Skyscraper escrita por Constantin Rousseau
Notas iniciais do capítulo
"Você tentou mentir"
São apenas algumas horas entre o Distrito 2 e a Capital, isso porque não ficamos muito longe dela. O surto de Clove durou menos de duas horas, e ela logo saiu para que pudéssemos comer. Nada entre isso e a reprise da Colheita nos doze Distritos foi particularmente interessante. Passo como um borrão na tela; num contraste gritante com a pequena e delicada garota do Distrito 2, surgi entre a multidão aparentemente de repente, gritando como se ninguém pudesse me ouvir. Naquele momento, eu aparentava ser quase monstruoso.
Bom. Mas poderia ter sido melhor.
Dos tributos restantes, nenhum me chamou a atenção. Com exceção, talvez, da menininha do Distrito Onze. Ela era tão pequena que não poderia ter mais de doze anos, e só havia uma forma de defini-la: presa fácil. Em qualquer outra ocasião, isso poderia ser cruel, mas, afinal, são os Jogos Vorazes.
Aqui, o mais capaz vence.
Estou quase me levantando para ir ao quarto, quando Brutus deposita uma mão em meu ombro. O gesto é firme e a ordem é clara: eu devo ficar até que o programa termine.
— Por quê? — é o que pergunto de imediato, e ele me encara.
Nunca fui muito bom em seguir ordens. Até porque não há razão para ficar e ver os tributos do 12; eles são tão fracos, que quase sempre morrem no banho de sangue na Cornucópia.
— É sempre bom ter em mente os rostos de todos os seus inimigos. — comenta, como se não soubesse que posso facilmente torcer o pescoço de todos eles, um por um, se quiser.
No momento em que iria comentar a respeito de não haver a necessidade de fazê-lo, já que todas aquelas lindas cabeças rolariam, o grito da menina na tela da TV me distrai, e logo volto a encará-la. Dessa vez, um tanto mais alerta que antes.
— Eu me ofereço como tributo! — ela berra, quase em pânico, em frente a uma garota mais nova que julgo ser sua irmã.
Seria uma cena tocante se não fosse tão... Patética. Ela está mesmo se oferecendo para participar dos Jogos, apenas para que a outra não o faça? Mesmo sabendo que jamais irá voltar da arena? Estreito os olhos enquanto enrijeço, cruzando os braços na altura do peito, e posso ouvir meu mentor rindo quase silenciosamente. Ao contrário de mim, Clove apenas observa com a expressão neutra, imparcial.
Mas isso é porque ela não associou as coisas da mesma forma que eu. Isso é porque ainda não juntou as peças. Porque eu e a garota do 12 temos algo em comum; e isso a torna perigosa aos meus olhos.
“Quando os Jogos começarem” prometo mentalmente, “ela será a primeira a morrer.”
O garoto não é assim tão interessante, mas pode vir a se tornar um problema caso venha a escapar da Cornucópia durante o banho de sangue. Então, talvez a 74ª edição dos Jogos Vorazes seja a melhor de todas. Nós vamos tornar esse show num verdadeiro espetáculo sanguinolento; e falo isso pensando especificamente em minha aliança com Clove.
A despeito de todos os meus comentários mentais, Brutus só tem uma frase para pronunciar quando o programa acaba e o hino de Panem toca mais uma vez:
— Parece que os Jogos desse ano serão um tanto... Chocantes.
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Nosso mentor passou a maior parte do que restava de nossa viagem nos dando conselhos sobre como sobreviver na arena, e sobre como matar os outros tributos. Deem ao público o que ele quer, foram suas palavras. Um belo show. Mas, de uma forma ou de outra, isso não era nada que eu e Clove já não soubéssemos desde que partimos do Distrito Dois.
Clove e eu. Esse não é um bom termo para definir nossa relação de co-dependência a partir de agora. Isso só vai durar até o término da aliança. Brutus deixou tudo muito claro: não existe nós dentro daquele lugar.
Existe eu.
Existe ela.
Nós, nunca mais.
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