Sophia escrita por Ana Carol M


Capítulo 3
Capítulo 3




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Querida filha,

Sinto tanta a sua falta e sua mãe ainda chora toda noite. Perdoe-me o sentimentalismo deste velho. Quero que saiba o quanto sofri ao ter que deixá-la. E peço que novamente me perdoe por isso. Espero que você esteja bem. Agradeço a seus pais adotivos por terem criado você, e acredito que tenha tido uma vida feliz. Há algumas pessoas que dariam a própria vida para ver a sua partindo desse mundo, foi por esse motivo que a mantive longe e segura. Não posso esclarecer mais nada nesta pequena carta, embora meu desejo seja esse. Se quiser respostas vá até a loja Marie em sua antiga cidade. Haverá alguém para lhe ajudar.

Com todo amor

Kanope Montu

Seu pai.

Aquele foi o momento em que tudo mudou. Eu sabia que aquela carta era para mim, porque essa sensação de certeza havia me levado até ali. Reli a carta varias vezes e fiquei paralisada.


Pouco tempo depois escutei minha mãe me chamando, ela foi me procurando encantadoramente em cada peça da casa. Até levar o susto de me ver no escritório, feito uma estatua, com um envelope vermelho nas mãos.


– Sophia! – ofegou ela.



Mas eu não conseguia responder, não quando via as lágrimas brotar nos olhos dela. Minha mãe colocou as mãos no rosto e se sentou em uma poltrona. Meu pai apareceu no escritório todo feliz com um pedaço de torta de chocolate, até nos ver. Ele fechou a porta e ficou em silêncio.


Eu ia te contar, hoje à noite – murmurou minha mãe. – Eu não podia te contar antes. Você... você estaria em perigo se soubesse. Eu queria te proteger.

Eu sentia que alguém estivesse me perfurando com uma faca em brasa bem no peito. Não tive reação, aquilo realmente estava acontecendo e eu não conseguia acreditar. Então todos os detalhes que eu secretamente notava foram se tornando nítidos, ninguém na família tinha olhos verdes e nem cabelo preto. O formato do meu rosto, minha pele translúcida, até minha altura. Eles eram todos altos.

Bem, guardar isso dentro da minha própria casa não parece bem protetor – falei com amargura.

Conte a ela Úrsula, vamos comece a falar – murmurou meu pai, irritado, mas eu podia sentir o alivio que ele sentia.

Úrsula respirou fundo e começou a falar.

– Nossa família tem uma linhagem muito antiga. Eu ajudava sua avó em um dos orfanatos da nossa antiga cidade e você estava lá, mas não sabemos como chegou. Eu fiquei tão ligada a você Sophia, sempre quisemos ter filhos, mas infelizmente eu não posso. Bom, nós adotamos você. Você era quase uma indigente lá dentro. E você era especial como nossa família, sabíamos disso e você precisava de instrução. Logo que chegamos em casa com você percebemos essa carta em seus documentos e ela estava lacrada. Acredito que eles não podiam abrir por serem pessoas comuns. Depois de ler foi que entendemos tudo. Você era a filha perdida do Conde, ou nem tão perdida assim. Passamos anos procurando qualquer informação sobre você ou sobre seu pai e sua mãe biológicos e nada. Não fazemos ideia do que aconteceu depois que o nosso mundo se dissipou. Apenas te mantemos em segurança.

Eu encarava minha mãe boquiaberta, como assim filha perdida?Como assim Conde?

– Então vocês mudaram de cidade pra me proteger, porque uma carta idiota dizia que eu corria perigo?

– Olhe o Ankh na folha, é ele. O Conde Montu.- disse ela.

– O que é um Ankh e porque esse nome?

– É um símbolo egípcio que significa vida eterna, você descende dos egípcios. Toda sua família biológica tem um nome estranho assim. – respondeu meu pai.

– Sabe é muita coisa pra acreditar. Se eu precisava de instrução porque nunca soube de nada?

– Porque quando soubemos que você era a filha do Conde não podíamos chamar a atenção pra você. Você não podia saber quem era, e muito menos sobre o nosso mundo. Se era um pedido do próprio Conde, então o assunto era realmente sério. Algo ruim estava atrás de você. E ainda está. Mas não sabemos o que é.

Poliana bateu na porta. Meu pai ia abrir a porta, mas fui eu quem abriu. Todos estavam agrupados no corredor esperando alguma surpresa boa, mas eu estava a ponto de explodir e não queria que isso acontecesse na frente de ninguém. Então sai do escritório e corri pelas escadas até o meu quarto. Escutei minha mãe e minha Tia Penélope caírem no choro. Fui seguida por Thomas, Oliver e Poliana. Me atirei na cama e coloquei o travesseiro no rosto. Não podia ser real.

Thomas se jogou ao meu lado e ficou encarando o meu travesseiro se mexendo a cada respiração.

– Não posso acreditar. – suspirei

Poliana e Oliver entraram no quarto e o garoto trancou a porta. Os dois se encolheram nas poltronas que havia em cada canto do meu quarto e ninguém falou por um bom tempo.

Foi quando me sentei na cama, mostrando pela primeira vez o rosto todo lambuzado de lagrimas, foi ai que eles perceberam que o assunto era sério.

– Problemas familiares – falei. Era só o que consegui dizer. Uma pequena parte do meu cérebro que acreditava que tudo o que eu havia escutado naquele escritório era real, me avisou sobre colocá-los em perigo caso soubessem demais. – Eu vou ter que viajar.

Thomas sentou ao meu lado e me abraçou.

– Alguém está doente? – perguntou Poliana.

– Sim, minha mãe. – Parecia que uma doença poderia ser um bom motivo para nos manter afastados da cidade, e não colocar meus amigos em perigo.

– Mas é muito sério? – perguntou Oliver.

– Ainda não sabemos, é o que vamos descobrir.

– Vão ficar quanto tempo fora? – perguntou Poliana.

– Não faço ideia.

– Sinto muito – disse Poliana.

– Acredite eu sinto mais – e como sentia.

– Sophia precisa ficar com a família dela agora, vamos embora. Mas prometa que vai nos dar noticias. – pediu Thomas.

– Prometo – um telefonema, um e-mail, era tudo que naquele momento eu poderia dar.

Eles me abraçaram, e foram embora. Um momento depois desatei a chorar por ter que deixá-los ir. Mal havia descoberto a verdade e já estava tendo que abandonar algumas pessoas. Era um mal pressentimento. 

Algumas horas depois desci e no escritório encontrei toda minha família olhando com feições de enterro para o chão.


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