Jogos Vorazes por Cato escrita por AmndAndrade


Capítulo 11
Capítulo 11 - Odeio minas terrestres




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            – Shhh – ouço Clove dizer enquanto eu abro me debato no chão ao lado do lago. Ela mantém um pano úmido em meu rosto e em algums lugares de meu corpo e eu demoro para relacioná-lo às lágrimas de Cathy.

Foi só um sonho.   

Ergo o corpo devagar, até perceber que os suprimentos estão rearmados no formato de uma pirâmide. Corro os olhos mais um pouco.

– Então Glimmer e a Quatro...? – pergunto, sentado. Agora sou eu quem seguro o pano. Ela tem alguns calombos nos braços, mas nada mais que isso, apesar de estarem inchados.

Ela limita-se a assentir e me estender a mão.

– Venha. Tenho que te mostrar uma coisa.

Quando eu me posto na porta da Cornucópia, vejo um garoto se encolher num canto, como um animal assustado e encurralado. Seus olhos estão tremeluzindo durante os poucos segundos em que ele me olha. Quando eu falo, parece que minha voz lança uma descarga elétrica em direção ao corpo do garoto pequeno, magro e pálido.

– Quem é esse? Por que está vivo? – pergunto para Clove, entre dentes.

– Encontrei-o no lago. Ele me implorou para não matá-lo...

Observo o garoto que desvia seu olhar do meu mais uma vez. Mais baixo, mais fraco e certamente mais covarde. Estaria Clove apaixonada?

– E por que você escutou? – interrompo-a. Ela parece irritada.

– Se você tiver o mínimo de paciência eu vou explicar, queridinho.

Alguma coisa em seu “queridinho” me faz acreditar que não foi exatamente uma coisa boa.

– Ele conseguiu reativar as minas. – Pareço confuso. – Todas as vinte e quatro minas que nos explodiriam se pisássemos fora do círculo antes da hora.

O garoto agora me encara e eu tento aparentar desprezá-lo o máximo que consigo.

– E agora elas estão reposicionadas ao redor daquela pilha de suprimentos.

– Exato. – Ela sorri. – E qualquer idiota que tentar ao menos chegar perto deles terá vinte e quatro chances de estourar pelos ares.

O plano é bom. É muito bom. Pondero se vale a pena mantê-lo vivo, e concluo que precisamos dele para qualquer problema que tivermos com as minas. Mas é claro que eu não vou dizer isso a ele.

– Então. O que você quer fazer com ele? – ela pergunta, por fim.

– Vamos deixá-lo vivo. – O menino emite um ruído estranho, como se estivesse engolindo em seco. – Por enquanto. – Afinal, não posso ser tão bondoso.

Saio e observo Marvel por um instante. Tem picadas ao redor do corpo, e lava o sangue seco de uma espada na beira do lago. Ele parece cantarolar alguma música, mas eu não reconheço qual. Pergunto-me se ele não sente falta de Glimmer.

Preparo-me para perguntar por quanto tempo dormi quando vejo um filete de fumaça se formar entre as árvores esparsas. Então, algum idiota está tentando cozinhar alguma coisa. Dou um grito para que os outros prestem atenção a isso. Sorrio ao pensar que quem será cozido será o tributo que encontraremos. Especialmente se for a garota brasinha.

    – O que fazemos agora? – Clove pergunta, colocando a mão para dentro do casaco, provavelmente em busca de uma faca.

    – Vamos atrás dela.

            – Estou falando do Garoto Três.

            – Ele vem com a gente – respondo. – Nós precisamos dele na floresta e, de qualquer maneira, o trabalho dele aqui já acabou. Ninguém toca nesses suprimentos.

            – E quanto ao Conquistador? – Marvel pergunta.

            Suspiro. Acordei com um mau humor danado hoje.

            – Vou repetir mais uma vez. Esquece ele. Sei onde enfiei a faca nele. É um milagre ele ainda estar vivo depois de perder tanto sangue. Na pior das hipóteses, não tem condição de nos perseguir.

            Marvel concorda com a cabeça e todos se postam atrás de mim.

            – Vamos embora – digo e coloco uma lança na mão do novato.

            Sinto-me profundamente irritado. A brasinha terá que pagar, e não vai ser bonito. Estamos correndo em direção ao fogo.

            – Quando nós a encontrarmos, vou matá-la do meu jeito e ninguém vai se meter.

            Continuamos correndo pela mata, seguindo o fogo. Quando encontramos, já não passa de um punhado de lenha queimada. Parece ter sido apagado há quinze ou vinte minutos, o que me diz que seu autor não pode estar muito mais que quatro quilômetros longe, caso tenha fugido.

            Dou orientação para que nos separemos, e puxo Clove para perto assim que ela toma a direita. Sussurro de leve em seu ouvido e controlo para não apertar demais o braço. Embora ainda sinta raiva, sei que ela não merece as conseqüências.

            – Ainda temos assuntos pendentes – digo e a solto pra que ela se dirija à direita, ainda cambaleante.

            E então, o estrondo ocorre. Uma fumaça espessa e alta está formada onde parece ser – embora me soe impossível – a Cornucópia. Um estrondo. Dois estrondos. Muitos estrondos.

            Sem que seja necessário ordenar, estamos todos correndo para o mesmo lugar. Mal posso acreditar no que vejo.

            O que antes era uma montanha de vida, agora é um punhado de nada. Um nada que me faz querer arrancar os cabelos. Quando percebo, estou fora de mim.

            Quero muito socar alguma coisa. Qualquer coisa. Minha única alternativa seria o Garoto Três, mas ele está um tanto longe. Limito-me a urrar e socar o chão enquanto ele dá voltas na pilha de lixo, atirando pedras.

            – É, parece que todas as minas foram ativadas – ele diz, e é a primeira vez que escuto sua voz enquanto ele atira mais uma pedra.

            Como eu quero colocar uma pedra em brasa em suas mãos e segurá-las, pra que ele nunca mais toque em nada meu. Clove e Marvel estão remexendo as ruínas, mas eu sei bem que não há nada pra ser salvo.

            Maldito, penso enquanto chuto os destroços. Maldito.

            – Mas que diabos você achou que estava fazendo? Colocou as minhas interligadas? – Quando percebo, já estou segurando-o pela camisa enquanto ele tenta fugir. Aperto uma gravata. – Gente estúpida é perigosa. E gente estúpida paga por isso – digo, enquanto torço a cabeça do garoto para a direita.

            Sem choro. Sem gritos. Sem resistência. Escuto Clove e Marvel gritando qualquer coisa para mim, mas simplesmente os ignoro enquanto jogo o corpo do garoto no chão e chuto suas costelas. Ele não pode sentir mais nada de qualquer jeito.

            Preparo-me para voltar à floresta quando a mão de Clove pousa em meu corpo, determinada. Nunca me segurei tanto pra não bater em uma garota.

            – Cato, quem quer que tenha feito isso nos viu saindo. Tentou se aproveitar da situação, mas já está morto.

            – Ela tem razão – Marvel diz. Eu simplesmente não acredito.

            – Eu não escutei um canhão.

            – Como escutaria com o barulho das bombas? – ela diz.

            Parece ter razão.

            – Então esperamos o hino e vemos os mortos. Se não houver mais rostos, quero todos prontos pra caçar – digo e entro pela Cornucópia enquanto um aerodeslizador recolhe o corpo fresco do garoto.

            Clove está sentada ao meu lado e Marvel à minha frente enquanto descansamos ao redor de uma fogueira. Ao que me parece, eu fiquei apagado por pouco mais que dez horas a mais que Clove, que acordou primeiro, e seis a mais que Marvel. O hino começa e ela apóia a cabeça em meu ombro. Sinto pela quantidade que relaxo, que meus músculos ainda estão bem tensionados por causa do incidente com os suprimentos.

            Primeiro aparece o Garoto Três, e em seguida o Garoto Dez. Eu e Marvel suspiramos.

            – Esse é o nosso cara – ele diz, claramente aliviado.

            Clove, por sua vez, fica ereta e baixa os olhos, a boca curvada para baixo num sinal de reprovação.

            – Qual o problema? – pergunto.

            Ela suspira e me encara, o olhar tenso.

            – Fui eu quem matou esse garoto antes de vocês acordarem.

            Assim que a insígnia aparece no céu, estamos todos prontos para caçar novamente. Marvel com uma tocha e eu e Clove com os óculos noturnos, entramos todos na floresta não tão escura. Seja quem for o responsável, iremos encontrá-lo. E daremos um belo show ao público.


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Notas finais do capítulo

Oie! KKKK
Gostaria de agradecer pela recomendação linda que recebi ahahha =) significa muito, quanto mais vinda de uma escritora tão talentosa. Obrigada a vocês que alegram minha fic AHUAHA com os comentários, críticas e sugestões, não tô falando só da recomendação lindona HUHAUEAUHH Obrigadaaaa!