Acordei com um cheiro estranho. Pisquei meus olhos um milhão de vezes atordoada, e olhei ao redor.

- Sam? - a voz ecoou em meus ouvidos.

- Hm?

Senti alguém pegar minha mão, que, a propósito, estava dormente, e apertá-la.

- Sam? 

Finalmente, consegui destinguir a figura embaçada de Nick ao meu lado.

- Nick. - sussurrei. - O que está acontecendo?

Ele mordeu o lábio inferior, indeciso se devia me contar ou não.

- O que você se lembra?

Eu franzi as sobrancelhas quando os fatos voltaram a minha mente. Não, não... aquilo não podia ser verdade...

- Onde está o Josh? - perguntei.

Ele engoliu em seco.

- Sam...

Um homem invadiu a sala. Ele vestia roupas brancas de segurava uma prancheta nas mãos. Aparentemente, era o médico.

- Como se sente, senhorita?

- Bem. - murmurei, rapidamente. - O que aconteceu?

Ele suspirou e me encarou.

- Recebemos uma ligação deste garoto, - ele apontou para Nick. - Dizendo que você e seu amigo precisavam de ajuda.

- Eu fui te procurar. - explicou Nick. - Quando cheguei ao apartamento dele, encontrei vocês dois inconscientes no chão. Então liguei para a âmbulancia.

- Onde está Josh? - repeti.

- Josh Wilson. - disse o médico. - Dezoito anos. Pai no exército, mãe não identificada. Levou um tiro no coração e teve morte imediata.

Eu prendi a respiração, e senti as lágrimas preencherem meus olhos.

- Eu sinto muito, Sam. - disse Nick, apertando mais minha mão.

- Sim. - disse o médico . -Mas não pudemos fazer nada por ele. NInguém foi comunicado de sua morte. Você conhece algum familiar que possamos ligar para organizar o enterro?

Olhei para o relógio na parede, marcando 4:52.

- Sua mãe deve estar em casa agora.

Ele assentiu.

- Um policial quer falar com você. Estão querendo saber o por que da morte do garoto.

Outro homem baixinho entrou na sala e fez um aceno com a cabeça.

- Boa tarde, senhorita.

Eu apenas assenti.

- Precisamos saber o que você se lembra.

Contei de má vontade o que tinha ido fazer na casa de Josh, e os eventos que se seguiram.

- Ele parecia agitado quando acordou?

Franzi as sobrancelhas ao me lembrar que sim.

- Sim. Ele parecia preocupado. Dizia que tínhamos que sair dali.

O policial assentiu.

- Ele era drogado?

- Hã...

O médico se adiantou.

- Foi achada uma grande quantidade de cocaína em seu corpo. E vestígios de heroína. Qualquer um com aquela quantidade de drogas no corpo teria morrido. Ou entrado numa coma de overdose.

Eu arregalei meus olhos.

- Não, não. - murmurei. - Ele não era drogado. Ele já provou, sim, mas não era um viciado.

- Não existe isso, garota. - disse o médico. - Uma vez que se  prova, não há mais como controlar. É vício direto.

Eu comecei a protestar, mas o policial me interrompeu.

- Os homens que o mataram. Você se lembra o que eles disseram, ou sua aparencia?

- Eles usavam um capuz então não consegui ver seus rostos. Eles disseram algo sobre Josh não ter o seu dinheiro...

Ele suspirou e se levantou.

- Certo. É só isso. Obrigado.

- Espere. - chamei. - O que concluiu com isso?

-Seu amigo, Josh. Ele era um viciado. E foi morto por traficantes.

Então ele saiu me deixando ali, sem mais respostas.

- Vou deixá-la descansar. - disse o médico e se virou para Nick. - Você devia também.

- Ele fica. - eu disse, apressadamente, segurando a mão de Nick.

Quando o médico saiu, eu puxei Nick para junto de mim na cama, e afundei minha cabeça em seu peito. As lágrimas tinham ido embora. A situação não parecia real.

- Eu liguei para sua mãe. - disse ele. - Ela não pode voltar mais cedo, mas está morrendo de preocupação com você.

Eu assenti e ele começou a passar a mão pelo meus cabelos.

- Por que essas coisas acontecem, Nick?

- Eu não sei, Sam. As vezes... podemos aprender algo útil em meio toda essa confusão.

Eu suspirei.

- Talvez.

- Eu sinto tanto, Sam. - sussurrou ele. - Eu sei que você gostava dele, apesar de eu não poder dizer o mesmo.

- Você só estava com ciúmes. - sussurrei. - Se o tivesse conhecido antes, vocês poderiam ser amigos.

Ele riu um pouco.

- Acho que podíamos, Sam. Sim.

Ficamos em silêncio. Eu realmente queria acreditar na possibilidade de Josh e Nick sendo amigos. Eles eram tão opostos que parecia impossivel, mas era divertido.

- Eu amo você, Nick. - sussurrei, quando estava quase dormindo.

Ele me apertou mais forte.

- Eu também te amo, Sam.

E então a escuridão me engoliu.