Wolverine: Uma História escrita por Tenebris


Capítulo 3
Problema




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Julia o seguiu muda. Eles foram até uma sala fechada e ampla, com vários equipamentos de luta e objetos esquisitos. Logan andou até uma parte que continha vários sacos de areia pendurados e deu um soco em um deles, que voou longe.

- Pronta? – Perguntou.

Julia o encarou durante um tempo. Ele parecia querer intimidá-la. Até mesmo afastá-la propositalmente. Quase como se quisesse permanecer isolado, sem amigos, temido e odiado. Então estava conseguindo o que queria. Julia estava achando que nada daquilo poderia dar certo, ora, ela estava, sim, odiando Logan. Mal conversara com ele e sua atitude já a irritara. Julia se aproximou dele e respondeu:

- Claro, professor.             

- Você já treinou algo antes? – Perguntou ele, entregando-lhe um par de luvas de boxe.

- Treinei durante quatro anos na SHIELD. – Julia falou, calçando as luvas.

Wolverine riu tão estrondosamente que até os vidros vibraram.

- Você?

- Duvida? – Perguntou Julia, aproximando-se tanto que se sentiu inexplicavelmente afetada pela aura de Logan. Novamente.

Logan revirou os olhos de um jeito fugaz. Ele não fugiria de uma boa briga.

Julia deixou-se levar pelos instintos de treinamento e o combate teve início.

Logan tentou golpeá-la, mas ela desviou e seguiu o caminho oposto. Logan investiu novamente, e ela percebeu que a estratégia dele era atacar. Não haveria defesa por parte dele.

Assim, durante uns bons cinco minutos o combate se prolongou. Julia descobriu que tinha excelentes reflexos e que não era uma lutadora ruim. Logan era melhor, mas até agora não tinha vencido efetivamente.

Quando a luta estava em um momento crítico, os golpes ficaram mais intensos e rápidos. Julia estava cansada, respirando ofegante para garantir resistência. Não podia render-se dessa forma. Não depois de ser praticamente humilhada por Logan.

Entretanto, de repente, Logan esbarrou em um saco de areia, tentando esquivar-se de um golpe particularmente bom de Julia, e acabou caindo em cima da mão dela. A mão que estava pronta para o golpe.

Julia gritou de dor, ouvindo o estalido de um pulso ferozmente torcido. Logan levantou-se de pronto, parecendo desconcertado. Julia caiu no chão, tentando mais que tudo reprimir lágrimas.

Logan a levantou sem pedir a permissão dela e falou:

- Vamos até a enfermaria.

Era estranho o modo como ele simplesmente dava ordens e agia, sem nem ao menos ouvir o que Julia queria, ela observou.

Mas Julia debateu-se.

- Não vou a lugar nenhum! Estou atrasada para o trabalho. E obrigada pelo pulso. Excelente lição para uma primeira aula! – Julia berrou, segurando o pulso torcido. Não reprimiu a raiva.

Mas dessa vez, Logan estreitou os olhos para Julia e pareceu furioso com a atitude dela.

- Não pode sair daqui assim. Sei que a culpa foi minha. Vamos. – E, como se não estivesse se esforçando, levantou Julia com os braços e a levou carregada até a enfermaria.

Julia teve de calar-se. Não queria fazer muito escândalo logo no primeiro dia no Instituto, e por sorte, eles não encontraram ninguém no caminho. Então, ocasionalmente, ela se permitia gritar com Logan para que ele a largasse:

- Me ponha no chão! – Pedia.

Em vão. Wolverine seguia firme com ela até a enfermaria e, no caminho, avistaram uma única pessoa: Jean Grey. Ela olhou para Julia, nos braços de Logan, de tal modo que parecia querer fulminá-la com o olhar. Dois olhares fulminantes em uma única manhã. Jean não seria fácil de lidar. Julia tentou deduzir o motivo que levaria Jean a olhar assim para ela, mas não conseguia identificá-lo de pronto.

Por fim, se viu sentada numa cadeira pequena, em uma sala artificialmente branca e também pequena.

- Está calma agora? – Perguntou Logan.

- Deveria estar? – Julia rebateu, ácida.

- Foi um acidente. É meu dever curá-la. – Observou Logan.

Ele pegou ataduras e fez um curativo no pulso esquerdo de Julia, não sem que ela emitisse sons esporádicos de dor. Quando terminou o curativo, Logan falou, relutante:

- Desculpe. Não sei fazer melhor que isso. Tempestade entende de curativos, mas não está aqui agora.

- Tudo bem. Desde que não caia em cima de mim de novo. – Retrucou Julia, irritada.

- Vai ter que melhorar seu humor para a próxima aula. – Ironizou Logan, jogando com violência o que sobrou da atadura a um canto.

- Se você melhorar seus métodos de dar aula, talvez eu melhore. – Respondeu Julia, levantando-se e disparando para a porta.

- Você é tão teimosa e irritante... – Falou Logan, cruzando os braços. O tom de voz estático dele não tranquilizava Julia. Pelo contrário.

- Pensei que não se importasse com outros. Pelo menos, é isso que você demonstra. – Atacou Julia, segurando-se ao batente da porta.

- Diga um “obrigada”. Seria educado de sua parte. – Disse Logan, olhando incisivamente para ela.

- Vou embora. Até amanhã, professor. – Despediu-se Julia, sarcasticamente, seguindo pelo corredor desconhecido. Ela ainda ouviu Logan retrucar enquanto virou à esquerda:

- Você não sabe o caminho de volta, esperta.

- Eu encontro! – Gritou Julia, em resposta. Seus limites foram excessivamente testados essa manhã. Logan era indiferente, mal humorado, prepotente e, em suma, detestável. Julia só conseguia pensar nisso. Mal se deu conta de que, de fato, não encontrava o caminho da saída.

Enquanto vagava pelos corredores, deu de cara com Scott e Jean, e teve a sensação de que atrapalhava algo.

- Ah, desculpa... – Falou, sem jeito.

Scott sorriu e Jean fechou a cara inesperadamente. Três vezes, a contar esta.

- A saída é por ali... – Apontou Scott, e Julia sentiu uma onde imensa de gratidão por ele. Jean cruzou os braços. Um dia, algum dia, Julia pensou, ela se veria com Jean. Aquele não era o momento.

- O que fez no pulso? – Indagou Scott, adiantando-se e segurando a mão de Julia.

- Ah, incidente com Logan. Uma luta. – Respondeu ela, fazendo pouco caso.

- Puxa, você deve ser boa... Um dia gostaria que testasse seus poderes em mim. Eles parecem formidáveis...

Julia se sentiu pega de surpresa. Nunca fizera isso antes por que alguém havia pedido. Já entrara na mente das pessoas. Ela sabia como fazer.

- Claro. – Ela respondeu.

- Amanhã? – Perguntou Scott, soltando a mão dela.

- Sem problemas. Bem, eu vou indo... Trabalho, sabe como é.

Julia despediu-se deles e ligou para um táxi. Dentro de meia hora estava embarcando em um direto para o trabalho. Um lugar que lhe daria coisas para pensar bem diferentes das que atualmente ocupavam sua cabeça.

Wolverine seguiu para sua casa. Ele não tinha um quarto na mansão. Sua casa era pequena e simples, mas ficava do lado de fora da mansão, mais perto da entrada. Ele preferia não se enturmar muito e Charles parecia entender isso por motivos bem específicos. Ele guardou sua moto e entrou em sua casa, parando à porta para pensar. O que achava de sua aluna? A resposta era simples. Uma garota desnecessariamente teimosa, encrenqueira, impulsiva e mal-educada. Logan nunca fora muito de ocupar sua mente com coisas externas, mas dessa vez, pegava-se pensando em Julia boa parte de seu tempo. No quanto ela era detestável. Lembrou-se da cena da luta, com Julia e seus cabelos enormes e ondulados, dançando com o vento e o olhar castanho determinado dela.

Aconteceu então o que não acontecia há tempos. Ele pegou-se esperando pela hora em que Julia chegaria. Por motivos que ele desconhecia. Ou relutava em desconhecer.

Julia tivera um dia normal no escritório. Não teve muito trabalho para fazer, e com grande frequência pensava em seu dia conturbado. A maioria das pessoas parecia legal, como Kitty e Kurt. Até mesmo Scott, que a ajudara várias vezes quando ela parecia desconcertada. Quanto a Jean, Julia tinha raiva. Jean mal a conhecia e já fazia pouco caso dela, das habilidades dela. E quando ela notara Julia discutindo com Wolverine, seus olhos nunca aparentaram ser tão frios e severos. Mas por quê?

Julia, intimamente, resolvera que não se deixaria afetar por Jean. A próxima vez em que ela lhe intimidasse, Julia daria uma resposta à altura. De qualquer forma, não se sentia totalmente excluída. Vampira e Evan também pareciam legais.

Ela foi embora do escritório e ficou feliz por ninguém fazer perguntas a respeito da mudança de horários. Provavelmente, seu pai adotivo, Rudolph, já havia comunicado a todos que ela estava estudando fora. Um bom sinal.

Quando chegou à mansão, caminhou tranquilamente na trilha por dez minutos até chegar ao portão. Um leitor óptico bastante moderno, parecendo óculos móveis, postou-se na frente de Julia e permitiu sua entrada. Já eram quase seis horas da noite e a maioria dos mutantes, que eram estudantes, já havia chegado.

Julia entrou e encontrou tudo tranquilo. Alguns se encontravam na mesa estudando, na sala vendo televisão ou treinando no jardim. Scott encontrava-se entediado em uma mesa pequena observando Jean, que lia um livro de nome “Física Quântica Avançada Nível Três”. Quando Julia entrou, vários mutantes que ela desconhecia vieram cumprimentá-la. Ela retribuiu calorosamente e então Scott acenou para ela.

Julia ficou receosa de se aproximar, pois Jean estaria por perto. Então se lembrou de não parecer intimidada. Aproximou-se e Scott falou, animado:

- Oi!

- Oi...

- Então, o Professor a espera para realizarmos uns testes. Vamos? – Chamou ele.

Ela assentiu e o seguiu, mas não sem perceber que Jean também fora junto. Então, Julia caminhou ao lado de Scott e se incomodou por não poder ver seus olhos. O motivo era bastante claro (Scott tinha lasers nos olhos), mas, ainda assim, ela queria observá-los. De que cor seriam os olhos dele?

Chegaram, por fim, a uma sala no canto do segundo andar. Era uma sala totalmente técnico-científica, ampla, com aparelhos de todos os tipos e um grande círculo de vidro onde se lia: “Simulação de Treinamento”. Julia avistou Professor Charles e ele a cumprimentou, pedindo que ficasse de pé em frente a Scott.

- Olá, Julia. Desculpe pressioná-la logo em seu primeiro dia, mas queremos confirmar o que pode fazer. Scott ofereceu-se para ser seu “alvo”. – Brincou Charles.

- Não sei bem o que pode acontecer... – Ponderou Julia, evitando o olhar cético de Jean.

-Estamos aqui para ajudar você. – Disse Scott. – Pronta?

- Sim!

Julia caminhou lentamente até ficar de frente para Scott. Ela encarou-o profundamente nos olhos e pode sentir que estava adentrando sua mente. Aos poucos, como se brincasse de fantoches, sentiu ter a mente dele nas mãos. Então, como um sinal, os olhos de Julia ficaram cinza. Isso sempre acontecia quando ela estava dominando a mente de alguém. Indicava que ela agora tinha mais mentes sob controle.

E, então, viu-se em uma projeção atemporal com Scott. Uma sala preta, mas que, de alguma forma, ainda era possível enxergar. A sala, obviamente, não existia de fato. Era a mente de Julia. E, nela, era como se o tempo parasse. Scott estava parado diante dela, de pé. Julia sentiu toda a sua vulnerabilidade ao caminhar ao redor dele naquela sala estranha. Poderia fazer o que quisesse com ele.

Então, chamou:

- Scott, acorde.

E ele acordou, ainda parecendo fraco.

- Onde estamos?

- Na minha mente. Posso controlá-lo como eu quiser daqui. – Julia anunciou, tentando ser branda.

- Fascinante! Dê-me uma lembrança feliz. – Pediu ele.

Julia não precisou se esforçar. Seus poderes estavam escapando fácil, como se quisessem ser usados por ela. Ela adentrou a mente de Scott e viu que um de seus desejos era formar uma família com Jean. Julia incutiu, lentamente, a lembrança na mente de Scott com a ajuda de suas mãos. Era como se a lembrança aflorasse por seu corpo e partisse dela em direção à mente de Scott.

Mas incutir lembranças não era o único poder de Julia. E, pensando nisso, sem querer, seus poderes a fizeram adentrar a mente de Scott mais profundamente. Ela viu suas lembranças mais remotas e guardadas, como o dia em que ele chegou ao Instituto, o primeiro beijo que deu em Jean, a fúria que sentiu ao ver Kurt batendo seu carro novo, entre outras.

Rapidamente, tentou parar de fazê-lo. Não estava lá para ler a mente de Scott. E, quando parou, viu-se caída no chão da sala onde estivera antes. Charles olhava para ela alarmado.

-Você está bem?

- Cansada, eu diria. – Respondeu ela.

- Bem, acho que se esforçou demais. Vamos melhorar isso.

- Onde está Jean e Jenny? – Perguntou Scott. – Onde estão minha esposa e minha filha?

Charles olhou significativamente para Julia, entendendo que ela incutira uma lembrança feliz (porém falsa) na mente de Scott. Só então Julia percebeu que, de fato, Jean tinha saído da sala. Ela entendeu o olhar do professor e olhou para Scott, deixando seu olho mudar de cor e, com isso, retirou a lembrança da mente de Scott.

Quando ele recuperou a consciência, nem Julia nem Charles tocaram no assunto. Apenas garantiram que os poderes de Julia eram de fato fantásticos e que ela precisaria aprender a lidar com eles.

Dessa forma, todos desceram para jantar. Fazia uma noite límpida e sem estrelas. Na mesa de jantar, onde todos se reuniram, Kitty sentou-se ao lado de Julia e elas conversavam ocasionalmente. Para Julia, a presença de Kitty deixava tudo menos chato. Foi então que um alarme soou e diversas luzes vermelhas começaram a piscar freneticamente.

A porta se abriu e todos se sobressaltaram, mas era Logan, dizendo:

- Temos problemas! E dos grandes!


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