Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 5
"You always knew that it wouldn't be easy"


Notas iniciais do capítulo

"Você sempre soube que não seria fácil"



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Clove está ao meu lado na janela, observando a movimentação absurda das pessoas da Capital. Todas elas têm aparência muito esquisita, como palhaços enlouquecidos tentando atear fogo num circo cheio de criancinhas. Todos, sem exceção, estão maquiados até a alma, e possuem rostos tão estranhos que definitivamente não podem ser reais.

Ainda assim, permanecemos ali, enquanto os flashes nos cegam e as câmeras mantêm-se focadas em nossas imagens e muitas das pessoas apontam e acenam animadamente. Os Carreiristas comumente têm uma recepção mais, digamos assim, calorosa. Apenas pelo treinamento, podemos ser considerados vitoriosos, e, por isso, conseguimos patrocinadores. As pessoas gostam de se gabar por terem escolhido os vencedores.

Sei que a batalha já está ganha. Posso até mesmo ouvir os gritos da multidão, enquanto o tributo do Distrito Dois é nomeado vencedor, ganhando a coroa diretamente das mãos do Presidente Snow. Posso ouvir o choro das famílias que perderam entes queridos durante a 74ª Edição dos Jogos Vorazes, posso enxergar as mães chorando porque seus menininhos e menininhas jamais voltaram para casa.

Posso ver, também, a irmã de Katniss Everdeen, ao lado de seu caixão, debruçada sobre o colo dela, aos prantos. Essa imagem, em específico, provoca um pequeno sorriso presunçoso que não consigo evitar. Então, lentamente, ergo a mão e aceno, pouco antes de a multidão desaparecer por completo, pois chegamos à estação e precisamos nos encontrar com os estilistas.

Vou fazer questão de torná-la irreconhecível antes de matá-la.

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A equipe de preparação era como um bando esquisito de três pássaros coloridos que não paravam de piar. Falavam e falavam, mais e mais, me questionavam e não era necessário nem mesmo uma resposta minha para que encontrassem um novo assunto pelo qual se interessassem. Não entendi metade do que disseram, e o resto se perdeu entre os sobressaltos a cada vez que as tiras de tecido eram retiradas, arrancando os pelos de meu corpo.

Não nego que estou um tanto curioso a respeito do que será feita a roupa desse ano. O Distrito Dois é responsável pelo armamento da Capital, e também pelo treinamento dos Pacificadores. Mesmo eu, que pretendia ir para os Jogos desde que completei idade o suficiente para fazê-lo, fui criado sob os constantes cuidados e mimos da família para com um rapaz que tem capacidade o suficiente para ser um Pacificador. Meu pai, por exemplo, é um deles.

Denya é minha estilista, e uma mulher ainda mais estranha que o restante da equipe de preparação. Tem tatuagens arroxeadas nos braços e pernas, o cabelo em tons estranhos de marrom, que definitivamente se assemelham aos das árvores do meu Distrito. O “s” sibila sempre que ela diz alguma palavra que contenha essa letra, e, em seu sotaque esquisito da Capital, meu nome quase parece Saato ao invés de Cato. Preciso me controlar para não rir, porque são nítidos seus esforços para me avaliar.

Ela é menor que Clove, e isso, definitivamente, implica alguma dificuldade na escolha do tamanho da roupa. Seus dedos cutucam aqui e ali, mas Denya não fala nada além de algumas observações que, para mim, não fazem o menor sentido.

Algumas horas depois, lá estava eu, todo revestido de ouro. A armadura se assemelhava aos trajes romanos, dos gladiadores, ao mesmo tempo em que possuía um toque grego, pelo capacete com asas nas bordas. Não era algo exatamente belo. Era mais... Agressivo. Não era chamativo. Era apenas... Brilhante. Tal como nós, Carreiristas, era um traje bruto.

Quando sou levado para o nível inferior do Centro de Transformação, sei que a cerimônia de abertura está bem perto de começar. Sou colocado dentro de uma carruagem que será puxada por um grupo de cavalos brancos, e não posso deixar de admirar a beleza dos animais, enquanto Clove é colocada ao meu lado. Ela está deslumbrante, e a maquiagem usada destacou não apenas seus olhos, como também as sardas que salpicam sua pele.

Não nos encaramos, mas sei que Clove também me avaliou, porque, virando o rosto para a multidão que irá surgir em breve, posso sentir o incômodo calafrio que indica que estou sendo observado. Denya parece particularmente orgulhosa de sua criação, e, apesar de continuar acreditando que ela é tão atraente quanto uma árvore seca, não posso deixar de agradecer mentalmente ao fato de ter planejado algo não muito delicado para nós.

Afinal, apenas um rostinho bonito não basta. E precisamos passar a força do nosso Distrito, porque não apenas os tributos precisam nos temer, como também a Capital precisa nos adorar.

Então, a escolha até que foi boa.

Ouço os gritos, e, novamente, os flashes praticamente me cegam, de acordo com o movimento da carruagem. Mantenho o queixo erguido, mas sem me mover, num nítido sinal de que não vou me deixar intimidar por uma simples multidão ensandecida como essa.

Apenas nesse momento de lucidez, percebo que aquela algazarra toda não é somente pelas 12 carruagens existentes. É pela última, em específico. Olho para o telão, franzindo o cenho, sentindo minhas mãos se fecharem em punho pela raiva. Não pelos tributos do Distrito 12 estarem chamando mais atenção que todos os outros, mas pelo simples fato de ela estar lá, novamente.

Katniss Everdeen, segurando a mão do menino como se fossem grandes amigos, ou amantes desafortunados que serão separados pelo destino, pela arena.

E eles estão em chamas.

Se é isso que você quer, Garota Quente, é isso o que você terá.


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Notas finais do capítulo

Estou tentando escolher nomes esquisitos para o povo da Capital, mas tá difícil! HUASHUASHUASHUASHUA's O que acharam da nova capa? :33
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Obs.: perceberam que estou tentando ir logo para a arena? Pois é... Não sinto a necessidade de ficar enrolando muito nessas partes. Porque, afinal, elas são importantes, mas não tanto quanto tudo o que rola dentro da floresta, depois. [Faz sentido pra vocês? -QQ]