Percy andava para lá e para cá em seu chalé. O que estava fazendo? Pensando no que diria para Annabeth quando a encontrasse.

Ouviu um barulho atrás dele, então uma voz de garota falou:

- Alô? Alô? Percy?

Ele se virou para fitar a garota de cabelos pretos espetados e elétricos olhos azuis que aparecia na névoa no canto do quarto.

- Thalia? Thalia! - Ele exclamou.

Estava feliz por rever sua amiga, mas a fulminada que ela o lançou, o fez pensar que ela poderia atirar-lhe um raio mesmo por mensagem de Íris. Achou melhor ficar quieto e deixá-la falar, mas para sua surpresa, ela apenas suspirou e assumiu uma expressão um tanto aliviada.

- Bom saber que Annabeth ainda não o lançou como jantar para os monstros na floresta. E é sobre isso mesmo que quero falar com você.

- Hum, bom te ver também.

- Eu espero do fundo do meu coração que você esteja arrependido da merda que fez, Percy.

- Eu estou! Só não tive coragem ainda pra falar com ela. Me ajude Thalia!

- Eu já ajudei! E tu tem muita sorte garoto, porque vou te ajudar de novo.

Percy suspirou aliviado.

- Bom saber que você não vai me lançar um raio ou coisa do tipo. - Ele disse.

- Na verdade, quando Annabeth me contou o ocorrido, eu tive que me segurar pra não correr atrás de tu e não te matar lá na sua casa mesmo. Só não fiz por respeito à sua mãe.

- Uh, valeu... eu acho. - Ele pegou a concha dentro do bolso. - Olha só. Eu quero dar isso à ela.

- Acha mesmo que um presentinho pode fazer ela te perdoar? Ainda mais uma concha azul! Na boa Percy...

- Não! Eu não vou simplesmente entregar e pedir pra voltarmos! Eu vou ser sincero e dizer tudo que estou com vontade. E não é apenas um presentinho. Eu fui buscar no fundo do mar, no palácio do meu pai! E não é uma simples concha, tem algo aqui dentro. Mas ainda não vi o que é.

- Hum, menos mal.

- Escuta, eu sei que ela está chateada, e eu sinto muito por isso! Mas eu realmente...

- Não Percy, ela não está simplesmente chateada.

- Eu sei. Provavelmten muito zangada também, mas...

- Percy. - Thalia falou.

- ... eu vou dar um jeito de fazer tudo voltar ao normal, eu tenho que fazer...

- Percy! - Thalia gritou, assustando-o.

- O quê?

- Annabeth quis entrar pra caçada.

Percy ergueu as sombrancelhas e abriu a boca, mas nenhum som saiu. Ele já passou por esse desespero antes. Tudo bem que na primeira vez foi um engano, mas agora, era Annabeth mesmo.

- É, eu sei. Eu também me assustei, mas isso faz completo sentido. Você sabe: primeiro teve o Luke, daí agora que ela estava feliz com você, acontece isso. Annabeth já está ficando cansada de se decepcionar. A sua sorte é que ela falou comigo primeiro, e foi eu quem a convenceu a desistir da ideia. O que foi bem difícil, diga-se de passagem.

Percy abaixou a cabeça e agarrou os cabelos com as duas mãos.

- Não se desespere Cabeça de Alga, eu tenho uma solução. Na verdade, uma teoria para o que aconteceu.

Percy não sabia como poderia existir uma teoria, mas pediu que ela continuasse.

- Bem. Esses dias, eu tenho pensado bastante sobre o assunto. Eu tinha a impressão que tinha algo de errado nessa história. Tudo bem que você é bem lerdo com essa cabeça cheia de algas e...

- Thalia, a teoria, lembra? - Percy falou.

- Ok. Apesar de tudo, eu ainda me lembro de como você ficava meio que sem reação e com uma cara de bobo quando Annabeth estava por perto, se bem que você tem sempre cara de bobo.

- Thalia!

- Ok, ok. Enfim, acontece que você e Annabeth se conhecem há uns 5, 6 anos Percy. E só depois de muito tempo que foram decidir começar a namorar. E vocês são, você sabe, completamente caídos um pelo outro, deveria ver a cara de vocês dois quando estão juntos! E Dakota Irritante está aí há apenas alguns meses! Não acho que seria assim tão fácil e rápido pra você ficar com ela. Não quando se é tão lerdo.

Percy suspirou e ignorou o xingamento.

- E aonde você quer chegar com tudo isso?

- Eu quero dizer que não acho que você realmente trairia Annabeth em sã consciência.

 Ele franziu a testa, de repente interessado.

- O que você quer dizer com "sã consciência"?

- Eu quero dizer, Cabeça de Alga, que tem algo que você vai gostar de saber. Dakota Irritante é filha de Afrodite, certo?

- Sim.

- Pois bem. Alguns filhos de Afrodite costumam ter algo chamado de "charme".

Percy bufou. - Não diga. - Disse com sarcasmo.

Thalia o fuzilou com os olhos.

- Cala a boca! - Ela disse. - Eu não digo o charme abitual, blé! Eu estou falando de um poder que alguns filhos de Afrodite podem herdar. É usado apenas quando eles querem, e tem o poder de fazer com que outra pessoa faça tudo o que ele ou ela quiser ou mandar.

- Espera, você tá querendo dizer...

- Calma lá garanhão! - Percy fez uma careta com o "garanhão". - Alguns podem ter o charme mais forte que o de seus irmãos. Quanto mais forte, mais efeito tem na pessoa, que faz tudo o que o semideus quer sem nem ao menos se perguntar sobre o que está fazendo. Apenas faz.

- Então você está dizendo que Kota usou o charme em mim?

- Não a chame de Kota! - Thalia praticamente gritou. - É Da-ko-ta. Você está proibido de expressar qualquer tipo de afeto ou carinho que se direcione à ela.

- Mas os dois não são a mesma coisa?

- Não importa, é Dakota, pronto e acabou.

- Ok, ok. Dakota.

- Bem melhor. Onde paramos? Ah sim. Bem, o charme abitual eu tenho certeza que ela usou, já o charme na voz...

- Sim, sim. Como vamos saber se ela tem o charme na voz?

Thalia endireitou o corpo e apoiou uma mão no queixo.

- Você se lembra de quando, ahn, traiu Annabeth?

- Sim, infelizmente.

- E se lembra do que ela falou com você na hora?

- Eu... - sua cabeça começou a doer um pouco. - Sim, eu me lembro.

- O que ela te disse?

- Ela... bem, ela disse que eu deveria relaxar do namoro já que não estava dando certo.

- Não estava dando certo?

- Bem, a gente tem uns desentendimentos. Mas nada que não se resolva depois. O problema é que sempre que Annabeth e eu brigávamos, Kota estava lá, sabe, pra me animar e coisa do tipo.

- Sei bem como é esse animar... - Thalia murmurou e Percy a olhou com raiva. - Enfim, ela disse que você deveria desistir, mais o quê?

- Ela, ai... - Sua cabeça doía mais a cada memória que tentava lembrar. - Algo sobre eu conseguir encontrar alguém que se importaria comigo tanto quanto Annabeth...

Thalia bufou.

- É! Foi isso o que ela disse! - Percy exclamou. - E aí ela me beijou na bochecha. Eu virei o rosto. Acho que ela me beijou nessa hora.

- Argh! - Thalia exclamou. - Mais nada?

- Eu... - Sua cabeça doeu tanto nessa hora, que ele teve que segurá-la com ambas as mãos. - Eu não me lembro de nada, mas minha cabeça dói...

- É isso Percy! Eu tenho certeza de que ela falou algo mais. E tenho certeza que esse algo mais foi o que fez você beijá-la tão facilmente, ou aceitar o beijo, não quero saber! Se você se lembrar do que ela falou, poderá explicar para Annabeth. Eu tenho que ir agora.

- Mas e se ela não acreditar?

- Apesar de tudo, Cabeça de Alga, ela te ama. Você também a ama, não é?

Percy suspirou.

- Sim, Thalia. Mais do que eu imaginava. Eu me odeio por ter que perdê-la pra perceber que era isso mesmo, mas...

- Sim, sim, chega de melação, blé! - Ela o olhou com carinho. - Se você realmente a ama, faça-a acreditar, faça-a ouvi-lo! Tenho certeza de que ela vai te perdoar.

Percy sorriu. Já era a segunda pessoa no dia que dizia que Annabeth o perdoaria. Isso aumentou a esperança que carregava dentro de si.

- Obrigado, Thalia. De verdade.

- Sim, sim. Eu sei que você me ama. Agora realmente tenho que correr. Boa sorte Percy, fui!

Ela desfez a fumaça com a mão, e assim, a conversa com sua prima chegou ao fim.

Percy sorriu consigo mesmo.

- É. Vou fazer Annabeth me ouvir.