“A vida é feita de escolhas Alice... Entenda!”

    Neste momento já não sei mais se sonho ou se estou acordada realmente, desde o dia que fui salva estou no mesmo lugar fazendo as mesmas coisas... Tomo chá e como deliciosos bolos e tortas, mas isso está monótono e vazio. Tristan mal fala comigo e Ian desapareceu há um tempo... Sinto-me sozinha. Tenho perguntas que precisam de respostas, mas ninguém as dá! Cada dia que passa fico cada vez mais confusa... Por que não dizer perdida?

-Alice... Está tão abatida hoje! – escuto Molly dizer.

    Viro-me para ela entediada e vejo que Lunna também me olha preocupada, estão tão mal assim?

-Não gosto de monotonias...

-Ah! Por que não passeia então? Seria bom você conhecer mais o lugar! – olho para a Lebre que se anima com a ideia.

-Seria muito bom! – digo me levantando já sorrindo.

-Não se esqueça de que é perigoso Alice você deveria ir com alguém lhe acompanhando e...

-Molly eu sei me cuidar!

    Arrumo meu vestido e saio. Eu preciso mesmo me distrair com alguma coisa, eu queria tanto voltar para casa... Por que eu não acordo desse sonho logo? Andando vejo a paisagem mudar de forma contorcida... Eu não faço a mínima ideia para onde estou indo, mas continuo em frente, sinto um arrepio na espinha e olho para os lados... Alguém me segue, eu sinto isso. Acelero os passos na esperança de despistar quem está atrás de mim, foi em vão. Sinto meus ombros serem puxados para trás com força e acabo por cair sentada.

-Ai! Seu filho de uma bela meretriz!

-Se quer saber essa ideia não me agrada nem um pouco...

    Olho para trás para reconhecer a voz e dou de cara com os olhos azuis e cintilantes de Ian, me surpreendo.

-Ian! O que faz aqui?

-Não se deve andar sozinha onde o corpo não está... Não deveria estar saindo de sua zona segura Alice. O que faz aqui?

    Seu tom de voz é sério, me levanto e ele se põe a andar calmo na minha frente, corro um pouco e ando ao lado dele.

-Preciso me distrair... Estou aqui a tempo de mais! Quero ir para casa! Quero voltar!

-Você está em casa... Só não despertou ainda, Alice você não irá voltar...

    Arregalo os olhos e paro na frente dele o obrigando a parar e olhar para mim.

-Isso é uma mentira!

-Não, é a mais pura e doce verdade que surge como música em meus ouvidos.

   Ele sorri sarcástico e largo, aquele sorriso... Irrita-me! Acabo saindo na frente dele pisando duro sem olhar por onde ando fazendo com que quase caio em um barranco enorme, sinto meu braço ser puxado me salvando da morte certa.

-Olhe por onde anda! Já não é mais uma criança para ter uma babá!

    A voz irritada de Tristan me surpreende, olho para meu braço e vejo a mão com luva branca me segurando, acompanho com os olhos das mãos ao rosto de Tristan, me solto com raiva.

-O QUE DEU EM VOCÊS AFINAL? QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO?

    Silêncio... Um silêncio chato e mutuo...

-RESPONDAM!

    Eles suspiram... Eu suspiro.

-Você está voltando Alice... Aos poucos... Mas está voltando para nós... Para Wonderland.

-Aceite que essa é sua casa, seu lar... Você não voltará para o outro mundo garota, aquilo lá é faz de conta... Imaginação! Aqui é o Real! Aqui!

-Vocês são malucos! Aqui é só uma criação da minha mente! É UMA CRIAÇÃO DA MINHA MENTE!

    Grito a plenos pulmões para todos que queriam ou não ouvir tal coisa, sinto uma forte pontada em minha cabeça, a dor dilacerante me faz cair de joelhos no chão, respiro forte e descompassado... Desmaio em pouco tempo depois apenas ouvindo os dois gritando meu nome.

    No quarto escuro a menininha vira-se inquieta na cama confortável, seu bichinho de pelúcia agora está de lado, todos do sombrio quarto olham-na atentos... Ela pode acordar... Ou o pior... Falecer... O sono profundo da morte embala os medos da menina, sua garganta se torna seca, sua pele empalidece, seu corpo esfria como um cubo de gelo. O barulho agudo dos saltos batendo contra o chão do quarto ecoa por todos os lugares, a mulher de vermelho esconde seu rosto com os cabelos negros, senta-se ao lado da garotinha e põe-se a cantar uma melodia fúnebre e assustadora, todos ao redor voltam aos seus deveres e distrações, a menina se acalma aos poucos. As mãos machucadas e distorcidas tocam o rosto da pequena garotinha, seu olhar vago analisa cada mínimo detalhe da menina deitada... Na janela pode-se ver o mundo avermelhando e destruindo-se, tudo está acabando... Ou até mesmo... Indo para o lugar correto.

“Durma Alice, acorde apenas quando desistir do seu lado falso... Volte minha doce menina, e retorne para o seu lugar de direito... Escolha o melhor caminho... O caminho certo até nós... Sonhe conosco minha doce menina.”