Aos poucos Ron se acostumava com a vida em Nova York, não era o que queria, mas não tinha outra escolha a não ser tentar seguir em frente longe de Londres e principalmente de Hermione. A sua motivação era os filhos e a vontade de fazer o seu projeto dar certo.

Desde que chegou havia se encontrado com vários produtores e estúdios e as respostas eram sempre as mesmas, “não sentimos que esse projeto dará certo.” , “não temos como inserir no nosso orçamento agora, talvez daqui um tempo.”, ou a que o deixava mais triste: “podemos comprar o seu projeto, mas daríamos a outro diretor mais qualificado e experiente.”. Já começava pensar em desistir e talvez voltar para alguma serie de televisão ou continuar com pequenos filmes e documentários.

-Como foi na escola? Ron foi buscar os filhos na nova escola.

-Muito chata! Rose foi para o colo do pai. –Eu prefiro a minha escola de Londres, quando iremos voltar?

-Nós já conversamos sobre isso, agora iremos morar aqui, igual fazíamos antes. Ele explicou mais uma vez. –E você Ben, como foi? Já fez novos amigos?

-Não, eles ficam rindo porque eu não jogo bem futebol! Ben respondeu mal humorado.

-Como não joga bem? Você adora futebol!

-Futebol ‘americano’, pai! O garoto fez aspas com os dedos ao explicar qual futebol ele estava falando. –Rosie tem razão, aqui é muito chato!

-O que acham de passearmos antes de irem para casa? Ron sugeriu tentando melhorar a situação.

-Eu quero ir ao Museu de História Natural! Rose pediu muito animada.

Ben também concordou e pela primeira vez desde que chegaram, as crianças ficaram animadas em passear pela cidade. As crianças ficaram surpresas com o enorme esqueleto de dinossauro exposto na entrada do museu e Rose pediu para que o pai tirasse uma foto dela ao lado do esqueleto. Ron também se divertiu, era a primeira vez que visitava o lugar. Depois do passeio Ron os levou para casa.

-Mãe! Rose entrou correndo em casa. –O papai nos levou ao museu depois da escola!

-É mesmo? Lilá pegou a filha no colo. –Não sabia que seu pai apreciava obras de arte.

-Nós fomos ao Museu de História Natural, tem várias coisas legais lá! Ben explicou. –Parece um zoológico de tantos animais que tem!

-Que bom que gostaram do passeio. Agora, vão tomar banho e depois fazer as lições da escola.

-Tchau, pai. As crianças se despediram e Ben sussurrou no ouvido do pai um pedido. –Fala para a mamãe que você vai voltar para Londres e que nós queremos ir junto, por favor.

-Lilá, será que podemos conversar? Ron pediu depois que as crianças saíram.

-Claro, vamos ali no escritório. Ela mostrou uma sala mais reservada. –Aconteceu alguma coisa com as crianças na escola?

-Mais ou menos... Ele não sabia como começar essa conversa sem que eles acabassem brigando. –Ben e Rose não estão felizes aqui.

-E porque você diz isso? Lilá perguntou interessada. –Depois de um ano longe de casa por que eles não estariam felizes ao voltar?

-Eles se acostumaram a ter uma vida em Londres com os avós, tios e primos por perto e aqui eles sentem falta disso. Ron tentava conversar com cautela, pois sabia que a ex-mulher poderia não gostar e daria tudo errado.

-Mas aqui eles têm a mãe deles, que só para deixar claro, sou eu! Ou você pretende me substituir e colocar Hermione como mãe deles?

-Não! Você sempre será a mãe deles! Ele respondeu rapidamente. –E como você sabe sobre Hermione?

-Ronald, as crianças comentam. E deste que chegaram só falam de como Hermione foi legal e que sentem saudades dela e do Hugo.

-Eu e Hermione não estamos mais juntos... Não deu certo, mais uma vez.

-Eu já escutei essa frase alguns anos atrás. Ela riu. –Estou brincando! Mas quando você chegou, disse que não iria mais voltar.

-Eu estava com a cabeça quente, no momento eu queria ficar o mais longe possível de Londres. Mas o filme não está dando certo e as crianças querem voltar... Eu não sei mais o que fazer.

-Eu não sei o que aconteceu entre você e Hermione, isso não me interessa mais, passei anos da minha vida sofrendo e tentado fazer com que você a esquecesse e me amasse. A cada carta que chegava dela ou quando Gina comentava algo sobre ela, você sorria de um jeito que eu só vi duas outras vezes, quando Ben e Rose nasceram.

-Eu sinto muito. Ron ficou surpreso com a revelação. –Nosso casamento foi um completo desastrem, não é?

-Não se desculpe, é tudo passado e posso garantir que tenho uma parcela de culpa do nosso casamento ter sido um horror. Temos que admitir, fomos um desastre como casal, mas tivemos Ben e Rose como algo de bom.

-Tem razão. Lilá, por favor, só pense no assunto e prometo fazer o mesmo, eu só quero o melhor para as crianças.

-Não é fácil assim, eles são meus filhos também. Por mais que esteja uma loucura ter que me dividir entre as crianças, minha coleção de roupas e um novo casamento. Esse ano longe deles foi difícil e não sei se aguento ficar mais sem Ben e Rose.

Ron voltou para o hotel que estava provisoriamente até decidir qual seria o próximo passo da sua vida. Ainda não conseguia acreditar na serena e reveladora conversa que tivera com Lilá, foi a primeira vez desde que se separaram que conseguiram manter um dialogo sem resultar em brigas. Lilá mostrou algo a ele, as pessoas podem mudar. Talvez ele não tenha mudado como havia pensando e continuava a ser o mesmo Ron de anos atrás, ciumento e que tomava decisões precipitadas, principalmente quando se tratava de Hermione. Depois de tanto pensar e repensar tomou a decisão de ligar para ela, queria se desculpar por ter agido como um idiota ciumento mais uma vez. Pelas suas rápidas contas com o fuso-horário, deveria ser quase dez horas da noite em Londres.

-Alô? Uma voz infantil que logo reconheceu ser do Hugo atendeu o telefone.

-Olá, Hugo! Sou eu, Ron. Tudo bem?

-Oi, Ron! Você demorou para ligar, eu estou com saudades. Quando volta? E o Ben e a Rose também vão voltar?

-Nós também estamos com saudades! Ron sorriu, Hugo parecia à mãe o enchendo de perguntas quando ficava ansiosa.  –Ainda não sabemos se iremos voltar...

-Eu sei, minha mãe conversou comigo. Ela disse que a vida de vocês é ai, mas eu não concordo. Vocês têm que voltar.

-Prometo que irei pensar no assunto. Hãã... Falando na sua mãe, será que posso falar com ela?

-Minha mãe saiu com meu pai, eles foram jantar fora... Hugo interrompeu a conversa e resmungou algo para alguém que se aproximava do telefone. –Ron, tenho que ir minha avó falou que é hora de ir para cama, mas ela vai falar com você. Tchau!

-Até mais, Hugo! Ron esperou até que o menino entregasse o telefone à avó. –Olá, Catherine.

-Olá, Ron. Queria falar com minha filha?

-É, mas Hugo disse que ela saiu para jantar com Comarco...

-Não tire conclusões precipitadas. Catherine o interrompeu. –Hermione tem sofrido muito desde que você foi embora, mesmo que ela não queira admitir ou falar sobre a briga que vocês tiveram. Hermione e Comarco apenas saíram para conversar sobre alguma coisa relacionada à parte que Hugo tem nos negócios da família dele, eu não sei...

-Tudo bem... Será que você poderia pedir para ela me ligar?

-Claro! Eu realmente espero que vocês se acertem!

Depois que desligou o telefone, Ron só conseguia pensar em Hermione e Comarco jantando. Se antes quando ainda namoravam Comarco a beijou, o que faria agora que supostamente estavam separados?

Semanas se passaram e Hermione não retornou a sua ligação. Ron achou melhor não insistir, ele tomou a iniciativa e ela não correspondeu. Também não tinha tempo para se lamentar, depois de um mês de tentativas e reuniões frustradas, finalmente um estúdio demonstrou interesse em produzir o seu filme. A reunião seria em Los Angeles e Ron estava bem confiante. A proposta inicial era para gravar e produzir o filme nos Estados Unidos, algo que não sabia se considerava como ponto positivo ou negativo.

-Então Tom, o que você acha? Ron perguntou ao seu amigo desde os tempos de faculdade e que seria um dos produtores.

-É uma ótima proposta, mesmo que o nosso plano era produzir o filme na Inglaterra e com elenco britânico. Mas é o mais perto que estamos de realizar este filme, e devemos admitir, é uma boa proposta vindo de um grande estúdio para caras como nós sem experiência alguma em grandes filmes.

-Tem razão, não podemos exigir muito... Ron foi interrompido pelo seu celular, era um numero desconhecido, mas que identificou ser de Londres. –Eu preciso atender essa ligação.

-Não demore, a reunião já irá recomeçar e precisamos estar lá para resolver os últimos detalhes.

-Senhor Ronald Weasley? Uma senhora perguntou.

-Sim, quem fala?

-Sou enfermeira do King’s College Hospital e encontramos seu numero na agenda escolar de Hugo Granger.

-Aconteceu alguma coisa com ele?

-Ele sofreu um acidente de carro, mas sofreu apenas alguns ferimentos leves.

-Ainda bem! Ron ficou aliviado. –Vocês já entraram em contato com a mãe dele? Hermione Granger.

-A senhorita Granger também estava no carro, mas seu estado é um pouco mais grave.

-Hãã... Eu... Ele entrou em choque. –Eu estou em Los Angeles... Vocês conseguiram falar com os pais dela? John e Catherine Granger, eu acho que eles estão em Londres.

-Sim, eles estão a caminho. Só entramos em contato com o senhor, pois na agenda o senhor constava como pai do Hugo.

-Claro, obrigado por me avisar! Eu tentarei chegar a Londres o mais rápido possível!

Ron desligou o celular e não conseguia acreditar, Hermione e Hugo corriam risco de vida. Se ele estivesse lá poderia ter evitado, mas agora não adiantava se culpar. Tinha que voltar, ficar ao lado deles e rezar para que nada de pior acontecesse.

-Aconteceu alguma coisa? Tom perguntou. –Parece que não recebeu uma boa noticia.

-Eu preciso voltar, agora. Ron começou a caminhar em direção aos elevadores. –Desculpe, explique a eles que tive uma emergência familiar e não pude ficar.

-E se eles não entenderem? Isso pode fazer com que cancelem o nosso projeto!

-Eu sinto muito. Ron entrou no elevador. –Minha família precisa de mim.

Saiu do prédio tentando manter a calma ou não iria conseguir raciocinar direito. Fez sinal para um taxi que passava na rua, o primeiro passo era ir para o aeroporto e pegar um voo para Nova York. Teria que fazer uma pequena parada na cidade para buscar suas coisas e avisar os filhos que estava retornando para Londres.

Depois de seis horas que pareceram uma eternidade, Ron chegou a Nova York. Passou rapidamente no hotel pegar suas coisas e pagar as diárias pendentes. Antes de voltar para o aeroporto, iria dar uma rápida explicação aos filhos.

-Eu recebi o seu recado, aconteceu alguma coisa? Lilá o recebeu preocupada.

-Estou voltando para Londres, Hermione e Hugo sofreram um acidente. Ron estava bastante nervoso. –Posso falar rapidamente com as crianças?

-Pai? Ben apareceu na sala e olhou para a mala que estava ao lado dele. –Você vai viajar?

-Eu estou indo a Londres...

-Nós vamos junto? Rose perguntou, já estava pronta para dormir.

-Não, aconteceu uma coisa e o papai tem que voltar. Ron não queria contar ainda sobre o acidente, só iria preocupa-los.

-O que foi? Nós queremos saber! Ben não gostava quando escondiam algo dele.

-Hermione e Hugo sofreram um acidente. Lilá contou.

-Eles estão bem? Rose começava a chorar.

-Eu não sei, querida. Ron pegou a filha no colo. –É por isso que estou indo, preciso saber se eles estão bem. E assim que souber de qualquer coisa eu ligo avisando vocês, tudo bem?

-Hugo é meu melhor amigo, eu também vou! Ben foi para o quarto e começou a arrumar uma pequena mala.

Lilá e Ron não sabiam o que fazer. Rose fez o mesmo que o irmão e em poucos minutos os dois estavam com as malas prontas para voltar. Lilá pediu para conversar com os filhos, era a hora de tocar no assunto que havia adiado por dias.

-Vocês gostaram de morar em Londres? Lilá começou.

-Muito! Rose respondeu ainda chorosa.

-E queríamos voltar. Ben completou.

Lilá ficou um tempo calada após escutar as crianças, sabia que não deixa-los voltar seria ruim para todos. Depois de muito pensar, tomou a melhor decisão para todos.

-Bom, eu quero vê-los felizes... Prometem que irão se cuidar?

-Sim! E você também tem que se cuidar! Ben estava triste por ficar longe da mãe, mas feliz por voltar para casa.

-Você não está triste por nós estarmos indo morar com o papai? Rose perguntou. –Eu vou sentir a sua falta.

-Não estou triste por vocês estarem indo morar com seu pai, porque sei que ele irá cuidar muito bem de vocês. Só fiquei triste, pois não irei vê-los todos os dias.

Lilá e as crianças foram para a sala e encontraram Ron e Simas conversando sobre qualquer assunto.

-Pai, nós vamos morar com você! Ben contou a novidade. –Mamãe deixou!

Ron não acreditou até olhar para Lilá e vê-la tentando não chorar sendo amparada pelo marido.

-Você não vai perdê-los, Ben e Rose sempre serão seus filhos. Ron afirmou. –Você poderá vê-los sempre que quiser .

-Tudo bem. Lilá abraçou os filhos. –Eles irão ficar bem com você.

-Eu te amo, mamãe! Rose a abraçou forte.

Depois de uma prolongada despedida e várias recomendações por parte de Lilá, foram para o aeroporto. O voo sairia em poucos minutos e Ron ainda teria que comprar as passagens para os filhos.

Não tinha mais passagens para este voo, somente para o próximo que sairia apenas no dia seguinte. Tinham que pegar este voo para estarem o quanto antes em Londres. Não sabia o que fazer até receber uma ligação do seu pai. Arthur tinha acabado de pousar em Nova York e queria ver o filho antes de voltar para casa. Ron explicou rapidamente a situação e Arthur prometeu encontra-los no aeroporto, pois sabia como ajudar.

-Pai, como você pode me ajudar? Ron estava ansioso.

-Ser piloto tem suas vantagens, troquei a escala com um amigo e coloquei vocês nesse voo. Chegaremos em casa antes do previsto!

-Você vai nos levar, vovô? Ben perguntou animado, seu sonho era estar em um avião pilotado pelo avô.

-Sim, irei levar todos nós para casa! Arthur pegou Rose no colo. –Vamos?