Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 6
"Let me get close to you"


Notas iniciais do capítulo

"Deixe-me chegar perto de você"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/306864/chapter/6

Mesmo não sendo fã de arquitetura ou o que quer que seja, não posso negar que o Centro de Treinamento possui uma beleza um tanto rústica, mas ao mesmo tempo ornamentada, e que me agrada bastante enquanto Clove, Lyra, Brutus e eu esperamos que o elevador com paredes de cristal nos leve ao segundo andar. Há algo de muito estranho, e ao mesmo tempo familiar nisso tudo.

Nosso mentor e Lyra conversam baixinho a respeito dos outros tributos, como se tentassem formular alguma estratégia para nos alertar a respeito de qualquer possível perigo que eles possam representar. Mas não há nada que me chame a atenção, enquanto observo calmamente o aposento no qual acabamos de entrar. Sou mandado para meu quarto, mesmo me sentindo tentado a ficar e discutir sobre o que devo fazer quando o sino soar na Cornucópia. Mas não preciso de nada disso. O banho de sangue vai ser simples, resoluto e descomplicado; quanto mais pessoas morrerem , mais fácil será acabar com as que restarem.

Enquanto aprendo rapidamente a operar a pequena parte crucial de botões existentes em meus aposentos e preparo um banho, tenho tempo de pensar no motivo pelo qual me meti nessa grande loucura em que provavelmente irei passar o resto de meus dias. Clove certamente ainda está furiosa, e, mesmo não tirando sua razão, sei que a melhor coisa que podemos fazer agora é formar uma aliança.

Fomos treinados para isso, durante todos esses anos. Ela deve ter plena consciência de que nos unir será um benefício para ambos; aliás, podemos falar também com os outros Carreiristas. Isso seria muito bom, até porque, dessa forma, a guarda aumenta, e posso observar suas fraquezas enquanto a aliança durar. Não irei matá-los durante a noite, porque isso seria absurdamente desleal, mas, enquanto os primeiros vinte canhões não soarem, nada me impede de pensar nas milhares de formas que posso utilizar para terminar com tudo de uma vez.

Agora, por que me sacrificar por Clove? Não é como se eu a amasse acima de tudo, não é como se ela significasse mais que minha própria vida. Mas sei que, se existe alguém que merece vencer os Jogos, esse alguém é ela. Nós estivemos sempre juntos, na maior parte das situações. Meu pai podia não ser um grande fã de nossa amizade, por dizer que isso faria com que eu me tornasse mais... Digamos assim, “sensível”. Mas, depois de todas as brigas entre Clove e eu, depois de toda a evolução que tivemos no decorrer desses anos, acredito que até mesmo ele passou a admirar a garota das facas.

Ela fez de mim uma pessoa melhor; não no que diz respeito a cuidar do próximo ou sair por aí sorrindo para meio mundo. Nem mesmo Clove faz isso. Mas ela meio que me obrigou a sempre tentar fazer melhor. Me chamou de fraco tantas vezes, apenas para provocar, disse-me tantas vezes que eu pegava leve demais, que acabou me incitando a sempre lutar, a sempre treinar mais do que o que seria considerado necessário.

Clove me obrigou a evoluir. Ela fez com que eu me importasse com o que significava ser verdadeiramente forte. O mínimo que posso fazer, para agradecê-la, é provar que a pequena garota das facas não é tão frágil quanto aparenta ser; que não devem subestimá-la, como tanto passaram a fazer em nosso Distrito, depois que nos tornamos amigos.

Ela vai ganhar a 74ª Edição dos Jogos Vorazes.

Nem que para isso, eu precise voltar para casa dentro de um caixão.

─▪▪▪─ - - - ─▪▪▪─ - - - - - - ───▪▪▪─── - - – - - - ─▪▪▪─ - - - ─▪▪▪─

Após a janta, assistimos à reprise da cerimônia de abertura, e é a primeira vez que Brutus se refere especificamente às duplas que passam. Não são observações muito importantes, pois nada passa do “Esses aí provavelmente morrerão no banho de sangue”, ou “Tentem se aliar a esses aí”. No momento em que a Garota Em Chamas e o menino do Distrito 12 apareceram, porém, ele se calou, como se não tivesse nada a dizer.

— Eles vão conseguir patrocinadores apenas pelas roupas. — Lyra comentou, de forma desnecessária, antes de o programa terminar e o hino tocar mais uma vez. — Não têm chance alguma contra os Carreiristas.

Claro que nós sabemos disso, mas, ainda assim, é bom que ela tenha tamanha confiança em nossas habilidades e nossa capacidade de atrair pessoas para apostar. Talvez, no fim das contas, os próprios Idealizadores dos Jogos encontrem uma forma de fazer com que sejamos obrigados a lutar contra os tributos do Distrito Doze, apenas para chamar a atenção do público.

Seria interessante, no mínimo.

— É. — Brutus concorda, mas a falta de convicção em sua voz me faz sentir raiva.

— Com certeza. — afirmo, e a forma brusca como o faço os surpreende.

Sou encarado por todos durante longos instantes. Lyra parece fascinada, e meu mentor apenas me observa. Não sei ao certo se estão fazendo isso apenas pelo fato de não terem nada melhor para fitar, ou se minha atitude realmente os deixou chocados. Estou prestes a perguntar se há algo errado, quando Clove boceja e se espreguiça como um gatinho manhoso.

— Estou com sono. — ela afirma, apesar de ser óbvio. — Vou deitar.

Enquanto ela vira as costas e se afasta, tenho a impressão de que está sorrindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agradeço a todas as pessoinhas loucas que estão me acompanhando nessa aventura :D

[~como estou viajando, aproveitarei para tentar concluir essa história ainda em janeiro. É, people. Não são muuuuitos capítulos, porque não sinto a necessidade de narrar dia após dia. Então, aguardem-me! ~e que o MODEM esteja sempre ao meu dispor!~]