Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 29
Capítulo 25 - Chapeuzinho e o lobo


Notas iniciais do capítulo

Yo ho piratas! Demorei, mas cheguei kkkk Estava preparando esse capítulo e também estou de férias né gente, mereço um descanso, por isso demorei um pouquinho. Preparem-se porque esse capítulo ficou enoooorme, o maior que eu já escrevi. Adivinhem quantas palavras. 6.000? 8.000? 9.000? Que nada, pouco mais de 11.000 kkkkk Eu não achei que ia sair um capítulo tão grande, fui escrevendo e as ideias fluindo, aí quando cheguei no fim e fui reler tudo, vi que tinha ficado bem grande. Espero que gostem, eu me inspirei no episódio da Chapeuzinho, vcs vão ver que algumas falas são parecidas, mas eu acrescentei outras coisas e até os Três Porquinhos são mencionados aqui kkkk é claro que eu tive que adaptar, mas acho que ficou legal. O próximo provavelmente deve sair ainda essa semana. Quero agradecer à Trina pela recomendação, obrigada flor. Aproveitem a história, marujos



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Capítulo 25 – Chapeuzinho e o lobo

– O que aconteceu? – O Capitão foi acudir Ruby.

– Ela desmaiou não está vendo? – Tink disse enquanto apoiava a cabeça da Princesa.

– Mas é claro que estou vendo, senhorita Tinker Bell, eu quero saber o porquê de ela ter desmaiado – o Capitão explicou como se fosse óbvio.

– Ela ficou assim depois que mencionei a Branca de Neve, então empalideceu e desmaiou – explicou Ariel.

Killian não estava entendendo nada. Quem raios era Branca de Neve (e quem colocava um nome como esse num filho?) e o que Ruby tinha a ver com ela? Eles esfregaram os pulsos da moça, que estava tão branca quanto a areia da praia e aos poucos ela foi recobrando a consciência.

– Oh, está tudo preto – ela resmungou ao mesmo tempo em que tentava se apoiar para levantar.

– Fique deitada, vou buscar água – disse o Capitão, mas antes que se afastasse para buscar água, Ruby se lembrou do que acontecera e se desesperou.

– Branca! Branca está em perigo! – ela disse quase gritando.

– De onde você a conhece? – perguntou Ariel.

– É minha irmã!

– Pensei que sua irmã se chamasse Mary Margaret – o Capitão estava confuso. Ruby revirou os olhos, e se sentou explicando:

– E ela se chama. Em um dia de inverno minha mãe estava costurando e furou o dedo com a agulha, então desejou que quando tivesse uma filha, ela tivesse pele tão alva como a neve, cabelos negros como ébano e lábios tão vermelhos quanto sangue. E Mary nasceu exatamente com essas características. Minha mãe quis que ela se chamasse Branca de Neve, mas meu pai não gostou, então a chamaram de Mary Margaret e Branca é só apelido.

– Eu não fazia ideia – Ariel murmurou – Só agora eu notei a semelhança entre vocês.

– A Rainha Má, quem é ela? E por que está perseguindo a minha irmã?

– Tudo o que eu sei é que ela se chama Regina...

– Regina! Não, não pode ser...

– Você a conhece?

– É uma amiga dos meus pais. Eu não entendo. Por que ela quer a minha irmã?

– Eu não sei, mas ela estava convicta em matar sua irmã. Branca não me contou muita coisa, eu nem sabia que ela se chamava Mary. Ela só disse que estava fugindo da Rainha.

– E quando isso aconteceu?

– Há uns dois meses.

Dois meses. Fazia quase dois meses que Ruby tinha sido “seqüestrada”. E nesse tempo todo, ela nem sabia que sua irmã estava sendo perseguida. O que teria acontecido à sua família?

– Eu preciso ir atrás dela! – Ruby se levantou.

– Ei, ei, vá com calma! – disse o Capitão

– Killian, eu tenho que saber o que está acontecendo. Ela é minha irmã...

– Eu sei, amor. Mas não devemos tomar atitudes precipitadas – ele acariciou o rosto de sua Ruby, para acalmá-la. – E, além disso, está tarde. Quase todos estão bêbados. Podemos partir amanhã bem cedo. Eu prometo.

– Está bem. – ela suspirou.

– Para onde pretende ir? – perguntou Tinker Bell.

– Na verdade eu não sei. Meus pais devem saber onde ela está, mas não quero... não quero voltar pra aquele castelo.

– Tink, você é uma fada – falou o Capitão.

– Certamente – ela revirou os olhos.

– Você tem magia. Poderia encontrar Mary Margaret.

– Não sem pó de fada – explicou Tink – A magia que eu tenho não é suficiente. Só a Fada Azul poderia encontrá-la.

– Eu poderia... poderia ir falar com a vovó – Ruby falou pensativa – Talvez ela saiba algo.

Assim ficou decidido que quando amanhecesse, iriam procurar a avó de Ruby, que morava num vilarejo. Depois que desmontaram o acampamento na praia, e fizeram as arrumações necessárias no navio, o Capitão ordenou que soltassem a vela feita de penas de Pégasos.

– Mas, Capitão, o senhor disse que devíamos usá-la apenas em situações de emergência. – disse Smee. - Bem lembrado, Smee. Mas acontece que esta é uma emergência. E que foi que eu disse sobre me chamarem de senhor?

– D-desculpe. Eu me esqueci...

O Capitão balançou a cabeça e saiu andando pelo convés, dando ordens de maneira enérgica. Quando por fim tudo ficou pronto, o navio subiu ao céu, voando veloz.

– Devemos levar algumas horas até lá – Killian disse a Ruby, quando esta veio até ele – Agora me explique uma coisa, por que sua avó mora em um vilarejo?

Ruby já respondera a essa pergunta tantas vezes, que já não se irritava quando lhe perguntavam isso. As pessoas estranhavam o fato de seus avós maternos não morarem no castelo.

– A família da minha mãe não tem sangue nobre. Ela era uma plebéia e se apaixonou por meu pai quando ele estava de passagem pelo vilarejo em que ela morava. Quando eles se casaram, a vovó se recusou a morar com eles no castelo porque nunca gostou dessas coisas. Minha família é meio complicada, você sabe.

– Muitas famílias são complicadas. – o Capitão apenas disse, e ficaram em silêncio por um tempo.

– Eu não sei o que fazer – Ruby desabafou.

– Não se preocupe, meu bem – Killian afagou o rosto dela – Vai dar tudo certo. Sua irmã deve ser bem esperta, assim como você. Aposto que ela está bem.

– Sim, ela é. Mas quem sabe o que pode acontecer?

Antes que Killian pudesse dizer algo que a consolasse, Will veio na direção deles, trazendo uma espada.

– Ei, esqueceu da aula?

– Ah, eu me esqueci. Desculpe, Will, mas não estou com cabeça para isso agora...

– Nada disso, mocinha. Quero você bem treinada – o Capitão falou e em seguida olhou para o irmão – Pegue leve com ela.

Will assentiu e os dois se afastaram para o meio do convés, onde o marujo e Elizabeth estavam dando aulas às moças. Tinker Bell se recusara a aprender com qualquer um dos dois, já que insistia que por ser uma fada, não precisava dessas coisas para se defender. Ariel lutava contra Elizabeth e esta última se surpreendeu quando a sereia arrancou a espada de suas mãos.

– Uau! Você aprende rápido – exclamou Liza.

– Eu acho que não tenho o menor jeito pra isso – Ruby encarou a espada na mão de Will.

– Bem, você vai aprender – o rapaz a entregou a espada que fizera especialmente para ela e então começou a ensiná-la o básico que deveria saber. – A primeira coisa é saber como usá-la, deixar que ela faça parte de você, como se fosse uma extensão do seu braço – Will ensinou a ela como segurar direito e no começo Ruby teve dificuldade porque a espada era meio pesada. – É meio difícil, mas você se acostuma.

– Como foi que você aprendeu?

– Na aldeia em que morava, quando fui morar com o ferreiro, de vez em quando apareciam esses espadachins. Mosqueteiros se eu não me engano. Eu era um jovem curioso e não demorou pra que me interessasse pela arte da luta de espadas. Veja bem, eu estava aprendendo o ofício de fabricar espadas, mas não sabia como usá-las. Então, quando estes mosqueteiros apareceram procurando por boas espadas, acabaram me oferecendo umas aulas. Não demorou muito até que eu aprendesse.

– Acho que você vai ter trabalho comigo – ela comentou rindo e Will deixou que ela se acostumasse com o peso da espada.

– Oh você está com a postura errada – ele se apressou a colocá-la ereta, posicionando seus ombros – Assim está melhor.

Elizabeth olhava para eles pelo canto dos olhos, tentando não ligar para o fato de Will e Ruby estarem tão próximos. O Capitão estava de olho na direção, mas não havia dúvida de que estava atento a tudo.

– Agora, manuseie a espada como se fosse seu próprio braço. Isso mesmo. Isso, isso, está indo bem. Mas não force demais ou poderá machucar o pulso. Sim, sim, assim mesmo. Você está indo bem – Will dizia, atento a todos os movimentos da moça. - Você deve estar atenta a todos os passos de seu inimigo. Uma luta de espadas não serve apenas para ferir o oponente, você deve desafiá-lo, conhecê-lo. Encontrar um ponto fraco...

– Mas como eu vou saber? Eu digo, como encontro um ponto fraco?

– Deve treinar. Equilíbrio é muito importante. Corpo e mente devem ser moldados. Deve treinar seus reflexos. Concentração. Agilidade. Tudo isso vai lhe ajudar. Uma luta de espadas não é só o movimento de duas lâminas se encontrando. Há o jogo de pernas...

Eles começaram a se mover. Will com sua espada na direção de Ruby e a moça pronta para qualquer movimento do adversário. Os dois se moviam em círculo.

–...e o jogo de movimentos. Qualquer distração fará com que perca a concentração. Deve focar apenas em seu adversário e esquecer o que está acontecendo em volta. Não deve permitir que seu emocional interfira, deve se manter neutra.

– Suponho que seria meio difícil caso estivéssemos em perigo, não? – Ruby observou, imaginando como seria possível alguém se manter equilibrado emocionalmente, mesmo em casos de perigo extremo.

– Sim, seria. Bem observado. É por isso que deve trabalhar seu emocional. Nada pode ter o poder de te abalar. Mesmo que esteja emocionalmente abalada, não deve permitir que o adversário perceba isso, ou usará sua fraqueza contra você.

– Entendo.

– Assim voltamos ao ponto fraco. Deve estar atenta às emoções de seu inimigo. O que ele demonstra? Medo? Audácia? Vamos imaginar que estivéssemos no meio de um ataque. Killian está ferido e você é a única que pode defendê-lo porque todos os outros estão ocupados tentando salvar suas vidas. Killian está desarmado, fraco, sangrando... Tudo o que ele pode fazer é se contorcer de dor e implorar por misericórdia. E o que você faz?

Num movimento rápido, Ruby girou sua espada na direção de Will e o rapaz bloqueou o golpe.

– Muito bom! – elogiou – Mas o que acontece se eu fizer isto? – ele afastou a espada da moça com um movimento ágil e os dois começaram a se atacar, um bloqueando o golpe do outro, até que Will conseguiu arrancar a espada das mãos de Ruby e ela caiu para um lado – Agora está indefesa. – ele apontava sua espada afiada para ela – De maneira alguma pode permitir que o inimigo tire sua espada do modo como eu a tirei. Suas emoções não podem aparecer nesse momento. Você não pode demonstrar medo ou desespero, pois seu adversário pode usar isso contra você.

Eles continuaram com a aula. Killian não perdia nenhum movimento dos dois. Will era um bom professor, ele tinha que admitir. Como todo pirata, Killian aprendera a lutar quando entrara para a tripulação, mas não era tão bom quanto seu irmão. Realmente, Will era um ótimo espadachim.

Por fim, depois de uma série de golpes e bloqueios, Will mais uma vez arrancou a espada das mãos de Ruby e a pressionou contra o mastro principal.

– Ahá, peguei você! – exclamou vitorioso, ao mesmo tempo em que Killian lançava um olhar furioso na direção deles.

– Mas o que é isso? – o Capitão gritou – Que pensa que está fazendo com minha Ruby, apertando-a assim?

– É só uma aula – ia dizendo um Will irritado.

– Não me interessa! Ela é minha mulher. Sabe de uma coisa? Não haverá mais aulas como essa, eu mesmo ensinarei a ela.

– Ora, faça o que quiser – Will resmungou balançando os ombros – Afinal, você é muito possessivo. Só enxerga o que quer enxergar. Me admira que esteja com ciúmes, você nunca foi de demonstrar essas coisas.

– Ah cale a boca.

– Oh, isso te irrita? – o marujo riu – Então sugiro que escreva um documento atestando que ela é sua propriedade.

– Will, o que é meu é meu, e o que não é meu é meu também. (1) – o Capitão disse de um jeito petulante – Sabe o que isso significa? Oh, é muito para sua cabeça do tamanho de um prego. Significa que Ruby é minha, o navio é meu, e até o que não é meu é meu, como essa comida que você come todos os dias, ou a rede em que dorme.

– Seu idiota possessivo. Eu não preciso de nada disso. Danem-se as redes e rações que você chama de comida.

– Não precisa? Então o que faz aqui? Parecia muito decidido a fazer parte da tripulação e agora só sabe escarnecer das pessoas que um dia te acolheram como parte dessa família. Se está insatisfeito, sugiro que volte de onde veio...

Will, sem argumentos, apenas deu de ombros e foi para o andar de baixo, deixando Killian irritado. Liza e Ariel que ainda treinavam ali perto, resolveram deixar aquilo para mais tarde, antes que o Capitão brigasse com elas também. Ruby foi falar com o Capitão.

– Você tem que parar com isso.

– Isso o quê? – disse o Capitão se fingindo de bobo.

– Esses ciúmes.

– Tenho que cuidar do que é meu – ele respondeu – E Will gosta mesmo de provocar. Como ele ousa colocá-la contra a parede daquele jeito?

– Tecnicamente, não era uma parede e sim um mastro. E na verdade estava me mostrando como é fácil eu ser dominada.

– Ah quer dizer que gostou disso, não é? – Gancho olhou para ela com raiva, tão vermelho que parecia mais um pimentão. – Por que não vai atrás dele e pede que faça de novo?

– Eu não... ora! – ela bateu o pé e cruzou os braços começando a se irritar com o comportamento do Capitão – O que pensa que eu sou? Não sou como as outras vagabundas que você usava por aí...

– Como se atreve a falar comigo desse jeito? – o Capitão olhou pra ela com os olhos brilhando de raiva – É melhor você sair daqui antes que eu...

– Ah vou sair mesmo. Vou atrás do Will e pedir pra que ele faça o que quiser comigo. – ela saiu pisando duro, mas o Capitão a segurou pelo braço.

– Não!

– Pensei que tivesse dito pra eu sair. Acho que o excesso de rum está mexendo com seu cérebro.

– Você... você pare com isso – o Capitão fez irritado. Ruby estava agindo como quando ela e o Capitão brigavam e ela sempre o provocava. A Princesa sabia bem como irritá-lo e estava adorando isso.

– Bobo! – ela riu e o abraçou meio de lado – Eu só gosto de você, pirata bêbado e ciumento...

– Eu não sou bêbado – ele não pôde deixar de rir, agora não tão bravo quanto antes – Mas ciumento sim, talvez um pouco...

– Não gosto de ver vocês brigando.

– Não tenho culpa se meu irmão é um traste...

Ruby lançou a ele um olhar de reprovação e o Capitão mudou de assunto antes que ela começasse seu discurso de que irmãos devem ser amigos.

– Você está bem? Com relação à sua irmã?

– Sim, estou bem, apesar de assustada. Nunca pensei que algo ruim pudesse acontecer a ela. Eu digo, Branca nunca fez mal a ninguém, porque Regina estaria contra ela?

– Há muitas pessoas más por aí – o Capitão explicou – Muitas vezes elas se escondem por baixo de uma máscara e nos enganamos por pensar que são boas e bem intencionadas, mas a realidade é bem diferente.

– Está dizendo que minha irmã finge ser boa? – Ruby botou as mãos na cintura e Killian foi logo se explicando.

– Não, estou dizendo que Regina, a Rainha Má, pode muito bem ter enganado vocês durante todos esses anos.

– É, não tinha pensado nisso. Quando foi que você ficou tão esperto assim?

– Oh eu sempre fui – o Capitão se exibiu – Aliás, esperteza é minha maior qualidade.

Ruby revirou os olhos fazendo Killian rir e Tinker Bell veio até os dois. Voltara ao seu tamanho normal de fada e deslizava pelo ar com suas asas batendo como sininhos.

– E então, quando vamos atrás das aventuras? – perguntou animada.

– Que aventuras você está esperando? Estamos apenas indo a um vilarejo – disse o Capitão.

– Mas não vamos atrás da Rainha Má?

– É claro que não. Quer mesmo desafiar a ira dessa mulher? Ela pode colocar um exército contra nós.

– Oh, mas eu pensei que... – Tink aparentemente ficara desapontada, mas Ruby disse que a fada ia gostar do lugar para onde estavam indo.

– Você vai gostar da vovó, ela sabe fazer comidas deliciosas.

– Eu não sei por que, mas não gosto quando você fala dela. – o Capitão coçou a cabeça – Pressinto que ela não vai gostar de mim...

Algumas horas depois, o navio atracou num pequeno porto. Ao todo a viagem durara cinco horas e Ruby não via a hora de rever sua avó. O Capitão permitiu que os marujos fossem se divertir na taberna local, enquanto ele e Ruby iam falar com a Vovó. O vilarejo em que ela morava era um lugar tranqüilo. Todos se cumprimentavam e se conheciam. Algumas pessoas reconheceram Ruby e a cumprimentaram, não sem antes se perguntar o que a Princesa estaria fazendo com piratas e vestida como eles.

– Acho melhor usar sua capa – aconselhou o Capitão, depois que um conhecido olhou para Ruby como se ela fosse louca. A moça envolveu os ombros com a capa e colocou o capuz na cabeça. Passou a andar de cabeça baixa, encarando o chão, assim ninguém poderia reconhece - lá.

– A Vovó mora num lugar meio afastado – ela disse ao Capitão – Ela nunca gostou de vizinhos se intrometendo em sua vida.

O Capitão não disse nada, mas parecia preocupado.

– O que foi?

– Nada – ele mentiu.

– Não acredito que está com medo dela – Ruby gracejou – Ah vamos lá. Ela é legal.

– Ah sim, e ela gosta de piratas? Ou melhor, será que ela gosta de piratas que seqüestraram sua neta?

– Ela vai entender. Vou explicar tudo a ela.

Uns minutos depois eles alcançaram a pequena cabana. Havia um poço ali perto e Ruby se lembrou de como sua avó sempre lhe pedia que fosse buscar água, quando ela passava alguns dias ali. Mas fazia muito tempo desde a última vez em que estivera ali. Talvez sua avó estivesse mesmo diferente. Ela não sabia o que pensar, mas se alguém poderia saber onde estava Branca, esse alguém era sua avó.

– Hum, eu vou esperar aqui. Me chame se precisar – o Capitão parou quando Ruby ia caminhando até a porta da casa. Ela se virou para olhá-lo.

– Killian...

– Eu não quero estar lá quando você contar tudo a ela. – ele falou e se recostou ao tronco de uma árvore ali perto, deixando claro que nada do que a moça dissesse poderia convencê-lo.

– Está bem. – ela suspirou e foi bater à porta.

– Quem é? – uma voz de idosa veio de dentro e Ruby teria derrubado a porta só pela felicidade de poder rever sua querida avó.

– Sou eu, Vovó, a Ruby...

Ela ouviu o som de um trinco sendo retirado às pressas e logo depois a porta se abriu e sua avó a puxou para um abraço apertado.

– Oh graças aos céus! – a senhora suspirou aliviada.

– Vovó... Está me sufocando.

– Vamos, vamos. Entre logo, menina. – a avó a puxou para dentro e fechou a porta atrás de si – Anita! Anita, venha ver quem está aqui.

– A mamãe está aqui? – Chapeuzinho perguntou intrigada ao mesmo tempo em que uma mulher de meia idade aparecia na cozinha.

– Ruby! – ela guinchou e correu a abraçar a filha – Graças aos céus! Você está bem?

– Sim, estou ótima.

A mãe e a avó começaram a falar ao mesmo tempo, indagando se ela estava realmente bem. Estavam na cozinha e um fogo crepitava na lareira, embora ainda fosse outono. A cabana estava exatamente do jeito que Ruby se lembrava e sua avó não mudara nada desde a última vez em que a havia visto.

– Eu fiquei tão preocupada! – Anita puxou a filha para mais um abraço – Como foi que chegou aqui? Você fugiu?

– Aqueles piratas tocaram em você? – a avó perguntou, subitamente enraivecida por se lembrar de que Ruby fora seqüestrada – Lhe fizeram mal? Te machucaram.

– Ei, uma coisa de cada vez – Ruby se sentou no velho sofá e respirou fundo – É uma longa história, mas eu me pergunto o que a senhora faz aqui. Não devia estar no castelo? – ela dirigiu a pergunta à mãe, que apenas disse:

– Isso é outra história. Primeiro eu quero saber tudo sobre aqueles piratas.

– Bem, foram eles mesmos que me trouxeram aqui. Eu fiquei preocupada com Mary e pedi ao Capitão que me deixasse vir aqui pra falar com a Vovó.

– Eles trouxeram você? – a mãe se espantou – Mas eu pensei que você fosse uma prisioneira...

– Não, eu não sou. Quer dizer, eu era, no começo. Mas o Capitão é legal e ele faz qualquer coisa pra me ver feliz e...

– Pelo amor das fadas! – a avó soltou um grito assustando Anita e Ruby. – Não, não pode ser. Eu consigo ver. Você está apaixonada por ele...

Anita se virou para olhar a filha, seus olhos encarando-a, como se quisessem perguntar se ela realmente se apaixonara por um pirata.

– Ah bem, sim é verdade... Nós nos apaixonamos e...

– Como é? – foi a vez de a mãe gritar. A avó se abanava com as mãos e Anita abriu a boca, mas não conseguiu dizer mais nada.

– Ele seduziu você! – a avó acusou – É claro, mas é claro... Ele não pôde apenas fazer de você uma prisioneira, também teve que usá-la e seduzi-la...

– Ele não me seduziu – Ruby defendeu o Capitão – Nós nos apaixonamos. Eu o amo!

– Ah! – a avó botou a mão no coração e teve que se sentar em sua cadeira de balanço, antes que morresse do coração.

– Você parece feliz... – a mãe disse, ainda chocada, mas não tão desesperada quanto a Vovó.

– É porque eu estou – Ruby sorriu – Conhecer o Killian foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Então Ruby contou toda a história desde o início. Contou como ela odiara estar num navio pirata; como o Capitão era um grosso, insensível, mandão e estava sempre gritando com ela e fazendo com que trabalhasse; como ela descobrira uma maneira de desafiá-lo, sempre o irritando; como ela aprendera a cozinhar; como tentara fugir e o Capitão a salvou de ser violentada; como aprendera dezenas de coisas com os piratas; e como se tornara mais forte e mais esperta desde que fora parar no Jolly Roger. Também narrou suas aventuras na Ilha das Tarântulas, quando quase foi morta por aranhas gigantes comedoras de gente, mas no fim se salvara e ainda encontrara um tesouro. Contou que estivera na Terra do Nunca, conhecera Peter Pan e Tinker Bel e quase se casara com o cacique de uma tribo indígena, mas no fim o Capitão a salvara antes que a cerimônia de casamento terminasse. Mencionou as pessoas que conhecera e as amizades que fizera nesse tempo em que estivera no navio. Lembrou-se de como as coisas começaram a mudar desde que ela pusera os pés no Jolly Roger e de como ela fizera o Capitão voltar a ser um homem bom e honesto. Disse que acabara se apaixonando pelo Capitão, mesmo ele sendo um pirata, e sabia que seus pais nunca aprovariam isso, mas ela não pôde evitar. Acrescentou o fato de Killian também ter se apaixonado por ela e mesmo assim nenhum dos dois nunca admitira que estavam amando um ao outro. Descreveu tudo em detalhes e por fim terminou contando como descobrira que não fora seqüestrada, mas vendida.

– Foi o Capitão quem contou a você? – Anita perguntou depois que Ruby terminara de contar toda a história. Enquanto a Princesa falava, mãe e avó permaneceram caladas, envolvidas com a narração. A Vovó ainda estava meio abalada, mas agora parecia mais tranqüila.

– Ele ia me contar porque eu estava curiosa já que não conseguia entender essa história do seqüestro – explicou Ruby – Mas eu acabei descobrindo sozinha, depois que li o diário dele.

– Ah minha filha! – a mãe a abraçou novamente – Foi um susto e tanto quando eu descobri que seu pai tinha vendido você. Eu nunca teria imaginado. Quando Mary Margaret chegou tarde naquele dia, eu já sabia que algo de ruim havia acontecido. E então ela me contou que você estava com os piratas e que eles exigiam um pagamento para que fosse solta. Nós fomos até as docas, mas vocês já tinham partido. Seu pai ficou arrasado, mas só depois eu descobri toda a verdade. Aquele desgraçado!

– Mas e Branca? Onde ela está e por que está sendo perseguida por Regina?

Anita ficou surpresa por Ruby saber aquilo, já que desde que ela partira, muita coisa acontecera. Então Ruby contou a história de como Ariel tinha salvado Branca e as duas foram ao baile do Príncipe Eric e de como Regina fora atrás de Branca e ainda fizera Ariel ficar muda.

– Depois que você partiu, tudo começou a ruir – foi a vez de a mãe contar a história toda - Seu pai prometeu colocar toda a Marinha atrás dos piratas, para que você fosse resgatada, mas eu não conseguia entender como os piratas tinham conseguido chegar ao nosso território, em primeiro lugar. Eu estava desconfiada, e bem, eu não sou nada inocente. Comecei a vigiar seu pai e escutei enquanto ele conversava com o tesoureiro. Descobri que estávamos quase falidos, mas seu pai disse ter contornado a situação e comecei a pensar que ele talvez tivesse usado de meios ilegais para isso. Foi então, que mexendo em documentos dele, encontrei um que atestava que você tinha sido vendida a um tal Killian Jones. Não foi difícil ligar uma coisa a outra e entender que o seqüestro não passara de um teatro.

“Foi quando nosso casamento acabou de vez. Você sabe que eu nunca fui feliz morando naquele castelo, sempre fingindo gostar daquela vida, quando eu era mais feliz morando aqui. Saber que minha filha havia sido vendida foi a gota d’água. Mary quase não acreditou quando contei a ela, mas então seu pai confessou e disse ter feito isso porque o Capitão Killian Jones o ameaçara. Mas então os podres começaram a aparecer. Um informante descobriu a verdadeira história por trás do seqüestro e acabou por me contar o resto. O desvio de dinheiro, as trapaças e tudo mais. É claro, também havia uma amante no meio de tudo isso, mas você já sabia, não é?”

Anita estava revoltada e Ruby sentiu uma parcela de culpa por não contar a ela sobre a amante.

– Eu sabia. – ela confessou – Mas tive medo de contar a você porque sabia que isso ia ser a destruição de nossa família.

– Está tudo bem, você não tem culpa. O importante é que eu descobri tudo. Imagine que ele gastou metade do nosso dinheiro com presentes para ela...

– Eu só descobri porque ele nunca estava em casa. Acabei encontrando um colar de diamantes endereçado a ela e o papai implorou que eu não contasse a você. Ele disse que ia terminar com ela, e então poderíamos ser uma família como antes.

– Quanta bobagem! Espero que ele tenha feito bom proveito – Anita resmungou fazendo cara de desprezo – O fato é que depois que Mary e eu descobrimos tudo isso, não quisemos mais viver debaixo do mesmo teto que ele. Eu estava pensando no que fazer, quando Regina começou a perseguir sua irmã. Coitada, acho que a morte do marido a abalou demais e agora fica vendo coisas que não existem. Acredita que ela cismou que sua irmã era mais bonita e queria matá-la apenas por isso?

Ruby ficou boquiaberta, pois não esperava algo assim de Regina.

– E tem mais, ela andou mexendo com bruxaria e agora se exibe por aí com seus poderes. – Anita continuou – Sua irmã fugiu e eu não pude fazer nada para ajudá-la. Então vim morar com sua avó, enquanto seu pai encontrou vários jeitos de acobertar os crimes que ele cometeu e desculpas para o que aconteceu a nós. A história do seu seqüestro ainda não foi descoberta como sendo uma farsa, ele mente dizendo que colocou os melhores homens atrás dos piratas, mas que eles são espertos demais e devem ter fugido para outro mundo. Agora acabou por inventar que eu vim passar um tempo com sua avó, pois seu seqüestro e a rivalidade entre Mary e Regina acabaram me afetando muito e eu precisava descansar a cabeça. Ele é mesmo um mentiroso fingido...

A avó que até então estivera calada resolveu falar:

– Quanto ao pirata, você gosta mesmo dele?

– Sim, vovó. Eu o amo. Ele até fez uma festa maravilhosa para mim, em comemoração ao meu aniversário. E vejam, ele me deu esse anel – ela mostrou a elas o anel de rubi que brilhava em seu dedo.

– Parece valioso! – a avó tomou a mão de Ruby para examinar melhor o anel – Com certeza foi roubado!

– Não, nos o encontramos na Ilha das Tarântulas, entre as jóias e moedas de ouro que havia lá.

– Tanto faz. É claro que ele não perdeu tempo e tentou comprar você. E esse colar de esmeralda que está usando? Também é presente dele?

– Ah não, isso aqui eu ganhei de Ellanor, a bruxa...

– Bruxa? Então também está metida com bruxas, menina? – a avó voltou a se desesperar – Eu vou lhe dizer, o melhor a se fazer é você esquecer esse pirata e vir morar aqui.

– Mamãe, também não é para tanto – Anita tentou tranqüilizar a senhora e Ruby explicou que Ellanor era legal.

– Ela até me deu essa capa, serve para me proteger – disse a Princesa, ocultando o fato de que ela tivera que pagar pela capa. – Bem, o Killian está lá fora, posso chamá-lo?

– Um pirata dentro desta casa? Mas nem por cima do meu cadáver. – a mais velha se levantou, deixando bem claro que não queria ver Killian.

– Nós ao menos devíamos conhecê-lo – sugeriu Anita – Eu meio que já gosto dele por ter salvado minha filha tantas vezes. E se ela diz que o ama...

– Está pensando em permitir isso, Anita? – a Vovó arregalou os olhos – Ah céus, no que essa família foi se tornar? É o fim do mundo...

Anita ignorou a mãe e pediu que Ruby trouxesse Killian. Embora um pouco relutante, o pirata concordou em acompanhar a Princesa e parou à porta meio cauteloso.

– Mamãe, vovó, este é o Killian. – Ruby apresentou, forçando o pirata a entrar.

– É um prazer conhecê-las, senhoras – o Capitão foi beijar a mão da mãe de Ruby e pelo olhar que ela lançou à filha, Ruby notou que ela tinha gostado do pirata. Killian não estava gostando dessa situação, mas ele era um pirata! Como poderia ter medo de conhecer a família de sua amada Ruby? Ele foi beijar a mão da Vovó, mas ela se afastou resmungando que no tempo dela uma coisa dessas jamais seria permitida. Onde já se viu, um pirata e uma princesa...

– Mamãe, tenha modos! – Anita cochichou em tom de repreensão. A Vovó apenas bufou e ficou encarando a porta.

– Hum, nós só viemos porque eu precisava saber da Mary – Ruby falou meio desconfortável com a situação. Ela deu o braço a Killian e isso irritou a avó, mas a mãe parecia estar achando bonitinho, porque sorriu. – Vocês por acaso sabem onde ela está?

– Ela está bem. – Anita respondeu - Não sei exatamente onde está porque ela quis manter o esconderijo em segredo. Temos trocado mensagens através de um pássaro azul. Da última vez ela só mandou um bilhete dizendo que estava bem e que encontrara um lugar onde a Rainha não poderia achá-la, mas que ia manter em segredo, para o caso de o pássaro ser interceptado.

– Ah, é uma pena. Eu queria procurar por ela...

– O quê? Você fique fora dessa, menina – a avó interferiu – Não se atreva a procurá-la ou pode acabar sobrando pra você. Talvez esses piratas possam ao menos protegê-la e impedir que faça besteiras...

– Certamente, minha senhora – disse Killian educadamente. Ele adivinhara ao pensar que a Vovó não ia gostar dele e agora precisava ser cauteloso, para não acabar irritando a mulher – Eu vou sempre cuidar dela. Mas nós poderíamos também ir atrás da Mary, meus homens são treinados e sabem lutar.

– Ah, mas aquela Regina é versada em magia das trevas – a mãe falou sombriamente – Ela poderia acabar com vocês com um estalar de dedos.

– Então a coisa é mesmo complicada... – Killian coçou a cabeça.

Passava do meio dia e Ruby disse que era melhor irem embora, mas o Capitão achou que os marujos já deviam estar bastante bêbados e provavelmente estariam dormindo por aí. Ele supôs que teriam que passar a noite ali e disse que era melhor Ruby ficar com a mãe e a avó enquanto ele se arranjava em algum lugar por aí.

– Vocês não podem ficar – a avó disse – Hoje é noite de lua cheia.

– Ah, quer dizer que o lobo... – Ruby arregalou os olhos, lembrando-se da criatura que assombrava o vilarejo nas noites de lua cheia.

– Lobo? – o Capitão indagou confuso.

– Pensei que piratas soubessem a história do terrível Lobo Mau – a avó disse sinistramente.

– Lobo Mau? – o Capitão ficou interessado.

– Mas ele não tinha morrido? – perguntou Ruby.

– Oh então você não sabe? Não adianta matar um lobo se ele deixar seu legado a outra pessoa. – respondeu a avó, que sabia tudo sobre lobos maus.

– Não entendi – disseram Ruby e Killian juntos.

– Ah, meus filhos, é terrível esse lobo – a avó se sentou em sua cadeira de balanço e começou a contar a história do lobo. Ela até se esqueceu que não gostava do Capitão – Ele vive nesse vilarejo há muitas gerações. Não é um lobo qualquer, mas um licantropo, um homem amaldiçoado. Ninguém sabe como essa maldição começou, mas um dia, numa noite de lua cheia, um homem se transformou em lobo e atacou todos que estavam em seu caminho. Sua sede de sangue é terrível, ele não perdoa ninguém. É claro que o pobre amaldiçoado não tem culpa, quando se transforma, ele não se lembra de nada no dia seguinte, quando volta a ser um homem. Muitos nem chegam a descobrir que são amaldiçoados. E se você for mordido por um lobo, pode ter certeza de que estará amaldiçoado para o resto de sua vida...

– E não há como matar o lobo? – perguntou o Capitão.

– Sim, com prata. Qualquer coisa que for feita de prata. Mas é perigoso. Meu pobre marido foi morto pelo lobo...

Ruby abraçou a avó para consolá-la. Ela não sabia tudo sobre o lobo, mas sabia que seu avô fora um dos que se aventurara a matá-lo e acabou sendo morto.

– E hoje é lua cheia. Ele vai aparecer. Devem ir embora agora mesmo. Muitos já foram mortos.

– Mas e vocês, senhoras, ficarão sozinhas aqui... – o Capitão se preocupou.

– Ah não há perigo. Está vendo as janelas? Todas protegidas por trinco e também a porta. Além disso, tenho aqui essa besta – a mulher se levantou e apanhou uma besta encostada a um canto da cozinha – Nunca precisei usá-la, mas por via das dúvidas...

– Talvez seja melhor ficarmos – falou Ruby – Os marujos devem estar mesmo bêbados. Podemos dizer a eles que encontrem um lugar seguro, e então Killian e eu passamos a noite aqui com vocês.

– Por mais que eu não goste dele, nesse caso acho que é uma boa ideia...

– Mamãe! – repreendeu Anita e a Vovó deu de ombros.

– Talvez possamos matar o lobo – o Capitão estava pensativo – Meu irmão é ferreiro e poderia fabricar uma espada de prata.

– Oh é melhor não se aventurarem tanto – Anita aconselhou – Esse lobo é ainda pior do que os outros que já existiram. Ele até derrubou a casa dos Três Porquinhos...

– Três Porquinhos? – perguntaram Killian e Ruby curiosos.

– São três irmãos que vivem na floresta. São chamados de porquinhos porque não tem hábitos de higiene, praticamente não tomam banho. O caso é que eles herdaram a fortuna da mãe deles e então cada um resolveu construir sua própria casa. Cícero é o mais preguiçoso dos três e construiu uma cabana de palha para acabar rápido. Heitor também não é muito trabalhador e fez uma cabana de madeira. Mas Prático, que dos três é o filho mais esforçado, construiu uma casa de tijolos. Numa noite, quando o lobo apareceu, se embrenhou na floresta e acabou encontrando os três. Acreditam que ele derrubou as casas de Cícero e Heitor com apenas um sopro?

Killian e Ruby arregalaram os olhos.

– Os pobrezinhos quase morreram. Por sorte Prático morava por perto e foi pra casa dele que os dois correram. O lobo não conseguiu destruir a casa porque os tijolos são fortes. Agora os três vivem juntos, mas não tem coragem de enfrentar o lobo.

– Mas que horror. Esse lobo é muito sagaz. – comentou Gancho – Se o lobo é um homem amaldiçoado, como é que a gente descobre quem ele é em sua forma humana?

– Ah, não é tão difícil, mas nós ainda não descobrimos quem é. – falou a avó – Isolamento, comportamento estranho, olheiras, olhos vermelhos... tudo isso indica um lobo.

– E se o encontrássemos e o feríssemos com algo feito de prata...? – o Capitão estava pensando.

–... mataríamos o pobre coitado, mas ficaríamos livres do lobo – completou a avó.

– Está pensando em procurá-lo? – Ruby analisava a expressão pensativa do Capitão.

– Já que estamos aqui, devíamos ajudá-los.

– Então aproveitem enquanto há tempo. – sugeriu a Vovó – Depois que escurecer o maldito vai se transformar e matar todos que encontrar pelo caminho.

Ruby e Killian então resolveram voltar à taberna para avisar aos outros o perigo que estavam correndo. No caminho Ruby encontrou um velho amigo.

– Ruby! – um homem um pouco mais novo do que Killian se aproximou sorrindo e a abraçou.

– Quinn! Há quanto tempo!

– Como vai minha princesinha favorita?

– Estou bem. Vim ver a vovó. Ah, e este é o Killian.

Os dois se cumprimentaram com um aceno de cabeça e Gancho não fez questão de disfarçar seus ciúmes. Quinn apenas disse que sentira falta da moça e que ela deveria aparecer mais vezes. Depois disse que devia voltar ao trabalho e se afastou em direção à floresta.

– Quem é ele? – Killian perguntou enciumado.

– Um velho amigo. Ele é lenhador. Nós brincávamos na floresta quando éramos crianças e eu vinha passar uns dias aqui.

– Hum – Gancho murmurou, mas não porque estivesse irritado. Ele notara algo naquele rapaz, só não podia afirmar com certeza...

Mais tarde, depois que voltaram da taberna, o Capitão disse à Vovó e Anita que seus marujos eram espertos e mesmo bêbados encontrariam um lugar para se esconder. Ele também contou que procurariam pelo lobo em sua forma humana no dia seguinte, para acabar de uma vez por todas com ele.

Escurecia e logo o lobo ia se transformar. Ruby estava apavorada, pois já ouvira sua avó contar do lobo dezenas de vezes. Mas ela também estava curiosa e até tentaria espiar pela janela, para ver como ele era. Um grupo de homens veio bater à porta da cabana, carregavam tochas e armas e aparentemente, estavam indo caçar o lobo.

– Boa noite, viúva Lucas – um dos homens cumprimentou – Viemos avisá-la que hoje é noite de lua cheia e o lobo irá se transformar...

– Sim, sim, eu já sei – ela interrompeu o homem – Acha que sou tola? Desde que o lobo matou meu marido eu fico sempre atenta às noites de lua cheia.

– O lobo matou uma dúzia de ovelhas ontem à noite – o homem informou, como se isso fosse fazer diferença – Vamos formar um grupo de caça.

– Ora, essa é boa. Um bando de tolos tentando morrer por causa de umas ovelhas.

– Eles vão caçar o lobo! – os olhos de Ruby se iluminaram – Eu posso ir com eles? Eu vou estar protegida.

– Não! – bradaram Killian, Anita e a Vovó ao mesmo tempo.

– Você vai ficar aqui! – a Vovó falou decidida. – E com o capuz na cabeça, já que você diz que essa coisa serve de proteção.

Ruby ficou desapontada, mas não disse nada.

– Só faltam duas noites da fase lobo, deixem que ele pegue umas ovelhas – a Vovó se voltou aos homens – Vão para casa! – e fechou a porta na cara deles.

Eles trancaram as janelas e puseram o pesado trinco de madeira na porta. A Vovó disse para Ruby ir dormir no quarto com a mãe, enquanto Killian iria se acomodar no sofá.

– Oh, você tem a ilusão de que nunca dormimos juntos? – Killian gracejou e tanto a Vovó quanto Anita abriram a boca horrorizadas.

– Céus! O que andaram fazendo naquele navio? – a avó perguntou, provavelmente pensando que uma coisa dessas nunca aconteceria em sua época.

– Já dormimos na mesma cama – Ruby se apressou a explicar – Mas não fizemos nada.

– É bom mesmo. Não quero saber de minha neta fazendo coisas imorais com um pirata.

Killian segurou o riso e Anita levou Ruby para o quarto. A Vovó se sentou em sua cadeira de balanço, segurando sua besta e dando a entender que passaria a noite acordada, vigiando para o caso de o lobo tentar atacá-los.

– É melhor não ousar tocar nela – ela disse ao Capitão ameaçadoramente e apontou a besta para o lado dele – Pelo menos não debaixo deste teto. Ruby é uma menina de ouro e também muito inocente. Não se atreva a levá-la para o mau caminho.

– Sim, sim. Quer virar essa coisa para o outro lado? – ele pediu gentilmente apontando para a arma.

– Patético! – ela murmurou olhando o gancho do homem – Quem usa um gancho no lugar da mão?

– Ora, não queria que eu usasse uma mão só, não é?

– Agora cale-se e vá dormir – ela ordenou e Killian revirou os olhos, mas se acomodou no sofá e minutos depois já estava dormindo.

Levou um tempo até que o lobo finalmente aparecesse. Ruby e Anita dormiam no quarto dividindo a cama de casal, Killian roncava esparramado no sofá e até a Vovó cochilava em sua cadeira de balanço, mas ainda segurando a besta.

Ruby estava tendo um pesadelo. Sonhou que Killian saía de casa para procurar o lobo, e este o atacava, matando-o, enquanto Ruby assistia tudo de longe, protegida pela capa. Ela acordou sobressaltada e ofegante, até se dar conta de que ainda estava na casa de sua avó. Para se certificar de que Killian estava bem, cautelosamente ela foi até a porta e espiou a cozinha. A lareira estava acesa e também havia uma lamparina criando sombras na parede. A Vovó cochilava e Killian resmungava durante o sono. Ela sorriu e voltou ao quarto, mas então pensou ter ouvido gritos ao longe. Por um momento Ruby paralisou. Depois não ouviu mais nada.

“Deve ter sido o vento”, pensou.

Mas então algo se movimentou lá fora. Ela ouviu algo caminhar no chão de folhas secas e também ouviu uma respiração alta. Era o lobo, ela tinha certeza! Ruby se aproximou da janela e espiou por uma fresta. Estava muito escuro lá fora, mas a luz da lua iluminava um pouco. Ela viu os contornos de algo rondando o poço. E então a criatura se aproximou mais da casa. Era muito grande, umas duas vezes maior do que um lobo comum. Seu pelo era negro e lustroso e ele andava quase sem fazer barulho. Ruby viu que ele tinha um focinho bem grande e dentes também enormes. Babava e havia sangue escorrendo da boca. Pobres homens, talvez estivessem mortos... Ela continuou a espiar o lobo, talvez pensando que estaria segura dentro de casa. Mas o lobo sentiu o cheiro dela e Ruby se assustou e gritou quando ele deu um pulo e veio parar bem debaixo da janela. Ela viu um enorme olho vermelho a encarando enquanto a criatura rosnava alto.

– Ruby! – a mãe acordou e a puxou para longe da janela – O que está fazendo?

A Princesa estava trêmula e pálida. A mãe a amparou enquanto ouviam o lobo enfiar suas garras na porta da frente. A avó gritou e Killian puxou sua espada. Por um momento não souberam o que fazer. O lobo rosnava e arranhava a porta tentando entrar.

– E agora? – Ruby se desesperou.

Finalmente o lobo conseguiu arrancar a porta usando sua força descomunal, e ela desabou com um baque. Killian puxou a Vovó bem na hora que a porta caiu perto de onde ela estava. E então viram a criatura. Nem tiveram tempo de pensar, pois um segundo depois, o lobo os atacava. Vovó atirou uma flecha de prata na direção dele, mas o lobo era ágil e desviou. Ela bem tentou pegar outra flecha, mas o lobo golpeou a besta, arrancando-a da mão da idosa. Com isso acabou acertando o braço dela, abrindo enormes sulcos em sua pele. Killian, corajoso e ágil, tomou a frente para salvar aquelas senhoras e tentou golpear o lobo com sua espada, mas o lobo desviou dos golpes e arrancou a espada das mãos do Capitão usando os dentes. A Vovó estava caída a um lado, com o braço sangrando e a espada de Killian voara para longe. O lobo se voltou para Ruby, que se enrolou mais em sua capa, esperando que ela tivesse o poder de protegê-la de lobos. A Princesa protegeu a mãe, ficando em sua frente, e por um momento o lobo parou. Ele rosnava para ela e Ruby o encarava, esperando que ele fizesse alguma coisa. Foi como se o bicho estivesse hipnotizado, ele olhou nos olhos de Ruby e por um momento ela pensou conhecê-lo. Ele tentou atacá-la, mas foi como se uma força invisível o impedisse de se aproximar. Killian, então, num impulso de raiva, enfiou seu gancho na anca do lobo e a criatura gemeu de dor quando o gancho queimou sua pele. O Capitão ficou surpreso e tirou o gancho, ao mesmo tempo em que o lobo gemia e corria para a floresta.

– Vovó, a senhora está bem? – Ruby correu a ajudar a senhora.

– Sim, estou bem. Só espero não pegar a maldição – ela mostrou à Ruby o ferimento em seu braço que sangrava. A Princesa fez ela se sentar enquanto limpava o ferimento e Anita, ainda trêmula, agradecia ao Capitão.

– Você nos salvou. Obrigada!

– Não foi nada! – ele disse modestamente, embora no fundo estivesse se sentindo um herói – Quem diria que este gancho era feito de prata! – comentou risonho e acariciando seu amado gancho.

Recolocaram a porta no lugar, com um pouco de dificuldade. Pensaram que o lobo talvez não fosse voltar, mas nem por isso abaixaram a guarda. Ruby não conseguiu dormir mais e ficou pensando que o lobo ainda estaria por aí, em algum lugar na floresta. Quando amanheceu, o Capitão estava decidido a encontrar o lobo e matá-lo.

– Mas como vai encontrá-lo? – Ruby foi atrás dele, que marchava em direção à floresta.

– Eu meio que tenho um palpite – ele respondeu sem olhá-la.

– Ah é? Então acha que já o encontrou?

– Sim. Mas não tenho certeza.

– E quem você acha que é?

O Capitão parou no meio do caminho e Ruby esbarrou nele, antes que pudesse parar também.

– Ai! – resmungou. Killian a olhou muito sério e ela chegou a ficar com medo – Que foi?

– Seu amigo, Quinn. Eu acho que é ele.

– Quinn? Não, não pode ser. O Quinn, ele é... bem, não poderia ser ele...

– Ontem, quando ele veio falar com você, não notou a aparência cansada? As olheiras? As roupas dele pareciam bem remendadas.

– Ah isso é porque ele é lenhador. É um trabalho duro e cansativo. Eu também rasgava minhas roupas quando andava pela floresta...

– Escute o que estou dizendo. É ele! – o Capitão saiu andando e Ruby foi atrás dele.

– Então agora vai atrás dele para matá-lo? Você nem sabe se é ele...

– É por isso que estou indo verificar.

– Mas...

Um grito alto veio da cabana da Vovó. Os dois se entreolharam e correram para ver o que tinha acontecido. Encontraram Anita caída de joelhos no meio das folhas secas, olhando para algo que devia ser bem terrível, já que ela chorava desesperada. Quando se aproximaram, viram corpos caídos e ensangüentados, ali perto do poço. Não haviam notado isso quando saíram em direção à floresta. Havia braços e pernas arrancados e rostos desfigurados. Ruby sentiu vontade de vomitar. A Vovó também olhava a cena horrorizada.

– O poço... – Anita murmurou e Ruby se aproximou do poço para ver o que havia lá. Sangue, muito sangue onde antes era água.

– Mas que horror – Vovó resmungou – Eu disse a eles que fossem pra casa, mas não me ouviram...

Aqueles eram os homens que haviam saído pra caçar o lobo. Vendo aquela cena Ruby agradeceu por terem se salvado, já que o lobo poderia ter acabado com eles como fez com aqueles pobres homens.

– Temos que encontrar esse maldito – A avó foi ajudar Anita a se levantar, tentando acalmá-la e então voltou-se para Chapeuzinho. – Verifique se o lobo deixou as galinhas em paz.

A moça obedeceu e foi até o galinheiro, enquanto Killian sumiu floresta adentro. O pequeno galinheiro ficava nos fundos da casa e ela se recordava de suas galinhas preferidas. Parecia estar tudo normal, as galinhas cacarejavam em seus ninhos, provavelmente botando ovos. Ruby trouxera uma cesta e achou que ovos mexidos seriam uma boa pedida para o café da manhã. Ela pegou alguns e já ia saindo, até notar que havia alguma outra coisa ali. Ou alguém.

– Quem está aí? – ela perguntou meio amedrontada, ao notar que alguém se escondera por trás de um monte de palha.

– Ruby?

– Mary!

Mary Margaret saiu de trás de seu esconderijo e correu até a irmã. As duas se abraçaram calorosamente e Chapeuzinho se perguntou o que Mary estaria fazendo escondida ali.

– O que está fazendo aqui? Você não estava com os piratas? Eles te soltaram? Ou você fugiu? – Mary não conseguiu se conter e começou a fazer perguntas. Ruby ainda estava meio atordoada pelos acontecimentos da noite anterior e apenas disse que era uma longa história.

– Vou te contar tudo, mas é uma longa história. E o que está fazendo aqui?

– Ah é que eu vi alguma coisa lá fora ontem à noite. Acho que era um lobo. E estava tão frio... então vim me esconder aqui.

– Sim, era o lobo. Ah foi horrível. Mas vamos logo, a mamãe está aqui...

As duas caminharam de braços dados até a cabana da avó. Mary parecia muito bem para quem estava sendo perseguida pela Rainha Má. Ainda tinha os cabelos compridos e negros como ébano, a pele clara como a neve e os lábios avermelhados, exatamente como Ruby se lembrava dela. Usava um capuz branco na cabeça e sorria e falava alegremente.

Quando alcançaram a cabana, avistaram a Vovó e Anita conversando com o Capitão.

– Mary! – gritaram a mãe e a avó ao avistarem Branca de Neve. O reencontro foi emocionante e elas se abraçavam e choravam e riam ao mesmo tempo.

– É tão bom ver vocês – Mary sorriu olhando as outras três mulheres, até notar o Capitão parado ali perto – Você, seu pirata nojento! – ela foi até ele e começou a esmurrá-lo, ao que Killian tentava segurá-la – Desgraçado, seu imundo, estúpido...

– Mary, pare – Chapeuzinho ficou entre os dois para impedir que a irmã continuasse a bater no Capitão – Está tudo bem. O Killian é legal...

– Legal? Mas ele te seqüestrou... ou melhor, ele te comprou...

– Sim, mas eu o perdoei. É uma longa história. Venha, vamos entrar e eu lhe contarei tudo. As quatro mulheres foram para a cabana, e Killian resolveu procurar por Quinn. O rapaz não estava na floresta, então o Capitão imaginou que se ele fosse mesmo o lobo, estaria cuidando da ferida deixada pelo gancho. Bastava que ele descobrisse onde o lenhador morava.

O Capitão caminhou tranquilamente até o centro do vilarejo, onde as casas eram mais juntas umas das outras. Não seria difícil conseguir informações sobre Quinn, desde que ele usasse seu charme de pirata. Mas Killian não conseguira usar seu charme com a avó de Chapeuzinho. A mulher era muito esperta e desconfiada e mesmo depois de ele tê-las salvado, Vovó não mudou a opinião que tinha sobre o Capitão. Só mesmo Anita parecia gostar dele, já que até Mary dera sinais de aversão ao pirata.

Quando chegou à taberna, encontrou seus marujos bebendo e rindo. Ele verificou se estavam todos ali e se as moças também estavam bem, já que pareceram preocupadas quando souberam do lobo. Felizmente todos tinham sobrevivido àquela noite, ao contrário dos homens que formaram um grupo de caça. As pessoas comentavam como a morte deles fora horrível e muitos curiosos iam até o local apenas para ver cadáveres destroçados. O Capitão riu sozinho ao imaginar que Vovó estaria gritando com as pessoas, dizendo para que saíssem de sua propriedade e levassem aqueles corpos dali.

– Esse lobo é traiçoeiro – um homem comentou sentando-se perto de onde Killian e seus marujos estavam sentados – Ouvi dizer que atacou a viúva Lucas.

– As notícias voam rápidos por aqui, não? – o Capitão riu.

– Quer dizer que é verdade? – o homem arregalou os olhos e Killian assentiu.

– Ah sim, e eu vi com meus próprios olhos.

O homem arrastou sua cadeira para mais perto do Capitão e outras pessoas também se aproximaram, querendo ouvir a história. Killian contou como o lobo arranhara a porta, tentando abri-la de qualquer jeito, até que conseguiu derrubá-la. É claro, ele exagerou nos detalhes, como todo pirata faria. Inventou que o sangue jorrara para todo lado, quando o lobo atacou a Vovó e ocultou a parte em que a criatura arrancava a espada de suas mãos. Ele se exibiu ao dizer que pensara rápido ao enfiar seu gancho no lobo e a criatura urrou de dor, correndo para a floresta.

As pessoas começaram a falar ao mesmo tempo quando Killian terminou a história.

– Esse lobo tem que ser morto!

– Devemos tomar uma atitude.

– Essa criatura é uma ameaça a nossas crianças...

Antes que a coisa se tornasse uma completa bagunça, um dos homens pediu silêncio. Era um dos homens que fora bater à porta da Vovó na noite anterior. Resolveram fazer uma espécie de assembléia para decidir o que fariam com aquele lobo, já que a ideia de formar um grupo de caça não dera muito certo. Ruby, Anita, Mary e Ruby apareceram na taberna, enquanto outros habitantes do vilarejo também chegavam para a assembléia.

– A única coisa que eu sei – disse o homem que organizara a reunião e sobrevivera ao ataque do lobo – é que ontem à noite aconteceu o último massacre. Se eu estivesse com aquele grupo por mais dez minutos, também estaria entre os mortos. Quando penso que se não tivesse voltado logo, talvez seria pego na hora. Talvez teria sido capaz de matar a criatura...

– Não teria – A Vovó interrompeu – Essa criatura é mais poderosa do que você possa imaginar. Não teria chance. Fiquem dentro de casa, escondam seus filhos, esqueçam seu gado...

– A senhora já disse isso – o homem voltou a falar.

– Sim, e repito, esqueçam o lobo, não há nada que possamos fazer. Ontem à noite ele atacou minha casa. Arrancou a porta e veio para cima de mim – ela arregaçou as mangas, mostrando o ferimento que as garras do lobo tinham feito em seu braço. As pessoas arregalaram os olhos horrorizadas – Eu, minha filha e minha neta estaríamos mortas não fosse o Sr. Killian Jones – ela lançou um olhar na direção do Capitão – ele enfiou um gancho de prata no lobo, mas não foi o suficiente para matá-lo, a criatura ainda está por aí.

– Um gancho de prata? – o homem estava curioso.

– Sim, somente prata pode matar um lobo. Mas não pensem que será fácil. Esse lobo é mais forte do que todos os outros, mais ágil e mais esperto do que o lobo que matou meu marido. O que podemos fazer, é encontrá-lo sob sua forma humana...

Houve um burburinho e as pessoas tentavam entender o que a Senhora Lucas queria dizer.

– Vocês não sabem, não é? Este lobo também é humano. Uma pessoa amaldiçoada que se transforma em toda lua cheia. Receio que o único jeito de matá-lo é encontrando sua forma humana e cortando o mau pela raiz...

– Está dizendo que o lobo vive entre nós? – alguém perguntou.

– Sim, ele vive entre nós. Pode ser qualquer um, pode até estar aqui neste estabelecimento, neste exato minuto e ouvindo essa conversa...

As pessoas olharam em volta como se esperassem encontrar o lobo sentado ali, tomando uma caneca de cerveja.

– E como descobrimos quem é o lobo? – uma outra pessoa indagou.

– Bem, não vai ser fácil, mas há muitos sinais – a avó explicou – A pessoa muda de comportamento, passa a se isolar, está sempre cansada e torna-se violenta e impaciente...

– Como a senhora sabe tudo isso? – Will se atreveu a perguntar. A Vovó suspirou:

– Meu pai foi mordido por um lobo, há quase sessenta anos. Eu era apenas uma criança, mas notei que ele estava diferente. Ele não dormia em casa nas noites de lua cheia, e então voltava na manhã seguinte com a aparência cansada e as roupas rasgadas. Estava sempre com olheiras, ficou violento e se irritava com qualquer coisa. Eu tinha sete irmãos mais velhos, todos fortes como carvalhos, veteranos da Segunda Ogro Guerra. Eles não demoraram a descobrir que o nosso pai era o lobo e na fase do lobo, decidiram sair e enfrentá-lo. Fizeram isso para me proteger. Eu devia estar dormindo, mas acordei e me deitei no telhado para assistir. Eles cercaram a besta, os sete estavam com lanças, mas o lobo as destruiu. O lobo rasgou as gargantas deles tão rápido que nem tiveram tempo de gritar. Eu quase caí do telhado e o lobo olhou bem na minha direção com aqueles enormes olhos vermelhos. Foi uma sorte eu ter sobrevivido. O lobo correu para a floresta e na manhã seguinte, quando meu pai voltou para casa, minha mãe o matou... mas havia mais de um lobo. Não adianta matar um lobo se ele morder outra pessoa e passar a maldição para ela.

Um silêncio pairou na taberna. E todos só pensavam no que a Vovó acabara de dizer. E se houvesse mais de um lobo? E se não fosse apenas um, mas vários lobos se esgueirando por aí e matando o gado, as ovelhas e as galinhas? Decidiram que a situação era de urgência, tinham que encontrar o lobo ou os lobos, caso houvesse mais de um, e matá-los.

Os homens formaram grupos de busca, enquanto as mulheres foram para casa. Decidiram revirar todas as casas, até encontrar algo que incriminasse a pessoa que era o lobo.

Killian sabia que o lobo era Quinn, mas o rapaz não dera sinal de vida. O Capitão disse a Ruby que fosse pra casa, e embora ela insistisse em ficar, acabou concordando em ir. No caminho passou pela casa de Quinn e ele estava parado à porta.

– Que está acontecendo? – ele perguntou, notando os homens revistando as casas no começo da rua.

– Estão procurando o lobo – ela disse e continuou a andar meio apressada. Se Quinn era mesmo o lobo, ela não devia se arriscar.

– Por que a pressa?

– É que eu vou cuidar da Vovó – disse Ruby, o que não era realmente uma mentira – Ela foi atacada pelo lobo...

– Ela está bem?

– Sim, sim, foi só um arranhão... Bem, eu já vou indo. Até logo, Quinn...

– Espera! Não quer passear na floresta comigo? Para relembrar os velhos tempos.

– Eu adoraria, mas eu realmente preciso ir...

– Sua avó vai ficar bem, e, além disso, sua mãe está lá. Eu quero mesmo conversar com você, sobre essa história dos piratas.

Ruby relutou um pouco, mas não podia deixar que ele pensasse que ela estava com medo.

– Ah está bem, mas não devo demorar.

Os dois entraram na floresta e Ruby analisou o rapaz. Roupas meio remendadas, como o Capitão dissera. Quinn era bonito e forte, e Ruby pensou que não seria muito difícil se apaixonar por ele se ela já não fosse apaixonada por Killian. Ela notou manchas escuras sob os olhos do rapaz e resolveu descobrir se as suspeitas de Gancho eram mesmo verdadeiras.

– Você tem dormido bem? – perguntou, quando deram a volta num grande carvalho.

– Ah sim, por quê?

– Notei que está com olheiras.

– Ah, isso... É que eu tenho trabalhado muito... – ele não disse mais nada, mas Ruby não se deu por satisfeita.

– Eu não te vi mais desde ontem.

– Fiquei aqui na floresta. Não há nada de muito interessante nessas redondezas, às vezes eu gosto de ficar por aqui e refletir.

– É mesmo? Mas você era tão divertido, gostava tanto das pessoas...

– É, mas as pessoas mudam. Eu meio que me cansei de tudo isso aqui. Prefiro ficar comigo mesmo...

“Isolamento”, Ruby pensou “Roupas remendadas, olheiras, aparência cansada... Killian estava certo”.

– E quanto a você? O que está fazendo com piratas? Você se casou com um?

– Ah, é meio complicado, sabe. Uma história muito longa. Eu não sei o que disseram a você, mas muita coisa me aconteceu nesses últimos dois meses.

– Não me disseram nada. Só soube que sua mãe veio passar um tempo aqui para descansar. Mas não tive mais notícias suas e de sua irmã. – disse Quinn. Ele repentinamente sentiu uma dor e gemeu. Só agora Ruby notara que havia uma enorme mancha de sangue na calça dele, bem no lugar em que Killian furara o lobo com seu gancho.

– Você se feriu? – ela apontou para o sangue em sua calça.

– Não foi nada... O que foi? Está com medo de mim?

– N-não é só que... o lobo...

– O que tem o lobo?

– Killian feriu o lobo, com um gancho...

Quinn por um momento não entendeu, mas então logo percebeu do que ela estava falando.

– Ruby, eu não sou o lobo.

– Não? Então por que tem um ferimento igual ao dele?

– Isso... eu não sei, mas...

– Quinn, eu sinto muito. – ela correu de volta à estrada, procurando por Killian, mas Quinn, mesmo machucado, consegui alcançá-la e a segurou pelo braço.

– Não! Você não vai fazer isso comigo! Pensei que fossemos amigos.

– Você atacou a vovó, tentou nos matar... Você matou aqueles homens...

– Eu não fiz isso! O lobo fez!

– Quinn, você foi mordido?

O rapaz encarou o chão e não olhou para ela quando respondeu:

– Sim. Fiquei até tarde no trabalho, numa noite, e me esqueci da lua cheia. Mas aquele lobo morreu, há muito tempo.

– A Vovó disse que a mordida é o que causa a maldição. Quinn... você é o lobo... Eu sinto muito, mas tenho que dizer a eles...

– Não! Não! Ruby, por favor!

– Me desculpe...

– Por favor! Somos amigos, não somos? Eu te ajudei tantas vezes, te ensinei tantas coisas... Não faça isso!

– O lobo matou pessoas inocentes.

– Você quer dizer que eu matei aquelas pessoas. Se eu sou mesmo o lobo, então sou um monstro. Mas não pode deixar que eles me matem...

– Eu não tenho escolha. Há anos as pessoas vivem com medo do lobo.

Silêncio. Ouvia-se as vozes dos homens revistando as casas e Ruby sabia que Killian estava por perto, mas também não queria ter que entregar seu amigo.

– Você tem se escondido na floresta por medo de as pessoas descobrirem o que você é.

– Eu já disse, eu gosto de ficar sozinho.

– Quinn, por mais que eu goste de você, não posso deixar que mate mais pessoas...

Ruby ia gritar por Killian, mas Quinn foi rápido e a segurou por trás, tapando sua boca.

– Eu não queria fazer isso – disse com brutalidade – Mas você está me obrigando.

Ele a arrastou para longe dali e Ruby se debatia, mas Quinn era muito forte.

– Você não vai me entregar. Isso é o que eu sou. Filho da Lua. – ele praticamente rosnava para ela.

Ele a arrastou por alguns metros, até que estivessem longe o bastante do vilarejo. Segurou a moça pelo braço enquanto se abaixava e puxava uma portinhola bem escondida no chão.

– O que é isso? O que está fazendo? – ela gritou desesperada e Quinn começou a descer para o buraco escavado no chão, por baixo da portinhola. Ele a arrastou junto e fechou a porta depois que passaram. Alguns degraus desciam até lá embaixo e Ruby notou que aquilo era uma toca. – Quinn! O que está fazendo?

Ele não respondeu. Apenas fez com que ela descesse os degraus e quando chegaram lá embaixo, Ruby viu que era uma toca de lobo. Cheirava a podridão e havia restos de carne se decompondo e ossos espalhados pelo chão de terra. Era muito abafado e Ruby só queria estar lá fora, no ar fresco do outono.

– Não posso permitir que me entregue aos homens – ele disse enquanto procurava por alguma coisa.

– É só uma questão de tempo até revirarem sua casa e descobrirem que você é o lobo – ela respondeu tentando não demonstrar o quanto estava com medo. Quinn riu alto:

– Acha que sou tolo? Há meses que não durmo naquela casa. Ao invés disso venho para cá. Eles nunca irão descobrir e você nunca irá contar, porque se fizer isso, eles também descobrirão sobre você...

– Não estou entendendo...

Quinn finalmente achou o que procurava, uma corda bem forte que usou para amarrar as mãos de Ruby.

– Uma mordida, é tudo o que você precisa pra ser como eu. – ele disse – E já que não me deu escolha, é o que eu vou fazer. Se você for como eu, não vai poder me entregar, porque senão eles te matam também, depois que descobrirem que foi amaldiçoada...

– Quinn, por favor... – ela choramingou.

– Você não me deixa escolha. Eu bem tentei convencê-la a não dizer nada, mas olhe só pra você, sempre fazendo o bem, sempre pensando nos outros...

– Você é um assassino! – ela berrou e ele apenas riu.

– Eu descobri o quanto posso ser livre quando estou transformado. Posso controlá-lo, o lobo... Você não tem ideia do quanto é boa a sensação de correr pela floresta, sentindo o vento, o cheiro da natureza...

– Mas você matou aquelas pessoas.

– Não tive escolha. Eles iam me matar. Nunca ataquei ninguém, até ontem. Era isso ou estaria morto. Mas quando eu senti seu cheiro, algo aconteceu... Não consegui mais me controlar, eu só pensava em ter você, seu sangue... – Quinn se aproximou e começou a cheirar o pescoço da moça, algo que Killian teria odiado caso estivesse vendo a cena – Eu sempre gostei de você, desde criança. E agora você vai ser minha, para sempre...

– Quinn... – ela chorou.

– Shh não chore, minha princesa. Você vai ser muito feliz comigo... Eu gosto tanto de você – ele limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto de Ruby e então a beijou. Ruby não correspondeu ao beijo e Quinn se irritou. – Pare de chorar! – gritou.

– Eu nunca vou amar você – ela sussurrou.

– Então eu vou ter que matá-la – Quinn falou de um jeito sinistro e se levantou para procurar uma faca, ou qualquer coisa afiada o bastante para cortar a garganta dela.

Ele enlouquecera, não havia dúvida. Talvez fosse isso que acontecesse a todas as pessoas sob a maldição do lobo. A Princesa não sabia como, mas acabou conseguindo soltar suas mãos, enquanto Quinn procurava pela faca. Ela correu para cima e saiu pela portinhola com Quinn atrás dela. Ruby achou que poderia ter vencido uma corrida, de tão desembestada que estava. O rapaz não era só muito forte, mas também muito rápido, e logo a alcançou.

– Quieta! Quietinha! – ele sibilou para ela e a jogou no chão, ficando acima dela e segurando a faca contra o pescoço da moça - Eu vou te dar mais uma chance. Ou você fica comigo e aceita ser uma Filha da Lua, ou morre...

– Quinn, por favor...

– MALDITO! – Uma voz berrou atrás de Quinn ao mesmo tempo em que uma espada era cravada em suas costas e a lâmina saia do outro lado. Ruby gritou assustada e Quinn caiu para o lado com o peito jorrando sangue. Killian estava parado assistindo enquanto Quinn se sufocava com o próprio sangue, que agora escorria pela boca e nariz. Fora ele quem enfiara a espada.

– Killian...

– Shh, está tudo bem, amor. Está tudo bem...

(1) Créditos à Nan3da que foi quem falou essa frase lá nos comentários rsrs Eu gostei, então resolvi colocá-la aqui.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Olha que deu trabalho e estou com os dedos doendo de tanto digitar. Ah, eu coloquei a Anita para ser mãe da Ruby e da Mary porque gostei dela na série, e a Eva que é mãe da Branca na série, bem, eu não gostei muito dela kkkk Então achei que a Anita faria um papel melhor de mãe.
Estamos cada vez mais perto da maldição. Eu estou tendo umas ideias pra quando eles estiverem em Storybrooke e acho que até Facebook eles vão ter kkkk Bem, acho que era só isso que eu precisava falar. Eu acho que vou postar mais um capítulo ainda essa semana e depois só dia 21 e aí vcs vão ficar um tempo sem capítulo novo porque dia 22 vou viajar. Também sou filha de Deus ne gente kkkk mereço um descanso. É isso, beijos e até a próxima



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