O Improvável Não É Impossível escrita por Mrs Lelê


Capítulo 20
Obrigado


Notas iniciais do capítulo

Saudações terráqueos! Aqui está o próximo capítulo!
Espero que gostem! Bem eu gostei...



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— Ah, por favor Will! – disse Kyle com um olhar magoado. – eu quero ir com vocês! Horace pode ficar aqui para falar com eles. – insistiu em uma última tentativa de convencer os arqueiros, enquanto estes selavam os cavalos para partir.

— Kyle... – começou delicadamente, desviando a atenção de sua tarefa – Você sabe como o elemento surpresa é essencial num plano com este. Vai haver menos chances de nos descobrirem se formos sozinhos. – Não havia a menor possibilidade de levarem o garoto. – Por que não aproveita para treinar um pouco? – continuou, ao montar na sela com um movimento ágil.

— Treinar nunca é demais. Ainda mais no seu caso, garoto. – continuou Halt, já impaciente com a demora em sair.

O rapaz afirmou com a cabeça, dando uma passo atrás e abrindo o caminho para que pudessem sair do estábulo. Sabia que Will tinha razão em não deixá-lo ir, mas era de certa maneira frustrante ficar parado e esperar os resultados. Estava sedento por ação e adrenalina.

Assim, acompanhou com o olhar a dupla ganhando velocidade, até que os vultos desaparecessem no horizonte.

— Só sirvo para treinar! – reclamou, chutando uma pedrinha que voou longe, formando um arco.

Sem outra opção, se dirigiu até a floresta para montar alguns alvos improvisados e treinar, como sugerido. Talvez algum dia pudesse se tornar tão bom quanto Halt, pensava ao separar as flechas na aljava. Escolheu uma delas, passando os dedos entre as penas, cuidadosamente coladas de modo a oferecer um perfeito equilíbrio, e a enganchou na corda. Se concentrou no seu objetivo e só disparou a flecha quando finalmente se deu por satisfeito. Repetiu o exercício com todas as flechas que possuía, até que abaixou o arco para avaliar o resultado. – Bem, ou talvez não possa sequer chegar perto – concluiu decepcionado. Menos da metade das flechas se encontrava enterrada nos alvos.

Suspirou longamente, fechando os olhos e jogando a cabeça para cima, em direção ao céu. Pensou no que Halt lhe havia dito. " É claro que não me deixaram ir com eles".

Recolheu as flechas lentamente, refletindo sobre o que poderia estar fazendo de errado e revendo seus movimentos passo a passo. Decidiu desta vez mentalizar, então, a imagem de Halt atirando. Lembrou-se do movimento suave, de sua posição e de sua postura. Até mesmo o olhar decidido o garoto tentou imitar. No entanto, entre a teoria e a prática, é claro, há um enorme abismo. Observar um arqueiro atirar e tentar imitá-lo são coisas muito diferentes.

O tiro não foi tão ruim assim, mas poderia ter sido melhor. Bem melhor.

***

Sean havia dado a localização do acampamento inimigo. Eles costumavam mudar de lugar, mas não se sabia exatamente a frequência com que isso acontecia. Halt imaginou que, se Salter era tão bom quanto Bob dizia, nem os próprios integrantes deviam saber, garantindo a confidencialidade e segurança do grupo. Um belo dia devem acordar e simplesmente receber a ordem de levantar acampamento.  É claro que, se fosse esse o caso, a obtenção de certas informações ao interrogar alguém seria muito mais complicada. Praguejou internamente. É muito mais fácil capturar alguém de baixa patente, que acabaria não sendo de grande ajuda. “Bem, uma coisa de cada vez”, concluiu, afastando o pensamento. Não deviam estar longe.

E de fato, não estavam. A primeira pista foi o cheiro de fumaça ou, mais precisamente, de carne gordurosa sendo assada no fogo. A caçada devia ter sido boa. Alguns minutos depois as árvores começaram a ficar cada vez mais esparsas, até que finalmente foi possível distinguir a clareira a uns oitocentos metros à frente.

Desmontaram, deixaram os cavalos a uma distância segura, onde não poderiam ser ouvidos, e continuaram a pé dali em diante. Como sempre silenciosos e invisíveis, chegaram perto o suficiente para observar tudo.

— Não estou gostando nada disto! – sussurrou Will a Halt, depois de se acomodarem num esconderijo seguro que tinha boa visão de tudo. Este apenas franziu a testa de preocupação, tentando captar o máximo que podia.

O acampamento era muito maior do que o espião do rei tinha descrito, o que significava que estava crescendo de tamanho rapidamente. Em questão de dias poderiam conseguir mais adeptos. Assim, os arqueiros teriam que agir rápido se quisessem ganhar.

A localização, no entanto, era quase perfeita. Uma clareira grande que permitia o crescimento da gangue e rodeada por barreiras naturais. No lado norte, uma enorme parede de pedra. Will olhou para cima, imaginando que talvez pudessem colocar arqueiros lá em cima, mas essa ideia foi rapidamente desfeita. Não havia nenhum caminho ou fenda no paredão que pudesse ser utilizada para colocar tanto homens por lá. Nos lados sul, leste e oeste a densa floresta que haviam acabado de atravessar impediria o avanço de qualquer exército. Mesmo que conseguissem fazer com que um número considerável de homens passasse, pensou Halt, a vigilância continuaria sendo um problema, havia guardas por todo lado. Houve até mesmo um momento em que os dois tiveram certeza de que haviam sido descobertos. Um dos vigias começou a se dirigir exatamente ao lugar onde estavam os arqueiros. Estes prenderam a respiração e permaneceram imóveis, mal se atrevendo a piscar. Felizmente, o homem apenas estava indo à tenda do líder, decidindo-se por um pequeno atalho para isso. Os dois soltaram o ar lentamente.

A tenda de Salter era a maior e a mais vigiada, como era de se esperar. A entrada de pessoas era cuidadosamente controlada. Da distância em que estavam não era possível escutar o que se passava por lá, mas estavam perto o suficiente para acompanhar o que se passava. O homem que quase os havia descoberto sem querer queria entrar. Os vigias o barraram. O homem tentava se explicar. Não muito convencidos, os vigias chamaram um homem que estava dentro da tenda, que logo tornou a entrar. Voltou após um breve minuto, trazendo uma nova informação aos guardas, que prontamente expulsaram o outro homem.

—Quantos acha que tem? – perguntou a Halt, depois de acompanharem a cena.

— Uns 350. 400 talvez. – disse depois de pensar um pouco. Uma pausa se seguiu. – Acho melhor voltarmos, então. Já descobrimos tudo o que precisávamos.

Os dois arqueiros voltaram tão silenciosamente como quando chegaram, mas, ao atingirem o local onde tinham deixado os cavalos, Will parou de repente.

—Halt?

—O que foi? – Não estava com ânimo para responder muitas perguntas no momento.

Will ignorou a resposta mal humorada do antigo mentor.

—Há pegadas aqui.

Agora que ele comentara, Halt via um novo padrão de pegadas que não estavam lá quando chegaram. Isso só podia significar uma coisa: alguém que patrulhava a região havia descoberto os cavalos. Sabiam que havia espiões no local.

—Vamos! – disse Halt enquanto montava. – É melhor irmos embora!

***

Horace não recebeu notícias de Bob. Estava ficando entediado. Decidiu, então, ver onde estava Kyle, a última opção de companhia que lhe restava.

Foi em direção ao bosque, onde sabia que gostava de treinar.

Encontrou-o atirando em alvos a diferentes distâncias e de diferentes tamanhos. O garoto não estava se saindo mal. Nada comparado a arqueiros, sem dúvida, mas para quem não teve nenhum tipo de treinamento, atirava bastante bem. Por que será que tinha começado a usar o arco?

Decidiu observá-lo um pouco mais, encostando o ombro direito numa árvore próxima e se acomodando com o máximo de conforto que um tronco de madeira proporciona.

—Horace, eu sei que você está ai. – disse o garoto, sem tirar a atenção do tiro que estava preparando para dar.

“Por que todos sempre me descobrem? Eu não sou tão barulhento assim, sou?”, pensou o cavaleiro.

—Você está melhorando, sabia? – elogiou, tentando assim desviar do assunto.

—Acho que ainda falta muito para poder alcançar a precisão dos arqueiros... – disse um pouco decepcionado. – Venha! Me ajude a juntar as flechas.

Horace deu de ombros. Não tinha nada para fazer mesmo, assim que se dirigiu ao segundo alvo. Kyle já estava se encarregando do primeiro.

Puxou a flecha com uma das mãos, mas ela não saiu. Estava fincada bem firme na madeira. Buscou ajuda da outra mão, puxando com mais força,  mas cambaleou para trás com o impulso quando ela finalmente se soltou. Se reequilibrou com graça, apesar do tamanho, e caminhou em direção ao seguinte alvo, girando a flecha entre os dedos e observando-a. Era menor que as de um arqueiro do rei, além de ter outra cor de pena. Pareciam antigas, apesar de bem cuidadas. Engraçado como achava que as conhecia de algum lugar.

Kyle se aproximou, guardando as flechas recolhidas até agora na aljava e estendendo a mão em busca das que Horace tinha recolhido.

— O que foi? – perguntou, confuso pela expressão do amigo.

Horace fitou o garoto profundamente, com a boca levemente entreaberta. Havia deixado algum detalhe importante passar? Não. Estava certo. – Foi você – disse finalmente.

Kyle estava tão confuso quanto ele. O que tinha sido ele?

— Foi você que matou o homem que me atacava naquele dia da invasão. –continuou, relembrando o momento. – não foi o Will, nem o Halt, foi você. –subia um pouco o tom de voz a cada palavra.

Kyle permaneceu em silêncio. Era verdade. Tinha acabado de ajudar os aldeões quando encontrou o amigo caído. Assentiu devagar, engolindo a saliva da boca, sem graça.

—Obrigada Kyle! – disse o cavaleiro depois de uma pausa. – Você salvou minha vida! Tenho uma dívida enorme com você.

O garoto não sabia o que dizer. Nunca tinha estado numa situação como esta e, na verdade, não havia pensado muito na hora em que atirou aquela flecha. Não havia decidido "tenho que salvar Horace, ele está sendo atacado". Foi só algo que acabou acontecendo quando o calor do momento o impeliu a reagir. Foi algo quase como um reflexo.  

— Não há de que! – disse finalmente, um pouco envergonhado e totalmente corado. – Você teria feito o mesmo por mim.

Horace sorriu. Kyle retribuiu.

O guerreiro começou a andar em direção ao castelo.

—Ei! Aonde você vai? Você ainda tem que me ajudar a recolher o resto da flechas. – reclamou. Depois, com um sorriso brincalhão de provocação, completou. – lembre-se de que você ainda tem uma dívida comigo.

Horace não resistiu e começou a rir. Voltou correndo esfregou os nós dos dedos algumas vezes na cabeça do rapaz. – Não vá se achando demais menino. Ainda sou o grande cavaleiro da Folha de Carvalho.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram?
Estou com muitas ideias para o próximo capítulo, mas não sei muito bem como juntar todas elas e passar para o papel, quer dizer, monitor.
beijos lindos