O cenário era desfavorável para Jason e Pyro. Era previsível, e a vitória de Lea estava a um passo de se concretizar.

Charmander teve a sua defesa contra golpes especiais diminuída. Qualquer Energy Ball nocautearia.

Robert viu o rosto do seu filho e se surpreendeu que ele não ficou triste ou desesperado. O garoto vasculhava algo na mochila. O que seria?

— Desista, amiguinho. Nada que você usar será efetivo contra o meu Shaymin. Tá me ouvindo?

— Cala a boca aí um segundo...

— O QUE DISSE?!!! — gritou, irritando-se com a insolência do menino.

— Você usou o seu item. Agora é a minha vez de usar o meu. Está preparada?

Lea ficou na expectativa. O que seria? Um item caro comprado num departamento? Uma berry rara? Mas Jason continuou buscando algo na mochila.

— Eu não vou esperar o tempo todo, queridinho.

— Achei!

Todos olharam para o objeto na mão dele. Jason ergueu uma latinha de algo semelhante a um refrigerante. A lata era de cor bege com laranja e da marca Spindell.

— O QUÊ?! — Todos gritaram em uníssono.

Não era refrigerante. Era uma latinha de vodka Spinda. Uma bebida alcoólica. Mas como uma criança de 10 anos obteve algo do tipo? As pessoas da plateia se viraram para Robert e o chamaram de pior pai do mundo.

— O que eu fiz? Nem eu sabia disso?

— Aham. Sei. Conta outra — ironizou Simon.

Mas Jason comprou de um vendedor ambulante em Rock'atown. Não era para ele tomar, e sim o Charmander.

— Bebida alcoólica para pokémons não eram proibidas? — indagou Simon.

— A Liga nunca proibiu de fato. Só é proibida em algumas regiões. Por exemplo, em Johto dá até cadeia ao treinador. Mas em Hokkaishin não. — respondeu Erika.

Jason jogou a latinha e pediu a Pyro que bebesse. Lea chamou a criança de maluca por dar vodka ao pokémon.

Charmander bebeu alguns goles. Largou o objeto. Seus olhos ficaram em formato de espirais como os Spindas. Sua língua ficou para fora, ele meio que cambaleava, parecendo uma dança.

— Shaymin... atacar!

Shaymin usou o Air Slash mais uma vez. Dessa vez, Pyro desviou dos vários cortes como um mestre bêbado chinês. Deu um pulo bem alto, alcançando o nível do adversário, e deu uma cabeçada. Shaymin caiu de pé no chão.

— Eu sabia. Aquele vendedor me disse que isso deixaria o Pyro mais forte.

Mas Lea não se deu por vencida e pediu que o seu pokémon usasse Energy Ball. E assim foi. Charmander revidou soltando uma rajada de fogo azul! As flores que cresciam no campo de batalha pegaram fogo, e o ambiente ficou mais quente.

— Nunca vi algo assim. Vocês não proíbem esses estimulantes? — perguntou Simon.

— Vai de cada ginásio. Nós sequer cogitamos que ainda vendiam tais coisas. Certeza que após esse duelo, Lea proibirá. — respondeu Udonna.

Enquanto isso, Pyro girou como um pequeno tornado de fogo. Seu corpo ficou tomado pelas chamas azuis.

Shaymin usou mais Air Slash, mas o golpe era inutil, haja vista o fogo servia como um tipo de armadura para o Charmander.

— Acabe agora! — gritou Jason.

O Charmander bêbado correu ao redor da arena. Por onde ele passava, o fogo consumia. Chegou o momento em que não havia lugar para Shaymin pousar e a única coisa que sobrou foi voar. Mas Charmander não se deu por vencido e soltou uma rajada de fogo no chão, parecendo um foguete. Shaymin desviou, mas o lagarto continuou ao seu encalço no ar. Até que o pokémon mítico bateu com a cabeça no refletor e caiu. Charmander encostou nele e sorriu psicótico. Uma explosão ocorreu. Por fim, Shaymin caiu inconsciente para fora da arena, Pyro também. E foi o pokémon de Lea que caiu primeiro.

— Venci — disse Jason sob o olhar de reprovação do pessoal da plateia. — Que foi? Por que essas caras?

Simon tentou dar um soco no guri, mas Lea pediu que não fizessem nada contra ele. Não era culpa total dele se outras pessoas ainda vendiam esse tipo de coisa.

— Precisamos ter em mente que é apenas uma criança nesse mundo perigoso. A sorte que deu certo e conseguiu me vencer. Mas precisamos recuperar nossos pokémons. E aqui está a sua insígnia.

Lea abriu uma caixinha verde que mais parecia de uma joia e mostrou a Insígnia da Planta. O objeto lembrava uma folha verde com um desenho de uma árvore dourada. Jason agradeceu e comemorou a conquista da sua terceira insígnia.

Robert cruzou os braços e pediu explicações daquilo que viu. Jason pediu que o seu pai não brigasse, pois foi algo necessário.

— Ainda temos que conversar muito sobre isso, mocinho.

— Desculpa, papai — Riu de nervoso.

...

Poirrot perguntou a Luiza o que ela fazia ali. A menina revelou que fora confundida com um criminoso. Explicou que havia um encontro marcado com um possível comprador dos tesouros, mas o homem estava desmaiado no local. Então a polícia chegou na hora e mal entendeu.

— Argh... por isso achei fácil demais. Essa polícia de Woodland é uma vergonha. Mesmo assim você precisa ir à delegacia e explicar a verdade.

— Não posso. Sou considerada ré juvenil. Eles me prenderiam mesmo assim.

Poirrot passou os dedos sobre o bigode. A vida de Luiza era complicada demais para entender. Seu foco agora era buscar o suspeito de atacar na cidadela.

Luiza disse ao detetive que ouviu de um homem quase vítima que o sujeito usava capuz e um perfume forte.

— Onde você ouviu?

— Foi numa lanchonete. O homem entrou correndo e apavorado. A garçonete até ajudou. Pensei que era um assalto.

O homem deu um pulo de pavor. Uma pessoa usando um perfume forte? Só podia ser o garoto que falara na frente do ginásio.

...

Uma fumaça tomou conta dos corredores do ginásio. Bernardo incendiou todo o local. As pessoas correram para fora. A recepcionista ligou para o celular de Lea.

— Fala.

— O ginásio está queimando. Saiam daí agora!

A líder ficou chocada por algum tempo. Depois explicou a situação para os outros. Alguém havia colocado fogo no ginásio. Era a hora de todos saírem.