Bella POV.

Deu medo do modo como ela proferiu aquelas duas palavras. Eu engoli seco e sustentei o olhar, já sabia muito bem do que se tratava. Para Alice ter saído de Boston e ter vindo até Olympc, só podia ser sobre um assunto: Edward.

- Não quer se sentar, tomar uma água ou...

- Não, não quero nada, obrigada. – disse rápida.

- Ok. – respirei fundo – Pode falar.

- Eu queria saber o motivo do seu sumiço de Boston para começar. – ela disse me encarando.

- Sem joguinhos psicológicos, Alice. – suspirei e me sentei no sofá, meu bebê já estava demonstrando sinais de inquietação, pois eu já estava enjoada – Eu sei que você já sabe o motivo de eu estar aqui, então vamos cortar essa parte e ir direto ao assunto. – a encarei.

- Ok. – ela bufou – Tinha que sair correndo de Boston de novo, Bella? Não podia ser uma pessoal racional uma vez na vida? Tinha que agir como uma garota mimada como você é? – cada palavra que saía da boca daquela baixinha era carregada de raiva e eu sentia daqui.

- Você ao menos sabe o motivo de eu sair de lá, Alice? – a indaguei séria.

- E não foi o mesmo de há dois anos? – rebateu sarcástica – Para esquecer o meu irmão.

- Não. – sorri debochada e ela arregalou os olhos – Eu tenho um motivo maior dessa vez.

- Se arrependeu de ter dito não ao Kevin e veio correndo atrás? – ela perguntou ironicamente.

- Alice, menos... – a olhei enfadada.

- Não Bella, chega! – ela se exaltou – Durante anos eu vi meu irmão sofrendo por sua causa, tentando ser uma pessoa diferente, criando uma esperança que até eu o ajudei a criar... Pois eu pensei que conhecia você, mas Bella... Você só pensa no seu umbigo! – ela disse com raiva – É compreensível que você ainda se sinta mal pela perda do seu filho, mas ainda culpar o Edward por aquele acidente já é demais, Isabella Swan... Como eu mesma disse aquilo foi um acidente! – ela estava nervosa e me deixando também – Eu não agüento ver o Edward sofrendo, sofrendo por uma pessoa que não vale um pingo do que ele está passando. – disse, sua voz carregada de desprezo.

- Alice... – tentei intervir.

- Cala a boca, Bella! – ela praticamente gritou – Sei que estou em sua casa e que provavelmente depois disso perderemos a amizade, mas você precisa escutar... Enxergar a verdade na sua cara... Será que é tão difícil admitir para si mesma que você ainda ama o Edward? Será que é tão complicado acreditar que o Edward mudou? Que ele já não é mais aquele mesmo rapaz imaturo da faculdade? E você já parou para pensar que também tem culpa nisso tudo? – ela dizia tudo sem dó nem piedade, eu a encarava aturdida – Olha Bella, eu amo muito você, você é uma amiga incrível... Mas não posso continuar ao seu lado e deixar o meu irmão sofrer... Sabia que ele foi embora de Boston? – disse com uma voz mais suave.

- Ele o quê? – minha voz subiu três oitavas.

- Isso mesmo. – ela assentiu – Ele foi embora, tudo para não atrapalhar mais a sua vida. – ela riu sem humor – Edward voltou pra Forks, você já conhece. – disse cansada – Mas antes de ir, ele me pediu que te entregasse isso. – e tirou da bolsa um envelope branco endereçado a mim – Sabe você realmente não o merece. – ela disse sinceramente – Ou talvez ele não a mereça, não sei... Mas vocês são tão complicados... Olha, só quero que você leia, pense realmente na burrada que você está fazendo, mas pense mesmo. O Edward pode ser o homem da sua vida e eu não queria ter saído de Boston para vir até Washington te dizer isso, uma coisa que obviamente você já sabe. – ela me entregou o envelope e se virou para a saída – Só gostaria que você pensasse. – ressaltou mais uma vez.

Alice sorriu triste e saiu da minha vista.

What I’ve Done – Linkin Park

Eu não tinha condições de falar nada. Eu não conseguia pensar em nada. As palavras de Alice ecoavam em minha mente. Eu não conseguia respirar... Acalme-se Bella, tudo que você sente o bebê também sente!

- Srta. Bella, a senhorita precisa de alguma coisa? – a Joanne apareceu, me trazendo de volta para a realidade.

- Não Joanne, obrigada. – murmurei.

- A senhorita não parece nada bem. – ela disse.

- É só um mal-estar, eu creio que vai passar logo. – disse a ela.

- Se precisar de algo...

- Eu te chamo, com certeza. – e a dispensei.

Respirei fundo, tentando me acalmar inutilmente. Olhei para o envelope em minhas mãos, eu tinha que encarar a verdade. Não era difícil encarar que eu o amava, era difícil admitir para todos, como a Alice falou. E ele foi embora para me deixar viver em paz. As lágrimas me assustaram, eu não queria que ele fosse embora... Como eu contaria para ele que o mesmo seria pai?

O envelope em minhas mãos parecia que pesava uma tonelada, abri-o com certa dificuldade e tirei o papel dobrado delicadamente de dentro dele. Suspirei e o abri, reconheci imediatamente a letra caprichosa de Edward Cullen, então comecei a ler:

Bella,

Provavelmente quando estiver lendo essa carta eu já estarei bem longe de você, como você obviamente queria. Eu não posso ficar num lugar onde não seja querido, ainda mais por alguém que eu amo tanto. Você está pensando: “você é querido por seus irmãos e amigos, Edward.”, mas não sou querido por você e isso faz toda a diferença. Sim, estou me humilhando pela última vez...

Eu gostaria de dizer tantas coisas... Mas acho que já disse muito aquele dia no quarto do meu sobrinho. Eu queria muito poder voltar no tempo, Bella. Se eu pudesse, pode apostar que ainda estaríamos juntos, nosso filho estaria vivo e ele estaria correndo e feliz por ganhar dois primos, além de ser a criança mais feliz por ter dois pais como eu e você. Sabe, mas ao mesmo tempo em que eu queria muito voltar no tempo, eu não queria... Porque nós dois éramos muito imaturos e talvez não saberíamos lidar com uma criança; e criança requer cuidados e maturidade que não tínhamos, talvez você estivesse preparada e eu não, mas eu ainda creio que para se criar um filho é necessário os dois pais.

 Mas agora não adianta mais eu ficar me lamentando pelo leite derramado, pois o que aconteceu não dá pra ser corrigido. O que resta para nós é seguir em frente, cada um em seu caminho. Definitivamente nós dois não fomos feito para ficar juntos, quem sabe um dia seremos bons amigos, mas nada de nenhum relacionamento romântico... É, estou tentando colocar isso na minha cabeça.

Apesar de que pode passar o tempo que for, eu posso conhecer todas as mulheres do mundo, mas eu acredito que nada no mundo vai mudar o que eu sinto por você. É tão grande e tão intenso que chega a doer, machucar... Eu fico com medo às vezes desse sentimento, mas ele é tão grande que eu nem ligo... Eu amo você demais, Bella... Por isso escolhi ficar longe, longe eu posso te deixar viver e me deixar viver também. Porque se eu estiver perto, vou querer ficar perto demais.

Espero que um dia você possa me perdoar realmente por tudo que eu te fiz de mal e que você me compreenda um pouquinho, eu já me daria por satisfeito.

Do sempre seu,

Edward Cullen.

Eu já estava aos prantos com o final da carta. Eu não tinha entendido o porquê de não ter respondido a Alice, o porquê de ter ouvido tudo calada. Mas agora eu sabia... Tem um ditado popular muito certo: quem cala consente, e era o meu caso. Eu consentia porque tudo que ela estava me falando nada mais era do que a verdade. Era complicado para eu admitir que eu ainda amava Edward Cullen. Eu poderia dizer para eu mesma que o amava, mas não era a mesma coisa, eu precisava dele.

Amar Edward não era um problema para mim. O problema era a coragem de assumir as conseqüências disso. Eu ainda sou muito infantil e imatura... Eu não o mereço como a própria irmã dele disse. Diante da constatação deste fato, eu subi para o meu quarto e me joguei em minha cama.

Edward POV.

Eu já estava em Forks há cinco dias. Já tinha começado a trabalhar no único hospital daqui. Lembro-me muito bem que quando era adolescente não queria trabalhar nesse fim de mundo, mas olha como é o mundo... Acho que recebo muitas cantadas todos os dias, mas nenhumas das enfermeiras ou médicas me interessam. Tenho que parar de pensar na Swan, pelo bem da minha sanidade.

Meus pais me receberam de braços abertos em sua casa, mas apesar da resistência de minha mãe ela decorou uma pequena casa para mim e eu estava morando lá. Era pequena, mas aconchegante. Eu vivia para o trabalho, tudo bem que não estava há muito tempo aqui, mas eu não fazia outra coisa a não ser trabalhar. Era melhor do que ficar em casa e pensar na...

A vida não é nada fácil, ainda mais quando se tenta esquecer um grande amor.

Bella POV.

Eu chorei muito, a dor em meu peito era imensa. Mas eu acho que agora não era à hora para lamentações. Eu escutei a porta do meu quarto se abrindo e depois se fechando.

- Bella, querida! – era minha mãe – Joanne me contou que você teve uma discussão e pelas características que ela me disse de quem era a pessoa, julgo que deva ser a irmã caçula do Edward, a sua amiga Alice. – ela se sentou ao meu lado.

- Sim. – disse com a voz ainda embargada.

- O que houve amor? – ela acariciou meus cabelos.

- Ele foi embora mãe, foi embora de Boston. – e me agarrei a ela, voltando a chorar.

Renée pediu que eu me acalmasse, mas era inevitável não chorar. Então para tentar lhe explicar, dei a carta de Edward a ela e a mesma começou a ler pacientemente. Eu chorava silenciosamente com a mão repousada em cima da minha minúscula barriga de três meses de gestação.

- Oh Bella... – ela murmurou assim que terminou de ler – Esse rapaz te ama de verdade. – sorriu pra mim – E o que você ainda está fazendo aqui, minha filha?

- O quê? – eu a olhei confusa.

- Bella, pelo amor de Deus! – ela riu – Não seja obtusa! O rapaz saiu de Boston para que você fosse feliz, mesmo te amando demais e eu sei muito bem que você o ama com a mesma intensidade que ele, então o que ainda faz sentada chorando nessa cama? Arrume suas coisas que eu vou ver se consigo uma passagem para Forks! – ela dizia empolgada.

- Espera, espera! – disse tentando acalmar sua empolgação – Mãe, as coisas não são bem assim... A senhora sabe muito bem que a minha história com o Edward é bem complicada, por mais que o amor seja imenso, mas...

- “Mas” o que Isabella? – ela arqueou a sobrancelha – Minha filha entenda uma coisa. Só se encontra o amor verdadeiro uma vez na vida. Possa ser que vocês não tenham dado certo na primeira vez, porque eram imaturos demais... Mas você não vai saber se vão dar certo agora se não tentar. – ela sorriu – Não desperdice a chance, Bella... Ele te ama, podia estar com outra... Você o ama, diga isso pra ele, não importa o que você tenha dito antes... Peça perdão! – ela me dizia sinceramente – E diga que independente de tudo você o ama!

Eu ofeguei.

- Mãe, eu estou grávida! – exclamei.

- Vai arranjar mais quantas desculpas? – ela se exaltou – Deixa de ser cabeça-dura igual ao seu pai, pelo amor de Deus e vai logo atrás do pai do meu neto, por favor? – ela se irritou agora.

- E se ele não quiser me ver? – choraminguei.

- É lógico que ele vai querer. Ele te ama, sua boba. – ela riu.

Respirei fundo e encarei os orbes azuis da minha mãe por alguns segundos. De repente uma coragem tirada de não sei aonde me encheu. Então eu saltei da cama e sorri largamente. Era um fato concreto: eu o amava, ele me amava e que se dane o resto.

- Eu vou até Forks. – disse convicta.

- É assim que se fala! – mamãe falou sorridente – Agora arrume uma mala pequena que eu vou ligar para a companhia aérea.

Eu arrumei em uma mala pequena algumas roupas, eu estava super nervosa. Mas eu tinha que me acalmar, o bom é que eu já estava praticamente perto. Um vôo de Olympc para Seattle, depois outro para Port Angeles e de lá mais uma hora de carro até Forks. Depois de tudo arrumado, tomei um banho e me vesti rapidamente, minha mãe conseguiu uma passagem para o vôo da oito da noite, chegaria a Forks quase a meia-noite.

Minha mãe foi comigo para o aeroporto e lá eu comi alguma coisa. Mas o nervosismo aumentava a cada minuto, fiz o check-in e ficamos a esperar o meu vôo ser chamado, o que seria dali alguns minutos.

- Bella, não se preocupe com nada... – ela começou a dizer – Seja você e diga o que se passa em seu coração, ok? Não se esqueça de contar a ele sobre o meu neto! – e sorriu.

- Tudo bem. – murmurei.

Alguns minutos depois e o meu vôo foi chamado, dei-lhe um abraço apertado. Eu segui para o portão de embarque e lhe dei um “tchau”. Agora era a hora da verdade. Será que Edward me ouviria depois de tudo que eu lhe disse?