Sophia escrita por Ana Carol M
Não me abalei, até ri discretamente de Peter. Sacudi os ombros e ia voltar para o carro. Senti os olhos dele nas minhas costas. Então parei e voltei. Eu queria respostas.
– Peter. Odeio ter que dizer isso, mas recebi uma carta dizendo para vir nesse endereço. - falei rapidamente para que ninguém pudesse ouvir, ou talvez não quisesse ver meu orgulho pisoteado tão calmamente.
Ele resmungou e suspirou. Eu não fazia ideia o que um garoto estranho da minha escola estava fazendo ali, a tantos quilômetros da nossa cidade. O maior problema é que ele me odiava, e eu não fazia ideia do porque, mas sentia que logo descobriria.
– Que droga Sophia, você só me trás problemas – resmungou ele com raiva.
– Até parece que fico feliz em que ter que falar com você – retruquei indignada.
– Onde você mora? - perguntou ele com a mesma hostilidade do inicio.
– Pra que você quer saber?
Ele fez um barulho com a boca com irritação.
– Porque eu quero explodir sua casa – falou ele com ironia – Quero saber quanto tempo vai ficar na cidade.
– Moro há três horas daqui. Vou procurar um hotel – Não hesitei em pegar a mão de Peter e escrever o meu numero com uma caneta de bolso – Acho que precisamos conversar.
Já começava a anoitecer e a chover. Eu não queria que fosse ele a me dar respostas, mas não tendo outra alternativa, decidi que não ia deixar que ele me abalasse.
Voltei para o carro e comecei a procurar com o GPS números de pousadas. A chuva já parecia um verdadeiro dilúvio. A cidade era pequena então havia bem poucas. Mas infelizmente havia algum evento na cidade e todos os hotéis estavam lotados. O que me fez sair do carro com minha enorme mochila de couro, tomar um banho até chegar a porta da loja. E lá dentro Peter estava sentado em um dos bancos altos do balcão com a mão da cabeça. Então bati na porta de vidro e implorei por ajuda. Meu orgulho estava esmagado, mas minha família que morava naquela cidade pelo menos estaria segura por essa noite.
Ele veio até a porta e esperou que eu falasse, ele demonstrava irritação.
– Todos os lugares estão lotados, tem um festival de bandas na cidade. Será que você poderia me ajudar? – perguntei delicadamente. Eu sabia que nunca tinha sido tão educada com ele. Desde sempre fomos daquele jeito um com o outro, rudes e grosseiros. Ele tinha mania de me perseguir e eu me indignava por não saber o motivo. Eu também sabia a guerra que era pra ele abrir a porta para mim, mas ele abriu e se afastou para que eu entrasse. Eu sabia por que se fosse comigo, estaria tendo a mesma cara de repugnância que ele.
Meu salto batia no assoalho empoeirado e as pequenas gotas de água da minha roupa caiam em sintonia.
– Vamos – disse ele friamente indo para uma escada de metal enferrujado em caracol no fundo da loja.
Lá em cima havia um apartamento limpo, seco e com uma lareira acesa. O que mesmo sem admitir me impressionou.
– Tem um banheiro ali – disse Peter apontado para a única porta do amplo aposento.
Agradeci com um aceno e fui até o lugar. Tirei a roupa molhada e tomei um banho. Sai de lá com as roupas mais quentes e confortáveis que tinha na mochila.
– Então... Onde eu vou ficar? – perguntei com vergonha.
Peter sem querer correu os olhos pelo meu corpo, tentou disfarçar e sacudiu os ombros. Tentando não pensar muito naquilo decidi buscar as respostas que eu queria.
– Por quê? Porque você mora aqui? Logo nesse endereço.
Ele fez um barulho com a boca novamente, aquilo já estava me irritando. Observei Peter pegar uma fotografia de uma gaveta com agressividade e me mostrou. Era uma mulher linda com o cabelo liso, castanho e até a cintura, com uma franja reta sobre os olhos atrás do balcão da loja.
– Esta era Valentina Sanakht, irmã da sua mãe biológica, a mulher que daria suas respostas.
– Era?
– Ela faleceu há dois anos– disse ele friamente.
– Porque você a conhecia?
Ele suspirou – Porque eu sou seu guardião.
– O que? Porque? Você me odeia.
– Fui treinado durante anos para isso. Valentina me treinou e não tenho que gostar de você apenas te proteger. E sou eu quem te darei respostas agora.
– Pode começar.
– Fazemos parte de uma sociedade que os humanos comuns desconhecem, todos nesse grupo possuem certas capacidades a mais que logo você vai reparar. Os territórios são chamados de condados e os seus donos são os Condes e as Condessas. O conde mais rico é o mais poderoso é, portanto o governante. Está entendendo?
– Sim, tipo feudalismo.
– Exato. Você faz parte de uma família egípcia muito antiga – Ele jogou um livro imenso de uma mesa ao seu lado diretamente para meus braços, tomei a liberdade de sentar no sofá e abri-lo, só havia nomes estranhos em uma arvore genealógica que se estendia pelas folhas, começando pelo primeiro faraó Sanakht da terceira dinastia – Nesse lado do país não seguimos a cultura egípcia, porque as famílias daqui tinham tanto poder que quando mudaram definitivamente para cá criaram seus próprios costumes. Mantendo apenas alguns símbolos e os nomes como tradição. Sua mãe Pytia Sanakht, conheceu kanope Montu que fazia parte de uma família “inimiga”, pulando vários fatos e anos eles se apaixonaram e herdaram vários condados de seus amigos que os apoiavam, mesmo contrariando suas famílias. Kanope era gentil com os seus trabalhadores e logo se tornou conhecido e dono de vários condados. Com a riqueza e o poder outros Condes, começaram uma disputa com Kanope. Itemu Hórus é um dos poderosos e cruéis condes, ele sempre quis mais poder. Infelizmente isso desencadeou uma guerra, Kanope contra Itemu, os mais poderosos. Itemu sequestrava, torturava e matava pessoas de nossas terras para tentar fazer com que nos rendêssemos. O Conde Kanope era casado com alguém de uma família inimiga a Família Sanakht, o que causou mais conflito do que o próprio desejo de posse, isso era desonra. Principalmente porque Itemu era pai de Kanope.
– Meu pai biológico estava em guerra com meu avô? – perguntei confusa.
– Sim, e ainda está. Kanope usa o sobrenome da sua avó, eles se odeiam.
– Com o tempo os Sanakht aceitaram o novo genro e conviveram em paz, lutando juntos contra a família Hórus. A minha família servia de bom grado a Família Montu, meu pai mesmo sendo um traidor era o melhor amigo do Conde. Então por isso estou aqui hoje. Com a possibilidade de uma invasão a primogênita corria perigo e o Conde resolveu sumir com a criança. È claro que com os anos várias pessoas começaram a procurar, principalmente porque havia uma recompensa pela sua cabeça. – Engoli em seco – E um boato espalhado pelo Conde Hórus: O sangue que corre nas veias da primogênita é amaldiçoado, quem o bebesse teria vida eterna. Já que a família Hórus tem essa coisa de maldição por causa de inimigos. Eu não sei direito. Mas é apenas um boato para caçarem a criança ou a matarem. Tipo uma vingança pra ele – Acho que ele viu que estava me assustando e trocou de assunto. - Como as coisas nunca realmente melhoraram e havia esses psicopatas atrás de você, seus pais biológicos resolveram deixar que o tempo cuidasse de tudo até que estivesse pronta pra voltar. Você estaria segura e vivendo normalmente até ganhar a marca da família, ser coroada a herdeira do Conde e poder se proteger sozinha.
– Eu sou essa criança? – falei, mais afirmando do que perguntando.
–Sim, poucas pessoas conhecem essa história de verdade, outras sabem de vários boatos impossíveis que espalhamos para manter você segura, não sabem o que o Conde fez com a criança, mas sabem que ela anda por ai, viva.
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