucam.

– Como assim?

– Não morremos como os humanos comuns, nós só morremos com facas e espadas feitas pelo nosso povo, que contenham certos tipos de substancias e plantas.

Nós suspiramos profundamente e então Peter estalou os dedos e os pratos estavam limpos e flutuando até seus lugares. Eu fiquei de boca aberta por algum tempo, era a primeira manifestação visível de magia que eu tinha visto na vida. Mas logo depois decidi que não importava e ficamos por um tempo indefinido sentados no sofá olhando o fogo ricochetear na lareira. Nem um de nós falou. Estávamos tão dispersos em pensamentos que só reparei que estava dormindo quando fui carregada para uma cama confortável e quente. Depois novamente adormeci. Ouvindo ao fundo os resmungos de Peter.

Acordei cedo e fiquei olhando pela janela que cercava a cama. Ainda chovia e havia várias pessoas andando com guarda-chuvas pela rua de pedra. Reparei que toda casa de Peter era preta. Desde os lençois até os pratos e as cortinas. Vi ele levantar calmamente do sofá um pouco confuso, com os cabelos bagunçados, os olhos inchados e umas calças folgadas de moletom.

– Bom dia – sussurrei tentando ser gentil.

– Bom dia – disse ele por obrigação.

Novamente o café da manha fora de silencio profundo.

– Eu tenho algum dinheiro, vou procurar algum lugar para morar por enquanto – falei subitamente enquanto voltava para frente da lareira. Não sabia quanto tempo iria demorar para colocar minha vida no lugar. 

– Você fica aqui o quanto quiser – disse Peter secamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sophia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.