O dia finalmente chegou, Ron e as crianças embarcariam amanhã de manhã para a América. Antes mesmo de ir já sentia falta de Hermione, ficariam pelo menos algumas semanas separados apenas se comunicando por mensagens e internet, mas desta vez sabia que ao voltar ela estaria lhe esperando.

Antes de viajar teve um pequeno imprevisto, a casa que estava morando era alugada e o dono a pediu antes mesmo de terminar o contrato. Teve que colocar suas coisas em caixas e sua mãe gentilmente deixou que as guarda-se no seu antigo quarto. Essa mudança serviu para se desfazer de algumas coisas e para comprar uma casa maior, depois que se casassem Hermione e Hugo viriam morar com eles e com certeza iriam precisar de mais espaço, talvez se no futuro tiverem mais filhos.

Após deixar as últimas caixas na casa dos seus pais, Ron tinha separado uma caixa em especial que seria entregue a Hermione, resolveu fazer uma surpresa a ela e passou na confeitaria. Estava movimentada como sempre, Catherine e outra moça cuidavam do atendimento. Ao vê-lo entrando, Catherine apenas sinalizou para o a sala dos fundos, onde mantinham um pequeno escritório.  Ron escutou vozes vindas da sala, achou que era algum cliente e resolveu esperar do lado de fora. Sem querer começou a prestar atenção na conversa e reconheceu as vozes, Hermione e Comarco estavam conversando.

-Você fica muito linda com essa roupa de cozinheira, se é que isso tem um nome próprio. Comarco elogiou sedutoramente.

-Obrigado, eu acho... Hermione ficou sem jeito e logo mudou de assunto. –Eu te chamei porque queria dizer pessoalmente que aceito a sua proposta.

Ron não estava entendendo nada, elogios, encontro sem ele saber e que maldita proposta é essa que Hermione aceitou sem lhe contar nada. Ficou com vontade de entrar e esclarecer tudo, mas achou melhor escutar um pouco mais e tentar descobrir sobre o que falavam.

-É mesmo? Ele ficou bem surpreso. –O que seu noivinho achou disso?

-Como sabe que eu e Ron estamos noivos? Ela rebateu constrangida. –Ele não precisa saber.

-Hugo me contou quando nos vimos depois que você voltou de viagem. Huum...  Segredos com o noivo, isso não parece certo, principalmente vindo de você!

-Ron estará fora por algumas semanas, não há a necessidade de incomoda-lo com nossos acordos. Hermione respondeu firme.

Ao escutar essas palavras, Ron não aguentou e entrou na sala sem avisos. Não deveria ter feito isso, pois presenciou Hermione e Comarco se beijando. Hermione assim que viu o noivo, largou imediatamente Comarco e começou a explicar o que tinha acontecido.

-Desculpe, eu não queria atrapalhar. Ron largou a caixa que segurava em cima da mesa e começou a dar meia volta. –Eu só vim trazer isso, então podem continuar.

-Espera Ron! Hermione o segurou pelo braço. –Não é nada disso que você está pensando! Comarco, por favor nos deixe a sós.

Comarco sabia que se ficasse poderia acabara apanhando de Ron, murmurou que depois eles se falavam e saiu. Saiu feliz, afinal o seu plano foi realizado antes do esperado e com sucesso, agora era só esperar e Hermione voltaria para ele.

-Antes que você tire qualquer conclusão precipitada, deixe-me explicar. Comarco me agarrou, eu não sei por que ele fez isso! Ela fechou a porta e sentou na cadeira a frente dele. –Comarco veio aqui para nos conversarmos...

-Eu escutei. Ele murmurou. –Eu estava escutando a conversa...

-Você estava me espionando? Hermione perguntou incrédula. –Você e esse seu ciúme idiota!

-Pelo visto eu fiz o certo, não é? Assim fiquei sabendo que você estava me traindo e tem planos com o Comarco! Vocês pretendiam se casar enquanto eu estivesse viajando?

-Não! Eu aceitei me casar com você! Posso explicar?

-Eu não quero escutar nada, eu finalmente vi o que está acontecendo!

-O que você quer dizer com isso? Ela não entendeu.

-Você nunca quis esse relacionamento, desde o momento na festa do James quando me viu. Eu a chamei para sair, convenci a nos dar uma segunda chance, a namorarmos e o pior de todos, pedir para casar-se comigo! Você nunca fez nada por nós, apenas foi aceitando!

-Não, eu aceitei porque eu também queria isso! Hermione começou a chorar. –É isso que você pensa sobre o nosso relacionamento? Porque você acha que eu aceitei casar com você se eu não quisesse?

-Talvez pena ou porque queria um pai para Hugo! Ele disse mais que exaltado.

-Hugo tem um pai, Comarco é o pai dele e eu não quero mudar isso! Achei que gostasse do meu filho...

-Eu amo Hugo do mesmo modo que amo Ben e Rose, mas a questão não é essa! Você realmente pensou em se casar comigo antes de eu fazer a proposta?

-Eu não sei, aconteceu tudo tão rápido. Eu mal cheguei e nós nos reencontramos, depois começamos a sair e de repente estávamos namorando... E as crianças estavam felizes... Eu apenas segui.

-Acho que isso foi o bastante para deixar as coisas bem claras entre nós. Ron a olhou tristemente. –Eu realmente espero que seja feliz, você e o Hugo.

Hermione ficou sem reação, apenas chorando assistiu Ron ir embora. Depois de tudo que aconteceu não conseguiu se concentrar em nada, só queria ficar sozinha e chorar por ver mais uma vez a felicidade ir embora, pegou suas coisas e foi para casa. Tomou um demorado banho e deitou-se na cama, por que Ron não a deixou explicar? Acabaram brigando e terminando tudo mais uma vez por um motivo inútil. Pensando nele, lembrou-se da caixa que ele deixou e que trouxera para casa. Ao abrir viu que eram as cartas das quais ele tinha falado que guardara por todo esse tempo, começou a ler uma por uma.

Hermione,

Sinto muito por ter sido um idiota ontem, eu sei que Comarco é apenas seu amigo e que você nunca iria me trair, mas esse tempo todo longe de você está me matando. Eu errei em deixar para contar só agora sobre essa oportunidade de ficar permanentemente aqui, mas você também não me disse nada sobre esse trabalho em Paris. Eu te amo e é loucura ficar mais um dia sem você! Por favor, me desculpe! Ron.

Em baixo desta carta havia uma passagem para Paris com data marcada para o mês seguinte a data marcada na carta. Hermione ficou se perguntando o porquê dele nunca ter pego o avião, a resposta estava na próxima carta.

Hermione,

Eu recebi todas as suas cartas e só posso dizer o quanto estou feliz por você ter aceitado esse trabalho em Paris. É o seu sonho sendo realizado e eu não posso atrapalha-lo, então é melhor deixar como as coisas estão, eu aqui e você ai. Por mais que seja difícil ficar sem você, eu não posso largar tudo aqui para ir ao seu encontro, essa é uma oportunidade única para a minha carreira. Espero que entenda. Ron.

Os dois anos seguintes do termino do relacionamento, Hermione ainda enviava cartas contando sobre Paris e dizendo que mesmo que o namoro tivesse acabado não queria perder a amizade dele. A última carta que enviou a ele também estava ali, guardada junto com às outras.

Ron,

Por que você não responde as minhas cartas? Há dois anos e te escrevo e sempre fico sem resposta. Eu sinto falta de conversar com você, mesmo que nossas vidas tenham tomados caminhos opostos, eu realmente sinto falta de você. Gina deixou escapar que você está saindo com uma garota... Não, eu não fiquei com ciúmes ou brava. Você está certo, temos que seguir com nossas vidas, estou feliz por você. Por favor, Ron mande uma resposta, nem que seja dizendo que quer que eu pare de te escrever. Espero que esteja tudo bem, Hermione.

Hermione lembrava bem daquela carta, foi a última que ela escreveu e foi a única que Ron lhe respondeu. A resposta foi simples, ele pediu que ela parasse de escrever e que não queria mais nem mesmo a sua amizade. Mas foi outra resposta que encontrou na caixa.

Hermione,

Aquela carta que eu mandei não é verdade, nenhuma palavra. Eu adoro receber e ler suas cartas, elas fazem meu dia melhor. Gina não tinha nada que te contar sobre Lilá, nós estamos saindo há apenas alguns meses e não é nada demais. Como disse, temos que seguir nossas vidas e você também deveria fazer isso, aposto que tem milhares de franceses loucos por você! Por favor, continue escrevendo. Espero que esteja bem, Ron.

Depois de ler essa carta, Hermione chorou mais ainda, por que ele não enviou nenhuma dessas cartas? Poderia ter sido tudo diferente. Foi a partir da resposta dele que deu uma chance a Comarco se aproximar. Achou a última carta, estava no fundo da caixa. A data era de alguns meses depois da última carta que ela enviou. Limpou as lágrimas e começou a ler.

Hermione,

Você não me escreveu mais, eu fui um idiota ao responder daquele jeito, não é? Desculpa, mas eu não sabia o que responder, você sempre parece tão feliz e eu queria que seguisse em frente. Bem, eu estou escrevendo essa carta, pois quero te contar uma coisa e quero que seja a primeira a saber, afinal você é a minha melhor amiga! Huum... Eu vou ser pai! É loucura, eu sei, mas simplesmente aconteceu... Eu estou feliz e não sei se deveria, mas você foi a primeira pessoa que eu pensei em contar. Sinto falta de você e espero que esteja bem, Ron.

Demorou um pouco até que Hermione conseguisse parar de chorar e colocar seus sentimentos e pensamentos em ordem. Tudo que queria era saber por que Ron não as enviou. Pegou sua bolsa, a chave do carro do seu pai e foi para casa do Ron. Só no caminho percebeu que passou a madrugada inteira lendo as cartas, estava amanhecendo. Parou o carro na frente da casa e se deparou com pessoas descarregando móveis e caixas para dentro da casa.

-O que está acontecendo aqui? Hermione perguntou a um dos rapazes que faziam a mudança. –Onde estão os antigos moradores?

-É melhor você perguntar aquele senhor. O rapaz apontou para um senhor que conversava com um casal, os prováveis novos moradores.

-Com licença, o senhor pode me dizer se Ronald Weasley está se mudando? Ela interrompeu a conversa.

-Sim, semana passada eu pedi o imóvel. Minha filha e genro voltaram a Londres e precisavam de um lugar para morar, então conversei com Ronald e ele aceitou devolver o imóvel. Ele disse que não haveria problema, afinal estava indo para os Estados Unidos e não sabia quando voltava ou se iria voltar.

Hermione murmurou um obrigado e voltou para o carro, era pouco mais que sete horas e o voo estava marcado para as oito horas, provavelmente já estavam no aeroporto. Gina saberia explicar, pegou o celular e ligou para a amiga.

-Alô? Gina?

-Hermione, porque está me ligando tão cedo? Aconteceu alguma coisa? Gina perguntou sonolenta.

-Você sabe se Ron já está no aeroporto?

-Acho que sim, meu pai iria leva-los. Por que não foi à festa de despedida ontem? Vocês brigaram, não é? Ron não quis dizer nada, mas nós percebemos que alguma coisa aconteceu.

-Gina, eu não posso falar agora eu tenho que encontrar seu irmão antes que seja tarde!

Precisava chegar ao aeroporto em trinta minutos ou poderia nunca mais ter a chance de se explicar e conversarem. Por ser sábado de manhã o transito não estava tão ruim. Entrou no aeroporto e procurou no painel o voo para Nova York, iriam embarcar no terminal 5.

-Pai é o nosso voo? Rose perguntou quando anunciaram na sala de embarque um voo para Nova York.

-É sim, filha. Ron ajudou os filhos a levantarem. –Vamos?

Hermione atravessou o aeroporto, faltava pouco mais de dez minutos para as oito horas. Estava perto da sala de embarque quando um policial pediu sua passagem e passaporte. Tentou explicar, mas ele não quis ouvir e pediu que se retirasse. Atendeu ao pedido, afinal a última coisa que queria era ser presa. Antes de partir olhou uma última vez para onde Ron deveria ter entrado e deixou as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

-Pai, eu acho que vi a Hermione. Ben comentou ao entrarem no avião. –Ela parecia estar conversando com um policial, será que ela veio se despedir?

-Não, acho que não era ela. Ron respondeu ajudando o filho a colocar o cinto. –Hermione e eu conversamos ontem e nós nos despedimos, ela também mandou tchau para vocês.

-Eu vou sentir falta dela. Rose disse um pouco triste. –Eu queria ter me despedido dela.

-Quem sabe outra vez que voltarmos para Londres vocês não se encontram? Ele consolou os filhos, eles não precisavam saber o que tinha acontecido. –Não quero vocês tristes, afinal estamos voltando para casa, não é legal?

As crianças preferiram não responder, Ron agradeceu por isso. Eles estavam indo para qualquer lugar, menos para casa.