Respirei fundo e puxei o vestido preto e rodado, ajeitando-o no corpo.

Estava quase na hora do enterro. Não. Estava quase na hora de eu sair de casa. 

O velório e o enterro tinham sido há algum tempo, mas eu tinha preferido não ir. No velório, por que eu não aguentaria vê-lo ali, imóvel e inconsciente, sem o seu sorriso sarcástico no rosto. E no enterro, por que, bem, eu sou clastrofóbica. E eu jamais aguentaria vê-lo sento enterrado. Então, preferi apenas chegar atrasada no cemitério, quando, provavelmente, todas as pessoas já tinham ido embora e eu poderia chorar em paz, apenas com Nick.

Ele, a propósito, ia me levar, pois não achou que eu estava em condições de dirigir.

Ele passou na minha casa e dirigiu até o cemitério.

Infelizmente, ainda haviam algumas pessoas ali. Mas não dava mais para fugir. Eu teria que segurar as lágrimas, por que eu absolutamente, odeio chorar na frente de gente desconhecida. E haviam muitas dessas ali.

Eu só tinha ido uma vez a um enterro. Quando minha Tia Mary morreu, há alguns anos atrás. Mas minha mãe não tinha me deixado ir ao velório, e eu não era muito próxima dela, então não foi um grande choque.

Eu me dirigi até onde as pessoas conversavam tristemente, com a mão de Nick entrelaçada na minha.

Se alguém me viu chegar, não demonstrou nenhuma reação. Eles me deixaram em paz para chegar até onde a pequena cruz tinha sido fincada no chão, e uma lápide tinha sido colocada, com todas aquelas coisas que se escrevem em lápides.

Por algum tempo, eu não fiz nada. Apenas encarei o monte de terra meio avermelhada, como o por-do-sol.

Então alguém cutucou meus ombros.

Uma mulher alta, com cabelos desgrenhados e negros, usando um vestido preto e sapatos azul marinho me encarava.

- Você deve ser a Samantha. - disse ela. Sua voz soava fraca, provavelmente por causa do choro.

- Sim. - respondi. Pois eu sabia exatamente quem era essa mulher.

A mãe de Josh.

- Josh me disse muito sobre você. - disse ela. - Bem, ele tentou. Digamos que eu... não fui a melhor ouvinte. Mas ele estava muito feliz com você.

Eu apenas continuei encarando-a.

Então ela suspirou e assentiu.

- Obrigada. - disse ela. - Por ter dado a ele a felicidade e o carinho que eu nunca dei.

Então ela começou a se afastar. Senti a necessidade de falar algo mais, então corri atrás dela.

Toquei seu ombro.

- Foi um prazer. - respondi. - Josh te amava, Sra. Wilson. Todos nós cometemos erros. Alguns maiores que os outros. Josh te perdoaria. Pelo menos agora,você sabe o que não deve fazer.

Ela deu um sorriso mínimo e então entrou no carro e foi embora.

Nick me abraçou por trás.

- Você quer ficar mais?

- Não. - murmurei. - Vamos embora.

Ele me levou de volta para a casa. Nós nos deitamos na cama e eu encostei a cabeça em seu peito, enquanto deixava todas as lágrimas que eu estava segurando, finalmente, sairem.

Nick não disse nada. Ele apenas acariciou minha cabeça enquanto deixava eu ensopar sua camisa com minhas lágrimas.

Me senti idiota por estar chorando com ele por causa de outro garoto.

Ele provavelmente não estava gostando, mas ele não diria nada. Não por que ele é incrível e muito fofo ( o que ele é), mas por que ele não é apenas meu namorado. Ele é meu melhor amigo. E ele estaria sempre ali por mim, não importa a situação.

E eu me sentia uma idiota por não ter estado ali por ele, quando era ele que precisava de um ombro para chorar.

Eu sequei minhas lágrimas.

- Nick.

- Hm?

- Eu sinto muito pela Charlotte. Eu sempre soube que ela era uma vadia. - eu disse. - Me desculpe por não te ouvir, quando você me disse que Josh não era flor que se cheire. Me desculpe por brigar com você quando você estava tentando me ajudar. Me desculpe por ter sido uma péssima amiga nessas últimas semanas.

Ele me apertou contra o seu corpo.

- Tudo bem.

Eu o encarei.

- Vai ser assim tão fácil?

Ele sorriu e tocou minha bochecha.

-Você sabe que não consigo guardar rancor de você.

Eu sorri e voltei a deitar.

Eu ainda amava Josh. Não do jeito que amava Nick. Nem do jeito que amava minhas amigas, ou minha mãe. Era um amor estranho. Era mais uma obcessão em protegê-lo, e tê-lo comigo.

Talvez, as coisas poderiam ter sido diferentes para Josh, se ele não tivesse a vida que tinha. Acho que uma coisa leva a outra. 

Mas você pode controlar o que acontece também. Depende também das suas escolhas.

Meu pai também abandonou a mim e minha mãe. Minha mãe não pirou por causa disso, como a mãe de Josh fez. Talvez... se Josh tivesse tido a minha mãe, e eu a dele, eu seria a que estaria enterrada agora.

Eu me sentia agitada, apesar da tranquilidade que Nick me passava. E eu sabia por que.

Eu não deixaria as drogas tomarem minha vida, como Josh deixou. Eu ainda estava num nível baixo de vício. Eu podia melhorar, e voltar a ser o que era.

Então, pela manhã, fiz Nick ligar para a primeira clínica de reabilitação. Era caro, mas quando minha mãe soube, ela não exitou.

Nick ficou horrorizado, como minha mãe, quando eu lhe disse que estava viciada. Mas admirou a coragem que eu estava tendo ao me canditadar para ir para a clínica. Afinal, todos sabiam que não seria fácil.

E essa foi minha escolha. A de uma vida tranquila, e normal. Eu podia aproveitar, certo? Não precisava perder a consciencia ou enfiar uma agulha na veia para isso.