"Levante, acorde Alice! Já! Antes que nosso mundo se destrua de vez!"

A doce garotinha se mexia desconfortável na cama macia e quentinha, que agora já não parecia tão macia e quente assim. Pela janela, já podia se ver a transformação que aquele lugar estava sofrendo, a cor avermelhada tomava conta do céu que antes estava escuro, a porta do quarto se abria e um rangir era audível, um fino fecho de luz entrava no quarto escuro e sombrio as figuras distorcidas de dentro olharam atentas quem estava parado na porta. Agora todos sabiam que a hora estava próxima, a menina iria despertar e tomar seu reino mais uma vez e usar a coroa de sua soberania.

Faziam dias que Alice estava desacordada deitada na maca dura e fria do hospital, ela estava presa ao seu sono da morte com uma expressão calma e serena. Pálida, Alice já não parecia mais a mesma Alice de antes, estava tudo muito confuso. Todos que estavam ali olhavam atentos cada mínima reação da garota apreensivos torcendo para que ela acordasse o mais logo possível, aquilo tudo era normal de se acontecer? Pois, real sem duvidas era! Os dias iam se passando e cada vez mais pálida e inerte Alice ficava, a tensão começava a tomar conta de todos. Oh! por céus! Acorde nossa doce e inocente Alice!

Tranquila a doce garotinha se mexia tentando se desprender das cordas finas e fortes que a prendiam, cordas essas invísiveis a olho nú, mas que ali estavam. A pele que antes estava pálida ficava agora, cada vez mais avermelhada e viva como se o sangue corresse por cima dela, que aparencia mais viva! A canção fúnebre para a acalmar ainda era cantada pela mulher de vermelho, a respiração cada vez mais forte e descompassada da garotinha chamava a atenção de todos, estava quase! Pelos céus! Está quase!

Quieta, gélida, pálida... Morta? O desespero começava a tomar conta de todos, era uma noite fria, escura e a neve caia como bailarinas do céu, todos a olhavam, todos esperavam um sinal de vida... Um mínimo suspiro seria o suficiente, mas a respiração de Alice era fraca quase inexistente.
–Chapeleiro?
Silêncio, incomodo e ofensivo... Maldito silêncio!
–Chapeleiro, fale conosco! - Insistia Luna.
Suspirou, ele já não era o mesmo. Nem ele, nem mais ninguém, mas de todos ele era o que estava pior e mais abatido. Talvez ela achasse isso pelo fato de Ian ter sumido, sumido como fumaça no ar, como ele fazia sempre. Começaram então, aos poucos, se retirarem aos poucos, um por um até só sobrarem o corpo inerte e fúnebre de Alice e o Chapeleiro Maluco naquele quarto vazio e melancólico do hospital. Nenhum movimento a mais, suspirou e finalmente desistiu, tanto ele quanto Alice que parava de respirar no segundo seguinte.
A dor que tomou conta do peito de Tristan foi tamanha que sentiu as pernas cederem e se deixou cair de joelhos no chão sujo do lugar, quando a primeira lágrima sofrida escorria de seu rosto até o chão um grito alto e perturbador tomou conta do local, o ar voltara aos pulmões de Alice que abria os olhos assustada e se sentava abruptamente na maca. Ela voltara a vida... Seus olhos eram negros e sombrios, sua pele era extremamente branca e empalidecida como papel. A Rainha estava voltando finalmente!

Um suspiro forte, a respiração voltava ao normal a doce menininha se soltava das amarras e despertava de seu sono, sua pele escarlate brilhava pela pouca luz. Sentou-se na cama e olhou a todos confusa e perdida, engoliu em seco não conseguia dizer uma mínima palavra, mas todos ali sorriam. "Oh minha doce Rainha! Você retornou por nós! Oh doce Alice!" todos alegres diziam! Sorrisos distorcidos e grotescos eram expostos aos rostos macabros das criaturas ali, a Rainha havia despertado e dessa vez para sempre! Wonderland estaria a salvo de toda destruição agora!

"Wonderland está se destruindo! Minha mente está em ruínas!"