A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 28
No meio do fogo


Notas iniciais do capítulo

Olá minha gente, o Nyah voltou e eu tenho mais um capítulo. Para comemorar que tal um review? Ou quem sabe até uma recomendação? OK parei, desculpem. Aqui vai...



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A carta de Peeta chegou dois dias após uma batalha sangrenta. Durante cerca de cinco horas, só o que Katniss viu foi sangue e só o que ela conseguiu escutar eram os tiros do lado de fora da tenda. Coin parecia trazer um novo ferido a cada minuto.

–Mais uma perna para ser saturada- ela gritava quando entrava. Katniss preferia isso a “Deixem esse ai. Já perdeu muito sangue, não irá sobreviver”

Katniss trabalhava no modo mecânico, costurando feridas, dando pílulas para febres, retirando balas. Ela odiava a rotina da tenda. Odiava ter que tratar dos feridos. Ela preferia mil vezes estar no campo de batalha. No entanto, ela afastou esse pensamento assustada. Que tipo de pessoa preferia matar a curar?

Durante aquelas cinco horas Katniss não conseguiu pensar em nada, foi como se outra pessoa tomasse seu corpo. Alguém que não sentia náuseas ao ver um osso exposto, que não tinha terror ao costurar uma ferida nem olharia para outro lado enquanto um homem com o dobro de seu tamanho tomava um conhaque para aguentar a dor.

Katniss só conseguiu sair da tenda um bom tempo depois que os tiros acabaram. Se não fosse por Johanna que a tirou de cima de um corpo morto que ela estava tentando a qualquer custo reavivar, talvez nunca tivesse saído dali.

– Vamos dormir, a batalha deu uma trégua. Você precisa descansar- Katniss nunca imaginou que Johanna pudesse ser gentil. Apesar do cansaço, ela ainda teve forças para pensar que a outra provavelmente a estaria achando fraca.

–Não eu...

–Katniss- Johanna estava séria- Você só dormiu 4 horas em dois dias, vamos.

Katniss olhou para Johanna e percebeu que a amiga estava devastada também. Não haveria gozação depois, percebeu. Os olhos dela diziam que as duas já tinham tido o suficiente. Sem pensar, do mesmo modo que estava agindo durante a semana inteira, Katniss decidiu seguir a amiga até a tenda que estavam usando para dormir.

Katniss não dormiu bem. Ela sabia que nunca poderia, não desde que se juntara as tropas. Viver em uma guerra apaga todas as possibilidades de noites tranquilas. Katniss tinha medo que isso durasse para sempre. Em todos os seus sonhos o rosto de seu pai aparecia no lugar dos feridos. Coin assumia o lugar de sua mãe dizendo que ela não estava fazendo um bom trabalho, Tresh era baleado.

Os piores, no entanto, eram os quais ela via Peeta com o uniforme azul da União caindo no chão com um buraco no meio do peito. Sempre acordava gritando. Tinha medo que as garotas estivessem começando a achar que ela estava ficando louca. Katniss sabia que era egoísta, mas ficava feliz que pelo menos elas tinham os próprios pesadelos para cuidar.

Dois dias depois a garota acordou com um puxão gentil no meio da madrugada. Ela sabia que novas ajudantes chegariam durante a noite. Duas já haviam morrido e sempre necessitariam demais pessoas para cuidar dos feridos que cresciam numa velocidade aterradora.

– Katniss- A voz de Anne estava distante- acorde.

–Ah Anne desculpe, eu estava tendo outro pesadelo- Falou Katniss tentando se situar.

Anne era gentil, era sempre ela que socorria Katniss quando ela estava começando a perder o controle sobre sua mente durante a noite. Em retribuição, Katniss a defendia quando as outras meninas implicavam com ela por ser sensível demais. Anne olhou para ela com um sorriso compreensivo

– As novas meninas chegaram. Acho que você conhece uma delas.

Katniss demorou segundos para reconhecer aquela inconfundível massa de cabelos negros, aquele olhos escuros que sempre pareciam dar um sorriso irônico para o mundo. Assim que ela conseguiu se recuperar do choque se jogou no braços da amiga.

–Rue! Não acredito que você está aqui. Você deveria estar em casa.

–Então somos duas. Não me dê sermão, Peeta e Haymitch já deram o suficiente por duas vidas.

–Aposto que eles deram- disse Katniss sorrindo pela primeira vez em dias- Tresh, você já falou com ele?

As perguntas eram tantas que Katniss sentiu que estava começando a falar rápido demais. Rue mordeu o lábio preocupada.

–Não. Acho que ele não vai ficar muito feliz de saber que estou aqui.

Katniss tinha certeza que não. As duas aproveitaram a tranquilidade da madrugada e foram para um local onde os soldados costumavam comer. Como não havia preocupação com ataques naquele momento, uma pequena fogueira estava acesa. Sentaram em um dos troncos acima da colina.

A garota podia entender por que os soldados gostavam tanto daquele lugar. No tronco onde estavam podiam ver o rio e uma boa parte de São Francisco. Katniss via a fumaça das casas adiante, as pessoas provavelmente já se aprontavam para começar o dia. O verão já estava chegando e a brisa da madrugada vinha mais amena. Ali, naquele momento, não havia sons de batalha, não havia canhões nem feridos. Era só paz e tranquilidade. E ela ficou feliz de poder estar com Rue novamente.

–Então, por que você resolveu vir?- Essa pergunta estava matando Katniss.

–Eu estava ficando louca lá. Sem ter noticias de Tresh, suas. Vocês são a única família que me restou, meu pai me renegou depois que deixei meu marido.

– Peeta também considera você da família. Você sabe.

– Eu sei, eu também o considero. Só não consegui ficar lá. Aqui pode ser mais seguro, até Haymitch teve que concordar com isso. São Francisco não é mais um lugar seguro para negros.

– Entendo- disse Katniss imaginando os horrores escondidos na cidade.

Rue parecia diferente, percebeu Katniss, mais preocupada que o normal.

– Darius conseguiu achar vocês? Ele é um confederado, mas acredito que seja confiável. Como cuido dos feridos, às vezes posso me dar ao luxo de confiar no inimigo.

–Ah sim- disse Rue se ajeitando desconfortável no tronco- Ele conseguiu. Trouxe noticias suas. Peeta ficou feliz.

Katniss observou a amiga mais de perto.

–Darius... Ele fez alguma coisa com você?

–O que?- perguntou Rue distraída, assim que se deu conta do que Katniss estava falando Rue corou violentamente- Não! Claro que não. Ele entregou sua carta, você estava certa em confiar nele.

– Que bom – disse Katniss com um sorriso divertido- Fico feliz que você esteja confiando nele também.

–Katniss- disse Rue com uma voz exasperada, quase começando a rir, mas de repente seu sorriso apagou - Ele voltou para os confederados.

–Rue...- Katniss queria confortar a amiga, mas ela sabia que nunca fora boa nisso. Não seria dessa vez.

–Não que eu não soubesse que ele faria isso. Era a opção mais obvia. Eu só...

–O que aconteceu com vocês?- perguntou Katniss genuinamente curiosa.

– Nada. Absolutamente nada.

–Mas poderia ter acontecido- disse Katniss entendendo.

Rue suspirou pesadamente.

–Não. Não poderia. Você sabe disso. O estranho é que, antes de partir, ele me disse que voltaria. Sou muito idiota por acreditar nisso?

–Incrivelmente idiota!- Disse Katniss com uma expressão séria. Assim que as duas se olharam começaram a rir.

–Você é a pior melhor amiga de todos os tempos Katniss.

–Eu sei –disse Katniss- Por isso que você me ama.

As duas começaram a rir. E assim que começaram não conseguiram mais parar. Era como se elas estivessem em outro mundo. Como se tivessem sido encorajadas pelo reencontro e pelo sol que nascia tímido na colina. Katniss simplesmente não acreditava que as duas estavam conversando sobre garotos. Não acreditavam que estavam tendo um momento de paz, bem no meio da guerra. Katniss queria segurar aquele momento para sempre, queria que elas vivessem em um mundo em que tudo fosse mais fácil. Como sempre, a realidade era bem diferente do que ela gostaria.

As duas ouviram uma explosão mais abaixo e se olharam apreensivas.

–Rápido , temos que voltar a tenda- Falou Katniss começando a correr.

Os sons eram ensurdecedores. Katniss queria gritar e pegar a arma mais próxima. Estava com tanta raiva. Mais um ataque, mais um! Provavelmente estavam retalhando a última investida da União ontem. Ela só queria que isso acabasse. As balas passavam pela cabeça das duas zunindo. Se não corressem o mais rápido que podiam poderiam acabar mortas.

–Rápido- gritou Johanna na porta da tenda.

Por milagre, as duas conseguiram chegar até lá.

– Ótimo. Que bom que vocês conseguiram já temos dois feridos aqui. Vamos –disse Coin puxando as duas

–Minha amiga acabou de chegar, ela não teve nem um pouco de descanso.

–Bom, bem vinda seja lá qual for seu nome – disse Coin friamente- Agora ao trabalho.

As duas foram empurradas para onde os feridos estavam e Katniss sentiu a amiga abafar um grito. Katniss não podia culpá-la. Seu corpo inteiro começava a tremer com a visão. Mesmo com os tremores, Katniss tentou segurar a amiga, mas foi impossível.

Ela correu até o ferido mais próximo e começou a falar com ele carinhosamente. Katniss queria ser mais corajosa e mais fria como Coin, por que assim, só assim, ela teria evitado as lágrimas que começaram a cair. Ela não podia deixar caírem agora.

–Oh não –disse Rue com uma voz fininha- Katniss.

Katniss se recobrou e limpou uma lágrima que insistia em cair.

–Não se preocupe, ele vai ficar bem- disse rapidamente- Vamos curá-lo.

Então as duas começaram a trabalhar freneticamente, não se importando com o buraco que havia no meio do peito do paciente. Não importasse o que acontecesse elas iriam curá-lo, elas iriam curar Tresh.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Gente eu gostaria de saber o que vocês acham do tamanho dos capítulos. Tá bom, querem maiores, menores. Bom é isso. Até a próxima. Bjaum



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