Somente Por Amor escrita por Nathalia S


Capítulo 3
III- Conceito


Notas iniciais do capítulo

Mesmo sem ter recebido comentários no último capitulo...vou postar o novo. Desejo um ótimo fim de semana e uma boa leitura a todos. *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/280475/chapter/3

    III- Conceito

Senti minha consciência voltando aos poucos, senti que estava deitada em algo macio e confortável, por um segundo pensei que eu tivesse morrido. Então abri meus olhos rapidamente e me sentei, percebendo que estava em uma cama.

Olhei pela janela que estava e percebi que eu estava dentro do quiosque que eu vira ao lado da piscina...o quiosque...as lembranças voltaram como uma bomba nuclear explodindo em minha cabeça, lembrei de todos os detalhes e comecei a chorar. Eu era, geralmente, uma pessoa forte, mas a verdade é que eu andava esgotada demais nos últimos dias e aquele era o estimulo que eu precisava para desabar.

Senti alguem tocar meu ombro, me retrai involuntariamente e soltei um grito, não alto, mas mesmo assim um grito. Me virei para ver quem era e reconheci como sendo o menino que me salvara...menino...ele mais parecia um homem na verdade.

-Calma, - Falou ele. - eu não vou te machucar, prometo. - Disse, sentando-se a meu lado. Apenas assenti, não conseguia falar nada, e então controlei meu choro, afinal, eu detestava que as pessoas me vissem chorando, me sentia fraca quando isso ocorria. Sequei minhas lágrimas, respirei fundo e o fitei, fazendo a primeira pergunta que passou por minha cabeça:

-Por que você me salvou?

-Não queria ser salva? - Rebateu ele.

-Eu não disse isso. Apenas...queria saber, mas se não quer me contar eu...apenas...obrigado. Nem sei como lhe agradecer.

-Seu obrigado já me basta. - Falou ele, dando-me um sorriso de lado. Tentei sorrir em resposta, mas saiu algo mais parecido com uma careta do que com um sorriso.

-Ai. - Falei, não consegui reprimir isso. Doeu muito ao fazer aquilo, provavelmente por causa dos fortes tapas que eu levara na cara.

-Ta doendo? - Perguntou ele. Mas antes que eu respondesse ele falou: - Lógico que está doendo, o que eu quis dizer é: onde está doendo?

-Não sei. Quero dizer, está doendo meu rosto, incluindo meus lábios,meu pescoço, minha cabeça e meus braços. - Respondi. -Tem algum remédio para dor?

-Aqueles filhos da mãe. - Falou ele e, por um momento, eu senti medo de sua expressão. Ele parecia estar querendo controlar a raiva. - Não tenho nenhum remédio aqui, só lá em casa. Vou lá buscar, já volto. - Respondeu ele se levantando da cama.

-Ai meu Deus. - Falei, bruscamente.

-O que foi? - Perguntou ele, olhando-me confuso.

-A casa, quer dizer, sua casa pelo visto. A festa, tenho que voltar pra festa. Minha chefe vai me matar. - Falei tudo rápido, me levantando da cama. Por conta de meus movimentos bruscos, fiquei tonta e tive que me sentar na beira da cama.

-Ei calma ae. Senta e respira. - Falou ele, se aproximando novamente e pondo as mãos em meus ombros para que eu ficasse sentada.

-Você não entende. Minha chefe vai me demitir por eu sumir assim da festa.

-Dane-se sua chefe, você não pode voltar nesse estado. - Falou ele gesticulando para meu corpo.

-Não é dane-se garoto, é meu emprego,se eu perder ele to ferrada ta. Preciso desse dinheiro. - Falei, novamente tentando me levantar e ele me impediu de novo.

-Ok, se isso é tão importante assim para você fique aqui que eu resolvo tudo com sua chefe.

-Não, - Falei um pouco alto demais. - Não quero que ela descubra o que ocorreu aqui hoje ta. Se ela descobrir vai contar para os meus pais e eu não quero que eles descubram. - Falei, com o olhar suplicante.

-Tudo bem, se não quer que eu fale, eu não falo. Mas vou lá resolver o assunto com sua patroa e lhe trazer o remédio. Fica aqui e eu lhe prometo não falar nada. - Disse-me ele e saiu porta a fora, sem dar tempo para eu responder. Fiquei sentada na cama, olhando ao meu redor. O quiosque era simples, mas bonito, era uma casa, praticamente. Tinha uma cama de casal, que era onde eu estava, um sofá de três lugares, uma estante com rádio e TV, uma mesa de centro com alguns livros, um balcão com alguns banquinhos, uma cozinha bem mobiliada e alguns quadros nas paredes. Não pude deixar de reparar na quantia de folhagens naturais. Eu gostei do lugar, era aconchegante. Olhei as horas em um relógio que tinha na parede e percebi que eu ficara ausente da festa por cerca de 35 minutos, minha patroa realmente devia ter pirado. Me levantei da cama com um pouco de esforço e fui até uma porta que ficava ao lado da estante da TV. Abri a mesma, acendi a luz e percebi que havia um pequeno banheiro ali. ''Pequeno'', mas era quase do tamanho do que tinha na minha casa. Entrei e me olhei no espelho que ficava acima da pia, larguei um muxoxo sem querer.

Meu pescoço estava horrível, haviam marcas vermelhas, marcas de dentes e algumas partes estavam roxas. Meus lábios estavam inchados, meus rosto com uma marca de dedos de cada lado. Desci o olhar para meus braço e eles também estavam marcados. As lágrimas voltaram com tudo a meus olhos. Liguei a torneira e lavei minhas mãos, passando um pouco de água nos meus braços, não resisti, lavei meu rosto também, borrando a pouca maquiagem que eu havia passado. Esfreguei meu pescoço. O que eu mais queria era um banho. O cheiro daqueles monstros estava impregnados em mim...qualquer parte que eu tocasse do meu próprio corpo recendia o cheiro deles. Aquilo me enjoava, me fazia desejar poder trocar de pele. Eu não percebera, mas já estava soluçando. Meu coração quase parou quando vi uma sombra parada na porta, me virei jogando um pouco de água nele e chorando mais alto. Até que reconheci os cabelos castanhos claros, arrumados, mas bagunçados ao mesmo tempo. Os seus olhos castanhos me fitaram com pesar. Quando o reconheci a única coisa que falei foi:

-Me desculpa. Pensei...eu pensei, a meu Deus, eu 'to ficando louca não é? Pensei que eles tinham voltado. - Falei sem parar de chorar. Não me importava mais se ele tava me vendo soluçar, eu não conseguia me controlar.

-Sem problemas. -Ele falou entrando no banheiro, desligando a torneira e me guiando para fora, me levando de volta a cama. - Senta, e se acalma ta bom. - Disse ele, sentando-se comigo e segurando meus pulsos delicadamente. Demorou alguns minutos, mas finalmente eu me acalmei.

-Você falou com ela? Falou com a minha patroa? - Perguntei, realmente preocupada.

-Falei e ta tudo certo. Avisei a ela que tava com uns amigos aqui no quiosque, dando uma pequena festa particular e queria que você nos servisse. Ela disse que não havia problemas. Falei a ela que não se preocupasse, que mais tarde eu a levaria para a casa, ela concordou, prontamente.

-Obrigado. - Falei, sem pensar em algo melhor para dizer.

-Não precisa agradecer. Toma, engula esse comprimido, é para dor, vai se sentir melhor. - Disse ele me estendendo um envelope com vários comprimidos.

-Eu preciso de água, não consigo engolir sem beber água junto. - falei meio sem jeito de estar pedindo mais coisas ao desconhecido.

-Ah claro, vou pegar. - Respondeu ele, indo até a geladeira do quiosque e servindo um copo de água para mim. - Aqui está madame. - Falou ele, sorrindo levemente, me estendendo o copo com água. Não falei nada, apenas peguei o copo e engoli um comprimido, as lágrimas estavam querendo retornar a meus olhos. - Qual o seu nome? - Perguntou ele. Só então lembrei que nem sequer meu nome ele sabia, assim como eu não sabia o seu.

-Sophia. - Falei estendendo-lhe minha mão.- E o seu?

-Felipe. - Respondeu ele apertando minha mão. - Belo nome.

-O seu também. - Falei sem saber o que responder e soltando minha mão da dele. Ficamos uns segundos em silêncio, até que ele falou.

-Eu trouxe alguns band-aid's aqui. Posso...ver seu pescoço. Quero ver se não está com cortes. - Falou ele me mostrando os curativos.

-Claro. - Respondi, colocando meu cabelo para um lado e erguendo a cabeça para que ele pudesse ver melhor meu pescoço.

-Não tem cortes aqui, mas você vai ficar roxa por um bom tempo.

-Obrigado por ter me ajudado, de verdade. Não sei o que seria de mim se você não tivesse chegado. Quero dizer...eu sei o que seria de mim, mas estou tentando não pensar nisso. - Falei, sentindo algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto.

-Não chora, e não pense mais nisso ta?! O que importa é que cheguei e lhe ajudei. - Falou ele, enxugando minhas lágrimas.

-Tem razão. - Falei sorrindo novamente para ele. - Você é um anjo.

-Obrigado pelo elogio, mas não mereço. Garanto a você que não sou um anjo.

-Para você talvez não seja, mas para mim você é um anjo. - Falei, sentindo minhas bochechas esquentarem.

-Valeu fadinha. - Disse ele rindo um pouco alto.

-Fadinha? - perguntei sem entender.

-Você parece uma fada com esses olhos azuis tão profundos.- Agora sim que minhas bochechas pegaram fogo.

-Valeu. - Respondi constrangida. - Não vai mesmo me dizer por que decidiu me salvar? - perguntei, mudando o rumo da conversa.

-Jamais deixaria qualquer homem estuprar alguém. Existem milhares de mulheres que fariam o que eles queria com vontade, isso é ridículo, obrigar alguém. Não sei qual é o seu conceito sobre mim, mas eu não sou um monstro. Posso não ser santo e nem um anjo, mas também não sou tão idiota assim.

-Meu conceito sobre você não era dos melhores, mas mudou agora. Você com certeza subiu muito. Não é a pessoa ridícula que pensei que você fosse. Mas continuo sem entender uma coisa.

-O que?

-Por que você usa drogas? - Acho que ele não esperava essa pergunta, pois baixou a cabeça rapidamente e depois a ergueu novamente, voltando a me olhar.

-Como sabe sobre isso?

-Eu vi você no parque hoje pela manhã, esqueceu?

-Algumas pessoas roubam, outras matam, outras se mutilam para esquecer, para realmente viver. Eu encontrei essa ''vida'' na maconha. Não vejo necessidade de nada mais forte, mas também não quero largar ela, ela me acalma, torna minha vida melhor.

-Se você acha, não tenho motivos nem poder para lhe contradizer não é mesmo?! Mas acho que você está desperdiçando a sua vida, isso não vai solucionar seus problemas Felipe, pode apenas aumentar eles. Tenho certeza que se você procurar pode encontrar a coisa perfeita para substituir a droga.

-Obrigado pelo conselho Sophia, mas eu 'to realmente bem assim. - Mas o olhar dele dizia exatamente o contrário. Seu olhar gritava...gritava para ser salvo, e por um momento eu pensei que sabia como me redimir por ele ter me salvado...prometi a mim mesma que o salvaria, independente do que custasse. Ficamos um pouco em silêncio até que, desta vez, ele o quebrou. - Você quer comer alguma coisa?

-Não, obrigado, mas não vou conseguir comer nada. - Eu ainda estava muito abalada.

-Tudo bem, caso queira é só me pedir. E me diga, por que não quer que seus pais fiquem sabendo?

-Meus pais já tem preocupações demais, trabalham que nem loucos para sustentar eu e minha irmã mais nova, se eu contra a eles sobre isso não vão querer que eu trabalhe mais, e se eu não trabalhar não terei chance alguma de ir para a faculdade ano que vem, mesmo conseguindo uma bolsa, precisarei de dinheiro. - Falei a verdade toda para ele, a única pessoa que sabia sobre meus problemas era Roberta, e agora eu estava ali, contando tudo para um estranho.

-Entendo. - Respondeu ele, pensativo. - Se não quer que seus pais descubram é melhor passar a noite aqui, se chegar em casa assim eles vão desconfiar de algo.- Um arrepio subiu pela minha coluna, passar a noite ali me assustava.

-Mas e se eles voltarem? - perguntei, eu parecia uma criança assutada, mas na verdade era isso que eu era. Não precisei especificar quem era o eles, Felipe me entendeu.

-Eles não vão voltar, não são nem loucos para fazer isso. Prometo que não vai lhe ocorrer nada. Fico aqui cuidando se você quiser. - Ponderei por um minuto sobre a proposta dele. Passar a noite na casa de desconhecidos não era algo legal, mas ele me salvara e eu tinha certeza que não me machucaria, eu não tinha nada a perder. Meus pais não estranhariam minha ausência, afinal frequentemente eu passava a noite na casa da Roberta.

-Tudo bem, eu aceito. Obrigado, mais uma vez.

-Não precisa me agradecer fadinha, já lhe falei isso. - Falou ele se levantando. - Vou ir lá em casa rapidinho trocar minha roupa e pegar algo para você vestir ok?! Se quiser pode tomar um banho, prometo que não vou entrar no banheiro. Tem toalhas limpas dentro do armarinho.

-Tudo bem, vou tomar um banho sim. - Ele assentiu e saiu pela porta do quiosque. Fui até o banheiro e evitei me olhar no espelho. Peguei uma toalha no armarinho do banheiro e liguei o chuveiro. O primeiro contato da água com meu corpo foi dolorido, visto que a pressão era forte e minha pele estava sensível. Ensaboei meu corpo co força, fazendo de tudo o possível para tirar aquele cheiro enojado da minha pele. Não demorei muito, menos de 10 minutos. Desliguei o chuveiro, me sequei, enrolei-me na toalha e abri uma fresta da porta. - Felipe?

-Sim? - Perguntou ele, aparecendo na frente da porta, fiquei aliviada por ele já estar de volta. Ele havia trocado a calça jeans de antes por uma de moletom cinza e a camisa social por uma camiseta preta, reparei que ele estava descalço.

-Conseguiu algo para eu vestir? Sem abusar da sua hospitalidade é claro.

-Não está abusando Sophia, consegui apenas roupas minhas, não quis falar nada para minha mãe então...- Respondeu ele me estendendo uma trouxa de roupas.

-Obrigado. - Falei pela milésima vez, fechando a porta. Ele havia me trazido uma camiseta azul clara e uma calça de moletom preta, ambas masculinas, sendo que a calça continha cordinhas na cintura. Vesti as mesmas roupas íntimas que eu estava usando antes e coloquei as roupas que ele havia me trazido. Ficaram gigantes em mim, mas pelo menos eu não precisava mais usar aquele vestido asqueroso. O imitei, ficando descalça. Estendi a toalha num porta toalhas que havia no banheiro e sai do mesmo, fechando a porta atrás de mim.

Felipe estava colocando um lençol sobre a cama, percebi que ele puxara uma cama auxiliar para ele ao lado da de casal. Só então percebi que eu dormiria com um completo estranho...mas depois do que eu passara, aquilo me parecia...inofensivo.

-Vou dormir na auxiliar, você pode ficar com a de cima- disse ele sorridente, assim que me viu.

-Não quer que eu durma na auxiliar? - Perguntei timidamente.

-Oh não, você merece a maior. - Falou ele sentando-se na cama de baixo, subi na de casal, me sentando na mesma.

-Acho que eu poderia dizer mil vezes obrigado e ainda assim estaria em divida com você. - Falei sincera, me deitando no macio travesseiro. - Se um dia encontrar uma forma para eu lhe agradecer, por favor, me fale.

-Pode deixar que eu lhe falarei sim. - Ouvi que ele ria enquanto falava.

Mesmo que eu quisesse não consegui lhe falar mais nada, dormi antes disso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então...o que acharam do nosso querido Felipe? Rrsrsrs. Até segunda-feira estarei postando o próximo. Beijos amores. *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Somente Por Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.